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Humano-Demasiado-Humano

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primeiramente que não as levem a mal e, em segundo lugar, que

tenham compaixão delas, por estarem sujeitas a paroxismos tão

violentos. A tal ponto chega a presunção humana.

359. Isca. — "Todo homem tem o seu preço" — isso não é

verdadeiro. Mas para cada um pode haver uma isca que tem de

morder. É assim que, para ganhar muitas pessoas para uma causa,

basta que se dê a ela o brilho da filantropia, da nobreza, da

caridade, da abnegação — e a que causa não se poderia dá-lo? —

São os doces e guloseimas de sua alma; outras pessoas têm outros.

360. Comportamento diante do elogio. — Quando bons amigos

elogiam um homem talentoso, ele com freqüência ficará alegre por

cortesia e benevolência, mas na verdade isso lhe é indiferente. Sua

autêntica natureza fica inerte diante disso, e não é possível movê-lo

um passo para fora do sol ou da sombra em que está; mas as

pessoas querem causar alegria mediante o elogio, e significaria

magoá-las não se alegrar com ele.

361. A experiência de Sócrates. — Quando alguém se torna

mestre numa coisa, em geral continua a ser, por isso mesmo, um

perfeito inepto na maioria das outras coisas; mas pensa-se

exatamente o contrário, algo de que Sócrates já teve experiência.

Este é o inconveniente que torna desagradável a relação com os

mestres.

362. Meios de embrutecimento. — Na luta contra a estupidez,

os homens mais justos e afáveis tornam-se enfim brutais. Com isso

podem estar no caminho certo para a sua defesa; pois a fronte

obtusa pede, como argumento de direito, o punho cerrado. Mas,

tendo o caráter justo e afável, como disse, eles sofrem com tal

meio de defesa, mais do que fazem sofrer.

363. Curiosidade. — Se não existisse a curiosidade, pouco se

faria pelo bem do próximo. Mas, sob o nome de dever ou

compaixão, ela se insinua na casa do infeliz e necessitado. —

Talvez até mesmo no decantado amor materno haja uma boa

parcela de curiosidade.

364. Erro de cálculo na sociedade. — Este deseja ser

interessante com seus juízos, aquele com suas afeições e aversões,

um terceiro com suas relações, um quarto com seu isolamento — e

todos calculam mal. Pois aquele diante do qual se representa o

espetáculo pensa ser ele mesmo o único espetáculo que interessa.

365. O duelo. — A favor das questões de honra e dos duelos

pode-se dizer que, se alguém é suscetível a ponto de não querer

viver se fulano ou sicrano diz ou pensa isto e aquilo sobre ele, tem

o direito de deixar a coisa ser resolvida pela morte de um ou do

outro. Sobre o fato de ele ser tão suscetível, não há o que discutir;

nisto somos herdeiros do passado, de sua grandeza como de seus

excessos, sem os quais nunca houve grandeza. Havendo um código

de honra que admite o sangue no lugar da morte, de maneira que

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