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SCMedia News | Revista | Janeiro 2021

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Jan’ <strong>2021</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

18<br />

MANGO AJUSTA<br />

LOGÍSTICA<br />

AOS MERCADOS<br />

COMPRAS:<br />

5 COMPETÊNCIAS<br />

PARA VENCER EM <strong>2021</strong><br />

CHIP E GADGETS<br />

ABRANDAM PRODUÇÃO<br />

O NOVO DESAFIO<br />

LOGÍSTICO DA GLOVO<br />

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<strong>2021</strong><br />

Os desafios da Supply Chain


Logística<br />

Compras<br />

Operações<br />

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Intra-Empresas<br />

estruturados e<br />

construídos à medida,<br />

realizados nas<br />

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Gestão de projectos aplicada à Logística e Supply Chain<br />

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Gestão do Armazém<br />

Gestão do Retalho<br />

Health, Risk and Safety: certificações e inspecções anuais de racking<br />

Lean Logistics<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

Logística inversa e o seu papel na economia circular<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Negociação na Logística através da liderança eficaz<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Procurement eficiente<br />

Qualidade em Supply Chain<br />

S&OP - Sales and Operations Planning<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

Sistemas de informação na Logística<br />

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Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

EDITORIAL<br />

VIRAR A PÁGINA<br />

“Tenho em mim todos os sonhos do mundo”<br />

Fernando Pessoa<br />

Ainda que <strong>2021</strong> tenha chegado assim como<br />

uma espécie de “tempo extra” de 2020 e,<br />

até ver, com pouco ou nada de novo, todos<br />

queremos acreditar num ano melhor e todos<br />

temos em relação ao mesmo anseios e<br />

expectativas, não é assim?<br />

A verdade é que entrámos em <strong>2021</strong> de mão<br />

dada com a saudade, que os portugueses<br />

escolheram como a palavra de 2020, à frente<br />

de “pandemia” e de “COVID-19”. Sim, todos<br />

temos saudades. Das pessoas, dos colegas,<br />

das reuniões, das conversas mais ou menos<br />

informais ao café… no fundo, da vida tal como<br />

a conhecíamos.<br />

O que fará a diferença neste ano novinho<br />

em folha, que estamos ainda a estrear?<br />

Talvez e só a nossa atitude perante tudo isto<br />

que estamos a viver, cumprindo sempre que<br />

possível as regras e reduzindo o mais possível<br />

as excepções.<br />

E, sem excepções, aqui está mais um<br />

número da sua revista de supply chain, que<br />

continuamos a imprimir como desde o início<br />

da pandemia pois são mais do que muitos os<br />

profissionais que nos lêem e que pelas funções<br />

vitais que desempenham não se enquadram<br />

em teletrabalho. E se é vital, por estes dias em<br />

que parece que a esperança nos está a fugir<br />

continuarmos ligados e informados.<br />

Portugal voltou a um estado de<br />

confinamento forçado, mas a supply chain não<br />

pára. Isso mesmo nos dizem os profissionais<br />

que fomos ouvir para perceber quais os<br />

desafios e objectivos que estipularam<br />

profissionalmente para <strong>2021</strong>. E são tantos de<br />

uma ponta à outra da supply chain!<br />

Tecnologia, digitalização, a procura por<br />

novas soluções, readaptações do negócio,<br />

melhoria de processos e de skills individuais,<br />

são apenas alguns deles, neste tempo em que<br />

a presença do universo online ganha ainda<br />

mais força e sentido.<br />

Acreditamos que este ano de <strong>2021</strong>, já com<br />

tantas histórias para contar, tem tudo para<br />

melhorar. Não acredita? É só virar a página.


4<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

#22 #36 #42<br />

Photo courtesy of KurierZentrale G<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

As oscilações nas exportações de<br />

componentes automóveis 6<br />

LOGÍSTICA<br />

Desafios da supply chain em <strong>2021</strong> 8<br />

Mango - Logística ajustada aos<br />

diferentes mercados 22<br />

PROCUREMENT<br />

5 competências do profissional de<br />

compras para vencer em <strong>2021</strong> 26<br />

Liderar a saída da crise 30<br />

Vencer na crise com as Compras 33<br />

Chips e novos gadgets<br />

abrandam produção automóvel 36<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Gestão de inventário<br />

A importância de uma jornada<br />

contínua ao longo do ano 38<br />

Optimizar espaço<br />

e rentabilizar tempo 42<br />

TECNOLOGIAS<br />

O COVID-19 não é o único vírus que<br />

ameaça as empresas 46<br />

“O cliente já não pede que um camião<br />

venha até si, aproveita um camião em<br />

rota perto de si” 54


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

mbH, Basel<br />

TRANSPORTES<br />

Cargobikes - Uma alternativa<br />

mais saudável e sustentável 58<br />

O novo desafio logístico da Glovo 64<br />

CARREIRA<br />

Recrutamento especial num ano atípico 68<br />

Evitar o pandemónio durante a pandemia 72<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

#58 #68<br />

Logística do futuro: Automatizar para<br />

acrescentar valor 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

TED Ideas worth spreading 2003,<br />

“A genialidade emergente das colónias de<br />

formigas” 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao novo Acordo Ortográfico


6 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Fornecedores da<br />

Indústria Automóvel<br />

As<br />

oscilAções nAs<br />

exportAções<br />

de componentes<br />

Automóveis<br />

Em Novembro de 2020, as exportações de<br />

componentes automóveis aumentaram<br />

relativamente ao mesmo período em 2019,<br />

mas o valor acumulado até este mês diminuiu.<br />

Assim, entre <strong>Janeiro</strong> e Novembro, as vendas ao<br />

exterior registaram uma quebra.<br />

As exportações de componentes automóveis<br />

registaram uma subida de 6,4% em Novembro<br />

de 2020 em relação ao mesmo período do<br />

ano anterior, tendo aumentado para os<br />

940 milhões de euros, segundo avançou a<br />

Associação de Fabricantes para a Indústria<br />

Automóvel (AFIA).<br />

Contudo, “o valor acumulado até Novembro<br />

ficou-se nos 7,9 mil milhões de euros,<br />

representando uma diminuição de -12% face<br />

ao período homólogo de 2019, o que significa<br />

que entre <strong>Janeiro</strong> e Novembro de 2020 as<br />

vendas ao exterior caíram cerca de 1.100<br />

milhões de euros em relação a 2019”, confirma<br />

aquela associação.<br />

De <strong>Janeiro</strong> a Novembro, e quando<br />

comparados com 2019, Espanha lidera com<br />

vendas no valor de 2.389 milhões de euros<br />

(-1,0%), segue-se a Alemanha com 1.688<br />

milhões de euros (-12,0%), de seguida França<br />

com 950 milhões de euros (-25,1%) e, por<br />

último, o Reino Unido com 543 milhões de<br />

euros (-31,0%). Estes países representam 70%<br />

do total das exportações portuguesas de<br />

componentes automóveis.<br />

Apesar da melhoria, a AFIA considera<br />

importante referir que este acréscimo não<br />

compensou a queda do acumulado do ano<br />

“ainda que o meio envolvente se apresente<br />

adverso, as exportações portuguesas têm<br />

resistido melhor face à queda da produção<br />

automóvel na Europa, que é duas vezes<br />

superior”.


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8 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

Texto:Fábio Santos<br />

LOGÍSTICA<br />

Linhas de força<br />

e tendências<br />

<strong>2021</strong>: que desAfios?<br />

A luta contra o vírus SARS-coV-2 continua, mas a vida não pára e as cadeias de<br />

abastecimento também não. Há lições que foram aprendidas com a pandemia,<br />

outras que ainda devem ser estudadas mas temos um novo ano pela frente e<br />

pƁeċlňoŝsƌ oŝbüjłeċcýtƙiİvƽoŝsƌ eċ pƁlňanœoŝsƌ dĄoŝsƌ pƁrƄoŝfiǟsƌsƌiİoŝnœaiİsƌ cýoŝmő qƃuơeċmő fģalňámőoŝsƌ, <strong>2021</strong> tƙeċmő tƙuơdĄoŝ<br />

