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uma vez despertado o seu sentimento hostil, não são freadas por
nenhuma consideração de justiça, deixando o seu ódio crescer até
as últimas conseqüências; depois, porque são exercitadas em
descobrir feridas (que todo homem, todo partido tem) e espicaçálas:
no que sua inteligência, aguda como um punhal, presta-lhes um
ótimo serviço (ao passo que os homens, vendo feridas, tornam-se
contidos, são com freqüência generosos e conciliadores).
415. Amor. — A idolatria que as mulheres têm pelo amor é, no
fundo e originalmente, uma invenção da inteligência, na medida em
que, através das idealizações do amor, elas aumentam seu poder e
se apresentam mais desejáveis aos olhos dos homens. Mas, tendo
se habituado a essa superestimação do amor durante séculos,
aconteceu que elas caíram na própria rede e esqueceram tal origem.
Hoje elas são mais iludidas que os homens, e por isso sofrem mais
com a desilusão que quase inevitavelmente ocorre na vida de toda
mulher — desde que ela tenha imaginação e intelecto bastantes para
ser iludida e desiludida.
416. Sobre a emancipação das mulheres. — Podem as
mulheres ser justas, se estão tão acostumadas a amar, a
imediatamente simpatizar ou antipatizar? Em virtude disso não têm
tanto interesse por causas como têm por pessoas: mas, sendo a
favor de uma causa, tornam-se de imediato suas partidárias, e
assim corrompem sua pura, inocente influência. Há então um
perigo nada pequeno, quando lhes são confiados a política e certos
ramos da ciência (a História, por exemplo). Pois o que seria mais
raro do que uma mulher que realmente soubesse o que é ciência?
As melhores nutrem inclusive um secreto desprezo a ela, como se
de algum modo lhe fossem superiores. Talvez tudo isso possa
mudar; no momento é assim.
417. A inspiração no julgamento das mulheres. — As súbitas
decisões a favor ou contra, que as mulheres costumam tomar, os
lampejos de simpatias e aversões que iluminam suas relações
pessoais, em suma, as provas da injustiça feminina foram
envolvidas de uma aura pelos homens apaixonados, como se todas
as mulheres tivessem inspirações de sabedoria, mesmo sem a
trípode délfica e a coroa de louros:133 e muito tempo depois suas
sentenças são interpretadas e explicadas como oráculos sibilinos.
No entanto, se refletirmos que se pode dizer algo em favor de cada
pessoa, de cada causa, mas também contra elas, que todas as
coisas têm não apenas dois, mas três ou quatro lados, é difícil se
equivocar totalmente nessas decisões súbitas; e poderíamos até
dizer que a natureza das coisas é tal que as mulheres têm sempre
razão.
418. Fazer-se amar. — Como, num par amoroso, geralmente
uma pessoa ama e a outra é amada, surgiu a crença de que em todo
comércio amoroso há uma medida constante de amor: quanto mais
uma delas toma para si, tanto menos resta para a outra. Pode
ocorrer, excepcionalmente, que a vaidade convença cada uma das
duas pessoas de que é ela quem deve ser amada; de modo que