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de cabeça em direção à liteira de Dama Timo. – O mau cheiro que ela produz todas as manhãs
é lendário. Madeixa-Branca diz que ela costumava acompanhar Cavalaria em muitas viagens...
Tem parentes espalhados por todos os Seis Ducados e pouco o que fazer senão visitá-los.
Todos os soldados dizem que aprenderam há muito tempo a manterem distância ou ela os
manda fazer serviços trabalhosos e inúteis. Ah, e Madeixa-Branca mandou isso para você. Ele
disse para você não esperar por uma ocasião em que possa se sentar, e para comer enquanto a
serve, mas ele tentará deixar algo separado para você todas as manhãs.
Mano me passou um pedaço de pão com três tiras de bacon, oleosas e frias. Tinha um sabor
delicioso. Engoli as primeiras mordidas com avidez.
– Caipira! – guinchou Dama Timo do interior da liteira. – O que você está fazendo aí?
Fofocando sobre os seus superiores, sem dúvida. Volte já à sua posição. Como é que você vai
tratar das minhas necessidades se fica aí andando à frente?
Puxei rapidamente os arreios de Fuligem e esperei até me encontrar ao lado da liteira.
Engoli um grande pedaço de pão com bacon e consegui perguntar:
– Há algo que vossa senhoria queira?
– Não fale com a boca cheia – retorquiu. – E pare de me importunar. Moleque estúpido.
E assim continuamos. A estrada seguia a linha da costa e, no nosso passo carregado,
levamos cinco dias inteiros para chegar a Baía Limpa. Com exceção de duas pequenas
aldeias, a paisagem consistia de falésias cheias de vento, vales, prados e ocasionalmente
grupos de árvores retorcidas e mirradas. E, contudo, parecia repleta de belezas e maravilhas,
pois cada curva da estrada me levava a um lugar que nunca tinha visto antes.
À medida que a viagem prosseguia, Dama Timo se tornava cada vez mais tirânica. Lá pelo
quarto dia, o fluxo de queixas era constante, e eu não podia fazer muita coisa em relação a
elas. A liteira balançava demais e a enjoava. A água que eu lhe trazia de uma ribeira era muito
fria, e a dos meus cantis, muito quente. Os homens e os cavalos à nossa frente levantavam
poeira demais, e estavam fazendo aquilo de propósito, disso ela tinha certeza. E era para
pararem de cantar canções grosseiras. De tão ocupado que eu estava cuidando dela, não tinha
tempo para pensar em matar ou não matar Duque Calvar, mesmo que quisesse.
No início do quinto dia avistamos a fumaça que se erguia das chaminés de Baía Limpa.
Por volta do meio-dia pudemos distinguir os edifícios maiores e a torre de vigia nos
penhascos acima do vilarejo. Baía Limpa era um lugar muito mais calmo do que Torre do
Cervo. A estrada descia, serpenteando através de um vale amplo. As águas azuis de Baía
Limpa abriam-se à nossa frente. As praias eram arenosas, e a frota pesqueira era constituída
por veleiros ocos com fundos chatos e pequenos barcos a remo que cortavam as ondas como
gaivotas. Baía Limpa não tinha o ancoradouro fundo de Torre do Cervo e, por causa disso,
não era o estaleiro e porto comercial que nós éramos, mas mesmo assim parecia ser um belo
lugar para se viver.
Calvar enviou uma guarda de honra para nos receber, e claro que isso levou a uma parada,
para os homens de Calvar trocarem formalidades com as tropas de Veracidade.
– Como dois cães cheirando os cus um do outro – observou cruelmente Mano.
Em pé nos meus estribos, consegui ver de longe o suficiente para observar as posturas
oficiais, e com má vontade acenei a minha concordância. Eventualmente, pusemo-nos outra
vez a caminho e cedo cavalgamos pelas ruas da Cidade de Baía Limpa.
Todos os outros seguiram diretamente para a torre de Calvar, mas eu e Mano fomos