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dura não ser colocado no mesmo nível, ser considerado inferior
publicamente. — O cínico pensa de modo diferente sobre essa
questão, porque despreza as honras: — é assim que Diógenes foi,
durante um certo tempo, escravo e preceptor.
458. Os espíritos que lideram e seus instrumentos. — Vemos
que os grandes estadistas, e em geral todos os que precisam utilizar
muitos homens para a realização de seus planos, agem de uma ou
de outra forma: ou escolhem com muito cuidado e sutileza os
homens adequados aos seus planos e lhes deixam uma liberdade
relativamente grande, porque sabem que a natureza das pessoas
escolhidas as conduz exatamente até onde eles as querem ter; ou
então escolhem mal, tomam aquilo que lhes cai nas mãos, mas
formam a partir desse barro algo valioso para seus fins. Essa última
espécie é a mais violenta, e também deseja instrumentos mais
submissos; seu conhecimento dos homens é normalmente muito
menor, e seu desprezo pelos homens maior que o dos espíritos
mencionados antes, mas a máquina que constroem trabalha
geralmente melhor do que a máquina da oficina daqueles.
459. Necessidade de um direito arbitrário. — Os juristas
disputam se num povo deveria prevalecer o direito mais
extensamente examinado ou o mais facilmente compreensível. O
primeiro, cujo modelo maior é o romano, parece incompreensível
para o leigo, não exprimindo então o seu sentimento do direito. Os
direitos populares, como o germânico, por exemplo, eram toscos,
supersticiosos, ilógicos, às vezes tolos, mas correspondiam a
costumes e sentimentos bem determinados, herdados, nativos. —
Mas onde o direito não é mais tradição, como entre nós, ele só
pode ser comando, coerção; nenhum de nós possui mais um
sentimento tradicional do direito, por isso temos de nos contentar
c om direitos arbitrários, que são a expressão da necessidade de
haver um direito. O mais lógico é então o mais aceitável, porque o
mais imparcial: mesmo admitindo que em todo caso a menor
unidade de medida, na relação entre delito e punição, é
arbitrariamente fixada.
460. O grande homem da massa. — É fácil dar a receita para o
que a massa denomina grande homem. Em qualquer circunstância,
arranjem-lhe algo que lhe seja agradável, ou lhe ponham na cabeça
que isto ou aquilo seria muito agradável e lhe dêem tal coisa. Mas
de modo algum imediatamente: deve-se lutar por isso com grande
esforço, ou parecer lutar. A massa deve ter a impressão de que há
uma força de vontade poderosa e mesmo invencível; ao menos ela
deve parecer que está presente. Todos admiram a vontade forte,
pois ninguém a tem, e cada um diz a si mesmo que, se a tivesse,
não haveria mais limite para si e seu egoísmo. Vendo-se que uma
tal vontade forte produz algo bastante agradável à massa, em vez de
escutar os apelos de sua própria cobiça, as pessoas ficam
novamente admiradas e felicitam a si mesmas. Quanto ao resto, ele
deve ter todas as qualidades da massa: quanto menos se
envergonhar ela diante dele, tanto mais popular ele será. Logo, ele
deve ser violento, invejoso, explorador, intrigante, adulador, servil,
arrogante, tudo conforme as circunstâncias.