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Humano-Demasiado-Humano

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a liberdade espiritual e humana alcançada pelos gregos remonta a

esse fato. Mas isso foi, ao mesmo tempo, a verdadeira fatalidade da

formação grega, pois Homero aplainou à medida que centralizou, e

dissolveu os mais sérios instintos de independência. De quando em

quando se erguia, da profundeza do sentimento grego, o protesto

contra Homero; mas ele sempre foi vencedor. As grandes potências

espirituais exercem uma influência opressora, além daquela

libertadora: mas sem dúvida há diferença se é Homero, a Bíblia ou a

Ciência que tiraniza os homens.

263. Dons. — Numa humanidade altamente desenvolvida como

a de hoje, cada um tem da natureza a possibilidade de alcançar

vários talentos. Cada qual possui talento nato, mas em poucos é

inato ou inculcado o grau de tenacidade, perseverança, energia,

para que alguém se torne de fato um talento, isto é, se torne aquilo

que é, ou seja, o descarregue em obras e ações.

264. O homem de espírito, superestimado ou subestimado. —

Pessoas não científicas, mas talentosas, apreciam todo indício de

espírito, esteja ele numa trilha certa ou numa falsa; elas querem,

sobretudo, que a pessoa com que lidam as entretenha com seu

espírito, as estimule, inflame, conduza à seriedade e ao gracejo, e

de todo modo as proteja do tédio, como um poderoso amuleto. As

naturezas científicas, porém, sabem que o dom de ter muitas idéias

deve ser refreado severamente pelo espírito da ciência; não aquilo

que brilha, aparece e excita, mas a verdade muitas vezes sem

lustre, é o fruto que ele deseja sacudir da árvore do conhecimento.

Ele pode, como Aristóteles, não fazer distinção entre "tediosos" e

"espirituosos"; seu demônio o conduz tanto pelo deserto como pela

vegetação tropical, para que em toda parte ele se alegre apenas com

o real, sólido, genuíno. — Disso resulta, em insignificantes

eruditos, desprezo e desconfiança da espirituosidade, enquanto

freqüentemente as pessoas espirituosas têm aversão pela ciência:

como, por exemplo, quase todos os artistas.

265. A razão na escola. — A escola não tem tarefa mais

importante do que ensinar o pensamento rigoroso, o julgamento

prudente, o raciocínio coerente; por isso ela deve prescindir de

todas as coisas que não são úteis a essas operações, por exemplo,

da religião. Ela pode esperar que depois a falta de clareza humana, o

hábito e a necessidade afrouxarão de novo o arco demasiado tenso

do pensar. Mas enquanto durar sua influência, deve promover à

força o que é essencial e distintivo no homem: "Razão e Ciência,

suprema força do homem" — como pelo menos Goethe é de

opinião. — O grande naturalista Von Baer vê a superioridade dos

europeus em relação aos asiáticos na capacidade, adquirida na

escola, de oferecer razões para tudo aquilo em que crêem, algo de

que os asiáticos não são absolutamente capazes. A Europa

freqüentou a escola do pensar coerente e crítico, enquanto a Ásia

ainda não sabe distinguir entre poesia e realidade e não está

consciente de onde vêm suas convicções, se da sua própria

observação e pensamento correto ou de fantasias. — A razão na

escola fez da Europa a Europa: na Idade Média ela estava a

caminho de se tornar novamente um pedaço e apêndice da Ásia —

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