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Humano-Demasiado-Humano

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beneficiaria toda a humanidade, e portanto que ações seriam

desejáveis; é uma teoria como a do livre-comércio, pressupondo

que a harmonia universal tem que produzir-se por si mesma,

conforme leis inatas de aperfeiçoamento. Talvez uma futura visão

geral das necessidades da humanidade mostre que não é

absolutamente desejável que todos os homens ajam do mesmo

modo, mas sim que, no interesse de objetivos ecumênicos,

deveriam ser propostas, para segmentos inteiros da humanidade,

tarefas especiais e talvez más, ocasionalmente. — Em todo caso,

para que a humanidade não se destrua com um tal governo global

consciente, deve-se antes obter, como critério científico para

objetivos ecumênicos, um conhecimento das condições da cultura

que até agora não foi atingido. Esta é a imensa tarefa dos grandes

espíritos do próximo século.

26. A reação como progresso . — De vez em quando surgem

espíritos ásperos, violentos e arrebatadores, e no entanto atrasados,

que conjuram novamente uma fase passada da humanidade: eles

servem para provar que as tendências novas a que se opõem não

são ainda bastante fortes, que ainda lhes falta algo: de outra maneira

elas resistiriam mais a esses conjuradores. A Reforma de Lutero,

por exemplo, testemunha que em seu século todos os movimentos

da liberdade de espírito eram ainda incertos, frágeis, juvenis; a

ciência ainda não podia levantar a cabeça. O Renascimento inteiro

aparece como uma primavera precoce, quase apagada novamente

pela neve. Mas também em nosso século a metafísica de

Schopenhauer provou que mesmo agora o espírito científico não é

ainda forte o bastante; assim, apesar de todos os dogmas cristãos

terem sido há muito eliminados, toda a concepção do mundo e

percepção do homem cristã e medieval pôde ainda celebrar uma

ressurreição na teoria de Schopenhauer. Muita ciência ressoa na

sua teoria, mas não é a ciência que a domina, e sim a velha e

conhecida "necessidade metafísica". Sem dúvida, um dos grandes e

inestimáveis benefícios que nos vêm de Schopenhauer é que ele

obriga nossa sensibilidade a retornar por um momento a formas

antigas e potentes de ver o mundo e os homens, às quais nenhum

outro caminho nos levaria tão facilmente. O ganho para a história e

a justiça é muito grande: creio que ninguém hoje conseguiria

facilmente, sem a ajuda de Schopenhauer, fazer justiça ao

cristianismo e seus parentes asiáticos: o que é impossível,

sobretudo, partindo do terreno do cristianismo existente. Somente

após esse grande êxito da justiça, somente após termos corrigido,

num ponto tão essencial, a concepção histórica que a era do

Iluminismo trouxe consigo, poderemos de novo levar adiante a

bandeira do Iluminismo — a bandeira com os três nomes: Petrarca,

Erasmo, Voltaire. Da reação fizemos um progresso.

27. Substituto da religião. — Cremos dizer algo de bom sobre

uma filosofia, quando a apresentamos como substituto da religião

para o povo. De fato, na economia espiritual são necessários,

ocasionalmente, círculos de idéias intermediários; de modo que a

passagem da religião para a concepção científica é um salto

violento e perigoso, algo a ser desaconselhado. Neste sentido é

justificado aquele louvor. Mas deveríamos também aprender, afinal,

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