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Humano-Demasiado-Humano

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327. O segredo do amigo. — Poucos são aqueles que, estando

embaraçados por falta de temas para a conversa, não revelam os

assuntos secretos dos amigos.

328. Humanidade. — A humanidade das celebridades do

espírito, ao lidar com pessoas não célebres, consiste em

amavelmente não ter razão.

329. O desconcertado. — Pessoas que em sociedade não se

sentem seguras aproveitam toda ocasião em que há alguém que lhes

é próximo, e a quem são superiores, para demonstrar publicamente

essa superioridade — mediante gracejos, por exemplo.

330. Agradecimento. — Incomoda a uma alma delicada saber

que alguém lhe deve agradecimento; a uma alma grosseira, saber

que o deve a alguém.

331. Indício de estranhamento. — O indício mais forte do

estranhamento de opiniões entre duas pessoas se dá quando dizem

uma à outra algo irônico, mas nenhuma delas percebe a ironia.

332. Presunção com mérito. — A presunção aliada ao mérito

ofende ainda mais que a presunção de pessoas sem mérito: pois o

próprio mérito já ofende.

333. Perigo na voz. — Pode acontecer de, numa conversa, o

som de nossa própria voz nos embaraçar e nos levar a afirmações

que não correspondem absolutamente a nossa opinião.

334. Numa conversa. — Dar razão ou não ao outro, numa

conversa, é puramente questão de hábito: as duas coisas fazem

sentido.

335. Medo do próximo. — Tememos a disposição hostil do

próximo, porque receamos que, graças a esta disposição, ele

chegue aos nossos segredos.

336. Distinguindo ao repreender. — Pessoas muito respeitadas

distribuem mesmo a sua repreensão como se nos distinguissem

com ela. Esperam que atentemos para a solicitude com que se

ocupam de nós. Nós as compreendemos de modo totalmente

errado, ao tomar sua repreensão objetivamente e nos defendermos

dela; assim as irritamos e as afastamos de nós.

337. Dissabor com a benevolência alheia. — Enganamo-nos

quanto à intensidade em que nos cremos odiados ou temidos:

porque nós mesmos conhecemos bem o grau de nossa divergência

em relação a uma pessoa, uma tendência, um partido, mas eles nos

conhecem superficialmente, e portanto nos odeiam

superficialmente. É freqüente depararmos com uma benevolência

que para nós é inexplicável; mas se a compreendemos, então ela

nos ofende, porque mostra que não nos levam bastante a sério, não

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