para melhorar.<br />

Desafiámos alguns profissionais a espreitar<br />

connosco o futuro e embora através dos<br />

seus olhares nos cheguem perspectivas<br />

distintas há no horizonte de todos muitos<br />

elementos comuns. Tecnologia, digitalização,<br />

a procura por novas soluções, readaptações<br />

do negócio, melhoria de processos e de skills<br />

individuais, são apenas alguns deles. Vamos<br />

espreitar o futuro?<br />

Antes de atravessar a estrada, há que olhar<br />

para os dois lados. André Fradinho, supply<br />

chain managing director do ALDI, começa<br />

por realçar a importância de reflectir sobre o<br />

que se passou em 2020 de modo a conseguir<br />

antecipar mais facilmente as tendências para<br />

este novo ano. “Pela primeira vez na História<br />

estamos perante uma crise que, na sua fase<br />

inicial, afectou simultaneamente a oferta e a<br />

procura”, explica, o que revelou as fragilidades<br />

de algumas cadeias logísticas, bem como os<br />

efeitos da globalização.<br />

“As cadeias de abastecimento têm, até<br />

à data, sido estendidas ao máximo por<br />

uma questão de custo; no entanto, esta<br />

distância física criou também um risco que<br />

já não imaginávamos existir”, defende o<br />

responsável, comentando de seguida que<br />

a crise vivida em 2020 vai ter impacto a


9<br />

longo-prazo, e implicações directas na forma<br />

como as pessoas trabalham e as cadeias de<br />

abastecimento funcionam. “A resposta ao<br />

risco vai, deste modo, tornar-se uma parte<br />

integrante dos protocolos de negócio das<br />

organizações”, sustenta ainda.<br />

Relativamente a este novo ano, André<br />

Fradinho considera que o sector da logística<br />

“será um dos que poderá tirar maior proveito<br />

da evolução do mercado”, bem como dos<br />

novos hábitos de consumo que foram<br />

sendo criados entretanto. De acordo com o<br />

responsável do ALDI, tudo isto irá exigir que<br />

as cadeias de abastecimento tenham uma<br />

rápida adaptação a esta nova realidade.<br />

Ao nível das competências necessárias,<br />

aponta para a agilidade e para a capacidade<br />

de reacção em tempo útil às alterações como<br />

pilares estratégicos do negócio, e os processos<br />

de abastecimento, assentes habitualmente<br />

em premissas rígidas, “terão de ser mais<br />

flexíveis e apoiados em tecnologia e variações<br />

na procura”, pois defende que “a evolução<br />

da supply chain não poderá mais dissociarse<br />

do digital” e que a combinação dos seus<br />

dados com as análises preditivas “serão<br />

recursos fulcrais para a gestão end-to-end das<br />

cadeias”. A terminar lembra que a alteração<br />

mais relevante será relativamente à compra<br />

e distribuição dos produtos, e que este ano<br />

vai ser um marco importante nesse âmbito.<br />

“O consumidor passou a encarar o online<br />

como um serviço capaz de satisfazer as suas<br />

necessidades. Depois do efeito pandemia,<br />

dificilmente irá voltar atrás e as entregas<br />

de última milha passarão a fazer parte do<br />

portfólio de serviços de quem quer estar<br />

no topo da preferência dos consumidores”,<br />

conclui André Fradinho.<br />

Por parte do Pingo Doce, José Luís Teixeira,<br />

director de logística e supply chain da<br />

O cOnsumidOr passOu a encarar O<br />

Online cOmO um serviçO capaz de<br />

saTisfazer as suas necessidades.<br />

depOis dO efeiTO pandemia, O clienTe<br />

dificilmenTe irá vOlTar aTrás<br />

André Fradinho<br />

Jerónimo Martins Retalho, começa por apontar<br />

que desde que foi diagnosticado o primeiro<br />

caso de COVID-19 em Portugal “que vivemos<br />

num contexto de incerteza que nos obrigou<br />

a repensar a forma como trabalhamos”, de<br />

modo a dar resposta aos desafios e a continuar<br />

a satisfazer as necessidades dos clientes. O<br />

responsável explica que a estratégia assenta<br />

em três eixos. O primeiro ponto passa<br />

pelo desenvolvimento de processos mais<br />

ágeis e que estejam preparados para uma<br />

mudança constante. “É fundamental estarmos<br />

preparados para nos adaptarmos de forma<br />

célere a novas realidades que possam surgir,<br />

em virtude da evolução pandémica”, explica.<br />

Num segundo eixo, conta que procuraram<br />

trabalhar de forma mais próxima com os<br />

restantes elos da cadeia de abastecimento,<br />

destacando desde logo a relação mais<br />

chegada aos fornecedores, de modo a garantir<br />

o planeamento de vendas e as respectivas<br />

necessidades. “Acompanhamo-los com grande<br />

proximidade para termos presente qual a


10<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

situação de cada um e qual a sua capacidade<br />

de produção, tendo em conta a situação<br />

actual”, revela-nos. Por fim, no terceiro eixo,<br />

conta que se dedicaram ao desenvolvimento<br />

de análises diárias, aliando a actividade à ideia<br />

defendida anteriormente de que “vivemos<br />

num contexto de mudança iminente”, e como<br />

tal, “é fundamental termos uma analítica<br />

que, a par de outra informação diversa, nos<br />

permita antecipar e prever o comportamento<br />

do consumidor”. “Estes novos indicadores<br />

dão-nos uma melhor base de trabalho, que<br />

nos permite planear e responder com maior<br />

rapidez a alterações de contexto”, termina José<br />

Luís Teixeira.<br />

É fundamenTal esTarmOs<br />

preparadOs para nOs adapTarmOs<br />

de fOrma cÉlere a nOvas<br />

realidades que pOssam surgir, em<br />

virTude da evOluçãO pandÉmica<br />

José Luís Teixeira<br />

prever com precisão<br />

Também Ricardo Jorge, supply chain director<br />

da Ascenza, defende a ideia de que, ao nível<br />

das tendências, questões relacionadas com<br />

inteligência artificial e analytics terão um<br />

grande impacto na cadeia de abastecimento.<br />

“A quantidade de dados continua a aumentar<br />

exponencialmente e as fontes são cada<br />

vez mais diversas, pelo que não só temos<br />

mais informação sobre o presente, mas<br />

conseguiremos também prever com muito<br />

maior precisão os ciclos de procura”,<br />

considera o responsável, explicando que isto<br />

será conseguido através da aprendizagem<br />

automática e dos seus algoritmos.<br />

Mantendo o foco na tecnologia, não<br />

perde a ideia de que “o maior ponto de<br />

disrupção na supply chain e nas nossas vidas<br />

é efectivamente a pandemia da COVID-19,<br />

que veio acelerar a transformação digital”. O<br />

e-commerce foi um dos principais afectados<br />

positivamente, com um crescimento muito<br />

acima do previsto, que Ricardo Jorge antecipa<br />

que irá permanecer após a pandemia, pois<br />

“mesmo num país como Portugal, em que se<br />

valoriza muito a relação pessoal e humana,<br />

disponibilizar e transaccionar produtos<br />

online é um factor diferenciador e onde o<br />

nosso país ainda está pouco desenvolvido”.<br />

Aliada a toda esta transformação digital, vem<br />

a cibersegurança, à qual o responsável dá<br />

destaque devido a existir um maior número<br />

de operações a acontecer no ciberespaço e ao<br />

número de pessoas a trabalhar remotamente.<br />

Um dos maiores desafios que Ricardo Jorge<br />

aponta para <strong>2021</strong> é a distância, no que toca<br />

às equipas, aos fornecedores e aos clientes,<br />

ou seja, “como continuar a vender produtos<br />

num sector que por natureza requer muita<br />

proximidade com os clientes”, mas também<br />

com os fornecedores, que maioritariamente se


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

O que se previa que pOdia vir a<br />

evOluir daqui a uns anOs, acabOu<br />

pOr ser fOrçadO a acOnTecer<br />

num par de meses<br />

Ricardo Jorge<br />

encontram na China e na Índia, e em relação<br />

aos quais há necessidade de “acompanhar<br />

de perto a evolução da COVID-19 também<br />

do outro lado do mundo, de forma a evitar<br />

disrupções no abastecimento”.<br />

Para superar estes desafios, o responsável<br />

da Ascenza propõe, por um lado, que as<br />

empresas reinventem a forma que têm<br />

de contactar com os clientes, através da<br />

digitalização; que acompanhem de perto as<br />

trends, disponibilidade de material e stocks de<br />

segurança “para absorver potenciais atrasos,<br />

sejam eles de produção ou de prazos de<br />

envio, devido à falta de contentores”. É ainda<br />

necessário manter a equipa motivada, através<br />

de reuniões online para manter a coesão.<br />

Apesar de se considerar uma pessoa mais<br />

optimista, Ricardo Jorge olha para <strong>2021</strong> “como<br />

um ano bastante difícil, com várias empresas e<br />

pessoas a enfrentar dificuldades económicas”,<br />

e ainda a viver num ambiente pandémico.<br />

oportunidAde pArA optimizAr<br />

Rui Mendes Bolas é supply chain director<br />

da Cimpor e corrobora a ideia Ricardo Jorge:<br />

“nos sectores de abastecimento e logística<br />

não existem anos tranquilos nem repetidos”,<br />

pelo que <strong>2021</strong> será “ainda mais desafiante<br />

do que 2020”. Também aponta a colaboração<br />

estreita entre os clientes e os fornecedores,<br />

especialmente no que toca ao planeamento,<br />

como um dos pontos importantes para<br />

o novo ano. “Esta nova forma de actuar<br />

permitiu aprofundar o conhecimento das<br />

necessidades e problemas entre ambos”, o que<br />

também conduz à optimização das cadeias de<br />

