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Humano-Demasiado-Humano

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mostrar pathos ou comicidade.

345. Uma cena de comédia que sucede na vida. — Alguém

concebe uma opinião espirituosa sobre um tema, a fim de expressála

num grupo. Numa comédia, veríamos e ouviríamos como ele se

esforça em chegar ao ponto e conduzir o grupo até onde possa

fazer a sua observação: como sempre empurra a conversa para um

único objetivo, às vezes perde a direção, recupera-a, e afinal chega

o instante: quase lhe falta o fôlego — então alguém do grupo lhe

tira a observação da boca. Que fará ele? Será contra a sua própria

opinião?

346. Indelicado sem querer. — Quando alguém, sem o querer,

trata indelicadamente outra pessoa, por exemplo, não a

cumprimenta por não tê-la reconhecido, isto o aborrece, ainda que

não possa repreender sua consciência; incomoda-o a má impressão

que produziu no outro, ou teme as conseqüências de um malentendido,

ou o entristece ter ferido o outro — portanto, vaidade,

medo ou compaixão podem ser despertados, ou talvez tudo isso ao

mesmo tempo.

347. Obra de mestre da traição. — Expressar a um cúmplice a

suspeita mortificante de estar sendo traído por ele, e isso

justamente quando se está praticando uma traição, é um golpe de

mestre da maldade, pois ocupa o outro com a própria pessoa e o

obriga a se comportar de forma aberta e insuspeita por algum

tempo, permitindo que o verdadeiro traidor tenha as mãos livres.

348. Ofender e ser ofendido. — É muito mais agradável

ofender e mais tarde pedir perdão do que ser ofendido e conceder

perdão. Quem faz a primeira coisa dá mostra de poder, e em

seguida de bom caráter. O outro, se não quiser passar por

desumano, tem que perdoar. Por causa dessa obrigação, é mínimo

o prazer na humilhação do outro.

349. Na disputa. — Quando se contradiz a opinião de outra

pessoa e ao mesmo tempo se desenvolve a própria, a persistente

consideração da outra opinião costuma atrapalhar a postura natural

da própria: ela parece mais intencional, mais aguda, talvez um tanto

exagerada.

350. Artifício. — Quem quer obter algo difícil de outra pessoa

não deve enxergar a coisa como um problema, mas simplesmente

apresentar seu plano como a única possibilidade; se no olhar do

interlocutor despontar a objeção, a contradição, ele deve saber

rapidamente interromper e não lhe deixar tempo.

351. Remorsos após reuniões sociais. — Por que temos

remorsos após as reuniões sociais de costume? Porque tratamos

levianamente coisas importantes, porque ao conversar sobre

pessoas não falamos com inteira lealdade ou porque nos calamos

quando deveríamos falar, porque oportunamente não nos

levantamos e saímos, em suma, porque nos comportamos em

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