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nossa vida inteira. Ninguém sabe a que podem levar os
acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o
seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis
tornam miserável; geralmente não é a qualidade, mas a quantidade
das vivências que determina o homem baixo ou elevado, no bem e
no mal.
73. O mártir contra a vontade. — Em certo partido havia um
homem que era covarde e medroso demais para contradizer seus
camaradas: usavam-no para todo serviço, dele alcançavam tudo,
porque temia a má opinião de seus companheiros mais do que a
morte; era uma alma fraca e miserável. Eles perceberam isso e,
devido às características mencionadas, dele fizeram um herói e até
mesmo um mártir, por fim. Embora esse homem covarde sempre
dissesse intimamente não, com os lábios falava sempre sim, mesmo
no patíbulo, quando morreu pelas idéias de seu partido: pois a seu
lado estava um de seus velhos companheiros, que o tiranizou de tal
modo, com a palavra e o olhar, que ele sofreu a morte da maneira
mais decorosa e desde então é festejado como mártir e grande
caráter.
74. Medida para todos os dias. — Raramente se erra, quando
se liga as ações extremas à vaidade, as medíocres ao costume e as
mesquinhas ao medo.
75. Mal-entendido acerca da virtude. — Quem conheceu o
vício sempre ligado ao prazer, como a pessoa que teve uma
juventude ávida de prazeres, imagina que a virtude deve estar ligada
ao desprazer. Mas quem foi muito atormentado por paixões e
vícios anseia encontrar na virtude o sossego e a felicidade da alma.
Daí ser possível que dois virtuosos não se entendam
absolutamente.
76. O asceta. — O asceta faz da virtude uma necessidade.39
77. A honra transferida da pessoa para a causa. — Geralmente
reverenciamos os atos de amor e de sacrifício em favor do
próximo, onde quer que eles se mostrem. Com isso aumentamos a
apreciação das coisas que dessa maneira são amadas, ou pelas
quais se faz um sacrifício: embora elas talvez não tenham muito
valor em si. Um exército bravo nos convence da causa pela qual
luta.
78. A ambição como substituta do sentimento moral. — O
sentimento moral não pode faltar nas naturezas que não têm
ambição. Os ambiciosos se arrumam sem ele, quase com o mesmo
sucesso. Por isso os filhos de famílias modestas, alheias à ambição,
costumam transformar-se rapidamente em consumados cafajestes,
quando perdem o sentimento moral.
79. A vaidade enriquece. — Como seria pobre o espírito
humano sem a vaidade! Com ela, no entanto, ele semelha um
empório repleto e sempre reabastecido, que atrai compradores de