abastecimento e evitar disrupções, promover<br />

a diversificação de produtos e materiais como<br />

alternativas viáveis. Noutro ponto, também<br />

obrigou à reinvenção de algumas operações<br />

logísticas, e ainda à descoberta e alargamento<br />

das fontes de abastecimento.<br />

nOs secTOres de abasTecimenTO<br />

e lOgísTica nãO exisTem anOs<br />

TranquilOs nem repeTidOs<br />

Rui Mendes Bolas


12 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

A actividade da Cimpor é influenciada<br />

pelos custos associados aos combustíveis<br />

fósseis, pelo que procuram reduzir a sua<br />

dependência desta fonte e, apesar de não<br />

avançar já com detalhes, Rui Mendes Bolas<br />

adianta que contam com alguns investimentos<br />

significativos em fontes alternativas. Ao<br />

nível da logística, a empresa tem dinamizado<br />

e promovido, de forma sustentável e<br />

significativa, a utilização dos portos nacionais,<br />

bem como a ferrovia nacional.<br />

A fechar a perspectiva da logística, Nuno<br />

França, head of logistics da Revigrés, começa<br />

por sintetizar que “os negócios são um grande<br />

desafio, especialmente no contexto actual”.<br />

Os acontecimentos e as mudanças que<br />

sentimos abalam também o resto do mundo, e<br />

contribuem para a grande pressão de redução<br />

dos preços ao consumidor, aplicada pelo<br />

mercado, pela concorrência e pelos próprios<br />

consumidores.<br />

A situação é a mesma para diversos<br />

negócios, e como forma de criar savings,<br />

Nuno França considera que “a solução natural<br />

é tentar reduzir os preços de materiais,<br />

através da cadeia global”, o que não funciona<br />

correctamente quando em alguns casos as<br />

cadeias globais deixaram de ser competitivas<br />

“através de redução da oferta, custo dos<br />

transportes e redução da frequência de<br />

entrega, e mesmo o desaparecimento de<br />

players”. Os acontecimentos recentes,<br />

e sem histórico anterior, despoletaram<br />

uma necessidade de gerir melhor o risco<br />

das cadeias de abastecimento. Algumas<br />

cadeias sofreram problemas graves, e com<br />

essa aprendizagem há hoje uma maior<br />

consciencialização para este risco e, por isso,<br />

considera que “o foco tem de ser na melhoria<br />

da performance da cadeia de abastecimento”,<br />

com o objectivo de manter a competitividade<br />

para enfrentar tempos de grandes desafios.<br />

Defende ainda a adopção de novas<br />

abordagens por parte dos profissionais para<br />

que os negócios continuem a ser atractivos,<br />

bem como a identificação de processos e<br />

metodologias a melhorar e desenvolver novas<br />

formas de abordar os problemas em equipa,<br />

dando prioridade a temas como a melhoria do<br />

planeamento das operações, a qualidade e os<br />

tempos mortos, de forma a obter um maior<br />

foco interno.<br />

“Na cadeia, colaborar, a montante e a<br />

jusante, para que a informação possa fluir ao<br />

longo da mesma, e aumentar a velocidade de<br />

reacção de todo o sistema, com o objectivo<br />

de se adaptar às mudanças com flexibilidade,<br />

para manter os prazos assumidos entre os<br />

elos”, sintetiza Nuno França.<br />

na cadeia, cOlabOrar, a<br />

mOnTanTe e a jusanTe, para que<br />

a infOrmaçãO pOssa fluir aO<br />

lOngO da mesma, e aumenTar a<br />

velOcidade de reacçãO de TOdO<br />

O sisTema, cOm O ObjecTivO de<br />

se adapTar às mudanças cOm<br />

flexibilidade, para manTer Os<br />

prazOs assumidOs enTre Os elOs<br />

Nuno França


13


14<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

responder à mudAnçA<br />

Isabel Bastos, purchasing manager da<br />

Aspöck Portugal, mostra o ponto de vista<br />

das compras, e concordando com a ideia de<br />

mudança indicada anteriormente, cita uma<br />

frase de Charles Darwin que a inspira neste<br />

momento de pandemia e em constante<br />

mutação: “não sobrevive a espécie mais forte,<br />

nem a mais inteligente, mas sim a que melhor<br />

responde à mudança”.<br />

Para a purchasing manager, <strong>2021</strong> será<br />

um ano que irá continuar a exigir muito de<br />

nós, enquanto profissionais, mas também,<br />

e sobretudo, enquanto seres humanos.<br />

“Pede-se cada vez mais flexibilidade para<br />

se há um pOnTO em cOmum nOs<br />

grandes players É que eles<br />

invesTem TanTO em inOvações<br />

quanTO em prOfissiOnais<br />

qualificadOs<br />

Isabel Bastos<br />

transformar a dificuldade em oportunidade;<br />

a empatia pelas emoções e comportamentos<br />

dos outros, é crucial para garantir uma<br />

comunicação assertiva, clara e que nos una<br />

em prol dos objectivos”, diz Isabel Bastos.<br />

Nesse sentido, considera que “continuamos<br />

a tomar consciência de que o Departamento<br />

de Compras, no qual estamos inseridos, se<br />

reveste de particular importância na saúde<br />

financeira de uma empresa”, e a própria<br />

competitividade da empresa em que se<br />

inserem já tem inerente o trabalho quotidiano<br />

deste departamento na gestão que faz com os<br />

seus fornecedores.<br />

A responsável explica que o aumento<br />

repentino da necessidade de determinados<br />

produtos gerou uma procura à qual os<br />

fabricantes não conseguiram responder,<br />

e sem saber quanto tempo irá demorar a<br />

voltar ao normal. Por outro lado, surgiram<br />

novas oportunidades devido a estas<br />

dificuldades, o que fez com que empresas<br />

estivessem mais atentas às necessidades<br />

do cliente, reavaliassem ou reajustassem os<br />

seus negócios ou mercados, “criando assim<br />

escassez de algumas matérias-primas base,<br />

essenciais à nossa cadeia de abastecimento e<br />

produção”.<br />

Isabel Bastos considera importante<br />

conhecer e implementar novas tecnologias,<br />

pois através destas ferramentas é possível<br />

obter “velocidade, eficiência e precisão nos<br />

processos operacionais”, explica. “Olhar<br />

para dentro, reinventar as nossas operações,<br />

priorizando um plano de implementação que<br />

seja escalável, totalmente voltado para a<br />

satisfação do cliente e capaz de impulsionar<br />

resultados financeiros, trará mais frutos do<br />

que a típica acção ‘cortar’”, pois apesar de esta<br />

trazer resultados imediatos, são insuficientes<br />

para sobreviver ao desconhecido.


15<br />

A responsável considera que “sairá melhor<br />

deste momento quem, na minha opinião,<br />

adequar a capacidade produtiva à do novo<br />

patamar da procura do mercado; recuperar e<br />

reestruturar as suas operações para trabalhar<br />

a rentabilidade; dotar as equipas de uma<br />

visão completa da cadeia de abastecimento”,<br />

e indica ainda a visibilidade como método de<br />

responder a interrupções na cadeia. “Por isso,<br />

cada vez mais as empresas têm abandonado<br />

o papel e investido na digitalização, para que<br />

tenham informações precisas e em tempo<br />

real”.<br />

Isabel Bastos conclui com a temática da<br />

automação, defendendo que ao automatizar<br />

os processos manuais com o suporte de<br />

softwares e robôs, as empresas ganham<br />

produtividade, melhor uso dos recursos e<br />

competitividade. Ao mesmo tempo, aponta<br />

ser necessário explicar aos colaboradores<br />

as vantagens individuais para a utilização<br />

destas tecnologias de suporte, e que isso<br />

“não significa a desvalorização dos recursos<br />

humanos”. “Se há um ponto em comum<br />

nos grandes players é que eles investem<br />

tanto em inovações quanto em profissionais<br />

qualificados, os quais são capazes de<br />

desenvolver (pensar) as melhores estratégias<br />

a partir de ferramentas avançadas. Priorizar<br />

ambos é o caminho para o sucesso!”<br />

Flávio Guerreiro, country manager da LPR,<br />

considera que “qualquer alusão a <strong>2021</strong> terá<br />

sempre a questão pandémica como pano de<br />

fundo”, mas com dois períodos distintos a<br />

ocorrer: um de maior exposição e limitação<br />

infringida pela COVID-19, a ocorrer, e outro<br />

de menor exposição e risco, caminhando no<br />

sentido do regresso à “normalidade”.<br />

“Esta situação irá inevitavelmente levar<br />

a uma maior incerteza e complexidade<br />

na previsão e planeamento de <strong>2021</strong>, com<br />

acrediTO que O grande desafiO,<br />

passa pOr manTer a acTividade<br />

O mais “nOrmal” e esTável<br />

pOssível, assegurandO Os níveis<br />

de serviçO especTáveis pOr parTe<br />

dOs parceirOs<br />

Flávio Guerreiro<br />

impacto directo e transversal a toda a<br />

organização”, explica. Para Flávio Guerreiro,<br />

áreas como a gestão de incerteza e risco<br />

terão um papel fulcral, e para isso contarão<br />

com modelos de analytics & predictive,<br />

como forma de minimizar o seu impacto.<br />

Aponta ainda a área dos Recursos Humanos,<br />

ao nível do envolvimento, comunicação e<br />

gestão motivacional, que nalguns casos,<br />

total ou parcialmente, a gestão remota torna<br />

ainda mais desafiante. Por último, aponta<br />

a eficiência operacional como factor crítico<br />

para tanto a manutenção como o sucesso das<br />

empresas, e “onde vectores como a inovação<br />

e colaboração serão drivers fundamentais”.<br />

“Acredito que o grande desafio, passa por<br />

manter a actividade o mais “normal” e estável<br />

possível, assegurando os níveis de serviço<br />

espectáveis por parte dos parceiros”, conclui<br />

Flávio Guerreiro.


