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466. Opiniões novas na casa velha. — À derrubada das
opiniões não segue imediatamente a derrubada das instituições; as
novas opiniões habitam por muito tempo a casa de suas
antecessoras, agora desolada e sinistra, e até mesmo a preservam,
por falta de moradia.
467. Instrução pública. — Nos grandes Estados a instrução
pública será sempre, no melhor dos casos, medíocre, pelo mesmo
motivo por que nas grandes cozinhas cozinha-se mediocremente.
468. Inocente corrupção. — Em todas as instituições em que
não sopra o ar cortante da crítica pública, uma inocente corrupção
brota como um fungo (por exemplo, nas associações eruditas e
senados).
469. Os eruditos enquanto políticos. — Aos eruditos que se
tornam políticos se atribui habitualmente o cômico papel de ter que
ser a boa consciência de uma política.
470. O lobo por trás da ovelha. — Em determinadas
circunstâncias, quase todo político tem tal necessidade de um
homem honesto, que como um lobo faminto irrompe num redil: não
para devorar o cordeiro que rapta, porém, mas para se esconder
atrás de seu dorso lanoso.
471. Tempos felizes. — Uma época feliz é completamente
impossível, porque as pessoas querem desejá-la, mas não tê-la, e
todo indivíduo, em seus dias felizes, chega quase a implorar por
inquietude e miséria. O destino dos homens se acha disposto para
momentos felizes — cada vida humana tem deles —, mas não para
tempos felizes. No entanto, estes perduram na fantasia humana
como "o que está além dos montes", como uma herança dos
antepassados;150 pois a noção de uma era feliz talvez151 provenha,
desde tempos imemoriais, daquele estado em que o homem, após
violentos esforços na caça e na guerra, entrega-se ao repouso,
distende os membros e ouve o rumor das asas do sono. Há uma
conclusão errada em imaginar, conforme aquele antigo hábito, que
após períodos inteiros de carência e fadiga se pode partilhar
também aquele estado de felicidade, com intensidade e duração
correspondentes.
472. Religião e governo. — Enquanto o Estado ou, mais
precisamente, o governo se souber investido da tutela de uma
multidão menor de idade, e por causa dela considerar se a religião
deve ser mantida ou eliminada, muito provavelmente se decidirá
pela conservação da religião. Pois esta satisfaz o ânimo do
indivíduo em tempos de perda, de privação, de terror, de
desconfiança, ou seja, quando o governo se sente incapaz de
diretamente fazer algo para atenuar o sofrimento psíquico da
pessoa: mesmo em se tratando de males universais, inevitáveis,
inicialmente irremediáveis (fomes coletivas, crises monetárias,
guerras), a religião confere à massa uma atitude calma, paciente e
confiante. Onde as deficiências necessárias ou casuais do governo