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Revista reportagem com Karla Constâncio

A Revista Atualidade Cosmética que já está circulando na internet . Está é a edição que promove os prêmios de que estamos participando com as três indicações. Veja a reportagem completa com a Karla Constâncio, presidente da K Constâncio.

A Revista Atualidade Cosmética que já está circulando na internet . Está é a edição que promove os prêmios de que estamos participando com as três indicações. Veja a reportagem completa com a Karla Constâncio, presidente da K Constâncio.

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Ano 29/2021 • R$ 40,00

#173

pele sob ataque

Os impactos da pandemia sobre a

condição da pele e como isso pode

acelerar a adoção de uma nova

abordagem no desenvolvimento

de produtos para essa categoria

varejo

As lojas físicas

assumiram novos papéis

para os varejistas. Sua

arquitetura precisa refletir

essas nova realidade

28º prêmio atualidade cosmética: Confira os finalistas e assista ao anúncio dos vencedores


TRANSFORMAMOS A

NATUREZA EM BELEZA

E QUIPAMENTOS I NDUSTRIAIS

MOTORQUE

O MUNDO CONHECE


06. PAINEL

Os alquimistas do Boticário e um brasileiro no

comando da área de fragrâncias da Symrise.

28. CANAL.

VAREJO

Na nova dinâmica do varejo, os pontos de

venda físicos assumem novas funcões, além

daquelas tradicionais. Isso precisa se refletir

na organização da loja e na sua arquitetura.

#173

10. ESPECIAL

PELE

Um evento de magnitude e alcance global,

como a pandemia de coronavírus, traz alterações

e sequelas para diferentes áreas da

nossa vida. E a pele está refletindo tudo isso.

Daqui para frente, muita coisa deve mudar

nessa categoria.

38. NEGÓCIOS

ENTREVISTA

A italiana Ilária Resta assumiu o comando

da divisão de perfumaria da Firmenich em

março do ano passado, no auge da pandemia.

Em entrevista à Atualidade Cosmética ela

fala como a empresa tem buscado entender os

impactos da atual conjuntura para o negócio

de fragrâncias.

20. EVENTO

PRÊMIO ATUALIDADE COSMÉTICA

Num ano atípico, a organização do Prêmio

Atualidade Cosmética foi se adaptando à

realidade a cada momento para manter o seu

compromisso com o mercado.

44. SUPPLY CHAIN

EMBALAGENS

A digitalização está afetando todas as áreas

de negócios e o design das embalagens e sua

concepção precisa começar a refletir essa

nova realidade.

ATUALIDADE COSMÉTICA 3 # 173| FEVEREIRO 2021


EDITORIAL

PRONTOS PARA

UM NOVO CICLO

Não adianta lutar contra a realidade dos fatos.

Mas é possível analisa-los sobre diferentes

ângulos, com o objetivo de compreendê-los a

partir de um olhar mais amplo, capaz de contextualizar

o fato e permitir um entendimento

menos superficial da situação.

Esse é o papel do bom jornalismo especializado. Ajudar

os leitores do seu segmento de mercado a obter informações

e conteúdo aprofundado e contextualizado, oferecendo conteúdo

(ferramentas) que ajudem seus leitores no processo de

formação de opinião. Não nos propormos a ser a voz única

da verdade. Simplesmente nos propormos a ser uma fonte de

informação e conteúdo confiável, digna da leitura dos profissionais

que tomam as decisões e fazem acontecer.

Desde 1992, quando foi fundada, Atualidade Cosmética

trabalha diuturnamente para cumprir com a sua missão de

informar e contextualizar o mercado brasileiro de beleza acerca

dos temas mais relevantes para a indústria e o varejo de

beleza do País. Nos esforçamos para entregar a cada edição,

reportagens que sirvam de fomento ao debate e a novas ideias

que podem contribuir para o mercado evoluir, ou para que ele

não volte para trás. Entrevistamos dezenas de pessoas a cada

mês, para nos mantermos antenados com o que acontece no

dia a dia do mercado e, claro, para obter essas informações de

diferentes pontos do mercado, de quem lida com a criação e o

desenvolvimento dos produtos até quem acompanha no dia

a dia o que está acontecendo no chão da loja (ou na tela do

celular), onde o consumidor avalia o que vai comprar.

Esse tem sido o nosso trabalho ao longo de quase três décadas.

E assim continuará sendo.

Mas a manutenção desse compromisso não se dá sem mudanças.

Como qualquer produto, um veículo de comunicação

tem os seus ciclos e a necessidade constante de mudar, de

evoluir. Ao longo de sua história, Atualidade Cosmética passou

por alguns processos de mudança, alguns mais radicais,

outros menos, mas sempre buscado olhar para o que aquele

momento do mercado pedia e para como nós poderíamos

contribuir com o debate.

A partir da próxima edição, Atualidade Cosmética dá início

a um novo ciclo. Uma evolução natural e não uma transformação

radical, acreditamos.

No momento em que os negócios vivem um processo de

transformação em velocidade inédita, o papel das lideranças

ganhou ainda mais relevância para guiar as empresas por mares

muitas vezes revoltos, alguns ainda desconhecidos para

boa parte das empresas. Entendendo a importância dessas

mulheres e homens que vão ditar os rumos do mercado nos

próximos anos, decidimos que compreender melhor e compartilhar

com os nossos leitores as visões, as ideias, os planos

e estratégias desses líderes é uma forma de contribuir com

o debate e com a evolução do mercado. Por isso, a partir da

próxima edição (174), teremos a honra de estampar as capas

de Atualidade Cosmética com as principais lideranças da

indústria e do varejo brasileiros de beleza. Ao longo de 173

edições, foram raríssimas às vezes nas quais personagens centrais

do mercado brasileiro figuraram nessa posição. Agora, e

por todo esse novo ciclo, essa será a regra. E a primeira capa

desse novo ciclo será estampada por Erasmo Toledo, VP de

Negócios da Natura Brasil, que conversou com a reportagem

sobre como a gigante brasileira construiu sua fortaleza digital

ao longo dos anos, da evolução dos modelos de negócios e da

arquitetura de canais de venda, entre outros assuntos.

Por enquanto, aproveite a leitura desta edição (que está

muito boa, diga-se).

Boa leitura!

Aûani Cusma de Paula, José Luiz de Paula Jr. e Sueli Cusma

EDITOR: AÛANI CUSMA DE PAULA

auani@cusmaneditora.com.br

DARYUS FELISBINO

(daryus@cusmaneditora.com.br)

FUNDADOR:

JOSÉ LUIZ DE PAULA JR.

DIRETORA DE NEGÓCIOS:

SUELI CUSMA

sueli@cusmaneditora.com.br

DESIGN: JOHNNY FELIPE

(jonatas@cusmaneditora.com.br)

COLABOROU NESTA EDIÇÃO:

CESAR ALVES

EXECUTIVOS DE VENDAS:

WANESSA DE SOUZA (wanessa@

cusmaneditora.com.br)

EUFRAZIO LAUTON

(lauton@cusmaneditora.com.br)

ATUALIDADE COSMÉTICA 8 # 115 | SET-OUT 2010

WWW.ATUALIDADECOSMETICA.COM.BR

ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO

RUA ANTONIO TAVARES, 59

CAMBUCI

CEP 01542-010 SP – BRASIL

PARA ANUNCIAR, LIGUE: (11) 3392-2584


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painel

VITRINE DA LINHA

ALCHEMISTS, NO

BOTICÁRIO LAB

DE SÃO PAULO:

distribuição exclusiva

nas lojas conceito

da marca por tempo

indeterminado.

OS ALQUIMISTAS

CHEGARAM

Foto: Studio Firma/Reprodução Internet

Num movimento de aproximação com

o que poderia ser considerada uma

perfumaria de nicho, O Boticário convidou

quatro perfumistas internacionais

para criar uma coleção exclusiva

de fragrâncias: linha Alchemists O Boticário.

As quatro fragrâncias da linha foram apresentadas

primeiramente na loja da marca em Dubai, nos Emirados

Árabes Unidos e logo após o natal, aterrissaram

no Brasil, mas apenas nas duas unidades do Boticário

Lab, as lojas conceito da marca, em São Paulo e Curitiba.

A gerente de inovação em perfumaria da marca,

Cláudia Stenger explica que apesar da distribuição exclusiva,

a linha faz parte do portfólio regular da marca

e não é uma edição limitada. A executiva diz que

existem planos para que as outras unidades da rede

recebam os produtos, mas que hoje não existe prazo

definido para o roll out.

Assinam as criações os perfumistas Vincent Schaller

(Rose) e Frank Voelkl (Oud), ambos da Firmenich;

Carlos Benaim (Neroli), da IFF e Natalie Cetto (Iris),

da Givaudan. Segundo Stenger, a escolha dos perfumistas

foi um trabalho conjunto da empresa e das casas.

“Demos a liberdade para cada perfumista trazer

ingredientes de alta qualidade que os inspirassem a

criar um olfativo sofisticado, que revelasse a personalidade

e a expertise de cada criador”, conta a executiva,

para quem uma fragrância especial se diferencia

pelo conjunto da seleção e combinação de ingredientes

de alta qualidade com a inspiração do perfumista

na sua criação. “O resultado são quatro versões exclusivas.

Neroli traz mais frescor dos cítricos e a nobreza

do Neroli, Iris e Rosa trazem o ingrediente floral que

remete à feminilidade e sofisticação, não deixando de

lado a versão Oud, que traz mais calor e robustez”,

explica Cláudia Stenger.

O frasco foi inspirado nas ânforas milenares, responsáveis

por guardar os líquidos mais preciosos, em uma

versão minimalista e elegante. Com 75 ml., cada um deles

é comercializado pelo valor de R$ 349,90, de longe o

perfume de linha mais caro já lançado pela marca.

Sobre uma eventual ampliação da coleção, a gerente

de Inovação diz que a marca está focada nas quatro

versões já lançadas, que trazem caminhos olfativos e

propostas diferentes e podem agradar diversos públicos.

“Mas sempre estamos atentos a inovações e acompanhando

a performance dos produtos para definir

novos lançamentos”, diz ela, concluindo que uma das

principais características das unidades Boticário Lab

são os produtos e serviços exclusivos.

ATUALIDADE COSMÉTICA 6 # 173 | FEVEREIRO 2021



painel

DE VOLTA

A PARIS

Quando assumiu em 2014, a cadeira global da

área de ingredientes cosméticos da fabricante

alemã Symrise, o brasileiro Eder Ramos (foto)

definiu que tocaria o negócio do Brasil, ainda

que isso lhe mantivesse boa parte de cada mês viajando

pelo mundo. “Daqui só saio para me aposentar”, costumava

dizer. Dono de uma carreira de quase quatro décadas

no negócio de fragrâncias, começando na H&R, uma

das empresas que deu origem a atual Symrise, Eder teve

que refazer seus planos ao assumir uma nova missão: a

de presidente global da área de fragrâncias da empresa.

Para tocar a operação, o brasileiro retornou a Paris, onde

viveu entre o final dos anos 1990 até meados dos anos

2000, respondendo pelas vendas de fragrâncias para a Europa.

Além do comando da Symrise Cosmetic Ingredients,

Eder mantinha a cadeira de Chairman da operação de

Scent&Care para América Latina.

Na nova posição Eder terá responsabilidade pelas áreas

de Fine Fragrances, Consumer Fragrances e Oral care.

As mudanças vêm na esteira do anúncio de que Achim

Daub, atual presidente da Symrise Scent & Care, que abri-

ga as áreas de fragrâncias, ingredientes cosméticos

e ingredientes para fragrâncias e aromas, vai deixar

a empresa no próximo dia 31 de março. Em 2019, a

Symrise Scent & Care faturou 1,42 bilhões, cerca de

1 bilhão oriundo da área de fragrâncias.

TÁ RUIM. MAS MENOS

DO QUE SE ESPERAVA

As vendas de produtos de beleza de prestígio

sofreram uma queda de 19% wm 2020,

para US$ 16,1 bilhões. Sem surpresas, as

vendas de maquiagem - a maior categoria

desse mercado - foram as que mais perderam, com

uma queda de 34% no ano em comparação a 2019. As

vendas de produtos para a pele, caíram menos, 11%.

Já de forma surpreendente, as vendas de fragrâncias

sofreram um baque bem menor, de “apenas” 8%, menos

até do que os prpodutos para a pele, que sofreram

uma queda de 11%.

De acordo com a consultoria NPD Group, que monitora

os níumeros do segmento de beleza de luxo nos

EUA, a queda mais suave para o negócio de fragrâncias

se deve a recuperação vistra no segundo semestre

por conta da aceleração das vendas online, que ajudaram

a compensar as perdas nas lojas físicas que ainda

vivem um momento desafiador. As vendas de perfumes

(os extratos) cresceram dois dígitos no ano. NPD

credita o movimento ao fato de que os consumidores

LOJA DA NORDSTROM,

EM NY: vendas digitasis

de perfumes no segundo

semestre ajudaram a

compensar as perdas nas

vendas em lojas físicas.

norte-americanos estão buscado por fragrâncias mais duradouras.

Como os extratos tendem a ser mais caros, isso também

ajudou a impulsionar o resultado em dólar das categoria.

Já o segmento de perfumes para casa, que nos últimos

anos já vinham em alta, aceleraram ainda mais, puxando o

crescimento da categoria de fragrâncias.

ATUALIDADE COSMÉTICA 8 # 173 | FEVEREIRO 2021


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A pele póspandemia

QUAL O IMPACTO A MÉDIO E LONGO PRAZO DA PANDEMIA SOBRE A

CONDIÇÃO DA PELE E COMO ISSO PODE LEVAR A INDÚSTRIA A REPENSAR A

FORMA COMO ABORDA E DESENVOLVE SEUS PRODUTOS

>>> AÛANI CUSMA DE PAULA

Nunca “agredimos”

tanto a

nossa pele quanto

nos últimos

meses. Com a

necessidade de

se proteger contra

a Covid-19, passamos a tomar

mais banhos e o número de lavagens

das mãos multiplicou-se exponencialmente,

assim como as vendas de

sabonetes com apelo antibactericida.

Um estudo da consultoria Kantar Insights

realizado entre 14 e 17 de agosto

do ano passado, com 503 pessoas

de todo o País, 79% dos brasileiros

se autodeclararam muito cuidadosos

com as medidas de higiene e proteção

contra o novo coronavírus. Não

bastasse esse uso intenso, as lavagens

de mãos são intercaladas com a aplicação

de álcool em gel.

O impacto imediato disso para

a pele foi o esperado: um aumento

substancial nos casos de dermatite de

contato, dermatite atópica além do

aumento da sensibilização da pele.

Tão logo os dermatologistas puderam

voltar a realizar o atendimento presencial,

ou mesmo com a implementação

da telemedicina, foi possível

constatar os efeitos das novas práticas

de higiene diária. “Os quadros de dermatite

de contato pioraram bastante.

As pessoas ficaram muito ansiosas e

lavavam as mãos a toda a hora, acabando

com a barreira natural da pele.

Isso ficou muito prevalente”, diz o

dermatologista Daniel Cassiano, da

Clínica GRU Saúde e membro da Sociedade

Brasileira de Dermatologia.

Ainda assim, a intensidade da

agressão desse uso crônico foi muito

além do que os testes clínicos e dermatológicos

realizados para a avaliação

e liberação desses produtos

alcançam. O uso excessivo de álcool

e sabonete por quem está na linha de

frente do combate à pandemia gerou

níveis de ressecamento na pele das

mãos em um nível absurdo, segundo

Ricardo Piccoli, gerente regional

da área de proteção de produtos da

Symrise. “O cuidado para não se contaminar

levou a uma aplicação excessiva

de produtos que, na prática, não

são adequados para o uso crônico”,

diz o executivo.

Logo que apareceu a pandemia, a

busca por ingredientes para produtos

de assepsia disparou. Todas as

empresas queriam (ou precisaram),

lançar álcool em gel e outros produtos

antissépticos e com ação contra

bactérias e vírus. Isso fez com que

muita coisa formulada não seguindo

os melhores protocolos de segurança

cosmética acabasse no mercado,

para não falar em produtos produzidos

de forma clandestina mesmo. O

problema acometeu todos os países.

A capacidade de produzir álcool de

uso cosmético era limitada e passou-

-se a vender, de forma irresponsável,

álcool não tratado para álcool em gel.

Naturalmente o álcool contém ácidos

orgânicos que induzem processos

de irritação. “Nos Estados Unidos

ATUALIDADE COSMÉTICA 10 # 173 | FEVEREIRO 2021


# 173 | FEVEREIRO 2021 11 ATUALIDADE COSMÉTICA

VÍRUS E BACTÉRIA

NA PELE: longevidade

e alcance global da

pandemia gerou

novas situações que

impactam a condição

da pele. Alguns desses

impactos irão perdurar.


ESPECIAL Pele

foram encontrados produtos com

metanol, que causa danos irreversíveis.

Aqui, encontramos benzeno no

álcool em gel. Isso agravou a questão

de dermatite de contato”, lamenta o

gerente da Symrise.

O uso de máscaras, outra marca

desse momento crítico, também desempenha

um papel importante na

ampliação dos quadros de dermatite,

pela compressão que causa. Dados de

um levantamento realizado entre 28

de maio e 15 de junho pela consultoria

britânica Mintel para a Beiersdorf,

dona das marcas Nivea e Eucerin,

apontam que 83% dos brasileiros diziam

usar máscara em público. “Enxergamos

mais lesões e um aumento

da oleosidade da pele, que começa a

se comportar de forma diferente não

só pela condição de stress (N.E.: algo

do qual falaremos mais à frente), mas

porque existe um aparato que comprime

boa parte do rosto”, explica a

dermatologista Ana Coutinho, diretora

Médica da francesa Pierre Fabre,

dona das marcas Avéne e Darow.

