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Humano-Demasiado-Humano

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83. O sono da virtude. — Depois de dormir, a virtude acorda

revigorada.

84. A sutileza da vergonha. — Os homens não se

envergonham de pensar coisas sujas, mas ao imaginar que lhes são

atribuídos esses pensamentos sujos.

85. A maldade é rara. — Os homens, em sua maioria, estão

ocupados demais consigo mesmos para serem malvados.

86. O fiel da balança. — Elogiamos ou censuramos, a

depender de qual nos dá mais oportunidade de fazer brilhar nosso

julgamento.

87. Lucas 18,14 corrigido. — Quem se rebaixa quer ser

exaltado.

88. Impedimento do suicídio. — Há um direito segundo o qual

podemos tirar a vida de um homem, mas nenhum direito que nos

permita lhe tirar a morte: isso é pura crueldade.

89. Vaidade. — Cuidamos da boa opinião das pessoas,

primeiro porque ela nos é útil, depois porque queremos lhes dar

contentamento (os filhos aos pais, os alunos aos mestres e as

pessoas benévolas a todas as demais). Apenas quando alguém acha

importante a boa opinião alheia sem considerar o proveito ou o

desejo de contentar é que falamos de vaidade. Nesse caso o

indivíduo quer contentar a si mesmo, mas à custa de seus

semelhantes, induzindo-os a uma falsa opinião a seu respeito ou

visando um grau de "boa opinião" em que esta vem a ser penosa

para todos os demais (ao suscitar inveja). Normalmente a pessoa

deseja, com a opinião alheia, atestar e reforçar para si a opinião que

tem de si mesma; mas o poderoso hábito de autoridade — hábito

tão velho quanto o ser humano — leva muitos a basear também na

autoridade a fé em si mesmos, isto é, a recebê-la tão-só das mãos

de outros: confiam mais no julgamento alheio do que no próprio. —

O interesse em si mesmo, o desejo de dar satisfação a si mesmo

atinge no vaidoso um tal nível, que ele induz os outros a uma

avaliação falsa e muito elevada de si e depois se atém à autoridade

dos outros: ou seja, introduz o erro e acredita nele. — Devemos

então admitir que os vaidosos querem agradar não tanto aos demais

quanto a si mesmos, e nisso chegam a negligenciar o proveito

próprio; pois freqüentemente cuidam em despertar nos seus

semelhantes um ânimo desfavorável, hostil, invejoso, e portanto

prejudicial, apenas para ter satisfação consigo, fruição de si

mesmos.

90. Limites do amor ao próximo. — Todo homem que declarou

ser outro um estúpido, um mau companheiro, irrita-se quando

afinal ele demonstra não sê-lo.

91. Moralité larmoyante [Moralidade lacrimosa].41 — Quanto

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