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Humano-Demasiado-Humano

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443. A esperança como presunção. — Nossa ordem social

lentamente se dissolverá, como sucedeu a todas as ordens

anteriores, quando os sóis de novas opiniões brilharam sobre os

homens com novo ardor. Pode-se desejar esta dissolução apenas na

medida em que se tenha esperança: e ter razoável esperança é

possível apenas quando se atribui, a si mesmo e a seus iguais, mais

força na mente e no coração do que aos representantes da ordem

vigente. Logo, normalmente esta esperança será uma presunção,

uma superestimação.

444. Guerra. — Em detrimento da guerra pode-se dizer que ela

faz estúpido o vencedor e maldoso o derrotado. A favor da guerra,

que com esses dois efeitos ela barbariza, e com isso torna mais

natural; ela é o sono ou o inverno da cultura, dela o homem sai

mais forte, para o bem e para o mal.

445. A serviço do príncipe. — Para poder agir com total

ausência de considerações, o melhor que faz um estadista é

executar sua obra não para si mesmo, mas para um príncipe. O

olho do espectador é ofuscado pelo brilho desse altruísmo geral, de

modo que não vê as perfídias e durezas que a obra do estadista

comporta.

446. Uma questão de poder, não de direito . — Para aqueles

que sempre consideram a utilidade superior de algo, não há no

socialismo, caso ele seja realmente a sublevação, contra os

opressores, dos que por milênios foram oprimidos e subjugados,

nenhum problema de direito (com a ridícula e débil questão: "até

que ponto devemos ceder a suas exigências?"), mas sim um

problema de poder ("até que ponto podemos utilizar suas

exigências?"); o mesmo sucede com um poder da natureza, o

vapor, por exemplo, que é forçado pelo homem a servi-lo, como a

um deus das máquinas, ou, havendo erros da máquina, isto é, erros

de cálculo humano em sua construção, despedaça-a juntamente

com o homem. Para solucionar essa questão de poder, é necessário

saber que força tem o socialismo, em que forma modificada ele

pode ainda ser usado como uma alavanca poderosa no atual jogo de

forças político; em determinadas circunstâncias, deveríamos fazer

tudo para fortalecê-lo. Deparando com uma grande força — por

mais perigosa que seja — a humanidade tem de pensar em como

torná-la um instrumento de suas intenções. — O socialismo só

adquirirá direitos quando parecer iminente a guerra entre os dois

poderes, entre os representantes do velho e do novo, e o cálculo

prudente das chances de conservação e de vantagem, em ambos os

lados, fizer nascer o desejo de um pacto. Sem pacto não há direito.

Mas até agora não há guerra nem pactos, no território mencionado,

e portanto nenhum direito, nenhum "dever".

447. Utilização da pequena desonestidade. — O poder da

imprensa consiste em que todo indivíduo que para ela trabalha

sente-se muito pouco comprometido e vinculado. Em geral ele diz

sua opinião, mas ocasionalmente não a diz, para ser útil a seu

partido, à política de seu país ou a si mesmo. Esses pequenos

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