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ambas querem se fazer amar: do que resultam, em especial no
casamento, cenas algo cômicas, algo absurdas.
419. Contradições nas cabeças femininas. — Sendo as
mulheres tão mais pessoais do que objetivas, tendências que se
contradizem logicamente toleram uma à outra no seu círculo de
idéias: elas costumam se entusiasmar precisamente pelos
representantes dessas tendências, um após o outro, e adotam
redondamente os seus sistemas; mas de modo tal que sempre surge
um ponto morto, onde mais tarde uma nova personalidade vem a
preponderar. Pode acontecer que toda a filosofia, na cabeça de uma
mulher de idade, consista em pontos mortos desse tipo.
420. Quem sofre mais? — Após uma desavença e disputa
pessoal entre uma mulher e um homem, uma parte sofre mais com
a idéia de ter magoado a outra; enquanto esta sofre mais com a
idéia de não ter magoado o outro o bastante, e por isso se empenha
depois, com lágrimas, soluços e caras feias, em lhe amargurar o
coração.
421. Ocasião para a generosidade feminina. — Se por um
momento puséssemos de lado as exigências dos costumes, bem
poderíamos considerar se a natureza e a razão não destinam o
homem a vários matrimônios sucessivos, talvez de forma que
inicialmente, na idade de vinte e dois anos, ele se case com uma
jovem mais velha, que lhe seja superior intelectual e moralmente e
se torne sua guia em meio aos perigos dos vinte anos (ambição,
ódio, autodesprezo, paixões de todo tipo). Mais tarde o amor dessa
mulher se converteria em maternal, e ela não apenas suportaria
como estimularia, da maneira mais salutar, que aos trinta o homem
estabelecesse uma relação com uma moça bastante jovem, cuja
educação ele tomaria nas próprias mãos. — Para o homem de vinte
anos, o casamento é uma instituição necessária, para o de trinta,
útil, mas não necessária: para a vida posterior ele é freqüentemente
prejudicial e favorece a regressão intelectual do homem.
422. Tragédia da infância. — Não é raro que homens nobres e
de altas aspirações tenham tido que empreender seu combate mais
duro na infância: talvez por terem que impor seu modo de pensar
contra um pai de pensamento baixo, afeito à aparência e à mentira,
ou, como lorde Byron, por viverem perpetuamente em luta com
uma mãe infantil e colérica. Se vivenciamos algo assim, por toda a
vida não superaremos a dor de saber quem foi realmente nosso
maior e mais perigoso inimigo.
423. Tolice dos pais. — Os erros mais crassos, no julgamento
de uma pessoa, são cometidos por seus pais: isto é um fato; mas
como explicá-lo? Terão os pais demasiada experiência de seu filho,
já não podendo reuni-la numa unidade? Observou-se que um
viajante só capta corretamente os traços distintivos gerais de um
povo na primeira fase de sua estadia; quanto mais conhece o povo,
mais deixa de ver o que nele é típico e diferente. Atendo-se ao que
está perto, seus olhos não mais percebem o que está longe. Então