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sociedade como se pertencêssemos a ela.
352. Somos julgados erroneamente. — Quem quer sempre
escutar os julgamentos que fazem de sua pessoa, terá sempre
desgosto. Pois mesmo por aqueles que nos são mais próximos
("que nos conhecem melhor"), somos julgados erroneamente.
Mesmo bons amigos podem dar vazão ao aborrecimento numa
palavra desfavorável; e seriam eles nossos amigos se nos
conhecessem precisamente? — Os juízos dos indiferentes causam
muita dor, porque soam tão imparciais, quase objetivos. Mas se
notamos que alguém que nos é hostil nos conhece num ponto
sigiloso, tão bem quanto nós mesmos, como é enorme então nossa
contrariedade!
353. Tirania do retrato . — Artistas e homens de Estado que a
partir de alguns traços isolados compõem rapidamente a imagem de
uma pessoa ou um evento costumam ser injustos, ao exigir depois
que o evento ou a pessoa seja realmente como eles o pintaram;
exigem mesmo que alguém seja tão talentoso, tão ladino, tão injusto
como vive na sua representação.
354. O parente como o melhor amigo. — Os gregos, que
sabiam tão bem o que é um amigo — de todos os povos, só eles
tiveram uma discussão filosófica profunda e variada sobre a
amizade; de modo que foram os primeiros e até hoje os últimos a
ver o amigo como um problema digno de solução —, esses
mesmos gregos designavam os parentes com uma expressão que é
o superlativo da palavra "amigo". Isto permanece inexplicável para
mim.
355. Honestidade não compreendida. — Quando numa
conversa alguém cita a si mesmo ("eu disse então", "costumo
dizer"), isto dá impressão de arrogância, mas com freqüência vem
da fonte contrária, pelo menos da honestidade, que não quer
adornar e embelezar o instante com idéias de um momento anterior.
356. O parasita. — É indício de completa falta de nobreza
alguém preferir viver na dependência, à custa de outros, apenas
para não ter que trabalhar, e geralmente com secreta amargura em
relação àqueles de que depende. — Tal mentalidade é muito mais
freqüente nas mulheres que nos homens, e também muito mais
perdoável (por razões históricas).
357. No altar da reconciliação. — Há circunstâncias em que
só obtemos algo de um homem se o ofendemos e criamos
inimizade com ele: este sentimento de ter um inimigo o aborrece
tanto, que ele aproveita o primeiro sinal de uma disposição mais
branda para se reconciliar, e no altar dessa reconciliação sacrifica a
coisa a que dava tanta importância, que não pretendia ceder por
nenhum preço.
358. Solicitar compaixão como sinal de presunção. — Há
pessoas que, ao se encolerizar e ferir os outros, exigem