16<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

AjudAr com AssertividAde<br />

Por parte da Associação dos Transitários<br />

de Portugal (APAT), António Nabo Martins<br />

considera que <strong>Janeiro</strong> começou mal, e que,<br />

longe das expectativas, deverá reflectir o<br />

primeiro trimestre do ano. “A APAT tinha<br />

definido para este ano uma série de temas<br />

a abordar, nomeadamente olhando para a<br />

eleição pela UE do ano da Ferrovia <strong>2021</strong>,<br />

debruçando-nos sobre temas relacionados e<br />

como potenciar este serviço das mercadorias”,<br />

explica o responsável. Ciente dos problemas<br />

relacionados com a entrada e saída de bens<br />

de forma competitiva que o país enfrenta<br />

neste momento, a associação recomenda<br />

a criação de relações de proximidade e de<br />

parcerias com entidades que vivem o mesmo<br />

problema. Nesse mesmo sentido, e voltandose<br />

para os transitários, aponta a promoção<br />

de acções que os congreguem à volta dos<br />

mesmos ideais e objectivos, “até porque<br />

acreditamos que só juntos conseguimos fazer<br />

mais”, comenta António Nabo Martins. Ao<br />

nível da digitalização, é importante olhar para<br />

problemas novos, derivados da digitalização<br />

e informatização, destacando a criminalidade<br />

como consequência de uma maior utilização<br />

da internet. Também realça a importância<br />

de contrariar a tendência dos últimos anos<br />

para o desconhecimento e dar a conhecer<br />

o sector, especialmente ao olhar dos mais<br />

jovens e comunicar com mais qualidade e<br />

assertividade. “Todos estamos a ser afectados<br />

de uma ou de outra forma, mas fazemos parte<br />

do grupo de empresas essenciais das cadeias<br />

de aprovisionamento do comércio, fábricas e<br />

da indústria e por isso mesmo não podemos<br />

nãO pOdemOs baixar Os braçOs,<br />

e sim cOnTinuar a fazer parTe<br />

da sOluçãO dO prOblema e<br />

ajudar, cOm muiTa resiliência à<br />

recuperaçãO da ecOnOmia<br />

António Nabo Martins<br />

baixar os braços, e sim continuar a fazer<br />

parte da solução do problema e ajudar, com<br />

muita resiliência à recuperação da economia”,<br />

conclui.<br />

Por parte do Tiba Group Portugal, Lola Ruiz,<br />

directora-geral, considera que a palavra que<br />

define o ano que agora iniciámos é “tensão”.<br />

“A COVID-19, que não parece querer<br />

deixar-nos e que está a condicionar<br />

fortemente a procura de alguns bens e<br />

serviços como a automação, o têxtil ou o<br />

turismo negativamente, e de outros, como<br />

os EPI sanitários ou a alimentação doméstica<br />

positivamente, mas sem uma perspectiva<br />

clara de quando se equilibrarão os consumos<br />

da época pré-COVID e de que medida”. No


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

caso dos transportes, Lola Ruiz conta que<br />

esta situação levou a que os fabricantes<br />

procurassem recuperar parte dos custos<br />

nas vendas utilizando os serviços logísticos,<br />

pressionando os operadores logísticos a<br />

reduzir ainda mais as suas taxas já muito<br />

apertadas. “Teremos um ano de pedidos<br />

de orçamentos para comparar e pressionar<br />

a diminuição dos preços”, afirma. Tocando<br />

novamente na palavra-chave apontada, a<br />

tensão, Lola Ruiz comenta que serão também<br />

assim as relações com o Reino Unido, devido<br />

ao Brexit. “Já estamos a ver empresas como<br />

a DB Schenker suspenderam os serviços<br />

com este país porque 90% dos documentos<br />

aduaneiros apresentavam erros”.<br />

TeremOs um anO de pedidOs de<br />

OrçamenTOs para cOmparar e<br />

pressiOnar a diminuiçãO dOs preçOs<br />

Lola Ruiz


18<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

melhoriA de processos<br />

Apesar de toda a confusão gerada pela<br />

pandemia neste ano que passou, a IDentPrint<br />

permaneceu pronta a dar resposta ao<br />

mercado. Mesmo não pertencendo aos grupos<br />

principais, tanto os sectores alimentar e<br />

hospitalar continuaram a necessitar das suas<br />

etiquetas. “Conseguimos adaptar-nos e superar<br />

as adversidades”, conta João Rodrigues,<br />

business development manager da IDentPrint,<br />

e explica que isso se deveu a algumas<br />

oportunidades que foram sendo criadas, e que<br />

a empresa aproveitou.<br />

“Em <strong>2021</strong> não será diferente, trazemos<br />

muitas experiências acumuladas dos anos<br />

anteriores, que nos irão ajudar a resolver<br />

as situações e a ultrapassar os problemas”,<br />

comenta o responsável. “Acreditamos que<br />

um dos temas-chave que irá continuar<br />

bem presente este ano será a melhoria<br />

e optimização de processos”, revela,<br />

acrescentando que se por um lado o ano<br />

anterior levou a uma adaptação que tornou<br />

as pessoas mais afastadas umas das outras,<br />

por outro aproximou-as, no sentido em que<br />

existe “um acompanhamento mais imediato<br />

às necessidades dos nossos clientes”. Explicanos<br />

que “as ideias mais fortes que temos para<br />

este ano, são as que temos vindo a construir<br />

aos longo dos últimos anos, com mais certeza<br />

nelas”, e acreditando no crescimento através<br />

da vertente digital, afirma estarem “com<br />

uma boa expectativa no online, e por isso<br />

acreditamos que vamos ter ao nosso nível, um<br />

canal digital disponível para que os nossos<br />

clientes possam consultar, tirar todas as<br />

suas questões e consequentemente comprar<br />

os produtos com confiança”, conclui João<br />

Rodrigues.<br />

um dOs Temas-chave que irá<br />

cOnTinuar bem presenTe esTe anO<br />

será a melhOria e OpTimizaçãO de<br />

prOcessOs<br />

João Rodrigues<br />

requAlificAção de skills<br />

Um dos maiores desafios, de uma ponta<br />

à outra da cadeia e globalmente, foi a<br />

capacidade de continuar a gerir pessoas e<br />

equipas num cenário completamente novo e<br />

adverso. Pedro Amorim, managing director da<br />

Experis, fala-nos do impacto sentido em 2020,<br />

mas também das tendências e skills para <strong>2021</strong>.<br />

No seu entender, o grande desafio desde<br />

o primeiro dia da pandemia tem sido<br />

“potenciar a nossa capacidade de identificar<br />

competências adjacentes para ajudar as<br />

pessoas de indústrias adversamente afectadas,<br />

como a hotelaria, aviação e retalho, a mudar<br />

para sectores com maior procura, como os<br />

cuidados de saúde, tecnologia e a logística<br />

e operações”, sendo que “só através deste


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

esforço de transferência de skills poderemos<br />

fazer face à actual escassez de talento nestes<br />

sectores”.<br />

Outra das preocupações apontada pelo<br />

recrutador foi a aposta nas skills pessoais<br />

dos colaboradores, e explica que já antes<br />

da pandemia as exigências de competências<br />

estavam a mudar mais rapidamente do que<br />

as organizações podiam prever. Face aos<br />

dados do relatório What Workers Want &<br />

Talent Shortage, onde era visível que 54% das<br />

empresas a nível mundial não conseguiam<br />

encontrar as competências que necessitavam,<br />

Pedro Amorim explica que “reforça-se, por<br />

isso, a necessidade de apostar na qualificação<br />

e requalificação dos trabalhadores, como<br />

forma de ultrapassar a disparidade entre<br />

competências e modelos de negócios, cada<br />

vez mais digitais”.<br />

“Empresas, sistema educativo e Governo<br />

devem empreender um esforço conjunto para<br />

capacitar os trabalhadores para um contexto<br />

cada vez mais digital”, defende. A aposta<br />

no incentivo de reconverter as pessoas e<br />

requalifica-las para empregos relacionados<br />

com uma economia mais verde é outra das<br />

tendências apontadas por Pedro Amorim,<br />

bem como o teletrabalho. “Acreditamos<br />

que o futuro do trabalho vai passar pela<br />

oferta de modelos híbridos e equilibrados,<br />

que permitirão satisfazer as preferências<br />

dos profissionais e tornar mais atractivas as<br />

propostas de valor das empresas”, comenta<br />

Pedro Amorim.<br />

Por fim, mas não menos importante,<br />

a paridade de género e o impacto que a<br />

pandemia teve dentro das empresas. Começa<br />

por apontar o estudo “Mulheres” feito pela<br />

ONU, que mostrou que a evolução dos últimos<br />

25 anos foi “gradual, desigual e insuficiente”,<br />

e que ainda hoje “as mulheres continuam<br />

acrediTamOs que O fuTurO dO<br />

TrabalhO vai passar pela<br />

OferTa de mOdelOs híbridOs e<br />

equilibradOs<br />

Pedro Amorim<br />

a ser mais frágeis perante a pobreza, não<br />

ocupam metade dos cargos de maior poder”<br />

e representam mais de metade da população.<br />

De acordo com o estudo do Manpower<br />

Group “O Futuro dos Trabalhadores pelos<br />

Trabalhadores”, a pandemia veio afectar<br />

ainda mais a posição feminina nestes cargos<br />

de chefia, e a longo prazo, “desde logo, por<br />

estarem sobre representadas nos sectores<br />

mais impactados pela COVID-19”, como a<br />

hotelaria e a restauração, mas também artes<br />

e entretenimento, administração e serviços.<br />

“Torna-se, assim, crucial que as empresas<br />

criem uma cultura de inclusão consciente e<br />

condições efectivas que favoreçam a ascensão<br />

feminina, para que a paridade não sofra um<br />

retrocesso de anos”, conclui Pedro Amorim. •


20<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

CONTEÚDO PATROCINADO<br />

Paletes EPAL<br />

mantêm o mundo<br />

em movimento<br />

umA mArcA<br />

umA quAlidAde<br />

pArceriA de confiAnçA no seu neGócio<br />

Considerada a maior operadora de pool de<br />

paletes do mundo, a EPAL é a associação<br />

de fabricantes, reparadores EPAL e é a<br />

responsável pela garantia das paletes e box<br />

paletes EPAL em todo o mundo. Atualmente,<br />

existem mais de 600 milhões de paletes<br />

EPAL e 20 milhões de box paletes EPAL em<br />

circulação em todo mundo.<br />

Num mercado global cada vez mais afetado<br />

pela competitividade, as empresas são<br />

permanentemente confrontadas com novos<br />

desafios logísticos. Transportar e armazenar<br />

grandes cargas de mercadoria requer<br />

segurança e eficiência, sendo imperativo para<br />

o negócio, sobretudo nas áreas da indústria e<br />

da distribuição, confiar totalmente nos meios<br />

utilizados.


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

As paletes EPAL são sinónimo de garantia<br />

de boas condições de armazenamento e<br />

transporte de mercadorias, segurança no seu<br />

manuseamento, higiénico por longos períodos<br />

de tempo, resistência e versatilidade.<br />

As paletes EPAL são produzidas a partir do<br />

pinho, uma matéria-prima de excelência a que<br />

se alia uma tecnologia produtiva resultando<br />

num produto ímpar com caraterísticas<br />

importantes: extremamente resistente,<br />

sanitariamente seguro, eco sustentável,<br />

reutilizável e reciclável.<br />

Só a EPAL Internacional certifica a<br />

qualidade e legalidade das paletes em<br />

Portugal, é uma marca europeia de<br />

certificação que é um símbolo de qualidade<br />

absoluta. Adicionalmente, a pool das paletes<br />

EPAL é o único sistema mundial de transporte<br />

de cargas a ser submetido a uma avaliação<br />

independente e contínua de qualidade, por<br />

uma das mais prestigiadas entidades em<br />

auditoria de qualidade no mundo: Bureau<br />

Veritas. O cumprimento da norma ISPM15<br />

é o mais importante pré-requisito para a<br />

distribuição e circulação sem restrições, a<br />

nível internacional, de mercadorias. As paletes<br />

de madeira EPAL são todas fabricadas e<br />

reparadas de acordo com os requisitos do IPPC<br />

(International Plant Protection Convention) e<br />

podem assim, ser usadas sem restrições.<br />

http://epal-paletesportugal.pt


22 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Mango<br />

Texto: Ana Paiva<br />

fotos: Mango<br />

loGísticA<br />

AjustAdA Aos<br />

diferentes<br />

mercAdos<br />

A Mango irá avançar com a criação de<br />

um modelo padrão operacional para as<br />

plataformas logísticas satélite dos seus<br />

principais mercados. Consistem em centros<br />

de distribuição omnicanal que representarão<br />

‘nœóŞsƌ’ dĄeċnœtƙrƄoŝ dĄoŝ eċsƌqƃuơeċmőa dĄeċ fǕlňuơxǃoŝ dĄeċ vƽeċsƌtƙuơárƄiİoŝ,<br />

tanto para fornecedores como para clientes,<br />

independentemente do canal que utilizem. A<br />

mőarƄcýa cýoŝnœfiǟrƄmőa qƃuơeċ sƌeċrƄá uơmő pƁoŝnœtƙoŝ cýoŝnœeċcýtƙadĄoŝ<br />

a outros centros e lojas físicas onde o stock<br />

fiǟcýarƄá vƽiİsƌíIJvƽeċlň eċ acýeċsƌsƌíIJvƽeċlň aoŝ mőeċrƄcýadĄoŝ pƁarƄa oŝ qƃuơalň<br />

é direccionado.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

Com o prazo determinado para 2023, a<br />

empresa de moda está a desenvolver<br />

actualmente diversos projectos de gestão<br />

de centros de distribuição omnicanal, entre<br />

os quais destaca a elaboração de um manual<br />

de operações para a uniformização dos seus<br />

processos operacionais. Contudo, esta não<br />

é a única iniciativa que irá promover, uma<br />

vez que a concepção destes centros incluirá<br />

também a definição de um sistema de gestão<br />

de armazéns para aplicar o tal padrão de<br />

operações, o desenvolvimento de uma<br />

ferramenta de distribuição mais preditiva e<br />

omnicanal global que permite a gestão de<br />

um único stock, ou a implementação de uma<br />

tecnologia RFID para garantir a visibilidade do<br />

stock.<br />

O ecossistema dos centros da Mango<br />

será constituído pelo seu principal hub de<br />

distribuição em Lliçà d’Amunt, em Barcelona,<br />

que será omnicanal em 2023, e onde a<br />

empresa receberá mercadoria de fornecedores<br />

e centros satélites localizados em oito dos<br />

seus principais mercados. Em concreto, estas<br />

instalações levarão a cabo três funções<br />

básicas: atendimento de pedidos online,<br />

processamento de devoluções e suporte às<br />

lojas físicas. De acordo com a empresa, estas<br />

iniciativas visam propor uma maior oferta<br />

geograficamente.<br />

Este é um dos projectos em que a empresa<br />

está a trabalhar actualmente, de forma a<br />

atingir o grau máximo de gestão de stock<br />

único, bem como a acessibilidade à mercadoria<br />

e sua identificação. De acordo com a Mango,<br />

“é um dos nossos grandes objectivos e, nos<br />

últimos anos, avançámos significativamente<br />

no conceito”, acrescentando que “pretendemos<br />

ir o mais longe possível, assumindo as<br />

limitações existentes devido à variedade de<br />

mercados e canais através dos quais servimos<br />

os nossos clientes”.<br />

A este respeito, a marca lembrou que os<br />

fluxos de distribuição tradicionais já não lhes<br />

permitem colocar à disposição dos clientes a<br />

melhor oferta possível, principalmente devido<br />

ao seu carácter monocanal e unidireccional. A<br />

Mango assegura que este sistema “supõe uma<br />

rigidez que obriga a apostar e correr riscos<br />

maiores, reduzindo o potencial de sucesso das<br />

colecções”. Para manter a competitividade a<br />

sua estratégia é fazer com que a oferta seja<br />

cada vez mais global e que seja gerida com<br />

maior agilidade, “com os fluxos tradicionais,<br />

isto obriga a aumentar a compra, dispersar e<br />

alavancar muito stock junto do cliente ou, em<br />

alternativa, aumentar os custos de transporte<br />

de forma extraordinária”, afirma a marca.


