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não lhes dispensamos maior esforço; e a sorte dos escritores
obscuros é que o leitor se ocupa bastante deles e lhes credita o
prazer que tem com sua própria diligência.
182. Relação com a ciência. — Não têm real interesse por uma
ciência aqueles que começam a se entusiasmar por ela somente
depois que nela fazem descobertas.
183. A chave. — Aquele pensamento ao qual, sob o riso e o
escárnio dos medíocres, um homem eminente dá grande valor, é
para ele uma chave de tesouros secretos, e para aqueles apenas um
pedaço de ferro velho.
184. Intraduzível. — Não é o melhor nem o pior num livro,
aquilo que nele é intraduzível.
185. Paradoxos do autor. — Os chamados paradoxos do
autor, aos quais o leitor faz objeção, freqüentemente não estão no
livro do autor, mas na cabeça do leitor.
186. Espirituosidade. — Os autores mais espirituosos
provocam o sorriso mais imperceptível.
187. A antítese. — A antítese é a porta estreita que o erro mais
gosta de usar para se introduzir na verdade.
188. Pensadores como estilistas. — A maioria dos pensadores
escreve mal, porque nos comunica não apenas seus pensamentos,
mas também o pensar dos pensamentos.
189. Idéias na poesia. — O poeta conduz solenemente suas
idéias na carruagem do ritmo: porque habitualmente elas não
conseguem andar sozinhas.
190. O pecado contra o espírito do leitor. — Quando o autor
nega seu talento para se equiparar ao leitor, comete o único pecado
mortal que este jamais lhe perdoa; caso o perceba, naturalmente.
Pode-se dizer tudo quanto é ruim de um homem; mas na maneira
de dizê-lo devemos saber restaurar sua vaidade.
191. O limite da honestidade. — Também o escritor mais
honesto deixa escapar uma palavra a mais, quando quer arredondar
um período.
192. O melhor autor. — O melhor autor será aquele que tem
vergonha de se tornar escritor.
193. Lei draconiana para os escritores. — Deveríamos
considerar o escritor como um malfeitor que apenas em raríssimos
casos merece a absolvição ou a graça: isto seria um remédio contra
a proliferação dos livros.