As máscaras também impactaram

no aumento de casos de Acne por

conta da maior oclusão da pele. Outro

desdobramento do uso da peça de

proteção é o aumento da oleosidade,

e não só no ponto da máscara, mas

por toda a face e nas áreas pelosas

também. Ambas as condições já eram

críticas para a população daqui. Pesquisas

da Beiersdorf indicam que

36% dos brasileiros afirmam ter a

pele oleosa, enquanto 35% garantem

sofrer com a Acne.

Outro fator de bastante razia para

a pele, os produtos de limpeza da casa

também foram utilizados de forma

mais intensa nos últimos meses. Muitos

consumidores que recorriam a outros

profissionais para cuidar dessas

questões em sua casa, ao menos uma

vez por semana, deixaram de contar

com esse apoio e assumiram o cuidado

mais pesado do lar no dia a dia.

Como se espera que o atual estado

de pandemia persista, pelo menos,

por boa parte de 2021, os atuais

hábitos de higiene para conter a

doença devem se manter. Mas esse é

apenas um dos lados do problema,

muito provavelmente o mais pontual

de todos eles. “Sem dúvidas, a situação

atual vem gerando impactos na

saúde da pele, porém acreditamos

que a maioria seja ocasionada pela

mudança no estilo de vida frente ao

novo contexto e, portanto, esses efeitos

tendem a ser transitórios”, acredita

Roseli Mello, Head da área de Pesquisa

e Desenvolvimento da Natura.

Ainda que transitória, o fato é que

isso ajudou a acelerar algo que já era

compreendido pela maior parte dos

formuladores como necessário, mas

que ainda representa um desafio para

as empresas: investir em formulações

mais limpas e menos agressivas à pele

e ao meio ambiente. Mais do que uma

questão técnica, este é um problema

de custos e, antes de tudo, uma decisão

de negócios dos líderes empresariais,

já que para o bem ou para o mal

pode implicar em uma mudança de

posicionamento de mercado.

ASPECTOS AMBIENTAIS

Por meses, milhões de brasileiros

conviveram (e no momento em que

este texto é finalizado, deveriam continuar)

com restrições de mobilidade.

Com boa parte das pessoas trancadas

em casa por longos períodos a

exposição solar, por exemplo, diminuiu

e isso também foi percebido nos

consultórios. “Os casos de melasma

apresentaram melhora, já que as pessoas

quando saem usam a máscara,

uma barreira física que diminui a incidência

de radiação solar no rosto.

Foi possível ver manchas mais claras

na área da máscara e mais escuras na

testa”, conta o dermatologista Cassiano.

Mas esse também é um efeito

pontual, transitório. Tão logo as pessoas

voltem a se expor, as manchas

na pele tendem a escurecer caso as

pessoas não tenham o devido cuidado.

O que pode ser um problema,

uma vez que nesse período também o

uso de proteção solar diminuiu.

A queda na venda de protetores

solar foi uma realidade durante a

pandemia em todo o mundo. Mais do

que o baque nas vendas em si, o que

mais preocupa os profissionais é a

quebra do hábito de uso, ainda mais

PESSOAS NO

VIADUTO DO CHÁ,

CENTRO DE SÃO

PAULO: stress e

ansiedade gerados

pela situação são

sentidos na pele.

num País que valoriza a cultura do

bronzeado e cujas vendas de proteção

solar se concentram entre o final

de dezembro e meados de janeiro,

exclusivamente por conta da ida de

muitas famílias às praias. Mesmo que

no Brasil o Sol brilhe forte por todo o

ano, a penetração da categoria ainda

é baixa. “Nem todo mundo assimilou

o uso do fotoprotetor como deveria

e a quebra desse hábito, muito

em função do fato de estarmos mais

dentro de casa e de que perdemos

os horários de saída e retorno, que

ajudavam a regular a rotina de uso,

pode ser um problema”, explica Ana

Coutinho. A médica da Pierre Fabre

lembra que o protetor solar precisa

ser encarado como um produto de

uso corriqueiro, especialmente para

pessoas que estão passando por algum

tipo de tratamento e que estejam

com a pele mais sensibilizada.

Daniel Cassiano recomenda o uso de

proteção solar para uso em casa para

os seus pacientes com melasma, por

conta da radiação solar que entra pelas

janelas do imóvel, por exemplo.

Mas ele é categórico em relação ao

uso do produto por pessoas sem al-

ATUALIDADE COSMÉTICA 12 # 173 | FEVEREIRO 2021


Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

tão ou mais direto que o de qualquer

produto cosmético de uso tópico. “A

alteração no ritmo e nos horários de

sono e vigília durante o ciclo do dia

e da noite, o ciclo circadiano, impacta

muito a pele, podendo inclusive agravar

algumas doenças cutâneas crônicas”,

lembra a executiva da Natura.

Isso é o que faz o cosmetológo

Carlos Praes, sócio da consultoria

especializada em inovação e desenvolvimento

de cosméticos Innova

Beauty, questionar, por exemplo, o

conceito do “mascne”, como fruto

exclusivo da oclusão e da compressão

gerado pelo equipamento de

proteção. “A alimentação impacta

muito mais a questão da Acne e da

oleosidade da pele do que qualquer

produto tópico. E se as pessoas, mais

ansiosas e estressadas, passam a comer

alimentos mais gordurosos, por

exemplo, isso impacta tanto quanto o

uso de máscara”, pontua Praes.

guma condição de pele específica e

que estão em casa. “É um erro usar

filtro sola sem ter a exposição solar”.

Apesar de parecer obvia, a afirmação

do médico tem implicações diretas

sobre um claim cada vez mais utilizado

pela indústria de proteção solar e

cuidados faciais: a proteção conta a

luz azul emitida pelas telas de celulares

e notebooks, por exemplo. Em

tempos de home office generalizado,

passamos a ficar ainda mais tempo à

frente dessas telas, aumentando o nível

da polêmica sobre os reais impactos

gerados diretamente por esse tipo

de radiação sobre a saúde da pele.

A MENTE AFETA A PELE

Diz-se que nossas emoções não têm

para onde escapar, elas só podem ir

parar na nossa pele. A nossa derme

começa a se formar no embrião a partir

do mesmo tecido que dá origem

ao cérebro, daí a ligação tão direta

entre a situação emocional de uma

pessoa e a condição da sua pele. E

nenhum evento nas últimas décadas

abalou tanto o emocional do mundo

como a crise do coronavírus.

Os altos níveis de stress e ansiedade

gerados por essa situação

foram perceptíveis nas clínicas dermatológicas.

A maioria das doenças

inflamatórias piorou. Quadros controlados

de Acne, Rosácea e Vitiligo

apresentaram piora durante os meses

de confinamento. “Doenças inflamatórias

ficam exacerbadas nessas situações

e podem servir de gatilho para

várias disfunções cutâneas inflamatórias,

tornando a pele mais reativa e

propensa às irritações”, conta Roseli

Melo, da Natura. Assim como aconteceu

com outros aspectos da condição

da pele durante a pandemia, com

a situação se reestabelecendo, os quadro

tendem a melhorar. “O que acontece

no caso das doenças inflamatórias

é pontual”, acredita Cassiano.

2020 também obrigou muitos de

nós a realizar uma mudança radical

no estilo de vida (fato que não pode

ser analisado de forma isolado, inclusive

do aumento dos níveis de stress

e ansiedade). A alteração nos horários

de ida ao escritório e à escola, além

dos cuidados do relacionamento com

a família influenciou na rotinas de

cuidados, além da alimentação e do

sono. O impacto disso sobre a pele é

Essa somatória de manifestações

na pele, oriunda

de ações físicas e emocionais,

de dentro para

fora e de fora para dentro

dela, vêm em resposta a

esse momento da crise. E por todos os

fatores listados acima, o que se tem é

uma espécie de guerra, composta por

diferentes batalhas. “A grande obrigação

da pele é a de ser um sistema

de defesa e hoje, as vejo lutando pela

imunidade”, afirma a cosmetóloga e

pesquisadora Sônia Corazza, que diz

ter percebido, de março de 2020 para

cá, um aumento na disfunção da barreira

epidérmica e uma desregulação

microbiológica na condição da derme.

“Se o sistema da pele está avariado,

esses episódios viróticos abrem espaço

para o avanço de bactérias oportunistas”,

explica a cosmetóloga.

Uma guerra costuma ter começo,

meio e fim. Dado a natureza da situação

atual, boa parte dos efeitos para

a nossa pele gerada pela crise atual

# 173 | FEVEREIRO 2021 13 ATUALIDADE COSMÉTICA


ESPECIAL Pele

também hão de passar. Mas como em

toda guerra, a decretação do seu fim

por um grupo de políticos ou burocratas

não implica na retomada imediata

da normalidade. Pelo contrário, à destruição

segue-se um longo período

de reconstrução, sem falar de que algumas

sequelas são duradouras, isso

quando não afetam o quadro de forma

permanente. Ainda que a maior parte

dos impactos percebidos na pandemia

sejam reconhecidamente pontuais

e transitórios, não se pode crer

que as condições da pele, e do mercado,

retornem ao quadro que existia

até o final de 2019. “Não acredito em

volta para nada. Você mexeu no jogo

de palitinho. Quando algo acomete

o mundo inteiro, não dá para pensar

que o que funcionava antes continua

de pé”, acredita Corazza. ,E no atual

contexto, os próprios produtos de

higiene pessoal de uso mais corriqueiro,

como sabonetes e sabonetes

líquidos, além do próprio álcool em

gel, estão entre os primeiros a serem

repensados. Para a Head de P&D da

Natura, o aumento da frequência da

higienização das mãos veio para ficar

e esse novo hábito é positivo. Melo

lembra que a lavagem excessiva das

mãos com detergentes e sabões, ou

mesmo o uso excessivo de álcool para

a desinfecção, podem ocasionar uma

“delipidização” excessiva da pele, ou

seja, a retirada dos lipídeos que compõem

a barreira de proteção natural, o

que causa ressecamento e deixa a pele

mais vulnerável. “Mas, sob o ponto

de vista de P&D, é possível formular

produtos com ingredientes de limpeza

eficazes e suaves, que higienizam

sem causar danos na função da barreira

cutânea”, garante a pesquisadora.

Logo após um primeiro movimento

avassalador pela busca por

produtos de higiene, veio um segundo

cujo aspecto principal foi por

encontrar soluções de assepsia alternativas,

que ajudassem a suavizar

os danos gerados pelo uso excessivo

dos produtos e, na medida do possível,

ajudar a pele a se recompor, adicionando

ingredientes que pudessem

ofertar mais emoliência e hidratação

aos produtos de limpeza da pele.

O DERMATOLOGISTA DANIEL CASSIANO: quadros piorados de doenças inflamatórias

da pele e de dermatite atópica e de contato foram comuns durante a pandemia.

“Você não precisa usar um sabonete

antisséptico. Sabonetes com pH mais

próximo da pele são mais eficientes.

Existem fabricantes que estão usando

álcool em gel com glicerina”, exemplifica

o dermatologista Cassiano.

FORMULAÇÕES MAIS LEVES,

PRODUTOS MAIS HOLÍSTICOS

Saindo da questão dos produtos de

pele mais afeitos à higiene e olhando

mais para a questão dos produtos de

cuidados e tratamento, mais do que

recomeçar do zero, o que se depreende

da atual situação é um desejo (ou

uma necessidade) de se acelerar movimentos

que já vinham acontecendo no

mercado. Assim como em outras áreas,

mais notadamente na transformação

digital, o fatídico “novo normal”

não traz nada de verdadeiramente

inédito. No caso dos cosméticos para

a pele, vale o mesmo: temas como clean

beauty, química verde e cosméticos

que promovam (de verdade) o bem-

-estar por meio de ingredientes inteligentes

e uma abordagem holística,

que já eram temas de evidência em

todos os relatórios de tendências, ganharam

muito impulso.

Essa movimentação também se

reflete no avanço de uma abordagem

mais moderna para o approach do

desenvolvimento de produtos, na

qual se busca ajudar a microbiota da

pele a reforçar suas defesas naturais.

“Cada vez mais a gente vai ter que

contar com o nosso sistema imunológico.

E para isso é necessário abandonar

a filosofia de combate e adotar

a de ser amigo da pele, copiando o

que ela já faz, naturalmente, para resolver

o problema”, pontua Corazza.

Só que como diz a própria cosmetóloga,

a pele mudou, o ambiente mudou

e isso afeta todo o nosso sistema

imunológico. “A cada 28 ou 32 dias,

as células da epiderme se renovam.

Certamente a pele mudou, com uma

produção ácida maior para resgatar o

manto ácido da pele, e a reologia dos

cosméticos mudou junto”, emenda.

Desenvolver fórmulas mais próximos

da naturalidade, do nosso organismos

e de fonte mais seguras é uma

tendência forte de toda a indústria.

Peles acometidas por dermatite atópica

são menos capazes de se proteger

deixando as pessoas mais expostas

a agentes inflamatórios e poluentes.

“São pacientes que já tem uma barreira

cutânea geneticamente deficitária”,

ATUALIDADE COSMÉTICA 14 # 173 | FEVEREIRO 2021



ESPECIAL Pele

A COSMETÓLOGA SÔNIA CORAZZA:

necessidade de repensar a arquitetura

de desenvolvimento dos produtos para

a pele foi acelerada.

explica a diretora Médica da Pierre

Fabre. Na dermatologia atópica, principalmente

nos quadros inflamatórios

onde se vê melhor o quadro de alteração

da microbiota, quanto mais se

reforçar a própria natureza dela, melhor.

“O caminho não é o antibiótico,

o antisséptico tópico mas sim produtos

que ajudem a manter a saúde dessa

microbiota, sem que você precise

intervir”, corrobora Ana Coutinho.

No caso da marca Avéne, a médica explica

que tudo passa pelas pesquisas

com a água termal de Avéne, onde se

extraiu a aquabulimia, uma flora que

faz parte da composição dessa água.

“Dessa flora se extraiu um ativo que

tem atividade imunomoduladora,

uma partícula responsável pela resposta

inflamatória crônica desses pacientes,

capacidade de regeneração

mais rápida. Evitava risco da coceira

constante e o risco de infecção decorrentes

dessa coceira. É uma atividade

mais inteligente, que age para agir na

base da doença, diminuindo essa resposta

e trazendo mais qualidade de

vida para essa pele”, define Coutinho.

O uso de hidratantes com ingredientes

de reparação da barreira da

pele, como manteiga de cupuaçu ou

o óleo de castanha, capazes de repor

a barreira lipídica e com ingredientes

prebióticos para auxiliar na restauração

da microbiota saudável da pele.

“Os itens da linha Tododia também

tem como principal diferencial a nutrição

prebiótica, uma fórmula única

e inteligente que se adapta às mudanças

da pele deixando-a mais firme

e ultramacia”, garante a Head de

P&D da Natura.

A abordagem mais moderna de

cuidados com a pele não deixa tudo

nas mãos da ação tópica do produto,

ou mesmo, nas mãos só do cosmético

em si. É preciso entender o cuidado

de forma mais holística. Assim,

dormir bem é tão importante para a

saúde dela quanto aplicar um creme

cheio de tecnologia. Sendo assim,

porque a indústria não pode desenvolver

fórmulas que ajudem o nosso

corpo a cumprir com sua função?

Que ajudem as pessoas a dormirem

bem, por exemplo.

Isso também já era algo percebido

antes da própria pandemia, até porque

os desequilíbrios na microbiota

é que geram os problemas para que

a pele desempenhe a sua função de

proteção e esse desequilíbrio é provocado

por diferentes contingências,

da qualidade do sono à alimentação,

que já eram problema antes da pandemia.

“Já estamos na busca por moléculas,

para tomar e aplicar, e que

vão nos proteger”, garante a diretora

Médica da Pierre Fabre. “Especialmente

em casos de doenças crônicas

inflamatórias, que já tem desequilíbrio

de longo prazo, se vê muito

claramente respostas gradativas de

recuperação da microbiota. Os resultados

são muito robustos”, emenda.

“As bactérias estão na nossa pele

para manter a nossa capacidade de

adaptação a variações externas. A

dieta interfere muito mais na microbiota

da pele do que qualquer

produto de uso tópico. Quem deixa

de comer carne abruptamente, por

exemplo, em muitos casos vai desenvolver

um problema de pele, porque

a microbiota vai seguir dentro daquele

parâmetro por algum tempo

até conseguir se adaptar”, explica Ricardo

Piccoli.

Com tudo o que está acontecendo

e essa visão mais global do cuidado

com a pele, a arquitetura de cuidado

com a pele muda? “Para mim, já mudou”,

garante Sônia Corazza. Ela dá

como exemplo o produto SOS Noite,

da indie brand Riô Biocosmetic.

O produto tem ação na derme, mas

também uma ação neural, colocando

a pele “para dormir”. A ação do produto

diminui a atividade mitocondrial.

“Você precisa formular olhando

para o todo. Você espirra um produto

no rosto para dormir melhor,

dorme e acorda com a pele melhor.

O consumidor entendeu que aquilo

funciona”, diz a cosmetóloga.

Tecnologia e formuladores para

isso estão disponíveis no Brasil. O

ponto central, como já foi dito antes,

é que as lideranças das empresas tomem

a decisão de agir. “(A liderança)

Ainda tem uma visão muito atávica

É preciso pensar com a mente aberta

para enxergar a vida como ela é hoje.

Brasileiros e pequenos empreendedores

estão entendendo que a nossa

pele é única e começando a acordar

para a necessidade daqui. Não adianta

olhar para o Coreia, é preciso co-

ATUALIDADE COSMÉTICA 16 # 173 | FEVEREIRO 2021


meçar a enxergar o Brasil como ele

é e inseri-lo nessa nova realidade”,

conclui Sônia Corazza.