24 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

o impActo dA covid-19<br />

Na ausência de resultados anuais oficiais, a<br />

Mango antecipou que, na primeira fase da<br />

pandemia houve uma interrupção importante<br />

nos seus fluxos de abastecimento, dado o<br />

impacto na China e em outros produtores de<br />

países asiáticos.<br />

“Embora o encerramento não tenha durado<br />

muito, o transporte marítimo e aéreo foi<br />

bastante afectado e as consequências no<br />

mercado em termos de custos e serviços<br />

ainda hoje se sentem”. Posteriormente,<br />

com a propagação do vírus na Europa, “as<br />

consequências mais graves afectaram todos<br />

os nossos fluxos de distribuição, embora o<br />

impacto fosse totalmente oposto segundo os<br />

canais”, explica a marca.<br />

Enquanto as lojas físicas sofreram<br />

encerramentos e limitações no último<br />

ano, o canal online fortaleceu-se, tanto na<br />

operação como no transporte para assumir<br />

o aumento das vendas. No entanto, também<br />

se confirma que durante este período não<br />

houve modificações relevantes nas origens ou<br />

destinos dos fluxos de mercadorias.<br />

as cOnsequências mais graves<br />

afecTaram TOdOs Os nOssOs<br />

fluxOs de disTribuiçãO, embOra<br />

O impacTO fOsse TOTalmenTe<br />

OpOsTO segundO Os canais<br />

Para este ano, a gigante do têxtil dará<br />

continuidade aos projectos mencionados<br />

e estreitará o relacionamento com os seus<br />

operadores para reagir a futuros choques<br />

derivados do Coronavírus.<br />

É de assinalar que a logística da Mango<br />

foi recentemente distinguida em Espanha<br />

nos prémios CEL, na categoria CEL Empresa<br />

precisamente pelo “Desenvolvimento de uma<br />

cadeia de abastecimento global na indústria<br />

da moda”, pelo que conseguiu transformar<br />

na sua gestão logística para alcançar maior<br />

sustentabilidade e melhor serviço ao cliente,<br />

simplificando e flexibilizando estruturas para<br />

ganhar rapidez e capacidade de resposta às<br />

mudanças. •


SCM Supply Chain Magazine 25


26<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Perfil<br />

profissional<br />

5 competênciAs<br />

do profissionAl de<br />

comprAs pArA vencer<br />

em <strong>2021</strong>


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

Texto:<br />

Blogue da Mercado Eletrônico (adaptação)<br />

O mundo tem-se desenvolvido rapidamente.<br />

As tecnologias lançadas nos últimos cinco<br />

anos já estão ultrapassadas ou a ser usadas<br />

como suporte a novas descobertas. As<br />

constantes actualizações e o momento que<br />

estamos a viver, exigem do mercado um<br />

novo ritmo e outro comportamento dos<br />

pƁrƄoŝfiǟsƌsƌiİoŝnœaiİsƌ. Noŝ sƌeċuơ bülňoŝgĤuơeċ, a MeċrƄcýadĄoŝ<br />

Eletrônico analisou as principais qualidades<br />

que o comprador moderno deve desenvolver<br />

para ter sucesso. Preparado?<br />

Então vamos lá conhecê-las.<br />

Em boa medida, todos tivemos que, neste<br />

último ano, reaprender a trabalhar. Aqui<br />

incluem-se, sobretudo, aquelas profissões<br />

que exigem práticas de relacionamento e<br />

estratégia para garantir o sucesso.<br />

E este é o caso, claro está, da profissão<br />

de comprador. O perfil do profissional de<br />

compras foi-se adaptando ao longo dos anos<br />

e, actualmente, não basta conquistar o menor<br />

preço, é preciso acrescentar valor e ajudar a<br />

inovar.<br />

1. conhecimento de strAteGic<br />

sourcinG<br />

Strategic Sourcing é um método para avaliar a<br />

complexidade de obtenção de um determinado<br />

produto, bens de consumo ou serviços no<br />

mercado versus o impacto que a escolha<br />

traz para o negócio. Ou seja, é a prática de<br />

aprimorar, de maneira contínua, as compras de<br />

uma empresa.<br />

Através desta análise é possível verificar<br />

os custos internos e externos, rede de<br />

fornecimento e níveis de serviços prestados<br />

para determinado grupo de produto e, então<br />

sim, planear acções específicas e estratégicas<br />

que visam dar resposta às necessidades da<br />

organização.<br />

O Strategic Sourcing pode ser a técnica-chave<br />

para que os problemas de abastecimento e<br />

atrasos de entrega sejam minimizados ao longo<br />

desta crise internacional, a título de exemplo.


28 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

2. AdAptAr-se às novAs<br />

tecnoloGiAs nA áreA de<br />

comprAs<br />

O comprador que aceita a tecnologia como<br />

aliada nos processos de compras pode ter<br />

muito sucesso ao longo da sua carreira. As<br />

plataformas digitais optimizam os processos,<br />

que antes eram lentos e burocráticos, ajudando<br />

o comprador a ser mais estrategicamente<br />

decisivo e importante para o negócio da<br />

empresa.<br />

Segundo um estudo feito pela Consultora<br />

Internacional Hackett Group, as áreas<br />

de compras que usam as tecnologias 4.0<br />

conseguem obter uma redução de custos<br />

de até 17%. Entretanto, quando aceitam<br />

verdadeiramente a transformação digital – ou<br />

seja, mudam o mindset e não utilizam apenas<br />

determinada tecnologia de maneira pontual –<br />

conseguem reduzir os gastos em 45% ou mais.<br />

O profissional que souber utilizar cada uma<br />

delas no seu dia-a-dia, certamente estará um<br />

passo à frente de seus concorrentes e pronto<br />

para dar resposta ao mercado da melhor<br />

maneira possível.<br />

3. sAber relAcionAr-se<br />

com os fornecedores<br />

A tecnologia é regra para os negócios, mas o<br />

relacionamento é tão ou mais importante. Os<br />

compradores não conseguem manter bons<br />

negócios sem comunicar e personalizar a forma<br />

como se relacionam com os seus fornecedores.<br />

A maioria das organizações que resistiu ao<br />

período de recessão foi maioritariamente em<br />

virtude de saber relacionar-se.<br />

Saber tratar os fornecedores como parceiros<br />

pode trazer-lhe inúmeras vantagens e<br />

benefícios. As empresas podem conquistar<br />

melhores preços, melhores prazos de entrega e<br />

ainda estimular a colaboração entre as partes,<br />

o que favorece claramente a inovação.<br />

Felizmente que muitas empresas já entenderam<br />

que a colaboração entre empresas de uma<br />

cadeia de abastecimento ajuda a promover<br />

convivência duradoura e promissora entre as<br />

partes. Essa interacção, quando suportada pela<br />

tecnologia, acaba por estreitar e alavancar<br />

positivamente e ainda mais o relacionamento,<br />

trazendo governança e compliance para as<br />

empresas.


SCM Supply Chain Magazine<br />

29<br />

4. fAzer Gestão de riscos<br />

nA cAdeiA de AbAstecimento<br />

Nenhum negócio é intocável. As ameaças são<br />

inerentes a todos e, quando falamos sobre<br />

riscos, existem aqueles que conseguimos<br />

prever e evitar, e aqueles que simplesmente<br />

acontecem e nos forçam a actuar e tomar<br />

rapidamente decisões para que os impactos<br />

sejam mínimos nos negócios e na sociedade.<br />

Por isso, o comprador de sucesso precisa de ter<br />

sempre um plano de contingência para quando<br />

algo inesperado acontecer.<br />

Um comprador que não faz a gestão de riscos,<br />

dificilmente consegue estar ou permanecer em<br />

evidência na empresa. Para quem ainda não<br />

é muito familiarizado com o termo, Gestão de<br />

Riscos refere-se a um conjunto de actividades<br />

direccionadas para gerir e controlar uma<br />

empresa em relação à existência de potenciais<br />

ameaças.<br />

O planeamento deve incluir fontes alternativas<br />

de abastecimento e níveis de stock que<br />

considerem também uma possível queda na<br />

procura dos produtos ou serviços das empresas.<br />

5. GovernAnçA e compliAnce<br />

nA mAtriz de fornecedores<br />

Compliance é um tema bastante debatido<br />

entre os compradores dentro das empresas.<br />

A grande maioria está familiarizada, mas<br />

poucos gostam das burocracias que por norma<br />

o assunto envolve. Afinal, muitas vezes, até é<br />

percepcionado como um obstáculo, algo que<br />

leva a obedecer, conformar e simplesmente<br />

aceitar dentro de um formato de regras já<br />

estabelecidas.<br />

As organizações procuram cada vez mais<br />

transparência em relação aos seus processos<br />

internos e externos, bem como em relação às<br />

negociações. O comprador de sucesso entende<br />

a importância do compliance dentro dos<br />

processos de compras e sabe tirar proveito dele,<br />

utilizando-o como um diferencial competitivo<br />

para o seu dia-a-dia.<br />

Relacionar-se com fornecedores que seguem<br />

as novas regulamentações e obrigações legais<br />

(sejam elas quais forem) traz muito mais valor<br />

para a cadeia de abastecimentos, diminuindo<br />

os riscos e garantindo um relacionamento onde<br />

ambas as partes acabam por sair a ganhar.<br />

Mas, no entanto, não basta garantir<br />

compliance dentro dos processos, é preciso ter<br />

governança para assegurar que os parceiros<br />

estão a seguir todas as regras e assim a<br />

contribuir para manter a integridade das<br />

negociações. •


Texto: Pedro Vozone, Especialista em Compras e Logística<br />

30 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Papel fundamental na<br />

recuperação<br />

liderAr<br />

A sAídA dA crise<br />

De acordo com os dados mais recentes<br />

do Banco Mundial, 2020 verá vários<br />

indicadores da atividade global atingirem o<br />

seu valor mais baixo das últimas seis décadas.<br />

O comércio global e o consumo de petróleo<br />

atingirão quebras históricas, a taxa de<br />

desemprego mundial deverá subir para valores<br />

que não eram vistos desde 1965, e o número<br />

de economias em recessão simultânea deverá<br />

ser o maior desde que se iniciaram os registos,<br />

em 1870.<br />

Ao mesmo tempo que se fechavam os<br />

portos e aeroportos, parando a produção e<br />

interrompendo fornecimentos, tal como em<br />

crises anteriores o Procurement assumia um<br />

papel determinante. Entrando rapidamente<br />

em modo de “gestão de crise”, obteve e<br />

implementou de imediato soluções, desde<br />

o adequado abastecimento de material de<br />

proteção individual, às medidas de apoio<br />

aos pequenos fornecedores na sua gestão<br />

de tesouraria. E é opinião generalizada de<br />

muitos responsáveis de compras, a nível<br />

global, que esta área de gestão terá um papel<br />

ainda mais determinante na recuperação que<br />

se avizinha.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

liderAnçA do<br />

procurement no esforço de<br />

recuperAção dA crise<br />

O gráfico abaixo tem paralelo – a nível macro<br />

- em todas as grandes zonas económicas<br />

mundiais. Neste preciso momento, as maiores<br />

economias do mundo atravessam uma<br />

das maiores, senão a sua maior contração<br />

económica de sempre. Não obstante, o<br />

Procurement já ajudou anteriormente a lidar e<br />

a liderar a saída de crises mundiais. De acordo<br />

com a informação disponível a nível global,<br />

nos cinco anos subsequentes à crise financeira<br />

de 2008, não só o retorno acionista (TRS)<br />

para as empresas do quartil com melhor nível<br />

de Procurement foi em 42% superior ao das<br />

empresas do quartil diametralmente oposto<br />

como, nos 5 anos pós-crise, as empresas do<br />

primeiro quartil em capacidade e qualidade<br />

do Procurement também recuperaram, em<br />

média, 3 anos mais cedo a performance que<br />

possuíam antes da crise financeira mundial, e<br />

conseguiram um aumento médio do EBITDA<br />

superior ao obtido pelas empresas do quartil<br />

mais baixo.<br />

Conseguir liderar uma vez mais a<br />

recuperação, implicará repensar todos os<br />

aspetos da função Compras: o que faz, como<br />

opera e que novas valências deverá ter.


