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seus frutos; é como se as estações do ano se seguissem com
demasiada rapidez. Por falta de tranqüilidade, nossa civilização se
transforma numa nova barbárie. Em nenhum outro tempo os
ativos, isto é, os intranqüilos, valeram tanto. Logo, entre as
correções que necessitamos fazer no caráter da humanidade está
fortalecer em grande medida o elemento contemplativo. Mas desde
já o indivíduo que é tranqüilo e constante de cabeça e de coração
tem o direito de acreditar que possui não apenas um bom
temperamento, mas uma virtude de utilidade geral, e que, ao
preservar essa virtude, está mesmo realizando uma tarefa superior.
286. Em que medida o homem ativo é preguiçoso. — Acho que
cada pessoa deve ter uma opinião própria sobre cada coisa a
respeito da qual é possível ter opinião, porque ela mesma é uma
coisa particular e única, que ocupa em relação a todas as outras
coisas uma posição nova, sem precedentes. Mas a indolência que
há no fundo da alma do homem ativo impede o ser humano de tirar
água de sua própria fonte. — Com a liberdade de opiniões sucede o
mesmo que à saúde: ambas são individuais, não se pode criar um
conceito de validade geral para nenhuma delas. O que um indivíduo
necessita para a sua saúde é, para um outro, motivo de doença, e
vários caminhos e meios para a liberdade do espírito seriam, para
naturezas superiormente desenvolvidas, caminhos e meios de
servidão.
287. Censor vitae [Censor da vida]. — Por muito tempo, a
alternância de amor e ódio caracteriza o estado interior de um
homem que quer ser livre em seu julgamento da vida; ele não
esquece, e tudo ressente das coisas, tudo de bom e de mau. Enfim,
quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de
experiências, ele não desprezará nem odiará a existência, e
tampouco a amará, mas estará acima dela, ora com o olhar da
alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma
disposição ora estival ora outonal.
288. Exito secundário. — Quem deseja seriamente se tornar
livre perderá a inclinação para erros e vícios, sem que nada o
obrigue a isso; também a raiva e o desgosto o assaltarão cada vez
menos. Pois sua vontade não deseja nada mais instantemente do
que o conhecimento e o meio de alcançá-lo, ou seja: a condição
duradoura em que ele está mais apto para o conhecer.
289. Valor da doença . — O homem que jaz doente na cama
talvez perceba que em geral está doente de seu ofício, de seus
negócios ou de sua sociedade, e que por causa dessas coisas
perdeu a capacidade de reflexão sobre si mesmo: ele obtém esta
sabedoria a partir do ócio a que sua doença o obriga.
290. Sensibilidade no campo. — Quando não se tem linhas
firmes e calmas no horizonte da vida, como as linhas das
montanhas e dos bosques, a própria vontade íntima do homem vem
a ser intranqüila, dispersa e sequiosa como a natureza do citadino:
ele não tem felicidade nem dá felicidade.