A QUESTÃO

MICROBIOLÓGICA

Não é de hoje e nem por causa da

pandemia que os sistemas preservantes

para produtos cosméticos estão

sendo questionados por reguladores

mundo afora, ampliando ainda mais

as restrições à substâncias ainda largamente

utilizadas em formulações

cosméticas para a pele. Mas essa

deixou de ser uma questão meramente

regulatória. Há alguns anos

que consumidores mais engajados e

antenados, também não querem mais

produtos formulados com ingredientes

como triclosan, paramentos e isotiazolinonas.

Agora, essa demanda

desce para um público mais amplo

e menos antenado, mas que é bombardeado

por informações acerca dos

eventuais impactos gerados por esses

ativos. Embora existam muitos mitos

e desinformação sobre alguns desses

ingredientes, caso do potencial

cancerígeno dos parabenos, um dos

preservantes mais clássicos e seguros

utilizados pela indústria, é verdade

também que o uso contínuo desses

itens ao longo das últimas décadas

contribuiu para o aumento de casos

de sensibilização e maior alergenicidade

da pele, e quando a pele está

mais fragilizada e sensibilizada, o

uso desses preservantes começa a cobrar

o seu preço. “Antes dávamos tiro

de canhão e fechávamos os olhos”,

reconhece Sônia Corazza.

A cosmetóloga explica que hoje

em dia não acredita mais nesse tiro

de canhão, justamente pelas consequências

que a bala do canhão acarreta,

com os dermatologistas e pesquisadores

relatando mais e mais casos

de dermatite atópica, de contato

ou a própria sensibilização da pele.

“Por isso, eu não vejo o mercado

voltando para eles (os preservantes

tradicionais), mas sim caminhando

para sistemas mais sutis, pensando

no sistema antioxidante”, diz ela, que

também traz a tona outro aspecto importante:

as bactérias e vírus vão se

AS LESÕES DA PELE

DECORRENTES DA COVID-19

Um ponto que chamou a atenção

da comunidade dermatológica

durante a pandemia foi que os

pacientes acometidos pela doença apresentaram

um quadro de farmacodermia,

como se fossem portadores de uma

urticária gigante. “Isso está sendo um

‘question mark’ para todos os médicos

e pesquisadores, que estão descobrindo

mais e mais sobre a doença”, explica Ana

Coutinho, da Pierre Fabre. Paulo Criado,

dermatologista e coordenador do Departamento

de Dermatologia e Medicina

Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia

(SBD), diz que estimativas dão

conta de que cerca de 15% dos contaminados

pelo novo coronavírus possam ter

tido manifestação nas mucosas e na pele,

com diferentes tipos de lesão.

O quadro mais comum é o de

rash cutâneo (exantema) é caracterizado

pelo surgimento de manchas avermelhadas

em todo o corpo do paciente ou em

uma determinada região. Essa situação

de erupção generalizada é típica das viroses

infantis, e deixa a pele com aspecto

de lixa, foi muito visto nos atendimentos

clínicos. Mas Criado diz que foram

relatadas outras lesões que lembram

urticárias ou picadas de inseto. “Tem

PACIENTE COM

URTICÁRIA, UM

DOS EFEITOS

DA COVID-19:

reflexos da doença

sobre a pele é uma

question mark para a

dermatologia global.

uma variedade delas que ainda estamos

conhecendo”, diz Criado. Ao menos pelo

que se constatou até aqui, essa condição

acomete os pacientes durante o período

de incubação do vírus e os quadros reversíveis

com o tratamento adequado,

que além do uso de hidratantes com atividade

calmante, costuma envolver a prescrição

de anti-histamínico. No quadro

pós-Covid-19, também foi notado um

aumento na queda de cabelos, segundo

o diretor da SBD.

Para entender a extensão dos problemas

de pele gerados pela Covid-19, a

Associação de Dermatologistas Britânicos

desenvolveu um app para que as

pessoas pudessem comunicar seus sintomas

da doença. Foram mais de 300 mil

respondentes, dos quais 11 mil apontaram

lesões de pele e mais de dois mil

enviaram fotografias. “A associação tem

uma coletânea com 400 imagens enviadas

por pacientes das lesões de peles

que eles tiveram”, conta Paulo Criado,

que traz um dado preocupante, ainda que

seja um levantamento via app: daqueles

que fizeram o teste de PCR para Covid-19

e apresentaram resultado positivo, 21%

só tiveram os problemas na pele como

manifestação da doença.

# 173 | FEVEREIRO 2021 17 ATUALIDADE COSMÉTICA


ESPECIAL Pele

SONO SIM, MANCHAS NA PELE, NÃO

SE SABE: os efeitos diretos da luz azul

emitida por dispositivos móveis para

o envelhecimento da pele e a piora de

casos de melasma está longe de ser um

fato comprovado.

A QUESTÃO DA LUZ AZUL DOS

DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS

Fenômeno relativamente recente, os produtos de proteção

solar ou de cuidados faciais com proteção contra

a luz azul emitida por telas como a dos celulares

e dos monitores, tiveram um momento de grande oportunidade.

Afinal, se o brasileiro já era um dos povos que mais

passa tempo navegando na internet e nas redes sociais, com

a adoção do home office por boa parte das empresas, essa

exposição ficou ainda maior.

Parte visível do espectro de radiação solar, a luz azul é uma

onda de comprimento superior à vermelha. E o que se sabe é que

essa luz visível piora as manchas. “A luz azul hiperpigmenta, sim,

mas é a luz azul do Sol”, diz Daniel Cassiano. Com sua tese de

doutorado sobre melasma, o dermatologista diz que a questão

que fica é se a radiação azul emitida por dispositivos eletrônicos,

realmente mancha a pele. “A gente entende que não. Testes de radiação

realizados com a emissão dessa radiação em apenas uma

metade do rosto não apresentou diferença nas manchas. Então,

ao menos para o melasma, a principio essa radiação dos dispositivos

não mancham”, diz ele, que lembra a enorme diferença de

intensidade da radiação visível do Sol e das dos dispositivos.

O dermatologista diz que as discussões sobre o envelhecimento

da pele são ainda menos esclarecidas. “Para a indústria,

se você usar um filtro solar dentro de casa, à noite, ela estará

feliz. Mas não precisa, salvo se existir uma condição específica”.

De fato, o tema é novo, e ainda não existem respostas seguras

sobre o impacto da luz azul das telas sobre manchas e

envelhecimento da pele.

Do lado da indústria, por exemplo, os posicionamentos sobre

o assunto vão em outra direção. “Acredito que a radiação

de luz azul dos dispositivos móveis vem a ser mais um agente

desnaturador agredindo a pele. Não é só ela, mas ela é mais

um problema para a equação”, acredita Sônia Corazza.

“Estudos comprovam que a alta exposição à luz “azul”, emitida

pelos aparelhos eletrônicos, causa aceleração dos sinais de

envelhecimento prematuro na pele. Nesse sentido, a prevenção

se torna um fator essencial”, diz Melo, da Natura. A empresa desenvolveu

uma metodologia de laboratório que avalia o grau de

proteção dos produtos e comprovar a eficácia deles na proteção

da pele contra esse novo tipo de poluição, a poluição digital.

Embora não se possa ter certeza, existem linhas de pesquisa

que acreditam que ela pode gerar hiperpigmentação e

melasma por meio de processos inflamatórios, principalmente

em quem tem desordem pigmentar. “Lógico que muita coisa

precisa ser estudada e confirmada, mas existe a probabilidade

de que a luz visível dos dispositivos móveis possam sim afetar

quem já tem pele predisposta”, conta Ana Coutinho.

ATUALIDADE COSMÉTICA 18 # 173 | FEVEREIRO 2021


tornando mais resistentes, o que por

si só, também demanda novas abordagens

e protocolos.

Um bom exemplo de como a pandemia

afetou o quadro microbiológico

foi a proliferação de um microorganismo,

a burkholderia cepacia, que

acomete principalmente pacientes

hospitalizados, em especial aqueles

com fibrose cística. A bactéria sempre

ficou restrita ao ambiente hospitalar.

Acontece que com 100 milhões de pessoas

contaminadas pelo coronavírus,

no mundo inteiro, considerando que

entre 10% e 20% dos contaminados

precisou ser internado e que essas internações

costumam ser de mais de 10

dias, o microorganismo oportunista

pegou carona e passou a “se alimentar”

da acidez da pele e dos produtos.

“Diante de um cenário em que

muita coisa pode mudar, de pandemia,

a manutenção desses pacientes

faz com que tenhamos o aparecimento

de novas bactérias. É papel da

indústria entender o porquê dessas

bactérias se proliferam nesse novo

ambiente”, acredita Ana Coutinho,

da Pierre Fabre.

Um dos problemas atuais em relação

a isso é que os testes e protocolos

disponíveis não estão atualizados

com essa nova realidade, fazendo

com que não se saiba de fato se

os sistemas preservantes utilizados

permanecem eficazes e seguros. Na

maior parte das vezes é impossível

de predizer o que vai de fato acontecer.

“Mesmo fazendo os testes, ainda

estamos longe da realidade de uso. E

isso falo do mercado como um todo,

não só da pandemia”, reforça Piccoli.

A solução desse problema? Primeiro,

ampliar o escopo dos testes.

Como bem lembra Praes, a regulação

exige testes que vão dar conta de avaliar

a segurança contra alguns poucos

microorganismos, apenas os principais.

Mas existem muitos outros que

não são cobertos pelos testes regulatórios

obrigatórios. Ou seja, as empresas

precisam tomar a decisão de avaliar

suas fórmulas frente a um escopo

mais amplo de agentes contaminantes

é exclusivamente delas. “Investir em

P&D e inovação de verdade envolve ir

além do que a regulação pede”, acredita

o diretor da Innova Beauty. Para

garantir uma maior segurança aos

consumidores, o pesquisador acredita

que é importante partir para uma autorregulamentação

em relação a esse

aspecto. “Não podemos ficar restritos

ao que a ANVISA exige. Acredito que

ABIHPEC (que representa a indústria

cosmética no Brasil e ABC (Associação

Brasileira de Cosmetologia) deveriam

fazer movimentos nesse sentido”,

pontua Praes.

Para além disso, Sônia Corazza

acredita que para encarar essa nova

era, é preciso mudar o chassi, a base

das formulações dos produtos para

a pele disponíveis no mercado hoje,

particularmente no caso dos produtos

de mass market. “É preciso fazer

tudo novo e isso demanda dinheiro

e compromisso. É algo difícil, mas

quem não fizer pode ter problemas”,

aponta a cosmetóloga, que diz que

esse tipo de alteração radical só acontece

quando a água bate no pescoço.

E que agora, ela está batendo.

Mudar o chassi de uma fórmula é

tarefa das mais complicadas. Não se

trata apenas de mudar a formulação,

mas sim de refazer todos os testes,

obter novos registros e organizar toda

a estrutura de custos e a cadeia de

suprimentos daquele produto. “No

geral, trocar o sistema preservante de

um produto é algo muito sério. Ao

trocá-lo, abre-se o risco de gerar um

dano de imagem terrível para empresa,

caso aconteça uma proliferação de

microorganismos que não existiam.

Por isso existe certo receio”, explica

Ricardo Piccoli. Por outro lado, o executivo

reforça que existe uma pressão

regulatória, e mais ainda, uma pressão

do consumidor por alternativas

mais modernas. “É um expertise (a

questão da segurança microbiológica)

que as marcas que ainda não têm

precisam começar a desenvolver ou a

buscar parceiros bem sérios no mercado

para essa tarefa”, emenda.

A Natura, conta com um grupo

de especialistas em microbiologia que

está atento a eventuais mudanças em

razão do cenário de pandemia para

garantir a eficácia dos produtos da

marca e a segurança dos consumidores.

Mas, Roseli Melo diz que, não se

chegou a observar alterações no perfil

de qualidade microbiológica dos produtos

que demandassem adequações

nos “chassis” das formulações. “A Natura

tem como compromisso a busca

constante por sistemas conservantes

naturais, biodegradáveis, suaves e seguros”,

reforça.

A abordagem da Pierre Fabre,

cuja marca Avéne tem como premissa

o atendimento das peles sensíveis

e, que por isso mesmo, sempre perseguiu

o uso mínimo de conservantes

(e mesmo de ingredientes como

fragrâncias, que podem cumprir com

esse papel), passa pelo investimento

em sistemas de embalagem herméticos,

sem a menor chance de contato

da fórmula com o ar para evitar

a contaminação de um produto que

se propõe a atender uma pele muito

sensível e, naturalmente muito exposta

a qualquer patógeno.

OPORTUNIDADES ESTÃO AÍ

Globalmente, a categoria de pele foi a

menos afetada pela pandemia dentro

do universo cosmético, mantendo-se

em território positivo e abaixo apenas

dos produtos de higiene das mãos.

Desde 2018 que os produtos para a

pele haviam retomado a liderança no

crescimento da indústria de beleza,

dos itens de make-up. Aqui no Brasil,

entretanto, a participação da categoria

ainda é proporcionalmente bem

mais baixa do que nos mercados mais

desenvolvidos. Quando se considera

apenas a categoria de cuidados faciais,

a penetração é ainda mais baixa.

O isolamento social teve como

reflexo, para muitas pessoas, a busca

por rituais de bem-estar e autocuidado.

Daniel Cassiano diz que as rotinas

das pacientes ficaram mais extensas

em relação ao que era e que elas mesmas

têm pedido a prescrição dessas

rotinas mais completa. “Não sei se foi

pela pandemia ou se tem mais a ver

com uma evolução e com mais divulgação,

mas é fato que uma rotina mais

extensa melhora a qualidade da pele e

se a paciente enxergar os resultados,

ela tende a continuar”, pontua.

# 173 | FEVEREIRO 2021 19 ATUALIDADE COSMÉTICA


EVENTO Prêmio Atualidade Cosmética

Um prêmio

diferente

NUM ANO EM QUE TODOS FOMOS POSTOS À PROVA, O 28º

PRÊMIO ATUALIDADE COSMÉTICA GANHA IMPORTÂNCIA

SIMBÓLICA AINDA MAIOR, QUANDO A SUPERAÇÃO FEZ DO

MERCADO COSMÉTICO BRASILEIRO O MAIOR VENCEDOR

>>> CESAR ALVES

Idealizado há quase três décadas

por José Luiz de Paula

Junior, o Prêmio Atualidade

Cosmética consolidou-se

através dos anos como um

dos eventos mais aguardados

do calendário voltado ao mercado

da beleza no Brasil. Criado

com a proposta de estimular o desenvolvimento

e a inovação da indústria

cosmética local premiando

produtos, empresas e reconhecendo

o trabalho dos profissionais que

movimentam o setor. Não demorou

muito para que o evento ganhasse o

título de “Oscar” do mercado cosmético

brasileiro.

Quando de sua primeira edição,

realizada no ano de 1994, a indústria

da beleza e de cosméticos brasileira

vivia um momento de florescimento

e, ao mesmo tempo, de grandes dúvidas,

com a abertura do mercado

tupiniquim para produtos e insumos

importados. “Os desafios se tornaram

maiores para as marcas brasileiras

com a disponibilidade de mais

produtos importados competindo no

mercado local”, lembra Sueli Cusma,

sócia-fundadora da Cusman Editora

e coordenadora do Prêmio Atualidade

Cosmética.

Se as importações fizeram aumentar

a concorrência, elas também

trouxeram oportunidade de evolução,

já que as indústrias locais passaram

a ter acesso a matérias-primas

e embalagens importadas, o que lhes

permitiu dar um grande salto de

qualidade em relação ao que se tinha

disponível por aqui até então.

De lá pra cá, o evento se tornou

um importante instrumento de fortalecimento

do mercado, antecipando

tendências, revelando talentos e

comprovando o amadurecimento de

uma indústria em constante evolução,

por meio de criteriosos processos

de avaliações técnicas. “Acreditamos

no potencial e no prestígio do

Prêmio Atualidade Cosmética que

fomenta o trabalho de parceria com

os clientes, associa grandes nomes

da indústria, viabiliza a presença de

novas marcas e difunde inovações

que fazem o mercado acontecer”, declara

Michel Ulloa, gerente Comercial

para América Latina, da casa de

fragrâncias Cramer, patrocinadora

Diamante do 28º Prêmio Atualidade

Cosmética.

A diretora de Marketing do Grupo

Pierre Fabre, dono das marcas

Avéne e Darow, Flavianne Baptista

segue na mesma linha. “O evento

tem papel essencial para motivar

nossa indústria – seja uma empresa

jovem ou um player tradicional – a

investir constantemente em pesquisa,

inovação, tecnologia e um olhar

atento ao consumidor brasileiro,

suas características, sua diversidade,

suas necessidades em beleza e saúde

e entregar produtos que superem

suas expectativas”.

TESTEMUNHA OCULAR

Mais que uma plataforma para que

profissionais e empresas tenham seu

empenho reconhecido a cada ano, o

Prêmio Atualidade Cosmética é também

um testemunho do desenvolvimento

e inovação do setor em ação.

Sua história se confunde com a história

da própria indústria da beleza

nas últimas décadas, com uma média

de cerca de 160 inscrições de linhas e

ATUALIDADE COSMÉTICA 20 # 173 | FEVEREIRO 2021


nossa posição de Multinacional Brasileira

com ambições de levar nosso

poder de transformação para o mundo.

Tudo isso nos faz renovar nossa

energia e continuar nossa trajetória

honrando nossas bases e história e

construindo um futuro rumo à nossa

expansão global, mesmo num momento

tão desafiador” completa.

Orgulho também é a palavra utilizada

por Flavianne Baptista, da

Pierre Fabre, o significado da indicação

dos produtos da marca ao prêmio.

O Grupo Pierre Fabre é pioneiro

na indústria de dermocosméticos

e há mais de 50 anos desenvolve produtos

e soluções inovadoras guiados

por muitos estudos, desenvolvimento

de novas moléculas e constante

investimento em ciência e tecnologia.

