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Humano-Demasiado-Humano

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eclipses da alma, e juntamente com ele dizer para si:

quid aeternis minorem

consiliis animum fatigas?

cur non sub alta platano vel hac

pinu jacentes —

[por que afadigas a alma pequena

com desígnios eternos?

por que não deitar sob o alto plátano

ou sob este pinheiro...]50

Mas certamente a frivolidade ou a melancolia, em qualquer

grau, é melhor do que uma meia-volta ou deserção romântica, do

que uma aproximação ao cristianismo sob qualquer forma: pois no

presente estado do conhecimento já não é possível nos

relacionarmos com ele sem manchar irremediavelmente nossa

consciência intelectual e abandoná-la diante de nós mesmos e dos

outros. Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores

não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado

daquele que quisesse sê-lo e não mais tivesse essa pura

consciência!

110. A verdade na religião . — Durante o Iluminismo não se

fez justiça à importância da religião, não há como duvidar disso:

mas igualmente é certo que na reação subseqüente ao Iluminismo

se foi além da justiça, ao tratar as religiões com amor e até com

paixão, e ao lhes atribuir uma profunda, mesmo a mais profunda,

compreensão do mundo; compreensão que a ciência teria apenas

que despir do hábito dogmático, para de forma mística possuir a

"verdade". As religiões devem, portanto — esta era a afirmação de

todos os adversários do Iluminismo —, expressar sensu allegorico

[em sentido alegórico], em consideração à inteligência da massa,

aquela antiqüíssima sabedoria que é a sabedoria em si, na medida

em que toda verdadeira ciência dos tempos modernos nos teria

sempre levado em direção a ela, em vez de para longe dela: de

modo que entre os sábios mais antigos e todos os que os

sucederam reinaria harmonia e mesmo identidade de opiniões, e o

progresso dos conhecimentos — querendo-se falar de um

progresso — não diria respeito à essência, mas à comunicação

dela. Tal concepção da religião e da ciência é inteiramente errada; e

ninguém ousaria ser partidário dela hoje em dia, se a eloqüência de

Schopenhauer não a tivesse tomado sob sua guarda: essa

eloqüência altissonante, mas que somente após uma geração

alcançou seus ouvintes. Do mesmo modo que da interpretação

moral-religiosa que Schopenhauer fez dos homens e do mundo

podemos tirar muitíssimo para a compreensão do cristianismo e de

outras religiões, é certo também que ele se enganou quanto ao

valor da religião para o conhecimento. Nisso foi apenas um

discípulo extremamente dócil dos mestres da ciência de seu tempo,

que estimavam o Romantismo e haviam abjurado o espírito das

Luzes; se tivesse nascido em nosso tempo, não poderia falar do

sensus allegoricus da religião; prestaria antes homenagens à

verdade, como costumava fazer, com estas palavras: até hoje

nenhuma religião, seja direta ou indiretamente, como dogma ou

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