32 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

fActores A rever e optimizAr<br />

1. Aumentar a capacidade de recuperação<br />

e superação (resiliência) da cadeia de<br />

abastecimento<br />

a. Gerar transparência na cadeia de<br />

abastecimento para além de T1<br />

b. Assegurar múltiplos fornecedores para<br />

itens críticos<br />

c. Simular cenários prováveis e desenvolver<br />

planos de continuidade para cada um desses<br />

cenários<br />

2. Estratégias de base-zero e de criação de valor<br />

a. Repensar profundamente a estratégia<br />

das categorias de compra para as quais a<br />

dinâmica procura-oferta se tenha alterado<br />

significativamente<br />

b. Reavaliar preço, oferta e oportunidades de<br />

afinar especificações, uma a uma<br />

3. Desenvolver parcerias de fornecimento e<br />

inovação conjuntas<br />

a. Explore a parceria com os fornecedores<br />

para, em conjunto, inovarem em produtos,<br />

serviços e, até, em modelos de negócio<br />

b. Desenhar e formalizar em conjunto termos<br />

contratuais que incentivem a performance<br />

4. Acelerar a adoção do digital e da análise de<br />

dados<br />

a. Acelerar a digitalização dos processos de<br />

Procurement, permitindo o trabalho remoto<br />

b. Apoiar as decisões em base analítica,<br />

para gerar vantagem competitiva e contrariar<br />

pressões na margem<br />

5. Evoluir para um modelo pronto para os<br />

desafios futuros<br />

a. Adotar métodos ágeis, permitindo às<br />

equipas resposta rápida a alterações de<br />

objetivos e circunstâncias<br />

b. Desenvolver as capacidades potenciais<br />

que permitam novas formas de trabalho, caso<br />

necessário<br />

c. Manter o rumo, evolução e crescimento.<br />

Não estagnar em relação à concorrência, como<br />

infelizmente evidencia o exemplo abaixo:<br />

fontes: Tradingeconomics.com,<br />

McKinsey & Co, The World Bank, IFC.<br />


PROCUREMENT<br />

33<br />

O posicionamento das<br />

compras na gestão<br />

empresarial<br />

Texto: Rui Oliveira, Business Partner, ONE AUTOMOTIVE ALLIANCE<br />

vencer nA<br />

crise com As<br />

comprAs<br />

Como entusiasta em Estratégia Empresarial e Compras nas organizações, durante<br />

estes últimos meses aprofundei os meus conhecimentos em diversos domínios,<br />

pƁarƄa rƄeċfǕlňeċtƙiİrƄ sƌoŝbürƄeċ a mőeċlňhīoŝrƄ fģoŝrƄmőa dĄeċ cýoŝnœtƙrƄiİbüuơiİrƄ pƁarƄa oŝ cýrƄeċsƌcýiİmőeċnœtƙoŝ dĄa oŝrƄgĤanœiİzǎaçĀãùoŝ<br />

e em simultâneo, ser melhor. Melhor para o próximo e para o mundo. E isso levoume<br />

a esta proposta de novo paradigma do posicionamento das Compras no âmbito<br />

da gestão empresarial.<br />

O<br />

papel das Compras nas organizações é<br />

conhecido, desde a sua operacionalidade<br />

até ao impacto que tem nos resultados<br />

numa empresa. O processo de compras tem<br />

por base os 5 C´s (“preço, lugar, quantidade,<br />

qualidade e tempo certo”), como guia<br />

orientador para atingir os objetivos da<br />

empresa.<br />

Como em todas as crises, a crise que<br />

atualmente atravessamos, é uma oportunidade<br />

para nos recriarmos. Proponho uma<br />

metodologia das compras, onde as compras<br />

passam a ter um maior papel no crescimento<br />

das empresas. Aliado a esta recriação da<br />

função compras, devemos ter um foco claro no<br />

valor acrescentado da função, eliminando os<br />

desperdícios.<br />

Ao eliminar os desperdícios, (TIMWOODS),<br />

focamos no valor acrescentado. Com os ganhos<br />

que iremos ter dispomos de meios libertos e<br />

tempo para nos dedicarmos a criar valor.<br />

O objetivo é criar valor para o cliente, interno<br />

e externo, e como consequência, criar valor<br />

para a empresa.


34<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

Entenda claramente quem é seu cliente<br />

(interno), externo, e restantes stakeholders e o<br />

que consideram valor<br />

Revisão da missão, visão, valores, objetivos da<br />

empresa e desdobramento da mesma na área<br />

das compras, (G, Q, C, D, M).<br />

» A Missão define como a organização traz<br />

valor para o cliente, definindo quem é o cliente,<br />

o que fazemos e como vamos satisfazer o<br />

cliente<br />

» Na reflexão da visão, imaginem onde<br />

estaremos daqui a 5 anos, e como chegamos lá.<br />

» Os valores são o ADN duma organização;<br />

são os comportamentos e devem estar no<br />

centro das nossas ações<br />

Metodologia Hashin Kanri (documento A3):<br />

desdobramento da estratégia e objetivos pela<br />

sua equipa, com cada nível de responsabilidade<br />

definir o seu A3, utilizando input SWOT /<br />

STEEP.<br />

Elabore o plano de negócios das compras<br />

pilAres<br />

No plano de negócios, sugiro a aplicação<br />

dos modelos de pilares de negócio seguintes<br />

conforme imagem na casa sugerida nesta<br />

mudança de paradigma de visão das compras.<br />

Abaixo coloco um breve resumo de cada.<br />

Importante referir que todos estes pilares<br />

estão ligados entre eles e não isolados.<br />

Crescimento<br />

Este pilar é orientado para a criação de valor<br />

através da inovação e crescimento do negócio.<br />

Alguns exemplos onde as compras podem e<br />

devem intervir:<br />

1. Novos fornecedores, produtos,<br />

tecnologias, mercados e regiões;<br />

2. Fusões e aquisições;<br />

3. Desenvolvimento de produtos junto com<br />

stakeholders, através de ideias disruptivas;<br />

4. “Breakthrough” budget planning.<br />

Cost Benefit<br />

Criar processo nas empresas onde se tem<br />

por objetivo captar todas as oportunidades<br />

de redução de custo. Ter como objetivo<br />

implementar em todas as áreas da empresa<br />

um processo onde as oportunidades são claras<br />

e vêm ao de cima de forma normal dentro da<br />

empresa.<br />

Sourcing Estratégico e Gestão de<br />

Custo<br />

Processos clássicos da área das compras, onde<br />

foco nos processos, produtos e serviços, deve<br />

estar em reduzir desperdício, captar valor.<br />

Sugiro utilizarem as metodologias VSM e com<br />

os tesouros que encontraremos libertar meios<br />

para os restantes pilares nesta estratégia<br />

de compras. “Budget cuts is not continuous<br />

improvement”.


SCM Supply Chain Magazine<br />

35<br />

Stakeholders<br />

Motivação e desenvolvimento crescente<br />

dos nossos colaboradores, e envolvendo os<br />

restantes stakeholders do processo (interno /<br />

externo).<br />

Sustentabilidade<br />

Envolvimento no processo de desenvolvimento,<br />

junto com stakeholders, de forma a desenvolver<br />

soluções e produtos com menor impacto<br />

ambiental, maior vida útil (recycling, upcycling),<br />

com o menor desperdício, e utilização de<br />

energias renováveis.<br />

fundAções<br />

Em todos estes pilares, devemos ter um<br />

sistema que assegura resultados melhores<br />

continuamente comparando com os melhores<br />

das nossas indústrias. Não basta comparar com<br />

as nossas previsões ou nosso histórico. Temos<br />

de ser melhores todos dias.<br />

Os próximos tempos não serão fáceis,<br />

devemos focar onde somos bons, melhorar,<br />

pedir ajuda a quem nos pode aconselhar e<br />

ajudar neste caminho.<br />

O desafio que vos deixo é refletirem sobre a<br />

vossa organização e o papel das compras hoje,<br />

e como as compras podem ser uma alavanca<br />

para melhores resultados no futuro. •<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

things<br />

easier<br />

Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />

seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

A pallet is red, red is a pallet


36<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Aprovisionamento de<br />

chips<br />

Texto: Fábio Santos<br />

chips e novos GAdGets<br />

AbrAndAm produção Automóvel<br />

A indústria automóvel está a passar por uma falta de pequenos chips com apenas 2,6<br />

centímetros, que devido às suas características e capacidades, limita o número de<br />

produtores, o que compromete toda a indústria automóvel. Estes chips são necessários para<br />

os processadores dos veículos e cada um necessita de vários, pois estes são utilizados para<br />

oŝsƌ mőaiİsƌ dĄiİvƽeċrƄsƌoŝsƌ fiǟnœsƌ, dĄeċsƌdĄeċ oŝ eċnœtƙrƄeċtƙeċnœiİmőeċnœtƙoŝ, nœavƽeċgĤaçĀãùoŝ, auơxǃíIJlňiİoŝ àò cýoŝnœdĄuơçĀãùoŝ, büeċmő cýoŝmőoŝ oŝsƌ<br />

sistemas computorizados que controlam o funcionamento do motor, caixa de velocidades, e<br />

mesmo a tracção e estabilidade.