”Nossas marcas são líderes na

Europa em seus segmentos, e temos

o mesmo objetivo no mercado brasiprodutos

anualmente. “É importante

destacar que essas inscrições são feitas

por empresas de todos os portes

– das grandes multinacionais até pequenas

empresas locais – e de todas

as regiões do País”, observa Sueli .

O que explica não só o respeito

que a premiação conquistou através

de sua história, como também as

expectativas do setor com as indicações.

“Recebemos essa notícia com

muita felicidade, orgulho e energia

renovada. Felicidade por coroar o

trabalho de um time e parceiros apaixonados

e engajados em só entregar

o melhor para nossos consumidores

e consultores, que são exigentes e

esperam produtos com o mais alto

grau de inovação e qualidade”, conta

Mirella Mentone, do Grupo Hinode.

“Orgulho por sermos reconhecidos

entre as melhores empresas do

setor e com isso chancelar ainda mais

O PRÊMIO EM TEMPOS

DE PANDEMIA

A mais importante premiação da indústria

cosmética chegou à sua 28ª

edição num ano em que o mundo

inteiro foi posto à prova. Com o advento

da pandemia e a crise sanitá-

leiro. Estas indicações mostram que

estamos acertando”, completa.

Não é sem uma ponta de emoção

que Sueli Cusma lembra um elemento

dos mais importantes na constatação

do quanto a premiação se tornou

importante para os personagens que

protagonizam essa história. “Um aspecto

importante acerca do Prêmio

são os discursos emocionados dos

vencedores e da reação de contentamento

dos finalistas. Para nós, organizadores,

essa é maior afirmação

de que estamos no caminho certo”,

declara.

# 173 | FEVEREIRO 2021 21 ATUALIDADE COSMÉTICA


EVENTO Prêmio Atualidade Cosmética

ria global. Se levar à cabo um evento

de tamanha envergadura não é fácil

em tempos normais, é de se perguntar

se o contexto de crise sanitária

não teria levado a pensar num cancelamento

ou adiamento. Segundo

a sócia-fundadora da Cusman, isso

nunca passou pela cabeça da equipe.

“A decisão de manter a realização

do evento foi tomada analisando o

seu histórico e a sua missão. Depois

de avaliar a situação concluímos

que não poderíamos deixar de prestar

esse reconhecimento às empresas

que movimentaram o mercado,

principalmente esse ano”, explica.

Realizar todos os processos de

uma premiação de tamanha importância,

num contexto de pandemia

demanda esforço extra, com desafios

ainda mais ousados a ser driblados.

“A equipe que trabalha na organização

do evento sempre foi pequena,

mas com os anos adquirimos known

how e definimos uma métrica de trabalho

que o torna mais fluente. Com

o distanciamento social e a equipe

reduzida, tivemos que nos reinventar

e nos planejamos para atender as

mais importantes fases da organização

do evento”, conta Sueli.

A princípio o maior desafio foi

em relação às avaliações, para as

quais foram criados procedimentos

a fim de manter os jurados em segurança

durante as análises.

Nos anos anteriores as avaliações

eram realizadas em laboratórios cedidos

pela Faculdade Oswaldo Cruz,

demandando cerca de uma semana

para a sua realização. Neste ano, as

dependências da faculdade estavam

fechadas devido à pandemia. “Escolhemos

um local alternativo, que

garantisse a segurança dos jurados.

Assim, as avaliação foram feitas no

Auditório da JLPaula Jr – espaço de

criação e design do idealizador do

Prêmio Atualidade Cosmética – por

ser um espaço amplo e bem arejado”,

explica Sueli Cusma.

Os critérios da votação continuaram

os mesmos, mas os seus processos

tiveram que se adequar aos protocolos

de segurança. As avaliações

foram realizadas no decorrer de um

SUELI CUSMA (DE MÁSCARA), DURANTE AVALIAÇÃO DO PAC: novos protocolos e processos de

avaliação para manter a segurança dos jurados sem prejudicar a profunidade das análises.

mês inteiro, com a presença de, no

máximo, três jurados por período,

de manhã e a tarde. “Os jurados são

uma das chaves mestra para a realização

deste evento Essa foi a fase

mais trabalhosa, mas tudo transcorreu

conforme o planejado,sem nenhuma

surpresa durante ou depois

de finalizada”, emenda.

A empreitada, principalmente

em dias como os que vivemos em

2020, seria ainda muito mais difícil

sem o apoio dos patrocinadores,

lembra Sueli. “A colaboração de nossos

patrocinadores sempre foi de extrema

valia. Além do prestigio que

eles auferem ao evento os patrocinadores

mantiveram seu apoio durante

o ano. E a confiança depositada pelos

patrocinadores do evento é uma

grande motivação para seguir em

frente”.

Segundo Ulhoa, colaborar para

que o evento aconteça é muito significativo

e satisfatório para a Cramer.

“Integrar-se no evento que é

considerado o ‘Oscar’ da cosmética

do Brasil para nós é uma excelente

oportunidade de celebrar as capacidades

e talentos dos profissionais

do setor, estar ao lado dos nossos

clientes, acompanhar seus desenvolvimentos,

compartilhar ideias e comemorar

suas conquistas”, afirma.

Mesmo enfrentando um cenário

que soma, além da crise da Covid-19,

a retração econômica com o aumento

dos preços e atraso na entrega de insumos

básicos, a indústria cosmética,

apesar do adiamento no lançamento

de novos produtos num primeiro

momento, soube analisar a situação

e retomar com força o calendário de

novidades, o que demandou muita

coragem, ousadia, esforço e perseverança

redobrados.

“A indústria não para, por isso

se faz tão necessário e fundamental

o reconhecimento da persistência,

dedicação e empenho das empresas

e das marcas, que para atravessar

este momento desafiador e inédito

demonstraram muita força e comprometimento

com seus propósitos”,

reafirma Ulhoa da Cramer.

Foi em honra a essa força do setor

ATUALIDADE COSMÉTICA 22 # 173 | FEVEREIRO 2021


FABI GIRALD (NVAA); LARISSA MOTA E LUCIANA GUIDI (AMYI); E CÉLIA ANRELINK (K CONSTÂNCIO): marcas estreantes no “Oscar”do mercado.

que os organizadores do 28º Prêmio

Atualidade Cosmética tiveram a certeza

de que, mais do que nunca, o

evento precisava acontecer, comprovando

seu compromisso com o setor.

VITRINE VIVA

A diversidade de marcas e produtos

que reflete a qualificação do mercado

brasileiro, sempre esteve presente

no “Oscar” da cosmética brasileiro.

“Acreditamos que um ambiente com

excelentes competidores, éticos e

focados em fazer um mercado melhor

é bom para todos, estimula as

melhores práticas e trocas, por isso,

muito importante termos um prêmio

inclusivo e que todos tenham espaço

para se destacar”, declara Michelle

do Grupo Hinode.

“O evento tem papel essencial

para motivar nossa indústria, seja

a empresa jovem ou tradicional, a

investir constantemente em pesquisa,

inovação, tecnologia e um olhar

atento ao consumidor brasileiro,

suas características, sua diversidade,

suas necessidades em beleza e saúde

e entregar produtos que superem

suas expectativas”, corrobora Fabianne

da Pierre Fabre.

Segundo Sueli Cusma o Prêmio

Atualidade Cosmética há anos vem

refletindo a evolução do mercado,

com o surgimento de novas empresas,

startups e indie brands com propostas

de valor inovadoras para o

mercado, confirmando o papel do

evento como vitrine da evolução do

setor no Brasil. “O Prêmio Atualidade

Cosmética é também um caminho

para essas empresas se apresentarem

para o mercado ao lado de grandes

marcas, e o que se pode observar é

que essas empresas já nascem com

propostas de valor e posicionamento

bem definidos, lançando produtos

de qualidade, para nichos específicos,

e naturalmente na avaliação criteriosa

e justa elas despontam como

finalista e mesmo vencedoras na sua

primeira participação”, acredita a

coordenadora da premiação.

Prova disso é a quantidade de

marcas novas entre os indicados nas

edições mais recentes da premiação.

Algumas delas, sequer existiam nas

primeiras edições do Prêmio. É o caso

da marca mineira K Constâncio que,

com apenas um ano de atividade, já

aparece entre os finalistas em três

indicações. “Somos uma empresa jovem,

mas formada por profissionais

com mais de 30 anos de experiência

no setor. Para nós, recebermos as indicações

reflete a seriedade e a transparência

do evento. Temos a certeza

de que os vencedores serão merecedores

da premiação porque passaram

por diversas etapas de avaliação.

Com certeza o simples fato de estarmos

na final já nos dá a segurança e

o reconhecimento de que estamos no

caminho certo”, declara Célia Anrelink,

gerente de Marketing e Inovação

da empresa.

Outro exemplo é a NVAA, criada

no ano passado, e que já viu dois de

seus produtos indicados na categoria

Banho e Higiene. “As indicações nos

encheram de alegria e orgulho para

seguir nossa jornada. Muito especialmente

por sermos indicados numa

categoria muito importante para a

empresa e competindo com grande

players do mercado. Isso é uma grande

conquista, principalmente, levando-se

em conta ser uma premiação tão conceituada

e já na sua 28º edição”, diz

Fabi Giralt, co-fundadora da empresa

que se especializa em produtos com

propriedades veganas voltados para

todas as fases da mulher.

Com cinco perfumes indicados

em três categorias diferentes, a Amyi

é outra startup que merece destaque

entre os finalistas. “Foi com uma

imensa alegria que recebemos a notícia

das indicações. Nos sentimos

privilegiados, pois o reconhecimento

dos jurados do Prêmio Atualidade

Cosmética, confirmam que nossas

produtos realmente se destacaram

no mercado”, Conta Larissa Mota,

co-fundadora da empresa. “Nem

temos palavras para descrever a importância

de fazer parte desse prêmio.

De ter recebido esse reconhe-

# 173 | FEVEREIRO 2021 23 ATUALIDADE COSMÉTICA


EVENTO Prêmio Atualidade Cosmética

cimento, que foram as indicações,

principalmente num ano tão difícil

como foi o de 2020”, completa.

E é mais uma vez Sueli Cusma

quem atesta a importância dessa diversidade

para os organizadores. “A

diversidade de empresas inscritas

nos favorece uma vez que com elas

podemos nos atualizar e seguir adequando

as categorias do Premio Atualidade

Cosmética, observar novas

tendências, analisar quais segmentos

de mercado demandam maior interesse

das empresas, e a sua qualificação

e, pode então oferecer de forma

justa a oportunidade de empresas

recém-chegadas serem vencedores

do Premio Atualidade cosmética por

seu próprio mérito”.

Sendo assim, num ano que exigiu

tanto de todos, são premiáveis inscritos,

finalistas e vencedores, sem

distinção. Sendo assim, a realização

do 28º Prêmio Atualidade Cosmética

chega como um troféu dedicado à

própria indústria, vencedora do Oscar

na categoria superação.

OS FINALISTA DO PRÊMIO ATUALIDADE

COSMÉTICA - DESTAQUE 2020

Troféu Atualidade Cosmética/Cramer –

Beleza e Higiene dos Cabelos

Amend Botanic Beauty

Perfume de Cabelos Foxy/Candy by Flávia Charallo,

Kásia Cosméticos

Jeunesse Spa Cuidados Capilares

Linha Byos, Vizcaya

The Gardener, Skala

Troféu Atualidade Cosmética/Cramer –

Banho e Higiene

Be. Espuma de Limpeza Natural, NVAA

Fresh, NVAA

Hidratantes Perfumados, K Constancio

Probiotica Hidratante Biokinder, Vintage

Trimatrix – Antiseptic Hand Cream e Face & Hair

Spray Antiseptic, Jeunesse

Troféu Atualidade Cosmética/Cramer –

Beleza e Higiene Masculina

Argila Modeladora, Go.Man

Beard Calm, Barba de Respeito

H-Men, Hinode

Linha Teen, B.Urb

Sérum, Male

Strong Paste e Modelador de Cabelo, B.Urb

Linha/Coleção de Maquiagem

Coleção de Esmaltes Origem, Ana Hickmann

Denise Bortoletto, Amakha Paris

Kit Summer Colection, Make More

Pó Facial Bionutritivo com Proteção Solar, Bioart

Tie Daillus, Daillus

Inovação em Produto de Maquiagem

Agua Micelar Rosa Mosqueta Ions, Dermachem

Bastão Multifuncional FPS 95 FPS UVA 40,

Apoteka

Iluminador Facial Multifunção com Alta Proteção

Solar FPS 70 FPUVA 55, Pink Cheeks

Linha Nude, Daillus

Sun Protect Base Líquida de Alta Performance, Bioage

Tato Corretivo de Alta Performance, Make More

Tratamento Facial

Actine Colors, Darrow

A-Oxitive Noite, Avéne

Bio-Intensive Care Serum Preenchedor de Acido

Hialurônico, Bioage

Cleanance Comedomed, Avéne

Linebooster Booster Biomimetico 200x, Árago

Linha Cyclos, Odorata

Protetor Solar Facial Natural Vegano, Bioart

Perfumaria Internacional Masculina

1 Million Parfum, Paco Rabanne

Bad Boy, Carolina Herrera

Le Beau, Jean Paul Gaultier

United Dreams Together Him, Benneton

Urban Hero, Jimmy Choo

Perfumaria Internacional Feminina

Burberry Her Intense

Good Girls Supreme, Carolina Herrera

Lady Million Empire, Paco Rabanne

Nina Rouge, Nina Ricci

Symbol Royal, Princesse Marina de Bourbon

Perfumaria Latino-Americana Masculina

Camaro, Passion

Colcci Neon Boys, Colcci

Eau de Parfum Amyi VIII, Amyi

Eau de Parfun Amyi III, Amyi

Kaiak Oceano, Natura

Metropole, Perfumaria Phebo

Selfie Live Green Ursinho Carinhosos, Água de Cheiro

Spot Sunset for Him, Hinode

Vintage Boemia, Casa Granado

Vintage OUD, Casa Granado

Perfumaria Latino-Americana Feminina

Absolut Blanc, K Constâncio

Amyi IX, Amyi

Amyi VI, Amyi

Collcci Neon Girls, Colcci

Foxy/Candy by Flavia Charalo, KaSia

Inevitável, Odorata

Flor de Cajueiro, Perfumaria Phebo

Hera, Flora Pura

Selfie Purple, Água de Cheiro

Vintage Violeta, Casa Granado

Troféu Aparício Basilio da Silva – Criação

Perfumística Latino-Americana Masculina

Amyi VIII, Citratus - Symrise

Beijo de Humor, Natura - Symrise

Egeo Spicy Vibe, O Botícário - Symrise

H-Men ICY, Hinode - Firmenich

Inevitável Ele, Odorata - Robertet

Malbec Flame, O Boticário - Symrise

Troféu Aparício Basilio da Silva – Criação

Perfumística Latino-Americana Feminina

Absolut Blanc, K Constâncio - Aromaty

Ella Perolas, Hinode - Robertet

Liz, O Boticário - Symrise

Egeo Vanilla Vibe, O Boticário - Symrise

Beijo de Humor, Natura – Symrise

ATUALIDADE COSMÉTICA 24 # 173 | FEVEREIRO 2021



kconstancio.com.br

Finalista do Prêmio Atualidade Cosmética 2020 em 3 categorias,

1) De farmacêutica renomada à frente da L’acqua

di Fiori por mais de trinta anos a Empresária de

sucesso, o que mudou na sua vida? O que te

levou a tomar esta decisão? Conte-nos um pouco

da sua história.

Mudou tudo, mesmo com toda experiência de mais de

30 anos atuando neste segmento, ter a própria empresa

é completamente diferente. São novas responsabilidades,

novos desafios, mas o que mais me motivou a tomar a

decisão de ter minha própria marca, foi a oportunidade de

criar livremente, produtos inovadores e de qualidade, junto

com minha equipe, com quem trabalhei por muitos anos

e que são também profissionais muito bem preparados e

qualificados. Trabalhar com uma equipe competente e em

sintonia fez toda diferença pra esse novo desafio.

Os primeiros três meses da K Constâncio foram em

minha casa, não tínhamos ainda a sede. Avaliei quase

100 submissões das casas de fragrância para escolher

os primeiros 6 perfumes do portfólio. O primeiro perfume

escolhido foi um masculino que demos o nome de Aleph,

representando a primeira letra do alfabeto hebraico. Esses

meses foram momentos que jamais esqueceremos, o

começo de tudo.

Minha história como farmacêutica vai desde o trabalho

realizado na L´acqua di Fiori, onde atuei em diversos

setores, mas minha principal atividade sempre foi o P&D.

Fui responsável por todos os projetos de lançamentos

de produtos relacionados ao portfólio da empresa. Em

paralelo, tenho trabalhos publicados, ministrei várias

palestras e cursos de pós-graduação relacionados ao

setor de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal.

2) De forma corajosa, vcs montaram uma empresa

e já de cara enfrentaram uma pandemia. Quais

foram os principais desafios e o que vcs fizeram

para superá-los?

Sem dúvida o maior desafio foi a paralização do comércio.

Mesmo que a venda na internet tenha aumentado na

pandemia, nada pode se comparar à experiência no

ponto venda, ainda mais se tratando de uma marca nova

como a nossa.

Manter o cronograma de lançamentos, foi também algo

muito desafiador. Tivemos que ter uma vigilância redobrada

no estoque de matérias-primas e insumos pra não faltar

os produtos de linha e os de futuros lançamentos.

Enfrentamos problemas em atrasos aduaneiros, atrasos

em entregas dentro do país, além disso, estamos tendo

que ter uma atenção redobrada na concessão de créditos

já que o momento tem sido de grande dificuldade para

todo varejo.

3) Qual o DNA da marca?

