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Humano-Demasiado-Humano

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inteligência, o seu capital de espírito e de vontade, acumulado de

geração em geração em prolongada escola de sofrimento, devem

preponderar numa escala que desperta inveja e ódio, de modo que

em quase todas as nações de hoje — e tanto mais quanto mais

nacionalista é a pose que adotam — aumenta a grosseria literária156

de conduzir os judeus ao matadouro, como bodes expiatórios de

todos os males públicos e particulares. Quando a questão não for

mais conservar as nações, mas criar uma raça européia mista que

seja a mais vigorosa possível, o judeu será um ingrediente tão útil e

desejável quanto qualquer outro vestígio nacional. Características

desagradáveis, e mesmo perigosas, toda nação, todo indivíduo tem:

é cruel exigir que o judeu constitua exceção. Nele essas

características podem até ser particularmente perigosas e

assustadoras; e talvez o jovem especulador da Bolsa judeu seja a

invenção mais repugnante da espécie humana. Apesar disso gostaria

de saber o quanto, num balanço geral, devemos relevar num povo

que, não sem a culpa de todos nós, teve a mais sofrida história

entre todos os povos, e ao qual devemos o mais nobre dos homens

(Cristo), o mais puro dos sábios (Spinoza), o mais poderoso dos

livros e a lei moral mais eficaz do mundo. E além disso: nos tempos

mais sombrios da Idade Média, quando as nuvens asiáticas

pesavam sobre a Europa, foram os livres-pensadores, eruditos e

médicos judeus que, nas mais duras condições pessoais,

mantiveram firme a bandeira das Luzes e da independência

intelectual, defendendo a Europa contra a Ásia; tampouco se deve

menos aos seus esforços o fato de finalmente vir a triunfar uma

explicação do mundo mais natural, mais conforme à razão e

certamente não mítica, e de o anel da cultura que hoje nos liga às

luzes da Antigüidade greco-romana não ter se rompido. Se o

cristianismo tudo fez para orientalizar o Ocidente, o judaísmo

contribuiu de modo essencial para ocidentalizá-lo de novo: o que,

num determinado sentido, significa fazer da missão e da história da

Europa uma continuação da grega.

476. Aparente superioridade da Idade Média. — A Idade

Média nos mostra, na Igreja, uma instituição com um objetivo

inteiramente universal, objetivo este que abrangia toda a

humanidade e que dizia respeito aos — supostamente — mais

elevados interesses dessa humanidade; em contraste, os objetivos

dos Estados e nações, tais como a história recente os mostra,

causam uma impressão desalentadora; parecem mesquinhos, vis,

materiais, geograficamente limitados. Mas essas impressões

distintas sobre a imaginação não devem determinar nosso

julgamento, pois aquela instituição universal refletia necessidades

artificiais, baseadas em ficções que ela primeiramente teve de criar,

quando não existiam (necessidade da Redenção); as novas

instituições atendem a calamidades reais; e não está longe o tempo

em que haverá instituições para servir as verdadeiras necessidades

comuns de todos os homens e pôr nas sombras e no esquecimento

esse fantástico protótipo, a Igreja católica.

477. É indispensável a guerra. — É um sonho vão de belas

almas ainda esperar muito (ou só então realmente muito) da

humanidade, uma vez que ela tenha desaprendido de fazer a guerra.

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