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Neste momento as fabricantes automóveis<br />

estão a trabalhar a meio-gás, e a nível<br />

geral, desde europeus, americanos, sul<br />

coreanos, japoneses ou chineses, todos estão<br />

a ser afectados. Geralmente as fábricas de<br />

automóveis recebem as peças num modelo<br />

Just in Time, procurando assim diminuir custos<br />

de armazenamento e evitar trabalho acrescido,<br />

mas devido à pandemia as marcas reduziram<br />

as encomendas feitas ao exterior, com o<br />

intuito de depois incrementarem os pedidos,<br />

consoante o aumento do número de unidades.<br />

Apesar de grande parte dos fornecedores<br />

ter conseguido acompanhar este aumento, os<br />

fabricantes de chips não conseguiram. Durante<br />

este momento em que houve uma diminuição<br />

dos pedidos dos fabricantes automóveis,<br />

tiveram um aumento de pedidos para outra<br />

área, e com os anúncios dos novos modelos de<br />

Playstation 5 e Xbox Series X estes fabricantes<br />

passaram a produzir para responder aos novos<br />

modelos de consolas, cada uma com uma<br />

produção anual prevista de 15 milhões de<br />

unidades, o que resultou num esgotamento da<br />

capacidade de produção de chips. Ao mesmo<br />

tempo, os smartphones também precisam deste<br />

tipo de chips, e todos os anos são lançados<br />

novos modelos de diversas marcas, o que<br />

também sobrecarrega a produção.<br />

Também resultados desta falta de stock são a<br />

dispensa de colaboradores e as grandes perdas<br />

sentidas a nível mundial, como consequências<br />

directas da diminuição da produção.<br />

Apesar de haver vários especialistas a<br />

assegurar a fabricação de chips pelo mundo – e<br />

embora a Nvidia lidere entre os sistemas que<br />

envolvem o tratamento de imagens, como a<br />

condução semi autónoma – a especificidade<br />

de acOrdO cOm dadOs das nações<br />

unidas, cerca de 70% dOs chips<br />

sãO fabricadOs na ásia, e um<br />

quarTO de TOda a prOduçãO<br />

mundial apenas na china<br />

desta indústria dá-lhes um tempo de<br />

reacção de entre seis e nove meses. Alguns<br />

produtores esperam que esta falta de stocks<br />

vá abrandando com o tempo, mas também<br />

há quem acredite que tal só aconteça por<br />

completo apenas no segundo semestre do ano.<br />

Outro dos problemas que afectam a produção<br />

é a sua centralização. De acordo com dados<br />

das Nações Unidas, cerca de 70% dos chips<br />

são fabricados na Ásia, e um quarto de toda<br />

a produção mundial apenas na China. Para<br />

além disso, não existe um contacto directo<br />

entre as fabricantes e os produtores, pois essa<br />

comunicação compete aos fornecedores de<br />

componentes electrónicas.<br />

Dos fabricantes automóveis do mercado,<br />

apenas a Tesla desenha e desenvolve os seus<br />

próprios chips, e encomenda a produção<br />

à Samsung, não sofrendo deste problema<br />

de abastecimento como os restantes. Para<br />

além disso, a electrificação dos seus veículos<br />

permite-lhe utilizar apenas dois chips ao invés<br />

de centenas, no caso dos veículos topo de gama<br />

tradicionais.<br />

A decisão da Tesla ao produzir os seus<br />

próprios chips foi devido à necessidade<br />

de reduzir os seus consumos de energia,<br />

especialmente para fins não essenciais,<br />

aumentando a autonomia dos seus veículos,<br />

sendo que um chip da Tesla consegue consumir<br />

72W, enquanto um equivalente da Nvidia<br />

consome 350W, quase cinco vezes mais. •


38 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Gestão<br />

Beiersdorf<br />

de Inventários<br />

e LPR<br />

inventário:<br />

A importânciA de umA jornAdA<br />

contínuA Ao lonGo do Ano<br />

Coŝmő oŝ iİnœíIJcýiİoŝ dĄeċ uơmő nœoŝvƽoŝ anœoŝ fiǟsƌcýalň (eċ apƁóŞsƌ oŝ fģeċcýhīoŝ dĄeċ iİnœvƽeċnœtƙárƄiİoŝ dĄoŝ anœoŝ anœtƙeċrƄiİoŝrƄ),<br />

redobram-se os esforços para implementar novas práticas e processos que permitam<br />

auơmőeċnœtƙarƄ tƙanœtƙoŝ a eċfiǟcýiİêĐnœcýiİa dĄasƌ cýoŝnœtƙagĤeċnœsƌ dĄeċ iİnœvƽeċnœtƙárƄiİoŝ, cýoŝmőoŝ a pƁrƄeċcýiİsƌãùoŝ dĄeċ sƌtƙoŝcýkŅsƌ, eċmő<br />

relação ao ano anterior.


39<br />

Texto: Bruno Gil, iberian supply chain manager Eden Springs<br />

O<br />

processo de contagem de inventário, assim<br />

como os processos que podem melhorar<br />

a precisão de stocks, revestem-se de<br />

uma importância fundamental para qualquer<br />

organização, não só porque uma melhor<br />

precisão de stocks é sinónimo de menores<br />

encargos financeiros (todo o inventário está<br />

capitalizado, e se existem diferenças de<br />

inventário, obviamente que isto se irá reflectir<br />

em ajustes financeiros, podendo impactar a<br />

geração de crescimento), mas também, porque<br />

permite assegurar elevados níveis de serviço<br />

ao cliente, garantindo uma experiência de<br />

compra positiva e sustentável.<br />

Esta precisão de inventário (sem<br />

abordarmos, obviamente, todos os processos<br />

que influenciam a gestão e níveis de stock a<br />

montante, como o processo de S&OP, Demand<br />

& Supply Planning, etc.) é parte da base para<br />

a disponibilidade física de produtos, para uma<br />

correcta gestão de pedidos/encomendas, para<br />

um correcto ponto de reposição (de matériasprimas<br />

ou produto acabado), e para a definição<br />

de lotes de produção, tendo vindo a assumir<br />

um papel cada vez mais crítico à medida em<br />

que as empresas se adaptam ao e-commerce e<br />

a múltiplos canais de venda.<br />

São vários os Indicadores-Chave de<br />

Performance (KPI´s) que podem ser<br />

implementados e monitorizados, e que<br />

permitem compreender a eficiência do<br />

processo de inventário e dos processos que<br />

conduzem à precisão dos stocks. De entre<br />

alguns exemplos, podem ser destacados:<br />

» Precisão de stock/inventário (ou stock/<br />

inventory accuracy) - mede a diferença entre o<br />

stock físico e o stock contábil;<br />

» Índice de Atendimento do Pedido (ou<br />

Order Fill Rate) - mede a percentagem de<br />

pedidos que são imediatamente satisfeitos<br />

devido à disponibilidade de stocks;<br />

» Tempo de Ciclo do Pedido (ou Order<br />

Cycle Time) - mede a performance interna<br />

da empresa ao processar os pedidos,<br />

considerando todo o tempo gasto, desde o<br />

momento em que se recebe o pedido até à sua<br />

saída para entrega;<br />

» Excessos de Venda (ou Oversells) - mede<br />

a quantidade de pedidos não servidos no<br />

momento exacto da sua compra por falta de<br />

stock ou por diferença de inventário, mas que<br />

aparece ao cliente (online), ou à empresa,<br />

como stock disponível;<br />

» Verificação de Stock Online - mede a<br />

quantidade de pedidos online não servidos no<br />

momento exacto da compra por falta de stock<br />

ou por diferença de inventário - mas que já<br />

aparece ao cliente como stock indisponível e<br />

não permite a compra;<br />

» Níveis de serviço (ou Service Levels) -<br />

mede se um determinado item estava em<br />

stock quando foi solicitado para entrega, ou<br />

se os pedidos diários podem ser atendidos<br />

com base em históricos de vendas e no stock<br />

disponível.


40 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

Algo que se reveste de vital importância<br />

para uma correcta precisão de stocks e<br />

para um eficaz processo de contagens, é<br />

a necessidade imperativa de um sistema<br />

informático que permita uma rastreabilidade<br />

em tempo real de todos os movimentos<br />

físicos de stock, e cujos movimentos sejam<br />

reflectidos automaticamente em sistema.<br />

Sistemas de informação, como RFID, WMS,<br />

etc., que permitam registar entradas e saídas<br />

de stock de forma automática e imediata,<br />

aquando do processo de recepção, picking,<br />

expedição, produção ou devolução, assim<br />

como uma alocação automática de stock<br />

aquando do armazenamento, são, hoje em dia,<br />

absolutamente essenciais para uma correcta<br />

gestão de stocks e de inventário.<br />

Não obstante, com ou sem sistemas<br />

de RFID/WMS, e de forma a garantir um<br />

processo de inventário eficaz e uma elevada<br />

precisão de stocks, é fundamental garantir<br />

alguns aspectos (que podem parecer básicos,<br />

mas que são essenciais), dos quais se podem<br />

destacar:<br />

» Só pessoal autorizado entra/sai<br />

do armazém livremente, e pode fazer<br />

movimentações físicas e informáticas de<br />

stock;<br />

» O stock disponível e indisponível do<br />

mesmo material está a ser armazenado em<br />

locais diferentes e claramente identificados<br />

como tal;<br />

» Todo e qualquer produto recepcionado<br />

danificado, é reportado e automaticamente<br />

colocado fora de stock;<br />

» Qualquer movimento físico de mercadoria<br />

tem de ser acompanhado por um movimento<br />

informático de stock;<br />

» No momento do picking, caso exista um<br />

excesso de venda ou uma diferença de stock,<br />

é registado um alerta para ser feita uma<br />

contagem de inventário e reservado o stock<br />

disponível;


