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agradável da surpresa. — Mas um temperamento sombrio terá a
experiência inversa em ambos os casos.
623. Homens profundos. — Aqueles cuja força está na
profundidade das impressões — geralmente chamados de homens
profundos — são relativamente controlados e decididos ante o que
surge de repente: pois no primeiro momento a impressão era ainda
superficial, só depois se torna profunda. Coisas e pessoas há muito
esperadas e previstas, porém, são as que mais agitam essas
naturezas, tornando-as, ao chegar finalmente, quase incapazes de
manter a presença de espírito.
624. Relações com o eu superior. — Cada pessoa tem o seu dia
bom, em que descobre o seu eu superior; e a verdadeira
humanidade exige que alguém seja avaliado conforme esse estado, e
não conforme seus "dias de semana" de cativeiro e sujeição. Devese,
por exemplo, julgar e reverenciar um pintor segundo a visão
mais elevada que ele pôde ver e representar. Mas os próprios
indivíduos se relacionam de modo muito variado com este eu
superior, e com freqüência são atores de si mesmos, na medida em
que depois repetem continuamente o que são nesses momentos.
Muitos vivem no temor e na humildade frente a seu ideal, e bem
gostariam de negá-lo: temem o seu eu superior, porque este,
quando fala, fala de modo exigente. Além disso, ele possui uma
espectral liberdade de aparecer ou de permanecer ausente; por isso
é freqüentemente chamado de dom dos deuses, quando tudo o
mais, na realidade, é dom dos deuses (do acaso): ele, porém, é a
própria pessoa.
625. Pessoas solitárias. — Existem pessoas tão habituadas a
estar só consigo mesmas, que não se comparam absolutamente
com outras, mas, com disposição alegre e serena, em boas
conversas consigo e até mesmo sorrisos, continuam tecendo sua
vida-monólogo. Se as levamos a se comparar com outras, tendem a
uma cismadora subestimação de si mesmas: de modo que devem
ser obrigadas a reaprender com os outros uma opinião boa e justa
sobre si: e também dessa opinião aprendida quererão deduzir e
rebaixar alguma coisa. — Portanto, devemos conceder a certos
indivíduos a sua solidão e não ser tolos a ponto de lastimá-los,
como freqüentemente sucede.
626. Sem melodia. — Há pessoas nas quais um constante
repousar em si mesmas e uma harmoniosa disposição das
faculdades são tão próprios, que lhes repugna qualquer atividade
dirigida para um fim. Elas semelham uma música que consiste
apenas em acordes harmônicos sustentados por longo tempo, sem
mostrar sequer o início de um movimento melódico articulado.
Toda movimentação vinda de fora serve apenas para dar
imediatamente a seu barco um novo equilíbrio, no lago da
consonância harmônica. Em geral as pessoas modernas ficam
muito impacientes, ao se defrontar com essas naturezas que nada
s e tornam, sem que delas se possa dizer que nada são. Mas há
estados de espírito em que a sua visão desperta a pergunta