Desenvolver produtos de perfumaria fina e suas extensões

com padrão de qualidade internacional, mas com a

assinatura brasileira K Constâncio.

4) Quantos produtos vcs conseguiram lançar

neste primeiro ano de empresa?

Lançamos 41 produtos distribuídos entre perfumes,

hidratantes, desodorantes e itens de maquiagem. Uma

verdadeira proeza com um ano de empresa e praticamente

um ano de pandemia.

5) Quais as estratégias usadas na composição do

portfólio de produtos?

Começamos com os produtos premium da perfumaria

fina, desta forma, conseguimos transmitir para os

clientes o nosso verdadeiro DNA. O desenvolvimento dos

produtos cosméticos foi baseado em novas tecnologias.

Por exemplo, nossa linha de hidratantes perfumados,

além da qualidade em perfumação, ela é vegana e foi

baseada em ativos miméticos que simulam a primeira

camada bio-protetora da pele. Nossos desodorantes

perfumados body spray são também veganos, livres de


EM CRESCIMENTO

CONSTANTE

Visite nosso site

Karla Constâncio fala sobre a trajetória de sucesso da sua empresa

alumínio e seu ingrediente ativo é totalmente orgânico e

preserva o microbioma cutâneo.

6) Quais são os canais de venda utilizados pela

marca neste momento e como vocês vislumbram

a evolução da distribuição?

A K Constâncio trabalha com lojas licenciadas com

suas equipes de revendedoras e lojas de departamento.

Já estamos em mais de 20 estados e com mais de

140 pontos de venda. Nossa expansão está focada na

abertura de novos pontos de venda, juntamente com as

revendedoras.

7) Como foi para você participar do Prêmio

Atualidade Cosmética 2020 e já ser finalista em

3 categorias?

É motivo de muito orgulho ser finalista de um prêmio

tão importante e respeitado como este. Estamos muito

lisonjeados e é uma honra para nossa empresa estar ao

lado de tantas marcas já consagradas e que tanto nos

inspira.

8) Quais os próximos passos para a K Constâncio?

Estamos agora em um grande esforço para aumentar

nossa linha de produtos. Vários lançamentos estão

programados para todo o ano de 2021. Enfrentamos

ainda muita escassez de matérias-primas e insumos, mas

acreditamos que poderemos superar mais este momento

pois temos um ótimo parceiro industrial que sempre tem

nos apoiado e desenvolvido um excelente trabalho. Esse

parceiro conta com uma equipe muito profissional e muito

bem preparada. Estamos investindo na abertura de novos

pontos de venda associados às equipes de revendedoras.

As lojas CDs licenciadas K Constâncio vêm crescendo

rapidamente em todo o Brasil.

Karla Constâncio, presidente da K Constâncio

Somos uma empresa que acredita no Brasil, no

mercado brasileiro e temos o propósito de fazer

o melhor para conquistar cada vez mais espaço

neste segmento.

Para a K Constâncio o perfume é muito mais

que uma arte! É uma assinatura que marca a

personalidade de quem usa!


canal Varejo

A loja do

futuro, no

presente

a digitalização acelerada, a necessidade

de executar novos papéis na operação e a

busca dos consumidores por uma jornada de

compras mais rápida e segura, em função da

pandemia, estão refletindo na arquitetura

dos pontos de venda. Apesar das mudanças,

não se trata de uma revolução, mas sim de

uma evolução acelerada de tendências que

já estavam postas >>> Aûani Cusma de Paula

O

varejo físico viveu

boa parte da década

passada sob uma crise

existencial acerca

do seu papel num

mundo de consumo

cada vez mais digital. Ao longo desse

período, não foram poucos os que

profetizaram o fim das lojas físicas,

que pereceriam ao avanço irresistível

do e-commerce.

Pois bem. Os anos passaram, a

digitalização avançou rapidamente,

o comércio eletrônico cresceu fortemente

em quase todo o mundo, atingindo

mais de um terço das vendas

na China e mais de 20% no Reino

Unido. A pandemia, que fechou todo

Mais do que nunca, e de maneira

consciente, o que se pode afirmar hoje

é que o papel do varejo físico está garantido

no futuro. Tanto que os dois

maiores e mais inovadores atores globais

do varejo digital: a norte-americana

Amazon e a chinesa Alibaba,

têm investido mais em mais em lojas

físicas de diferentes formatos. Mas,

isso não quer dizer que os pontos de

venda seguirão operando nos mesmos

padrões e modelos que funcionaram

até aqui. Não mesmo. As lojas

precisarão ser repensadas para dar

conta de atender a novas demandas

do consumidor e do próprio negócio.

Seja como ponto de experiência com

a marca, de local para teste e conferência

de produtos, ponto de retirada

ou como um hub de distribuição das

compras online. Esses vários novos

elementos demandam um repensar

da loja na sua arquitetura, comunicação

e organização dos espaços.

Muitos desses elementos estão em

discussão há anos e vários deles já vinham,

de alguma forma, sendo execuo

comércio não-essencial por meses

em diferentes continentes, só fez o

processo de digitalização das economias

se acelerar. E, tendo virado

a década, a conclusão a que todos

chegam é a de que a boa e velha loja

física é mais necessária do que nunca,

inclusive para melhorar a operação e

a experiência das compras online.

A própria pandemia deu uma

mostra das múltiplas limitações que

acometem as operações de e-commerce,

dos gargalos logísticos até o

simples fato de que uma parcela importante

da população não se sente

confortável em comprar digitalmente,

ou, simplesmente, porque prefere ir

até uma loja para ver o que comprar.

Atualidade COSMÉTICA 28 # 173 | Fevereiro 2021


ção nessas andanças.

O quase um ano de vida sob as

regras ditadas pelo novo vírus foram

suficiente para acarretar em uma série

de mudanças na forma como os consumidores

se relacionam com os seus

locais de compras. Particularmente em

relação à percepção de segurança sanitária

do espaço. A maior parte dessa

segurança vem, de fato, dos protocolos

de higiene e segurança estabelecidos,

como uso de máscara por todos da

equipe e pelos clientes, disponibilidade

de álcool em gel, medição de temperatura,

além de uma loja limpa e

com os itens higienizados. “Pense em

como se viajava antes de 11 de setembro

e como se viaja hoje? A arquitetura

dos aeroportos não mudou. O que

mudou foram as camadas de inspeção

e de segurança para quem vai viajar.

A situação é mais ou menos a mesma.

São esses protocolos que nos permitirão

ter uma situação de compra que

seja controlada dessa perspectiva de

segurança sanitária”, explica Manoel

Alves Lima, CEO da FAL Design, estados

nos projetos de novas lojas ou

na reforma de antigas. Por isso, não se

pode dizer que a pandemia veio para

revolucionar a arquitetura das lojas

físicas. Até porque, trata-se de uma

situação transitória, com expectativa

de chegar ao fim neste ano ou, mais

tardar em 2023. Mas, como em muitas

outras áreas, ela ajudou a confirmar e

acelerar tendências que já estavam em

discussão, além de deixar um residual

no comportamento dos consumidores

que deve ser levado em conta nos projetos

daqui para frente.

Segurança e distanciamento

em meio à volta

Ainda que os números de mortos

e contaminados em decorrência do

novo coronavírus tenha avançado

substancialmente nas primeiras semanas

de 2021, a verdade é que as pessoas

vêm saindo mais de suas casas e o

varejo sentiu esse aumento de movimentação.

Esse fluxo ascendente não

esconde que ainda existe muito medo

e insegurança de boa parte da populaloja

da soneda, em

shopping de são paulo:

com a frente de loja toda

aberta, todas as categoias

podem ser visualizadas por

quem vê de fora e não mais

só a vitrine.

critório de arquitetura e comunicação

visual especializado em varejo.

Entre esses novos protocolos está a

limitação no número de pessoas dentro

da loja, o que restringe também o

número de funcionários no chão da

loja. Particularmente em lojas menores,

como as de franquias monomarca,

essa limitação é um problema, ainda

mais num negócio como o de beleza,

cuja venda assistida é o padrão.

Aí, entra a necessidade de melhorar

a comunicação visual e os elementos

de informação disponíveis

para que o consumidor possa navegar

pela loja sem a ajuda de ninguém

e, mais importante neste momento,

de forma rápida.

Ampliando a

percepção de espaço

Com as operações do varejo não-essencial

proibidas de abrir (perfumarias

e franquias de beleza não foram

enquadradas como tal), as lojas passaram

meses fechadas, o que permitiu

aos varejistas com condições financeiras,

aproveitarem o momento para reformar

suas lojas sem que isso afetasse

a operação. “Ouve um trabalho gigantesco

na pandemia para algumas

redes, que tiveram mais condições

de pensar a loja e os negócios numa

visão estratégica”, explica Julio Takano,

CEO da KT Retailing, especializada

em projetos para o varejo. Ele dá

como exemplo a rede de perfumarias

Soneda – dona de mais de 30 lojas no

estado de São Paulo, que inaugurou

uma nova loja de 400 m 2 , na Avenida

Brigadeiro Faria Lima, cujo projeto se

iniciou junto com a pandemia.

Por orientações de segurança, neste

caso, optou-se ainda no projeto por

abrir mais a loja. “Temos que aumentar

o fluxo de clientes para os PDV’s

em 54%, porque foi o que caiu durante

a pandemia. Nesse contexto, lojas

mais abertas ajudam a dar a sensação

de segurança que o consumidor espera

neste momento e atrair o público

para entrar”, pontua Takano.

Espera-se que muitos dos pontos

que afligem o consumidor hoje

deixem um residual nesse comportamento,

mesmo quando a pandemia

# 173 | Fevereiro 2021 29 Atualidade COSMÉTICA


canal Varejo

loja da perfumaria opaque: comunicação visual na loja é ainda mais fundamental para orientar

a autonavegação dos consumidores, diminuir a necesidade de interação com a equipe e o atrito.

passar. “Passou a ser uma obrigação

a sanitização e a ventilação

da loja”, acredita Julio

Takano. Passar essa segurança

para o cliente no ponto de venda

é um desafio. Numa loja de

32 m 2 , pelos protocolos atuais,

podem entrar cinco pessoas. “E

não se pode simplesmente ampliar

o tamanho da loja, porque

a conta não fecha”, emenda o

arquiteto da KT Retailing.

Existem algumas possibilidades

para ampliar o espaço

ou a sensação de espaço da loja,

do ponto de vista da arquitetura.

Um é apostar em lojas mais

abertas e com uma organização

interna de mobiliário que permita

abrir espaços para os consumidores

navegarem.

Essa busca por uma loja mais aberta,

mais ventilada, não é nova e nem

nasceu por conta da pandemia. Ela já

estava presente em projetos anteriores,

mesmo em lojas de shopping. Takano

entende que essa loja mais arejada é

fruto de uma necessidade de melhorar

o tráfego e a navegação dentro da própria

loja. Ele dá como exemplo, o projeto

de loja desenvolvido para a rede

O Boticário, em 2013. “Ali sem pandemia,

numa loja de shopping (o Morumbi,

em São Paulo), se estabeleceu a

necessidade de desenharmos uma loja

ventilada, aberta e com espaço entre

os móveis que permitissem que uma

pessoa abra e caminhe com um carrinho

de bebê dentro do espaço”, diz o

arquiteto, dizendo que essa inteligência

de layout, que busca mais espaço

é orientada para as vendas, o que

ajuda a mitigar as eventuais perdas

que uma loja muito mais aberta pode

gerar. “O furto em lojas populares de

rua é de cerca de 1,5%. aumentando

o tráfego, com uma loja mais ventilada,

fresca e aberta você recupera isso

brincando. Fazemos isso há mais de 20

anos e dá certo”, diz ele, que acredita

que a tendência de lojas abertas, com

a frente toda aberta, mesmo em shoppings,

veio para ficar. Adicionalmente,

para aguentar por mais tempo o tranco

desse formato aberto, especialmente

no caso de lojas de rua, sujeitas as intempéries

climáticas de forma mais direta,

o mobiliário recomendado é o de

metalurgia, que costuma ser 15% mais

em conta do que o trabalho em marcenaria.

Outra possibilidade de ampliar

a sensação de espaço dentro da loja é

trabalhar com um pé direito mais alto,

muitas vezes retirando o forro e trabalhando

com um forro técnico quando

o espaço permite essa alternativa. “Isso

dá a percepção de amplificação da loja

e de mais conforto”, acredita Takano.

Esse modelo de loja mais aberto

implica, inclusive, na extinção da vitrine

tradicional, especialmente nos

pontos de venda menores, o que amplia

o espaço de visualização da loja.

“Se você tem uma loja com 5 metros

de frente e 8 metros de profundidade,

uma vitrine de 3,5 metros vai deixar

uma porta de acesso de apenas 1,5

metro. Olhando de fora, você não

consegue saber o que vende dentro

da loja. Se você tira essa vitrine, toda

a loja passa a estar em exibição. Isso

é o que foi feito seis anos atrás, no

processo de redesenho das lojas de O

Boticário”, conta Takano. Com toda a

loja como vitrine, é preciso organizá-

-la muito bem, agrupando categorias

e utilizando o visual merchandising

para que o cliente possa entender

tudo o que está disponível para ele

naquela loja e memorizar os pontos

de interesse para ele.

No caso da varejista de origem digital

G’el Niche, sua primeira loja física

é organizado com as marcas de luxo

localizadas na parede direita da loja

enquanto na esquerda estão alocados

os perfumes de marcas low cost. Inaugurado

no final de 2019, o ponto de

venda é equipado com duas vitrines

3D, que se projetam dentro da loja, não

obstruindo a visão frontal do ponto.

O mobiliário faz referência às perfumarias

mais antigas do interior da

Europa, com peças mais rústicos, mas

em tons leves. “Buscamos oferecer aos

nossos clientes – que em sua maioria

chegam até a loja já conhecendo o

nosso e-commerce – uma experiência

diferente das perfumarias seletivas de

shopping com uma loja mais orgânica

e, porque não dizer, mais off-line.

O ponto físico não tem 5% do nosso

DNA digital”, explica Elvis Granemann,

sócio da G’el Niche, para quem

a loja física cumpriu um papel fundamental

para posicionar a empresa e

legitimar o próprio negócio digital da

companhia perante os grandes nomes

do mercado de luxo, que ainda torcem

o nariz para o e-commerce.

Atendimento em tempos de

distanciamento

A mudança do atendimento atrás do

balcão para o formato de loja interativa,

o varejo 3.0 (que começa a ganhar

Atualidade COSMÉTICA 30 # 173 | Fevereiro 2021


força no início da década passada),

tornou as relações entre o

atendimento da loja e o consumidor

muito mais próximo. Só

que na atual conjuntura, muito

por causa da Covid-19, o cliente

não quer mais ficar perto do

vendedor. Mas, muitas vezes,

ele precisa de informação mais

específica. “O varejo aprendeu

pela dor a fazer a curadoria para

a venda de autosserviço”, diz

Takano. Isso permite a fluidez

do cliente por dentro da loja, e

esses elementos de curadoria de

comunicação visual vão orientando

o cliente a fazer um auto

atendimento. O que não elimina

a necessidade do atendimento

de um especialista, por exemplo.

Mas o time de loja pode ficar

mais livre para atender aos consumidores

com dúvidas mais

específicas, fazer a apresentação

de itens ou marcas que demandam

uma venda mais assistida ou, simplesmente,

para dar atenção aqueles

que fazem questão dessa interação.

Na G’el Niche, desde que a pandemia

começou, todos os consultores e

até mesmo o pessoal do SAC buscou

entender qual o nível de conforto do

cliente dentro da loja e como deixá-

-los mais confortáveis logo que eles

adentram a unidade. “Para nós, não

foi tranquilo. Vamos nos adaptando

conforme o cliente. E logo que ele entra

na loja tentamos entender o que

ele quer ali. Se quer uma atendimento

mais específico, se quer que lhe entreguemos

as fitas olfativas, ou se não

quer interagir com a equipe”, conta

Granemann.

O modelo Phygital

para o varejo de beleza

Na busca por uma operação menos

custosa e que pode gerar uma otimização

do espaço da loja, Manoel Alves

de Lima, da FAL, aponta o modelo

de guide shops, como o da varejista de

moda Amaro, como uma tendência

importante. No modelo de loja phygital,

caso dos guide shops, a loja cumpre

um papel primário de ser um ponto

de experiência e apresentação dos

julio takano, da kt retailing:

no cenário em que os pontos de venda

física desempenham novas funções, o

estoque ganha importância vital.

produtos e, se for a opção do cliente,

um local para a retirada posterior dos

produtos comprados. O modelo não

opera com estoque para retirada nas

lojas. Para o varejo de beleza, Alves de

Lima acredita que o guide shop misto

– no qual mantém na loja uma parte

do sortimento para pronta-entrega –

deve ser um modelo observado pelo

mercado de beleza. “Não é preciso ter

todo o mix no estoque. Preciso ter todo

o portfólio completo para demonstração

e experimentação. Ao traçar uma

curva ABC de produtos você vai ter

best-sellers que todo mundo compra e

produtos que vendem eventualmente.

Aquela venda eventual você não precisa

manter no seu estoque. Os produtos

que tem venda eventual, seja um

perfume ou um creme, o consumidor

escolhe a partir da amostra, do atendimento

e ao comprar ele escolhe se

quer retirar na loja depois ou receber

em casa”, explica o CEO da FAL.

Adicionalmente, Alves de Lima

entende que esse modelo ajuda a viabilizar

o negócio para os franqueado

de uma forma inteligente, ao diminuir

a necessidade de gastos com espaço e

estoque. “Acho que isso vai se acentuar

muito no pós-pandemia, porque

compramos muito mais no digital,

mas nosso sonho não é consumir tudo

no digital”, reforça.

