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ou, expresso de maneira mais forte: a casta do trabalho forçado e a
casta do trabalho livre. A consideração da partilha da felicidade não
é essencial, quando se trata de produzir uma cultura superior; mas
de todo modo a casta dos ociosos é mais capacitada para o sofrer,
sofre mais, seu gosto em existir é menor, e sua tarefa, maior. Se
acontece uma troca entre as duas castas, de modo que as famílias e
os indivíduos mais obtusos e menos intelectuais da casta superior
são rebaixados para a inferior e os homens mais livres desta têm
acesso à superior, atinge-se um estado além do qual se vê apenas o
mar aberto dos desejos indefinidos. — Assim nos fala a voz, cada
vez mais distante, dos tempos antigos; mas onde ainda há ouvidos
para escutá-la?
440. De sangue. — O que homens e mulheres de boa linhagem
têm como vantagem diante dos outros, e que lhes dá o direito
indubitável a uma maior estima, são duas artes crescentemente
aumentadas pela hereditariedade: a arte de saber comandar e a arte
da obediência orgulhosa. — Em todo lugar onde comandar é parte
da vida diária (como no mundo da indústria e do comércio), formase
algo semelhante às linhagens "de sangue", mas em que falta a
atitude nobre na obediência, que naquelas é uma herança de
condições feudais e que no clima de nossa cultura já não cresce.
441. Subordinação. — A subordinação, que é tão valorizada no
Estado militar e burocrático, logo se tornará tão desacreditada
como já se tornou a tática serrada145 dos jesuítas; e quando essa
subordinação não for mais possível, já não haverá como obter
muitos dos efeitos mais assombrosos, e o mundo se tornará mais
pobre. Ela tem que desaparecer, pois desaparece o seu fundamento:
a crença na autoridade absoluta, na verdade definitiva; mesmo nos
Estados militares não basta a coerção física para produzi-la, mas se
requer a hereditária adoração do principesco como algo sobrehumano.
— Em circunstâncias mais livres, as pessoas se
subordinam apenas sob condições, em conseqüência de acordo
recíproco, isto é, com todas as reservas do interesse pessoal.
442. Exércitos nacionais. — A maior desvantagem dos
exércitos nacionais, agora tão enaltecidos, está no desperdício de
homens superiormente civilizados, que existem apenas graças ao
favor de muitas circunstâncias — deveríamos ser parcimoniosos e
temerosos com eles, pois são necessários enormes lapsos de
tempo, a fim de criar as condições fortuitas para a geração de
cérebros tão delicadamente organizados! Mas assim como os
gregos se banharam no sangue grego, também os europeus de hoje
derramam sangue europeu: e os superiormente educados são
aqueles sacrificados em proporção maior, aqueles que garantiriam
uma posteridade boa e abundante; pois na batalha eles ficam à
frente, como comandantes, e também se expõem mais aos perigos,
devido à sua elevada ambição. — Agora, quando se apresentam
tarefas muito diferentes e mais elevadas do que patria e honor
[pátria e honra], o grosseiro patriotismo romano é algo desonesto
ou indício de atraso.