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boa consciência para o jogo perverso que deverão jogar. — O
socialismo pode servir para ensinar, de modo brutal e enérgico, o
perigo que há em todo acúmulo de poder estatal, e assim instilar
desconfiança do próprio Estado. Quando sua voz áspera se junta ao
grito de guerra que diz o máximo de Estado possível, este soa,
inicialmente, mais ruidoso do que nunca: mas logo também se
ouve, com força tanto maior, o grito contrário que diz: O mínimo
de Estado possível.
474. A evolução do espírito, temida pelo Estado. — A pólis
grega era excludente, como todo poder político organizador, e
desconfiava do crescimento da cultura entre seus cidadãos; em
relação a esta, seu poderoso instinto básico se mostrou quase que
estritamente paralisante e inibidor. Não queria admitir história ou
devir na cultura; a educação fixada na lei do Estado deveria ser
imposta a todas as gerações e mantê-las num só nível. Mais tarde,
Platão quis a mesma coisa para o seu Estado ideal. Portanto, a
cultura se desenvolveu apesar da pólis: é certo que ela ajudou
indiretamente e contra a vontade, porque a ambição do indivíduo
era estimulada ao máximo na pólis, de maneira que, tendo tomado a
via da formação do espírito, ele continuava nela até o fim. Não se
deve invocar, argumentando contra isso, o panegírico de Péricles:
pois este é apenas uma fantasia grande e otimista acerca do nexo
supostamente necessário entre a pólis e a cultura ateniense;
Tucídides faz com que, logo antes de a noite cair sobre Atenas (a
peste e a ruptura da tradição), ela brilhe ainda uma vez, como um
crepúsculo transfigurador que nos leva a esquecer o dia ruim que o
precedeu.155
475. O homem europeu e a destruição das nações. — O
comércio e a indústria, a circulação de livros e cartas, a posse
comum de toda a cultura superior, a rápida mudança de lar e de
região, a atual vida nômade dos que não possuem terra — essas
circunstâncias trazem necessariamente um enfraquecimento e por
fim uma destruição das nações, ao menos das européias: de modo
que a partir delas, em conseqüência de contínuos cruzamentos,
deve surgir uma raça mista, a do homem europeu. Hoje em dia o
isolamento das nações trabalha contra esse objetivo, de modo
consciente ou inconsciente, através da geração de hostilidades
nacionais, mas a mistura avança lentamente, apesar dessas
momentâneas correntes contrárias: esse nacionalismo artificial é,
aliás, tão perigoso como era o catolicismo artificial, pois é na
essência um estado de emergência e de sítio que alguns poucos
impõem a muitos, e que requer astúcia, mentira e força para
manter-se respeitável. Não é o interesse de muitos (dos povos),
como se diz, mas sobretudo o interesse de algumas dinastias
reinantes, e depois de determinadas classes do comércio e da
sociedade, o que impele a esse nacionalismo; uma vez que se tenha
reconhecido isto, não é preciso ter medo de proclamar-se um bom
europeu e trabalhar ativamente pela fusão das nações: no que os
alemães, graças à sua antiga e comprovada qualidade de intérpretes
e mediadores dos povos, serão capazes de colaborar. — Diga-se de
passagem que o problema dos judeus existe apenas no interior dos
Estados nacionais, na medida em que neles a sua energia e superior