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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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obrigados a escoltar a liteira de Dama Timo por várias ruazinhas até chegarmos à estalagem

que ela tinha insistido em usar. Ela já tinha pernoitado lá antes, a julgar pelo comportamento

da camareira. Mano levou os cavalos e a liteira para os estábulos, mas eu tive de suportá-la,

apoiando todo o seu peso no meu braço enquanto eu a acompanhava até o quarto. Eu me

questionei sobre o que ela teria comido, com um tempero tão nojento, que cada exalação do

seu hálito era um verdadeiro sacrifício para mim. Mandou-me embora quando chegamos à

porta, ameaçando-me com uma infinidade de punições, caso eu não voltasse pontualmente

depois de sete dias. Quando parti, senti pena da camareira, pois a voz de Dama Timo já se

elevava num discurso em voz alta sobre as criadas ladras que tinha encontrado no passado, e

de exatamente como queria as roupas da cama arrumadas.

Com o coração leve, montei Fuligem e chamei Mano para que se apressasse. Vagueamos

pelas ruas de Baía Limpa e conseguimos alcançar o final da procissão de Veracidade quando

esta entrava na torre de Calvar. A Guarda da Baía tinha sido construída num terreno plano que

oferecia pouca defesa natural, mas era fortificada por uma série de muros e fossos que um

inimigo teria de ultrapassar antes de encarar as paredes sólidas de pedra da torre. Mano me

disse que nenhum exército atacante tinha alguma vez passado do segundo fosso, e eu acreditei

nele. Havia homens trabalhando na manutenção dos muros e fossos quando passamos, mas

pararam e ficaram olhando maravilhados a chegada do Príncipe Herdeiro à Guarda da Baía.

Quando os portões da fortaleza se fecharam atrás de nós, houve outra interminável

cerimônia de acolhimento. Todos, homens e cavalos, ficamos plantados sob o sol do meio-dia

enquanto Calvar e a Guarda da Baía davam as boas-vindas a Veracidade. Trombetas soaram

e, em seguida, vozes oficiais sussurraram, abafadas pelo barulho dos cavalos e dos homens

que se mexiam. Finalmente a cerimônia acabou, o que foi marcado por um movimento súbito

de homens e animais enquanto as formações à nossa frente se dispersavam.

Os homens desceram dos seus cavalos, e os rapazes do estábulo de Calvar subitamente já

estavam diante de nós, indicando-nos onde poderíamos dar água aos nossos animais, pernoitar

e – de suma importância para soldados – comer e nos lavar. Segui atrás de Mano enquanto

levávamos Fuligem e o pônei ao estábulo. Ouvi o meu nome e me virei para ver Zigue, de

Torre do Cervo, indicando-me a alguém que trajava as cores de Calvar.

– Ali está ele, o Fitz. Ei, Fitz! Sentabém diz que estão te chamando. Veracidade quer que

você vá aos seus aposentos. Leon está doente. Mano, cuide de Fuligem para o Fitz.

Quase podia sentir a comida sendo arrancada da minha boca. Mas inspirei fundo e

apresentei-me com um rosto alegre a Sentabém, como Bronco tinha me aconselhado. Duvido

que aquele homem seco sequer notasse isso. Para ele eu era apenas mais um subalterno num

dia agitado. Levou-me aos aposentos de Veracidade e lá me deixou, sentindo-se visivelmente

aliviado por voltar ao estábulo. Bati à porta com suavidade, e um dos homens de Veracidade

imediatamente a abriu para mim.

– Ah! Graças a Eda que é você. Entre lá, o animal não come, e Veracidade tem certeza de

que é grave. Ande logo, Fitz.

O homem usava o brasão de Veracidade, mas eu não me lembrava de alguma vez tê-lo

conhecido. Às vezes, era desconcertante perceber quantos sabiam quem eu era, ao passo que

eu não fazia a mínima ideia de quem eles fossem. Num quarto anexo, Veracidade se banhava e

instruía alguém em voz alta sobre as vestes que desejava para a noite. Contudo, não era ele a

minha preocupação, mas Leon.

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