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nos dão suficiente importância.
338. Vaidades que se cruzam . — Duas pessoas que se
encontram, e cuja vaidade é igualmente grande, conservam má
impressão uma da outra, pois cada uma delas estava tão ocupada
com a impressão que queria produzir, que a outra não lhe causa
nenhuma impressão; enfim, as duas percebem que seus esforços
foram vãos, e atribuem a culpa à outra.
339. Maus modos como bons sinais. — O espírito superior tem
prazer nas incivilidades, arrogâncias, e mesmo hostilidades de
jovens ambiciosos contra ele; são os maus modos de cavalos
fogosos que ainda não levaram cavaleiro, e que logo sentirão
orgulho de levá-lo.
340. Quando é aconselhável não ter razão. — Convém
recebermos acusações sem refutá-las, mesmo quando são injustas,
se o acusador vir como uma injustiça maior de nossa parte o fato
de o contradizermos e até o refutarmos. Sem dúvida, desse modo
um homem pode sempre estar errado e conservar a razão,
transformando-se enfim, com tranqüila consciência, num
insuportável tirano e atormentador; e o que vale para o indivíduo
pode suceder com classes inteiras da sociedade.
341. Muito pouco reverenciadas. — Pessoas muito
convencidas, às quais se mostra uma consideração menor do que a
que esperavam, tentam durante muito tempo enganar a si mesmas e
aos outros a esse respeito e se tornam psicólogos muito sutis, a fim
de estabelecer que afinal os outros as reverenciaram o bastante; se
não atingem seu objetivo, se o véu da ilusão se rasga, entregam-se
a uma raiva tanto maior.
342. Estados primitivos ecoando na fala. — Na maneira como
os homens fazem afirmações em sociedade, reconhece-se
freqüentemente um eco dos tempos em que eles entendiam mais de
armas que de alguma outra coisa: num instante manejam suas
frases como atiradores que apontam sua besta, no outro pensamos
ouvir o sibilar e o tilintar das lâminas; e no caso de certos homens
uma afirmação cai como um sólido porrete. — Já as mulheres
falam como seres que durante milênios sentaram-se junto ao tear,
manusearam a agulha ou foram crianças com as crianças.
343. O narrador. — Quem narra alguma coisa, logo deixa
perceber se narra porque o fato lhe interessa ou por querer
despertar o interesse mediante a narrativa. Neste caso ele exagera,
usa superlativos e faz outras coisas assim. Então ele geralmente não
narra tão bem, porque pensa mais em si do que no assunto.
344. Lendo em voz alta. — Quem lê criações dramáticas em
voz alta faz descobertas sobre o seu próprio caráter: para certos
momentos e estados de espírito, para o que for patético ou
burlesco, digamos, acha sua voz mais natural do que para outros,
enquanto na vida cotidiana talvez só não tenha tido oportunidade de