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dizem respeito ao bem-estar momentâneo, mas àquele duradouro,
ou seja, quando o homem busca a utilidade, a adequação a um fim:
então surge pela primeira vez o livre domínio da razão. Um grau
ainda mais elevado se alcança quando ele age conforme o princípio
da honra, em virtude do qual ele se enquadra socialmente, sujeita-se
a sentimentos comuns, o que o eleva bem acima da fase em que
apenas a utilidade entendida pessoalmente o guiava: ele respeita e
quer ser respeitado, ou seja: ele concebe o útil como dependente
daquilo que pensa dos outros e daquilo que os outros pensam dele.
Por fim, no mais alto grau da moralidade até agora, ele age
conforme a sua medida das coisas e dos homens, ele próprio define
para si e para outros o que é honroso e o que é útil; torna-se o
legislador das opiniões, segundo a noção cada vez mais
desenvolvida do útil e do honroso. O conhecimento o capacita a
preferir o mais útil, isto é, a utilidade geral duradoura, à utilidade
pessoal, o honroso reconhecimento de valor geral e duradouro
àquele momentâneo: ele vive e age como indivíduo coletivo.
95. Moral do indivíduo maduro. — Até agora a impessoalidade
foi vista como a verdadeira característica da ação moral; e
demonstrou-se que no início foi a consideração pela utilidade geral
que fez todas as ações impessoais serem louvadas e distinguidas.
Mas não estaria iminente uma significativa transformação dessa
maneira de ver, agora que cada vez mais se percebe que justamente
na consideração mais pessoal possível se acha também a maior
utilidade para o conjunto; de modo que precisamente o agir
estritamente pessoal corresponde ao conceito atual de moralidade
(entendida como utilidade geral)? Fazer de si uma pessoa inteira, e
em tudo quanto se faz ter em vista o seu bem supremo — isso leva
mais longe do que as agitações e ações compassivas em favor de
outros. Sem dúvida, todos nós sofremos ainda com a pouquíssima
atenção dada ao que é pessoal em nós; ele está mal desenvolvido —
confessemos que dele subtraímos violentamente nosso interesse,
sacrificando-o ao Estado, à ciência, ao carente de ajuda, como se
fosse a parte ruim, que tivesse de ser sacrificada. E agora
queremos trabalhar para o próximo, mas apenas enquanto vemos
nesse trabalho nossa vantagem suprema, nem mais, nem menos.
Trata-se apenas de saber o que se entende por vantagem própria;
justamente o indivíduo imaturo, não desenvolvido e grosseiro
entenderá isso no sentido mais grosseiro.
96. Costumes e moral. — Ser moral, morigerado, ético44
significa prestar obediência a uma lei ou tradição há muito
estabelecida. Se alguém se sujeita a ela com dificuldade ou com
prazer é indiferente, bastando que o faça. "Bom" é chamado aquele
que, após longa hereditariedade e quase por natureza, pratica
facilmente e de bom grado o que é moral, conforme seja (por
exemplo, exerce a vingança quando exercê-la faz parte do bom
costume, como entre os antigos gregos). Ele é denominado bom
porque é bom "para algo"; mas como, na mudança dos costumes, a
benevolência, a compaixão e similares sempre foram sentidos como
"bons para algo", como úteis, agora sobretudo o benevolente, o
prestativo, é chamado de "bom". Mau é ser "não moral" (imoral),
praticar o mau costume, ofender a tradição, seja ela racional ou