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Humano-Demasiado-Humano

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todos os graus e gêneros de moralidade, de costumes e de culturas.

— Uma era como a nossa adquire seu significado do fato de nela

poderem ser comparadas e vivenciadas, uma ao lado da outra, as

diversas concepções do mundo, os costumes, as culturas; algo que

antes, com o domínio sempre localizado de cada cultura, não era

possível, em conformidade com a ligação de todos os gêneros de

estilo ao lugar e ao tempo. Agora uma intensificação do sentimento

estético escolherá definitivamente entre as tantas formas que se

oferecem à comparação; ela deixará perecer a maioria — ou seja,

todas as que forem rejeitadas por este sentimento. Hoje ocorre

igualmente uma seleção nas formas e hábitos da moralidade

superior, cujo objetivo não pode ser outro senão o ocaso das

moralidades inferiores. É a era da comparação! É este seu orgulho

— mas, como é justo, também seu sofrimento. Não tenhamos

medo desse sofrimento! Vamos, isto sim, compreender tão

grandemente quanto possível a tarefa que nos é imposta pela era: a

posteridade nos abençoará por isso — uma posteridade que se

saberá tanto acima das originais culturas nacionais fechadas quanto

da cultura da comparação, mas que olhará com gratidão, como

veneráveis antigüidades, para ambas as formas de cultura.

24. Possibilidade do progresso . — Quando um estudioso da

cultura antiga jura não mais lidar com pessoas que crêem no

progresso, ele tem razão. Pois a cultura antiga deixou para trás sua

grandeza e seus bens, e a educação histórica nos obriga a admitir

que ela jamais recuperará o frescor; é preciso uma estupidez

intolerável ou um fanatismo igualmente insuportável para negar

isso. Mas os homens podem conscientemente decidir se

desenvolver rumo a uma nova cultura, ao passo que antes se

desenvolviam inconsciente e acidentalmente: hoje podem criar

condições melhores para a procriação dos indivíduos, sua

alimentação, sua educação, sua instrução, podem economicamente

gerir a Terra como um todo, ponderar e mobilizar as forças dos

indivíduos umas em relação às outras. Essa nova cultura consciente

mata a antiga, que, observada como um todo, teve uma vida

inconsciente de animal e vegetal; mata também a desconfiança

frente ao progresso — ele é possível. Quero dizer: é precipitado e

quase absurdo acreditar que o progresso deva necessariamente

ocorrer; mas como se poderia negar que ele seja possível? Por

outro lado, um progresso no sentido e pela via da cultura antiga não

é sequer concebível. Se a fantasia romântica usa também a palavra

"progresso" para seus objetivos (por exemplo, para as originais

culturas nacionais fechadas), de qualquer modo toma essa imagem

do passado; seu pensamento e sua imaginação não têm qualquer

originalidade nesse campo.

25. Moral privada e moral mundial. — Após o fim da crença

de que um deus dirige os destinos do mundo e, não obstante as

aparentes sinuosidades no caminho da humanidade, a conduz

magnificamente à sua meta, os próprios homens devem estabelecer

para si objetivos ecumênicos, que abranjam a Terra inteira. A antiga

moral, notadamente a de Kant, exige do indivíduo ações que se

deseja serem de todos os homens: o que é algo belo e ingênuo;

como se cada qual soubesse, sem dificuldades, que procedimento

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