Embora estejam proibidas no momento,

as estações de experimentação,

que no caso do mercado de beleza

seriam fundamentais para uma

operação no modelo de guide shops. E

elas serão ainda mais importantes no

retorno. “Por mais que se tente fazer

formas de degustação digital, ela nunca

vai superar uma degustação presencial”,

acredita Alves de Lima.

Um bom exemplo de loja phygital

no varejo multimarcas é a loja física

da varejista de origem online Beleza

na Web, em São Paulo. Um dos motivos

que orientou a construção da loja

era o de proporcionar aos e-commerce

um ponto para promover (vender) as

marcas de experimentação. Ao mesmo

tempo, a loja já nasceu com muita tecnologia

embarcada, o que faz com que

ela fique mais fácil de operar e manter.

“Numa loja analógica, o atendente

está com o cliente, mas não atenta

para questões como ruptura. Ou está

lidando com questões da operação e

não atende ao cliente. Nesse sistema

de lojas digitais, o produto passou no

caixa e já é reposto. O processo logístico

não é na retaguarda, ele está na

área de vendas”, explica Takano, responsável

pelo projeto da loja.

para encontrar e

comprar rápido

“Uma loja de O Boticário tem mais ou

menos 40 m 2 , o que viabiliza a presença

dela num Shopping Center. Só que no

Brasil, existe o que chamamos de fazer

um peru num pires, é mais ou menos

a mesma coisa”, brinca Alves de Lima.

Se antes, já era ruim tentar colocar mais

produtos e mais pessoas dentro do que

se poderia considerar razoável para

que alguém pudesse enxergar e compreender

todo o mix da marca, agora

esse excesso de coisas é um tiro no pé.

Aí entra a inteligência do varejo, mais

do que a arquitetura, para posicionar

os produtos certos (os mais vendidos,

# 173 | Fevereiro 2021 31 Atualidade COSMÉTICA


canal Varejo

pelo menos) para ele achar rápido o

que procura, pagar e sair.

O visual merchandising, que o CEO

da FAL define como a soma da forma

mais eficiente de expor o produto ao

mesmo tempo em que o apresenta de

forma irresistível, é o que permite facilitar

o processo de vendas a partir de

uma série de elementos minuciosamente

pensados, como a forma de expor, a

quantidade de faces correta para cada

produto, a altura, o sistema de precificação

e a ficha técnica do produto. Tudo

isso deve ser eficiente e entregar a informação

para o consumidor na hora,

do jeito e na ordem que ele precisa, de

acordo com a árvore de decisão de compras

que ele montou. “Isso sempre existiu,

mas agora é mais necessário do que

nunca. Por conta dessa nova busca por

reduzir fricção”, explica Alves de Lima.

Quanto tempo uma mulher gosta de ficar

na loja? Antes, ela ficava o tempo necessário

para conhecer a loja toda. Hoje,

se for perguntar, ela quer rapidamente

entrar, conhecer os produtos, escolher

rapidamente e sair da loja. “Isso é mais

importante hoje do que era antes, esse

lado mais racional, essa busca por eficiência

é muito mais valorizada pelo

consumidor. Não e mais só a loja linda

e cheirosa”, reforça.

A importância da comunicação visual

ano ponto de venda físico é fundamental

para diminuir o atrito, um

dos elementos mais valorizados pelos

consumidores na hora da compra. O

atrito pode ser diminuído ao simplesmente

fazer a pessoa entrar numa perfumaria

e conseguir se auto orientar.

Ao fazer isso você diminui o risco de

fricção, que se tornou uma preocupação

ainda maior hoje. “Toda vez que

você tem um atrito, para solucioná-lo

você precisa de contato pessoal. Não

encontro uma cor, ou um item, como

resolvo? Vou chamar alguém? Quero

trocar um produto? Toda vez que diminuo

atrito eu crio uma situação melhor

com o consumidor e minimizo a

necessidade de contato pessoal”, diz

Alves de Lima.

Cores após um

quadro trágico

Uma grande curiosidade que existe

após o processo que estamos vivendo

agora diz respeito a como será a paleta

de cores do varejo, particularmente

do varejo de beleza, após um ano tão

trágico e traumático para as pessoas.

A expetativa natural é a de que as cores

voltem com força. Mas não se trata

de sair colorindo todas as fachadas e

pontos focais da loja. Assim como num

ambiente todo cinza, as cores vão se

destacar; elas podem se perder se estiver

em meio a um entorno no qual

também tudo está com mais cor. Nesse

caso, o oposto é verdadeiro: uma fachada

sóbria pode se destacar. Por isso, é

importante saber dosar isso. “Uma loja

mais colorida envelhece mais rápido

também”, lembra Julio Takano.

Ainda que continue necessário validar

o pensamento estratégico a cada

cinco anos, o CEO da Kawara Takano

também diz que hoje o conceito da

loja evolui constantemente, buscando

dar à loja uma sensação de frescor

eterno. Por isso, busca-se trabalhar

em cima de bases minimalistas, modernista

permitindo evoluir sem a

manoel alves

de lima, da fal

design: modelo

de guide shop misto

é tendência e pode

ajudar a viabilizar

operação de lojas

de franquia.

exigência de uma grande

reforma arquitetônica. “Os

padrões cromáticos e de

comunicação visual, vão

evoluindo dentro do quadro

cromático da região na

qual o ponto está inserido”

diz Julio. Isso faz com que

os projetos contemplem

flexibilidade na paleta de

cores, contemplando cores

complementares que permitam

dar diferenciação na

loja em acordo com o ponto

e a região de forma organizada

e consistente com

o branding. “Pensar (ou

querer impor) as cores da

loja sem olhar para o entorno

dela pode deixá-la sem

qualquer diferenciação”,

reforça o arquiteto.

Reorganizando

os estoques

No pós-pandemia, com a

maior necessidade de integração

entre os diferentes

canais de venda e os novos

papéis dos pontos de venda físico, tão

importante quanto a loja é o fundo da

loja, onde fica o depósito, que passou a

ser um hub para retirada de produtos

comprados online. A lógica de abastecimento

das lojas não pode mais se fiar

no estoque para as vendas do ponto

físico e isso tem implicações na organização

do espaço. Julio Takano explica

que a área de estoque, em geral, representava

algo como 15% da área da loja.

Agora, esse percentual precisa subir

para algo entre 18% e 20%. O CEO da

KT Retailing diz que nos seus projetos,

busca replicar a organização do merchandising

da loja no seu estoque. Se

a loja está organizada por categorias,

o estoque deve seguir a mesma segmentação

e o mesmo racional de exposição,

diminuindo substancialmente o

tempo necessário para achar o item e

fazer a sua reposição ou a entrega do

clique e retire, mesmo numa loja de

grande formato

Alves de Lima, da FAL, está entre

os que acreditam que o click retire só

gera benefícios para os lojistas. “Ele

Atualidade COSMÉTICA 32 # 173 | Fevereiro 2021



canal Varejo

a flexibilidade e um modelo que permita

trabalhar com apenas um pedaço

do mix, uma categoria, por exemplo.

Outro ponto que também não tem

bom tamanho, mas está numa avenida

com um bom fluxo de carros, pode

ser uma boa loja se pensada como

hub logístico, rápida. Todas essas movimentações

e novas possibilidades

devem ser concretizadas com mais

frequência nos próximos anos. “Tem

muita gente escrevendo e falando sobre

isso, mas ainda pouca gente fazendo”,

explica Takano.

Seguindo essa lógica de compartimentar

a loja para se inserir em

diferentes espaços, a G’el Niche vai

inaugurar, nos próximos meses, duas

lojas em Balneário Camboriú, no litoral

catarinense, uma terá foco nas

marcas premium e mais luxuosas do

portfólio da varejista e estará localizada

na rua comercial que concentra

as marcas mais sofisticadas da área

de moda. A segunda operação, que

estará localizada numa região central

e de maior fluxo de pessoas, terá foco

na perfumaria low cost, que necessita

de grandes volumes de vendas. “Serão

lojas que terão soluções pensadas

para atender aos diferentes perfis de

público e da própria experiência de

compra que cada loja precisa entregar,

mas serão ambas lojas da G’el Niche”,

acredita Elvis Granemann.

Esse movimento da G’el Niche é o

primeiro de um processo de expansão

que deve avançar para outras praças

nos próximos anos, justamente para

ampliar a cobertura da perfumaria

no País servindo também como hubs

para entrega e pontos de retirada da

vendas do e-commerce. “Não posso

contar o plano todo mas a ideia é ter

um desses hubs em todas as regiões

do Brasil”, conta Granemann, dizendo

que os maiores desafios nesse caso estão

em organizar a logística para dar

conta das peculiaridades do estoque

de cada região, ao mesmo tempo que o

timming de entrega das importadoras,

cujos centros de distribuição em sua

maioria estão situados em Vitória, o

que torna o processo mais demorado.

Outro bom exemplo da necessidade

de repensar a estratégia de geloja

da varejista digital

g’el niche: opção por arquitetura

mais orgânica e menos digital, mas

com a loja integrada a operação do

e-commerce.

demanda uma área da loja? Sim. Mas

é um espaço altamente produtivo,

com produtos já vendidos, ao contrário

do sortimento da loja física”,

diz ele. O click retire tem vantagens

adicionais para o lojista, que devem

ser consideradas, incluindo a possibilidade

de novas compras pelo consumidor

no momento em que ele vai até

a loja fazer a retirada. Além disso, o

click retire permite a comprovação do

produto, diminuindo uma insatisfação

com o produto recebido e evitando

a logística reversa (caso seja possível

fazer a troca do produto na loja

mesmo), um dos grandes pesadelos

do e-commerce. “Já gastei dinheiro à

beça com livros que comprei online e

não gostei. Se tivesse na livraria, teria

lido um pedaço e só compraria se

realmente tivesse gostado”, pontua o

CEO da FAL.

Elvis Granemann diz que a parcela

do click retire na loja ainda é muito

pequena, não chega a 3%. Mas ela serve

de termômetro para validar um caminho:

a necessidade de expandir os

pontos de retirada. “Estamos abertos

a conversar com qualquer operador

logístico que nos ofereça uma opção

de mais de 10 pontos de retirada para

os consumidores no Brasil. Isso vai dar

muito certo e vai nos fazer crescer pelo

menos 20%”, acredita o empresário.

A nova lógica da

geolocalização

Não é só a arquitetura da loja que sofre

impactos da transformação digital

acelerada pelo coronavírus. Tão afetado

quanto, o trabalho de geolocalização

para a escolha de um ponto de

venda físico também não pode ficar

preso aos modelos utilizados até bem

pouco tempo atrás. Com as lojas cumprindo

novos papéis, só saber o fluxo

de pessoas que transita naquele ponto

e na área de influência ao redor da

loja e se o público é de moradores ou

de transeuntes não é mais suficiente

para calcular se o investimento para

abrir a loja naquele ponto vale a pena.

Um ponto muito bom, mas que por

ser pequeno, era descartado de cara.

Do outro lado, um ponto em local de

pouco fluxo, mas de bom preço e próximo

a deter minadas regiões, ou que

seja uma loja de passagem de carros e

não de pedestres, também pode fazer

sentido hoje.

Agora, é olhar não só para um modelo

global, único de loja. É preciso ter

Atualidade COSMÉTICA 34 # 173 | Fevereiro 2021


olocalização diz respeito as próprias

lojas de shopping. Lojistas que só

operam lojas nesse tipo de estabelecimento,

se sentiram prejudicados por

não terem uma loja de rua. “Fazer

entregas à partir de uma loja de rua é

muito mais fácil do que de um ponto

dentro de um shopping”, lembra Alves

de Lima. Além disso, muitas pessoas

estão evitando ir aos shopping,

até porque eles podem envolver percursos

mais longos no momento em

que o consumidor busca um comercio

mais próximo da sua casa. “Eventualmente,

operar mais lojas menores

pode ser uma estratégia”, acredita o

sócio da FAL.

Particularmente sobre os shoppings,

é preciso lembrar que a dinâmica

atual penaliza as lojas satélites – no

qual se enquadram a quase totalidade

do varejo de beleza, seja ele mono ou

multimarcas – em favor das lojas âncoras,

que a bem da verdade são poucas.

“O que vai acontecer com os shoppings,

é uma icognita. Os cinemas,

uma das âncoras, estão um perereco.

E se você pensar que todos os shoppings

tem uma área de cinema, o que

fazer com essas áreas. Não tem tantas

ancoras disponíveis, para ocupar

esse papel”, diz ele, que acredita num

crescimento da mudança de pontos,

não agora, mas em um ou dois anos,

loja física da beleza

na web: organização do

estoque (na parte de cima da

loja), replicando a lógica de

organização da área de vendas.

quando os varejistas se recapitalizarem.

“Muita gente perdeu venda, mas

quando o varejista voltar a fazer grana

– porque para fazer algo que vai ser

melhor para ele no médio e no longo

prazo, ele precisa ter condições de fazer

a mudança – eu acho que isso vai

acontecer”, conclui.

# 173 | Fevereiro 2021 35 Atualidade COSMÉTICA


Pack Gallery

C H A N N E L

Zé Luíz


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C H A N N E L

KELLI FAUSTO

APRESENTADORA

ENTREVISTADOS

Maurício Carini

Presidente da Trend Pack

André Hwan

Presidente da MGR

Berenice Trevo

Presidente da Trevo Cosméticos

Marcelo Falcão

Presidente da Premier Pack

Omar Atadia

CEO da Precision

REDES

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nEGÓCIOS Casas de Fragrâncias

Novas expectativas

Ilaria Resta, nova presidente mundial de perfumaria da

Firmenich e a Catherine Ducret, diretora de Digital Consumer

Insights falam sobre a pesquisa da empresa com consumidores

do mundo inteiro sobre a relação deles com os cheiros em

meio à pandemia. e sobre movimentos estratégicos da casa

no mundo e na américa latina >>> Aûani Cusma de Paula

Com carreira desenvolvida

na gigante P&G,

na qual era responsável

global pela categoria de

cabelos, a italiana Ilaria

Resta chegou à casa de

fragrâncias suíça Firmenich em março

de 2020, trazendo o seu background de

cliente e entendimento do consumidor

final para o comando da área de perfumaria

da companhia.

Sua chegada coincide com o auge da

pandemia, que impactou fortemente a

percepção e a relação dos consumidores

com os cheiros. “A fragrância reforça os

sentimentos de segurança, tranquilidade

e felicidade para o consumidor em

situações de estresse. Nossa última pesquisa

com consumidores mostra que a

importância do perfume para diferentes

populações de consumidores está

crescendo e pode ser aproveitada pelos

clientes para determinar a fragrância e o

mix de categorias”, diz Ilaria. “Hoje, há

uma verdadeira mudança do consumidor

em direção a fragrâncias que evocam

sentimentos de segurança, limpeza

e serenidade. Chamamos essa combinação

de sinais emocionais que os consumidores

esperam das fragrâncias de

Sereni-Clean”, complementa Catherine

Ducret, diretora de Digital Consumer

Insights da empresa.

Em entrevista por vídeo conferência

à Atualidade Cosmética, elas falam

sobre o conceito Sereni-Clean, fruto de

um amplo estudo realizado no final do

ano passado para entender como os

consumidores em diferentes regiões do

mundo se relacionaram com as fragrâncias

– em todas as categorias – durante

o período da pandemia. Ilária também

fala sobre suas expectativas para o negócio

da empresa no Brasil.

Há décadas, a perfumaria fina influencia

os caminhos olfativos de outras categorias

do mercado de higiene e beleza.

Agora, com a busca por fragrâncias

que promovam maior bem-estar e sensações

de prazer e felicidade, incluindo

fragrâncias mais funcionais, pode

acontecer o contrário? Ilaria Resta: Tecnicamente,

acho que cruzamos a linha

da perfumaria fina e da funcionalidade

para elas estarem mais próximas uma

da outra. Higiene tem sido uma questão

particularmente crítica para os consumidores

durante a crise da Covid-19.

Nós focamos em desenvolver moléculas

que pudessem dar às fragrâncias o

aumento de uma sensação de frescor,

de higiene e limpeza. Isso é importante

porque no momento em que os consumidores

sentem esse cheiro de higiene,

eles entendem que o produto está funcionando.

Se não sente, vai lavar de

novo. O cheiro pode ser um indicador

de que o produto ainda está funcionando.

Estamos descobrindo moléculas

que podem agregar certos benefícios e

eu acredito que o futuro pode ser de fragrâncias

para perfumaria fina positivas,

que gerem emoção e fragrâncias funcionais

que cruzam todas as categorias.

Catherine Ducret: Nossos estudos mostram

que para os consumidores, as fronteiras

entre as categorias estão ficando

menos visíveis. Você vê os consumidores

de perfumaria usando loções para o

corpo e itens e cabelo com fragrâncias

mais intensas para se perfumarem. Sabemos

que o cheiro nos shampoos vem

ficando mais intenso. Tudo está se tornando

mais embaçado, categorias funcionais

tendem a caminhar mais para

benefícios de beleza e a fragrâncias finas

ficando um pouco mais funcionais.

É algo que está acontecendo agora.

Isso pode impactar o mix de produtos

em relação à perfumação? Mais pessoas

podem se perfumar apenas com o

shampoo, por exemplo?

Ilária: Depende do humor. Temos visto

uma explosão dos perfumes de cabelos,

shampoos que limpam e perfumam.

Clientes têm pedindo mais e mais perfume

em shampoos, com apelos mais

de fine fragrances e cosméticos premium

e menos só de limpeza. Mas temos diferentes

rituais de perfumaria e mais

companhias têm vindo até nós buscando

por novas ideias de perfume para

produtos de higiene, como higienizadores

para as mãos.

Como esse cruzamento olfativo cada

vez maior entre as categorias afeta a

organização criativa e o mundo dos

avaliadores?

Ilaria: Do ponto de vista da organização,

acredito que perfumistas e avalia-

Atualidade COSMÉTICA 38 # 173 | FEVEREIRO 2021


dores precisam ter expertise nas diferentes

categorias, porque o código de

cada uma delas é muito específico. A

mágica acontece quando você consegue

cruzar essas categorias. Por exemplo,

temos visto muitos ingredientes oriundos

do mundo dos alimentos no segmento

de body care, então essa categoria

está mais aberta às influências desse

universo. Na perfumaria fina, esse não

é o caso. Por isso necessitamos dos experts

em cada categoria que, entretanto,

devem estar abertos para interferência

de outras categorias.

Agora, também é preciso entender

que os perfumistas, normalmente, rodam

e mudam entre diferentes categorias

e aplicações. Existem perfumistas

maravilhosos de perfumaria fina desenvolvendo

fragrâncias para hair care. E temos

mais e mais grandes projetos assim.

ilária resta,

da firmenich:

fragrâncias finas

e funcionais

romperam uma

linha que as

separava.

Você pode explicar o conceito das fragrâncias

Sereni-Clean com um pouco

mais de detalhes?

Catherine: Expusemos para os consumidores

uma lista de emoções bastante

conhecidas, que usamos regularmente

em nossas pesquisas e perguntamos

a eles, no momento da pandemia, que

tipo de emoções eles esperavam que

uma fragrância despertasse. A pesquisa

foi realizada em 11 países, com mais de

seis mil pessoas e os resultados foram

bastante alinhados nos diferentes países.

De certa forma, eles trouxeram um

pouco de surpresa em relação ao que

tradicionalmente seria respondido.

Ao usar um produto de perfumaria

hoje, são duas as mensagens chave relaxamento

e tranquilidade. Eles querem

fragrâncias que gerem uma sensação de

tranquilidade, que o perfume traga um

senso de limpeza, e limpeza em termos

de sanitização mesmo. Do outro lado

eles querem a sensação de conforto. Isso

foi algo novo para nós, porque estamos

acostumados a ter as outras emoções no

topo dessa pesquisa como felicidade,

sedução, indulgência... Isso é que o vemos

em termo normais quando falamos

de benefícios das fragrâncias.

Olhando e analisando esses dados,

vimos esses dois grupos de emoções,

clean e serenity, sendo mencionados por

55% e 45% dos entrevistados, e como foram

os mais fortes, decidimos juntá-los

num conceito único, e aí chegamos ao

Sereni-Clean.

Você já disse que os dados foram muito

alinhados. É algo que se deu de forma

igual por todo o mundo?

Catherine: Claro que olhamos os dados

país a país, mas eles são extremamente

consistentes. Fizemos o estudo em setembro,

e temos de ter em mente que o

humor pode ser diferente em cada região,

a depender do que estava acontecendo

em cada local naquele momento.

Agora, embora os resultados sejam

consistentes, a execução do conceito, o

que o consumidor espera dele, pode ser

diferente. Esse é o grande desafio para

nós: como decodificar e aplicar esse

conceito da melhor forma em cada país.

Atualmente estamos trabalhando nisso.

Não é necessariamente só conforto e

limpeza. Podemos encaixar algo diferente,

pode ser mais sofisticado.

Sobre o Brasil, algo em particular?

Catherine: Os sentimentos, esforços e

expectativas são muito comuns. A sensação

de medo também é global. As diferenças

estão menos no que se espera

em termos de fragrância e mais no fato

de que o momento em casa e o distanciamento

é mais difícil para vocês. Na

França, quando encontramos com um

cliente, você aperta as mãos e mantém

a distância. Já no Brasil vocês dão um

grande abraço, como se fossem amigos

de infância. O estudo nos mostra

que o distanciamento (entre as pessoas)

é mais difícil no Brasil do que em

outros países. Algo que temos que ter

em mente para o Brasil é como que as

fragrâncias podem ajudar a reinventar

o link entre as pessoas. Isso precisa ser

pensado para o Brasil.

Pelo fato de estar atrelada a uma situação

pontual, que é a da pandemia, vocês

encaram essa tendência como algo

de longo prazo?

Catherine: Não temos uma bola de cristal,

ainda é muito difícil fazer qualquer

previsão em termos de consumo e é por

isso que estamos desenvolvendo várias

formas de pesquisar e testar o conceito

para ver como isso se desenvolve. A

próxima onda da pesquisa deve acontecer

no segundo semestre de 2021 e aí

poderemos entender se é algo estável.

Home fragrances será um mercado

emergente nos próximos anos?

Ilaria: O mercado de home fragrance

está crescendo por diferentes razões.

Como as pessoas estão mais em suas

casas, cozinhando mais, usando mais o

banheiro, isso ajuda na venda dos produtos

de eliminação de odores, o mais

clássico dessa categoria. Mas em termos

de criar um ambiente, uma atmosfera

# 173 |FEVEREIRO 2021 39 Atualidade COSMÉTICA


NEGÓCIOS Casas de Fragrâncias

na casa com velas, sprays e varetas, o

mercado vem crescendo também. Tudo

relacionado com perfumação da casa

está crescendo em dois dígitos, porque

neste momento particular as pessoas

buscam conforto, tentam fazer da casa

um ambiente mais gostoso para viver.

Quando os consumidores descobrem a

categoria, isso virá um hábito e as pessoas

amam. E algo que deve continuar.

As grandes marcas de perfumaria devem

olhar para essa categoria como

uma oportunidade?

Ilaria: Claro! Você vê velas e fragrâncias

para casa em todas as faixas de preço, dos

mais simples e baratos até produtos que

custam centenas de dólares. Certamente,

algumas marcas de perfumaria fina

podem desenvolver o mesmo perfume

para velas ou perfumes para casa; outras

têm estratégia diferente, apostando

em cheiros específicos para os diferentes

ambientes do lar. Existem diferentes approachs

em termos olfativos, mas a verdade

é que não importa a faixa de preço,

a classe social, o canal de distribuição,

você vai ver velas em todas as faixas. É

uma tendência muito democrática.

Catherine: Sobre isso, nós vemos bem

algumas classes mais baixas mudando

a forma de usar alguns produtos, para

desfrutar as fragrâncias de diferentes

formas. No México as pessoas estão

usando limpadores para perfumar a a

casa. Já no Reino Unido, consumidoras

estão aplicando amaciante em toalhas

e as colocando em algum lugar quente

da casa para que ela exale o perfume.

Isso também traz essa questão do cruzamento

da categoria e como os consumidores

podem ser criativos para

encontrar uma solução para perfumar

a casa e se sentirem melhor em seu lar.

De alguma forma, o Sereni-Clean se conecta

com o Regeneration, a nova plataforma

de fine fragrances da Firmenich?

Ilaria: Definitivamente estão conectados.

Nossa estratégia de fine fragrances

está toda baseada em como reimaginar

uma categoria que tem estado lá, da

mesma forma, por séculos. Ela foi muito

afetada pela Covid-19. Nunca existiu

um momento na historia da perfumaria

fina no qual uma doença tenha afetado

o olfato desta forma e isso traz um choque

e uma grande questão sobre como

vamos nos reinventar e sermos verdadeiros

nessa nova realidade. E isso vem

junto com outros grandes movimentos

de mudanças, como as questões de responsabilidade

sócio-ambiental; as questões

de gênero num universo que sempre

foi dividido entre perfumes masculinos

e femininos... Como cobrir todos

esses movimentos, além da Covid-19?

Isso está impondo à indústria a necessidade

de pensar e repensar um novo futuro

junto com seus clientes. Nós temos

a expertise em ingrediente, moléculas e

perfumaria – mas isso é algo que temos

que trabalhar em conjunto com nossos

clientes. O Sereni-Clean é um dos muitos

caminhos que se relacionam com o

conceito Regeneration.

Alguns anos atrás entrevistei seu predecessor,

Armand De Villoutreys. Ele

afirmou que a Firmenich seria líder em

fragrâncias no Brasil. Como você pretende

encarar esse desafio?

Ilaria: Antes de mais nada, deixe dizer

que sou pessoalmente apaixonada pelo

Brasil. Antes de me juntar a Firmenich

eu atuei na P&G como responsável

pela categoria de cabelos e, para mim,

o Brasil sempre foi uma inspiração em

termos de padrões de beleza e cabelos.

Sempre obtive muita inspiração a partir

da rotina das mulheres brasileiras.

E eu acho que isso também é verdade

quando o assunto é perfumaria fina.

Não posso lhe garantir que cumprirei

a promessa do Armand, mas definitivamente

temos grande foco no Brasil.

Abrimos um atelier em São Paulo

especialmente desenhado para recebermos

nossos clientes, um ambiente

pensado para a co-criação. Temos

investido muito em consumer insights

para estarmos à frente do entendimento

das necessidades e anseios das consumidoras

locais. Também ampliamos

a nossa equipe no Brasil em termos de

perfumistas e avaliadores. Você precisa

ter gente no chão sentido o que está

acontecendo nas ruas. Temos muito

comprometimento e paixão para vencer

no Brasil, um País muito prioritário

para nós. E eu não vejo a hora de poder

estar pessoalmente aí para demonstrar

esse comprometimento.

A mudança de comando na América

Latina é parte desse investimento?

Ilaria: Sim. Marc (Jourdan-Gassin, antigo

VP de perfumaria para Latam) fez

um trabalho fantástico no Brasil criando

a partir da base uma organização

que agora está num nível muito alto de

performance e está voltando para Paris.

E nós fomos buscar a Patrícia Nogueira,

que assumiu como VP de perfumaria

em setembro. Ela vem de uma indústria

diferente, mas que conhece beleza e

tem uma grande paixão por perfumes.

Ela era cliente, como eu era, (antes de

ingressar na Firmenich, Patrícia era diretora

global da marca Dove, da Unilever),

e traz uma expertise em consumidores

e entendimento do consumidor,

um ativo adicional que queremos oferecer

aos nossos clientes. Se estivermos no

topo em termos de entendimento das

necessidades dos consumidores, nos

poderemos olhar e oferecer soluções

vencedoras para nossos clientes.

A Firmenich é a única das quatro grandes

casas de fragrâncias que não conta

com uma divisão de ingredientes cosméticos.

Isso é algo que pode mudar

nos próximos meses ou anos?

Ilaria: Não posso comentar para onde

vamos no futuro nesse sentido. Tomamos

a decisão, alguns meses atrás, de

realizar a maior aquisição da Firmenich,

a da fabricante de ingredientes

industriais DRT, uma companhia líder

em soluções renováveis. Isso vai nos

permitir uma operação mais integrada

em termos de supply chain e sustentabilidade.

É um investimento para sermos

líderes em sustentabilidade. Essa é a

nossa prioridade. A pandemia trouxe

uma solidariedade contagiante. A Firmenich

e um monte de outras empresas

estão atuando em questões sociais

e de sustentabilidade. Isso é muito importante

para nossos clientes no Brasil.

Investimos na preservação das florestas,

na questão da mudança climática

olhando para a agenda de sustentabilidade

e preservação. Sabemos da nossa

responsabilidade sócio-ambiental e

esse é um tema para o qual a a régua

vem subindo muito.

ATUALIDADE COSMÉTICA 40 # 173 | FEVEREIRO 2021



Apresentado por:

POR QUE INVESTIR DURANTE

A CRISE? PARA A GRÁFICA

GONÇALVES, A RESPOSTA É:

2.2.21 10:39

PORQUE O FUTURO ESTÁ LOGO AÍ

Em plena pandemia

da Covid-19, com a

economia nacional

em marcha lentíssima,

a Gráfica Gonçalves,

fabricante

de embalagens de

papel-cartão, decidiu não se acomodar.

No ano passado, enquanto

muitas indústrias postergaram ou

engavetaram projetos, a empresa

fez grandes investimentos. Surpreendente

para alguns, a estratégia

é resumida de maneira simples

pela diretora de Operações Juliana

Gonçalves: “estamos inventando o

nosso futuro”. Nesta entrevista à

Atualidade Cosmética, ela explica

como a empresa vem enfrentando

os impactos da pandemia e os novos

horizontes que estão no radar.

A Gonçalves fez importantes investimentos

ao longo de 2020.

Para a empresa, a crise já passou?

Como todas as empresas, vivemos

um período de grandes desafios.

A nossa preocupação número um

foi com a saúde dos funcionários.

Adotamos medidas rígidas de segurança.

Além de máscaras, álcool

em gel, medição de temperatura e

reforço na higienização dos equipamentos

e ambientes, mudamos o

horário de trabalho a fim de reduzir

o número de profissionais nos

postos de trabalho em cada turno

e nos ônibus fretados. Também

afastamos aqueles enquadrados

em grupos de risco e todos os que

apresentaram sintomas suspeitos.

Do ponto de vista dos negócios,

apesar das dificuldades, estávamos

numa situação menos adversa que

outros fabricantes de embalagens,

pois alguns mercados em que atuamos

não foram afetados e até cresceram

durante a crise, como o farmacêutico.

Outros, que foram mais

impactados nos primeiros tempos

da pandemia, estão voltando com

força, como o de cosméticos.

Mas uma empresa não pode estar

focada apenas no presente. O futuro

está logo aí. Ele será melhor ou

pior dependendo do que fizermos

hoje. Meu avô (José Gonçalves, que

dirigiu a gráfica por várias décadas)

sempre dizia: pés no chão e olhos no

futuro. É isso que estamos fazendo

com os atuais investimentos.

No que a empresa está investindo?

Estamos adquirindo duas novas máquinas

offset supermodernas e outros

equipamentos, incorporando novas

tecnologias, intensificando a automação

e modelando uma gráfica 4.0

com a digitalização. Isso no Brasil.

No México, já tínhamos desenvolvido

iniciativas importantes em 2019,

quando nos mudamos para uma

planta maior, também com investimento

em novas linhas de produção.

Com todos esses movimentos,

estamos inventando o nosso futuro.

Estamos olhando a retomada no

pós-pandemia, mas mirando também

os horizontes de mais longo

prazo. Nós temos citado muito um

ditado que diz que o velejador pessimista

reclama do vento forte, o

otimista espera que ele mude logo

de direção, enquanto o sábio ajusta

as velas para imprimir velocidade

à embarcação. Mesmo com tantas

dificuldades, encaramos o ano de

2020 como uma oportunidade para

ajustar nossas “velas”.

O que a empresa tem em mente?

Quais são os planos?

Nós estabelecemos um sólido plano

estratégico definindo nossas ambições

de crescimento para os próximos

anos tanto no Brasil como no

México e os caminhos para atingir

nossos objetivos.

Além da renovação do nosso

parque gráfico, tivemos também

uma renovação nas nossas lideranças

e a criação de novas áreas,

como o setor de Desenvolvimento

e Inovação, um núcleo dedicado à

prospecção e testes de novas tecnologias

que possam ser interessantes

para nós – tanto em equipamentos,

como em insumos e materiais. Todos

esses movimentos da Gonçalves

se traduzirão em mais produti-

GONCALVES.COM.BR


JULIANA GONÇALVES, DA GRÁFICA

GONÇALVES: investimentos para renovação

do parque gráfico e novo núcleo dedicado a

prospecção e testes de novas tecnologias.

ajudam a valorizá-los. As novas

tecnologias que estamos trazendo

para a empresa nos permitirão

oferecer aos clientes acabamentos

ainda pouco disponíveis no Brasil

e muito interessantes para setores

que valorizam acabamentos mais

sofisticados e atraentes, como o de

cosméticos. Em resumo: nós queremos

crescer com responsabilidade,

sem diminuir valor de mercado,

mas aportando valor a novos mercados.

vidade e qualidade e recursos up to

date para oferecer soluções inovadoras

que nos permitam fortalecer

a presença em mercados nos quais

já atuamos e entrar em outros. Nós

já estamos entre os líderes de nosso

setor em termos de market share.

Mas queremos também liderar tendências

nesse mercado.

Como a Gonçalves planeja fazer

isso?

Nós enxergamos boas oportunidades

para conquistar empresas de

setores aos quais podemos levar a

sustentabilidade das embalagens

de papel-cartão em substituição

a outros materiais, contribuindo

para que reduzam sua pegada de

carbono. Não custa lembrar que os

consumidores estão cada vez mais

exigentes com relação às questões

ambientais, privilegiando produtos

de fontes renováveis e passíveis

de reciclagem. Isso inclui as

embalagens.

Na Gonçalves, estamos preparados

para oferecer soluções ambientalmente

mais amigáveis e capazes

de cumprir o duplo papel das

embalagens: proteger o produto

e atrair o consumidor com design

e acabamentos diferenciados que

Então, inovação é a base da estratégia

para crescer?

A inovação em tecnologias que

nos permitam oferecer soluções

inovadoras aos clientes é, sim, um

ponto importante da nossa estratégia.

Mas não só. A inovação por si

só não basta. Ela pode até cativar

nosso cliente. Mas ele só comprará

se enxergar nela uma boa relação

custo-benefício. Por isso, os equipamentos

mais performantes, as

melhorias em processos e as soluções

de automação e digitalização

são igualmente importantes,

pois têm nos permitido melhorar

a produtividade e reduzir custos

e desperdícios. Na ponta a linha,

isso significa competitividade. O

desafio é combinar tudo isso: inovar,

produzir mais e melhor, com

preço competitivo. É um desafio

que abraçamos com entusiasmo e

com a visão do velejador do ditado

que citei, que explora o vento a seu

favor. Os investimentos que fizemos

e as transformações que promovemos

internamente em termos

de processos e gestão fazem parte

do nosso movimento para ajustar

as velas e imprimir velocidade a

essa embarcação chamada Gráfica

Gonçalves.

GONCALVES.COM.BR

29


SUPPLY CHAIN Digitalização

Internet das

Embalagens

EM MEIO À TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E A REVOLUÇÃO PROMOVIDA

PELA INDÚSTRIA 4.0, O SETOR DE EMBALAGENS VIVE UM MOMENTO DE

TRANSFORMAÇÃO E REINVENÇÃO QUE DESCORTINA UM VERDADEIRO

UNIVERSO DE POSSIBILIDADES E ABRE ESPAÇO PARA CRIATIVIDADE

>>> CESAR ALVES

ATUALIDADE COSMÉTICA 44 # 173 | FEVEREIRO 2021


Um dos pilares fundamentais

da chamada

Quarta Revolução

Industrial, também

conhecida por Indústria

4.0, a Internet

das Coisas já há algum tempo

vem mudando de forma irreversível

a maneira como lidamos com os objetos

que fazem parte de nosso cotidiano,

conectados digitalmente, através

Softwares e sensores inteligentes que

interagem entre si como um grande

sistema nervoso.

Somos testemunha e, ao mesmo

tempo, protagonistas de uma nova

revolução industrial em pleno desenvolvimento,

o que exige muita

desenvoltura, criatividade, visão e

capacidade para assimilar, adaptar

e responder de forma tão rápida às

exigências de um mercado consumidor

em transformação quanto a velo-

EMBALAGEM CONECTADA:

o uso de dispositivos móveis

para ler informações contidas

nas embalagens não é novo.

Mas o impacto da “digitalização”

nas embalagens vai muito

além disso, influenciando a

concepção do design delas.

cidade com que ocorrem os avanços

tecnológicos e com eles os hábitos de

consumo e perfil do consumidor.

O setor de embalagens talvez seja

um dos mais afetados pela Indústria

4.0. Segundo Juliana Gonçalves, diretora

da Gráfica Gonçalves, atualmente

já se pode prever na embalagem

uma das principais fontes de inovação,

comunicação e interatividade

com o consumidor. “Muitos produtos

tiveram as embalagens repaginadas,

e estas passaram a agregar mais

valor à empresa e à marca. Além dessas

já conhecidas funcionalidades, o

mercado de embalagens tem investido

em uma gama imensa de possibilidades

de comunicação e interação

com seu público final. Diversas ferramentas

como QR Code, códigos de

barras, embalagens ativas ou inteligentes,

uso de dados variáveis ou até

mesmo de embalagens com realidade

aumentada vêm sendo exploradas

pelos principais players“.

Dentro do mesmo processo de

transformação digital que vem tornando

tudo isso possível, nos últimos

anos, vimos o avanço da tecnologia

de smart packages (embalagens

inteligentes) dar um salto impressionante,

dando às embalagens dos

produtos que consumimos um papel

que vai muito além do de proteger

seu conteúdo. Na verdade, a engenharia

e o design de embalagens vêm

ganhando importância e destaque

tão grande, dentro dessa cadeia, que

recentemente foi criado o termo IoP

(Internet of Packaging) ou Internet

das Embalagens para descrevê-lo.

“Podemos dizer que a IoP é um

conjunto de sistemas, plataformas

ou aplicativos, voltados à interação

e a comunicação com ambientes internos

e externos, por meio da embalagem.

Essa infra-estrutura gerada é

capaz de processar grandes volumes

de dados, com o objetivo de comandar

e controlar coisas, unificando o

meio físico e o digital”, explica a designer

Margot Takeda, sócia-diretora

da a10 Design.

Ou seja, a Internet of Packaging

está diretamente ligada ao universo

de possibilidades que o setor de embalagens

vê descortinar-se diante de

si, na transformação por que passa a

cadeia de suprimentos em interações

digitais cada vez mais inteligentes,

por meio dos códigos de barras, QR

codes ou datamatrix, chips de NFC,

bluetooth, realidade aumentada e

impressão digital com marca d´água.

Segundo Sephora Manieri de Oliveira,

Consultora Senior para Inovação

do Grupo Gama, principalmente

no que diz respeito ao setor de cosmética

e beleza, essas tecnologias

abrem espaço para um mundo de

oportunidades. “Hoje, muito do que

de mais avançado se vê acontecendo

em relação à embalagens interativas

ainda está restrito às grandes marcas.

Mas, com recursos como o QR

Code, por exemplo, já é possível ter

acesso a informações que visam a

melhoria da experiência do consumidor

no que diz respeito à garantia de

autenticidade, procedência do produto

e sustentabilidade” exemplifica

a consultora.

Margot Takeda aposta que iremos

presenciar a inserção de muita

tecnologia nas embalagens, mas

ao mesmo tempo não podemos nos

esquecer que teremos também, em

paralelo, uma corrente forte de sustentabilidade,

mas que também estará

ligada ao hi-tech. “Gosto muito

do exemplo da embalagem da marca

NOHBO que criou uma linha de

shampoo vegano na qual a embalagem

se dissolve na água. O cosmético

foi batizado de Drop (gota em

inglês) e vem envolto em uma película

feita de bio-plástico à base de

plantas. Ao entrar em contato com

# 173 | FEVEREIRO 2021 45 ATUALIDADE COSMÉTICA


SUPPLY CHAIN Digitalização

MARGOT TAKEDA, DA

A10: dados servindo

de base para orientar

o processo criativo e

design validado com

estudos de neurociência.

JULIANA GOLÇALVES, DA

GRÁFICA GONÇALVES:

avanço das vendas digitais

refletiu na valorização de

soluções que não deixem

as embalagens amassarem,

descolarem ou chegarem

arranhadas ao consumidor.

a água, a proteção começa a se dissolver,

processo que dura de três a

quatro segundos, sem deixar resíduos

para trás. Não podemos deixar de

pensar aqui como um claro exemplo

da biomimética, linha do design que

utiliza conceitos da natureza para

desenvolver soluções. A tecnologia

de certa forma também utiliza um

pouco disso na hora de pensar em

programação e conceitos. E acredito

que esta integração do digital com

físico através dos aplicativos, vão

crescer e muito. Um ponto importante

é também dispositivos integrados

nas embalagens, já permitem saber

se o produto ainda está bom ou não

para o consumo, como uma espécie

de etiqueta inteligente. Além da realidade

aumentada que informa e cria

experiência para o consumidor. Ou

seja, a era da smart packaging só está

no início. Vamos ver ainda muita

integração e interatividade nas embalagens.

E o design irá com certeza

evoluir, com novas tipografias, efeitos,

texturas e formas de expressão,

o que é incrível”.

Segundo Renato Massara, diretor

de Marketing e Vendas da fabricante

de embalagens de vidro Wheaton, a

Internet das Embalagens funciona

como um sistema que individualiza

e rastreia as embalagens produzidas

no planeta e as cataloga num banco

de dados global. “Essa ferramenta

viabiliza uma integração maior da

embalagem com o produto e torna

o processo mais personalizável. Para

as indústrias, torna o processo de logística

e controle das movimentações

mais dinâmico e totalmente digitalizado,

serializando as embalagens e

reduzindo a margem de erros com

entrega, perda ou extravio. Para os

consumidores finais, torna a embalagem

parte do produto e dá uma nova

função, através da interatividade”.

Do ponto de vista do rastreio de

produtos, o setor de embalagens já

vem utilizando há algum tempo a

tecnologia RFID, de identificação por

rádio freqüência, chips tão pequenos

quanto uma agulha que, em conexão

com antenas que captam sinais

eletromagnéticos e os energizam,

fornecendo dados sobre localização

para rastreamento e controle dentro

de fábrica, estoque, canal de distribuição

ou loja. Mas com a tecnologia

de embalagens inteligentes as possibilidades

podem ir muito além do

imaginada, funcionando como uma

ligação direta entre o fabricante e seu

consumidor final.

“Acredito que veremos num futuro

próximo uma codificação através

de QR Code ou algo similar onde o

consumidor poderá saber de todo

o processo produtivo do produto

e embalagem. E isto será um tema

de grande importância no processo

de decisão de compra por produtos

mais sustentáveis”, prevê Maurício

Carini, diretor da TrendPack, fornecedora

de soluções de embalagens.

Líder nacional no fornecimento

de embalagens de vidro, a Wheaton

vem tirando proveito da transformação

digital para melhorar a experiência

do negócio e sua relação com

seus clientes. Recentemente, a empresa

lançou o programa MyWheaton3D,

uma ferramenta de brainstorming,

desenvolvida com o objetivo

auxiliar as equipes de marketing e

desenvolvimento de produtos e gerar

insights para a criação. “Em um

ambiente virtual e em uma plataforma

totalmente interativa, o usuário

consegue criar inúmeras embalagens

personalizadas, escolhendo o

formato, design, simular técnicas de

pintura e metalização, serigrafia, hot

stamping, válvula e tampa, do modo

que desejar. Além de todos seus atributos

voltados para a tecnologia, a

MyWheaton3D é um projeto sustentável.

Através da criação do frasco

em um ambiente virtual reduz o volume

de amostras geradas”, explica

Renato Massara.

ATUALIDADE COSMÉTICA 46 # 173 | FEVEREIRO 2021


INTERAÇÃO DIGITAL COM A EMBALAGEM: realidade possível para cada vez mais empresas

e valorizada por consumiores sedentos por mais informações para uma compra mais acurada.

DESIGN E ENGENHARIA

DE EMBALAGENS

Do ponto de vista do Design, se

houve um tempo que as embalagens

eram pensadas da perspectiva das

gôndolas e prateleiras no ponto de

venda, hoje também é preciso pensar

em sua visibilidade digital para

o e-commerce e dispositivos móveis,

por exemplo. Desse ponto de vista,

como isso impacta o design e criação

de embalagens dentro do setor de

cosmética e higiene pessoal?

“Tenho acompanhado projetos

em que o tema visibilidade digital,

bem como a experiencia do consumidor

em todo processo tornou-se

protagonista no momento do desenvolvimento”,

acredita Carini, para

quem hoje há uma maior preocupação

para que o que é apresentado

nos meios digitais seja fiel ao que o

consumidor recebe. “Vimos na década

passada embalagens lindas em

fotos de catálogos que causavam certa

decepção por conta de aparência,

funcionalidade e proteção quando

o consumidor recebia o produto”,

lembra o diretor da TrendPack.

Na mesma linha, Sephora Manieri

também acredita que o design de

embalagens precisa ter uma visão

mais holística do negócio e do próprio

mercado. “Vivemos num mundo

multicanal. A venda direta, por

exemplo, mudou muito nos últimos

anos. Acredito que a tecnologia vai

ditar as regras através da conectividade

entre marcas e clientes, colaborando

muito para que o design

consiga traduzir de uma forma cada

vez mais completa a vida do produto

em diálogo com seu consumidor,

principalmente no setor de beleza.

Hoje ainda compramos muito incentivados

pelo visual, mas vejo um futuro

em que será possível, através da

embalagem em interatividade com

seu celular, por exemplo, verificar no

ponto de venda quais as propriedades

de um produto e até que ponto

ele é apropriado para o perfil do consumidor”,

prevê.

Pensar o desenvolvimento da

embalagem nos dias de hoje vai

muito além de pensar só na forma

ou na cor. “Temos que analisar o

processo de criação em um giro

de 360 graus, desde o que motiva

o consumidor a comprar até o

seu descarte e economia circular.

O consumidor quer muito mais do

que um produto ou uma embalagem,

ele quer saber a história da

marca e qual seu comprometimento

social. A sustentabilidade é um

tema relevante e muito importante

ao criar uma embalagem” exemplifica

o diretor da Wheaton.

Por mais que o mercado de e-

-commerce avance, a embalagem

preserva a necessidade de encantar o

consumidor, ainda mais no mercado

de beleza. “Por isso o design, a beleza

e os acabamentos especiais continuam

sendo elementos essenciais”,

acredita Juliana Gonçalves. Para ela,

uma questão que se intensifica é a

preocupação com a conservação e a

proteção do produto, já que nesses

casos, elas são transportadas e entregues

diretamente ao consumidor

final. Portanto, soluções que não

amassem, arranhem, descolem ou

estraguem durante o transporte são

cada vez mais valorizadas”, reforça a

diretora da gráfica.

Para Takeda, a internet, o celular,

os aplicativos e, as redes sociais, estão

impactando a olhos vistos a forma

como o consumidor interage com

o produto e a marca com seu consumidor.

“Muito se falava dos desafios

de se vender cosméticos online, pois

de certa forma o sensorial (pegar a

embalagem, sentir a textura, o brilho

e o cheiro) eram alguns dos atributos

perdidos. Mas até isso, já está

com os dias contados para mudar e

acredito que irá evoluir muito”, diz

a designer.

A sócia da a10, lembra do impacto

já gerado na jornada de consumo

com o advento de aplicativos que

permitem com que os consumidores

experimentem todas as cores de

maquiagem, tinta de cabelo, roupas

entre outras. “Acredito que a tecnologia

irá impactar na maneira de se

pensar a embalagem. É preciso sim

estar atento que o universo digital

estar estrito às dimensões das telas

(para smartphones, tablets, laptops).

Em breve deveremos ver uma comunicação

mais adaptada para o

digital, por exemplo, com o uso de

tags utilizando tecnologia NFC, que

permite a troca de informações entre

dispositivos por aproximação física,

permitindo uma comunicação personalizada

e experiências únicas,

criando uma conexão muito forte. As

marcas que nasceram nesse contexto

já trabalham desta forma mais global

e interativa, pensando no Brand

System e numa comunicação mais

integrada entre o físico e o digital”,

aponta Takeda.

# 173 | FEVEREIRO 2021 47 ATUALIDADE COSMÉTICA


SUPPLY CHAIN Digitalização

RENATO MASSARA, DA WHEATON:

investimentos para a digitalização do

processo de criação e desenvolvimento

de embalagens com os clientes.

SEPHORA MANIERI, DO GRUPO GAMA:

por meio da tecnologia será possível obter

o histórico e fazer a rastreabilidade do

produto em suas diferentes fases.

A REVOLUÇÃO DOS DADOS

Vivemos tempos nos quais os dados

ditam as decisões de negócios. Agora,

as embalagens estão cada vez mais

inseridas nesse processo. Por meio da

tecnologia de embalagens inteligentes

é possível capturar e analisar dados

acurados, capazes de otimizar a experiência

do consumidor, como onde,

quando e porque o cliente interagiu

com o produto; que dispositivo foi

utilizado; a região em que foi realizada

a compra e qual o canal de venda.

Abrindo espaço para descobrir soluções

de venda e despertar no consumidor

seu engajamento com a marca.

Juliana Gonçalves aposta que cada

vez mais, tanto os produtos como as

embalagens, serão pensados de forma

personalizada. “As empresas têm

investido massivamente em pesquisa

e uso de dados para conhecer a fundo

seu consumidor e buscar encantar

cada um deles. Um exemplo claro

disso são algumas campanhas com

dados variáveis, em que é possível colocar

o nome do cliente ou fazer um

desenho totalmente exclusivo. O uso

dos dados é uma forma de as empresas

entenderem cada vez mais as expectativas

de seu público, e o uso de

ferramentas inteligentes nas embalagens

pode significar uma ótima fonte

de monitoramento desses dados”.

Maurício Carini vai no mesmo

caminho, chamando atenção para a

importância dos dados porá o avanço

de pesquisas que vêm modernizando

o setor. “Existem os estudos

muito mais executados pelo cliente

da indústria de embalagem e estes

direcionam o desenvolvimento de

novos produtos, percebemos um aumento,

comparado a anos atrás. Os

dados terão papel fundamental no

processo de inovação para desenvolvimento

de embalagens e da própria

indústria como um todo”.

Já Sephora Manieri chama atenção

para a importância dos dados como

um dos pilares da inovação. “O tratamento

de dados pode ser o segredo

que define o sucesso ou o fracasso de

um projeto. Eles são fundamentais

para a implementação das inovações

que podem ou não colocar uma empresa

num nível de Industria 4.0”.

Margot Takeda chama atenção

para o papel importante que a profusão

de dados têm hoje para o design

estratégico. “Os dados são cruciais

para embasar qualquer trabalho realizado

pela a10 Design, isto porque

para nós o design é estratégico e ferramenta

fundamental para branding,

que é a base para os nossos projetos

de embalagens. Os dados impactam

o nosso trabalho, pois embasamos a

criação, validamos conceitos e soluções

que fazem diferença no dia-a-dia

das pessoas. Em projetos, na criação

da identidade de embalagem, no qual

a marca já tem o equity construído é

preciso muita cautela com uma mudança

drástica, que só realizada se de

fato em pesquisas os consumidores

expressam que almejam visualizar

isso na marca. Estas pesquisas podem

ser as tradicionais, ou podem ser dados

coletados nas jornadas do consumidor,

por pesquisa digital feita por

aplicativos ou mesmo testes neurofisiológicos

como o eyet racking, onde

utilizamos o rastreamento ocular e outros

testes embasados na neurociência

do consumo para testar, validar novos

design de embalagens ou campanhas,

o que chamamos de neurodesign”, explica

a designer e sócia da a10.

Outro ponto para o qual ela chama

atenção é que com os dados oriundos

da internet é possível entender como

o produto se comporta no online versus

nos pontos físicos. “Quase todas

as marcas possuem estas métricas.

Nós designers devemos mergulhar

em todos os dados, pois eles nos auxiliam

a criar soluções de design de

embalagens que além de encantar o

consumidor, podem criar conexões

maiores, embalagens mais sustentáveis

com menos espaços vazios, materiais

recicláveis e no processo de

produção pensando em economia

circular. Ao mesmo tempo, os dados

permitem criar experiências de unboxing

inesquecíveis para e-commerce,

e ajudar a pensar em como diminuir

custos na logística. É uma visão 360º

que permeia todo processo de criação,

cientes de que esta experiência afetará

a nossa realidade e o nosso mundo”,

conclui Takeda.

ATUALIDADE COSMÉTICA 48 # 173 | FEVEREIRO 2021




Juntos, vamos vencer esta crise.

E, quando tudo isso passar, reabriremos

a caixa para descobrir a alegria da vitória

conquistada por um batalhão de milhões de pessoas

que souberam cuidar das outras pessoas.


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