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

cOm O crescenTe<br />

aumenTO dO e-cOmmerce,<br />

nOvOs desafiOs se<br />

cOlOcam aO prOcessO de<br />

invenTáriO e de precisãO<br />

de sTOcks<br />

» Os movimentos internos de stock<br />

são bloqueados durante a contagem de<br />

inventário;<br />

» Os códigos de barras estão colocados<br />

nos racks, de forma a permitir uma pesquisa<br />

fácil de paletes perdidas (para os armazéns<br />

com sistema de RFID – deverá existir, pelo<br />

menos, um código de barras por cada viga de<br />

2-3 localizações);<br />

» Todo e qualquer local de venda,<br />

armazenamento ou picking, está<br />

devidamente identificado tanto fisicamente,<br />

como informaticamente, de forma a facilitar<br />

o processo de contagem;<br />

» Todo e qualquer desvio de inventário,<br />

deve ser prontamente identificado, as<br />

causas-raiz percebidas, e um plano de acção<br />

posto em prática para evitar situações<br />

futuras;<br />

» Existe uma hierarquia de aprovações para<br />

desvios de inventário mais consideráveis<br />

(após recontagem), envolvendo os principais<br />

stakeholders da empresa, sendo conduzidas<br />

investigações para estes desvios, e as<br />

conclusões monitorizadas dentro de um<br />

prazo estipulado.<br />

Acresce também que com o crescente<br />

aumento do E-commerce, novos desafios<br />

se colocam ao processo de inventário e de<br />

precisão de stocks. Entre esses desafios<br />

inclui-se por exemplo, a garantia de que o<br />

stock que se apresenta como disponível online<br />

é actualizado em tempo real, que o stock é<br />

reservado fisica e informaticamente aquando<br />

de uma nova compra, ou que sejam definidas<br />

margens de segurança. Estas margens devem<br />

garantir que, por exemplo, quando um<br />

artigo atinge um nível de stock muito baixo<br />

(dependendo do seu histórico de vendas), o<br />

mesmo não apareça como disponível online<br />

de forma a salvaguardar possíveis variações de<br />

inventário (ou mesmo para evitar que durante<br />

o tempo em que é feita a compra online, e até<br />

ser feita a recolha/reserva física do artigo, o<br />

mesmo não é comprado por clientes físicos).<br />

Desta forma, esta atuação deverá ser<br />

uma jornada contínua ao longo do ano, e<br />

deve envolver os vários stakeholders da<br />

organização na prossecução de um objectivo<br />

comum: garantir sempre, a máxima satisfação<br />

dos clientes e uma experiência de compra o<br />

mais positiva possível, ao menor custo. •


42 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Beiersdorf e LPR<br />

AssetFloow<br />

Texto: Ana Paiva<br />

fotos: AssetFloow<br />

optimizAr<br />

espAço e<br />

rentAbilizAr<br />

tempo<br />

De uma forma geral, as empresas têm<br />

vindo a sentir uma maior exigência<br />

no que diz respeito à satisfação do<br />

cliente, uma vez que estes esperam<br />

serviços mais rápidos, personalizados<br />

e autónomos desde o momento da<br />

compra até à entrega. Esta mudança<br />

nos hábitos de consumo gera pressão<br />

e complexidade na área do retalho<br />

e, para preencher esta lacuna no<br />

mercado, nasceu a AssetFloow.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

Como contam os co-fundadores Katya<br />

Ivanova, CEO, e Ricardo Santos, CTO, a<br />

AssetFloow consiste num software de<br />

inteligência artificial que optimiza os espaços<br />

e realiza a gestão dos armazéns, considerado<br />

por ambos “um dos principais bottlenecks<br />

[entrave] em logística”. O principal objectivo<br />

passa por “ajudar as empresas a analisar as<br />

rotas que os trabalhadores fazem dentro<br />

das instalações, sem recorrer a sensores ou<br />

câmaras, para fornecer insights sobre onde<br />

os produtos devem estar localizados para<br />

optimizar e acelerar as operações”, explicam.<br />

No que diz respeito à optimização de<br />

armazéns logísticos, o software utiliza dois<br />

dados: as encomendas do armazém, para<br />

encontrar padrões entre os produtos; e o mapa<br />

do armazém, para simular as rotas de forma a<br />

chegar aos produtos, “considerando as saídas,<br />

entradas, os obstáculos dentro do espaço,<br />

a altura das prateleiras, e assim sugerir que<br />

optimizações e alterações no layout devem ser<br />

feitas para aumentar a produtividade, e até<br />

diminuir os acidentes de trabalho”, referem.<br />

É através de algoritmos avançados de<br />

inteligência artificial e análise estatística<br />

que a AssetFloow complementa as funções<br />

e as capacidades das plataformas actuais de<br />

warehouse management, com visualização<br />

de heatmaps dos armazéns, análise de KPI’s<br />

de operações, simulações de fluxos dos<br />

trabalhadores e optimização da localização<br />

dos produtos. “A nossa solução foi projectada<br />

para o uso de clientes de todos os sectores<br />

e tamanhos que desejam utilizar melhor o<br />

espaço e os seus recursos humanos para<br />

realizar as suas tarefas com uma metodologia<br />

[O ObjecTivO É] ajudar<br />

as empresas a analisar<br />

as rOTas que Os<br />

TrabalhadOres fazem<br />

denTrO das insTalações,<br />

sem recOrrer a sensOres<br />

Ou câmaras, para fOrnecer<br />

insighTs sObre Onde Os<br />

prOduTOs devem esTar<br />

lOcalizadOs para OpTimizar<br />

e acelerar as Operações<br />

Katya Ivanova & Ricardo Santos<br />

mais eficiente”, revelam Katya Ivanova e<br />

Ricardo Santos. Desta forma, o software<br />

permite que as empresas controlem a<br />

movimentação e a utilização de espaço,<br />

melhorando a gestão das encomendas, o<br />

stock e a equipa. Em função das alterações<br />

de consumo dos clientes, as empresas podem<br />

utilizar a AssetFloow de forma a rentabilizar<br />

o uso do espaço, bem como aumentar as<br />

receitas com os recursos existentes. A CEO e<br />

o CTO afirmam ainda que “desenvolveremos<br />

consistentemente novas maneiras para os<br />

nossos clientes optimizarem a sua cadeia de<br />

abastecimento à medida que expandem os<br />

seus negócios”.


44 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

desenvOlveremOs<br />

cOnsisTenTemenTe nOvas<br />

maneiras para Os nOssOs clienTes<br />

OpTimizarem a sua cadeia de<br />

abasTecimenTO à medida que<br />

expandem Os seus negóciOs<br />

Katya Ivanova & Ricardo Santos<br />

A tecnoloGiA Ao dispor dA<br />

rentAbilizAção de tempo<br />

Sabe-se que, cada vez mais, a tecnologia é<br />

o futuro, mas na área da logística, o futuro<br />

é agora. Tem mesmo de ser. A AssetFloow<br />

tem a capacidade de optimizar mais do que<br />

uma tarefa em simultâneo o que, do ponto<br />

de vista logístico, é uma grande mais-valia.<br />

Assim, os operadores de armazém, que têm de<br />

realizar tarefas distintas como movimentação<br />

de produtos, embalamento, etiquetagem e<br />

processamento, podem contar com o software<br />

para optimizar estes processos. Em relação,<br />

por exemplo, ao momento em que os produtos<br />

embalados seguem para a área de recolha<br />

para, posteriormente, serem entregues, a<br />

AssetFloow agiliza o processo de forma<br />

automatizada, permitindo aos armazéns<br />

pré-programar para onde os pedidos devem<br />

dirigir-se e saber que recursos humanos serão<br />

necessários nos diferentes períodos do dia,<br />

descartando assim o trabalho manual para<br />

realizar esta análise.<br />

Os responsáveis pelo software já têm<br />

os olhos postos no futuro, uma vez que<br />

estão a aumentar a equipa e a colocar a<br />

AssetFloow em formato de API’s, visto que<br />

detectaram uma grande urgência deste tipo<br />

de optimização em sectores como o retalho,<br />

e-commerce e transportes logísticos. Esperam<br />

expandir-se até aos mercados internacionais<br />

e tornarem-se uma “marca de referência em<br />

‘flow intelligence’. •


SCM Supply Chain Magazine 45


46<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Cibersegurança<br />

o covid-19<br />

não é o<br />

único vírus<br />

que AmeAçA<br />

As empresAs<br />

Num mundo cada vez mais digital a<br />

prioridade das empresas é garantir<br />

a segurança dos seus serviços,<br />

operações, produtos, pessoas e, claro,<br />

da informação. Num momento de<br />

pandemia como o actual, em que as<br />

pƁeċsƌsƌoŝasƌ sƌeċ eċnœcýoŝnœtƙrƄamő cýoŝnœfiǟnœadĄasƌ<br />

em casa e onde o teletrabalho é uma<br />

realidade cada vez maior, a segurança<br />

de uma rede doméstica pode ser um<br />

alvo fácil a um ataque digital, e isso<br />

pode ser um risco para as empresas,<br />

com consequências enormes.


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

Em entrevista à SCM, João Farinha,<br />

head of audit na S21sec em Portugal,<br />

empresa especializada em questões de<br />

cibersegurança empresarial, conta quais<br />

os riscos pelos quais as empresas passam<br />

neste momento, preocupações que devem<br />

ter com os seus sistemas e quais os impactos<br />

que um ciberataque pode ter na cadeia de<br />

abastecimento.<br />

“O desenvolvimento tecnológico até aos<br />

dias de hoje e o acesso a um número cada<br />

vez maior de plataformas, acesso esse<br />

acentuado ainda mais com o teletrabalho,<br />

criou uma dependência tecnológica que<br />

apanhou de surpresa muitas empresas”,<br />

começa por explicar o responsável da S21Sec,<br />

acrescentando que esta carência de tecnologia<br />

e a normalização do seu uso trouxe riscos<br />

adicionais relacionados com o teletrabalho,<br />

protecção de informação nos sistemas de<br />

rede utilizados fora do escritório pelos<br />

colaboradores e vulnerabilidade aos ataques<br />

de negação de serviço.


48<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

João Farinha explica que um ciberataque<br />

pode, directa e indirectamente, trazer<br />

consequências graves para o negócio,<br />

mas também para a reputação da marca,<br />

colaboradores e parceiros de negócio:<br />

- Impacto Financeiro Directo: quando<br />

são despoletadas transferências bancárias<br />

para contas controladas pelos atacantes, ou<br />

quando há um roubo de dados que resulta<br />

numa coima aplicada ao abrigo da regulação<br />

de protecção de dados”.<br />

- Impacto Financeiro Indirecto:<br />

“desvalorização causada por perdas de<br />

reputação, por colocar em causa a confiança<br />

depositada numa marca”.<br />

- Perdas operacionais: “decorrentes da<br />

impossibilidade de manter funções vitais como<br />

a presença online, as operações industriais, o<br />

apoio a clientes, entre outros”.<br />

“Quando se avaliam os riscos de<br />

cibersegurança e as superfícies de ataque a<br />

que uma empresa está exposta, para além<br />

daquilo que são os sistemas e infra-estrutura<br />

interna, é essencial gerir o risco que é trazido<br />

pelos parceiros críticos e pela cadeia de<br />

abastecimento”, considera o responsável.<br />

Recentemente houve um ataque a um<br />

fornecedor da indústria de IT, um fabricante<br />

de software de monitorização e controlo<br />

de equipamentos, e os próprios servidores<br />

internos que distribuem as aplicações aos<br />

clientes foram comprometidos. “Esse ataque<br />

teve repercussões a uma escala global,<br />

uma vez que o software fornecido por esse<br />

fabricante é utilizado num elevado número<br />

de organizações que confiavam no processo<br />

de distribuição de software oficial, tendo por<br />

isso sido instaladas versões alteradas desse<br />

software com código malicioso”, explica.<br />

Um ataque a uma empresa pode colocar em<br />

risco os seus dados confidenciais, mas também<br />

o aspecto da disponibilidade dos sistemas e<br />

da informação. “Mesmo quando falamos de<br />

fornecedores de serviços “cloud” globais, têm<br />

existido falhas que impedem que as empresas<br />

acedam à sua informação durante largos<br />

períodos”, conta, e acrescenta que nesses<br />

casos “tão mau quanto não conseguir aceder<br />

à informação é não estar sob o seu controlo a<br />

reposição do serviço”, e não ter informações<br />

relativamente à falha e à sua recuperação.<br />

“A cibersegurança (nas suas perspectivas<br />

de confidencialidade, integridade e<br />

disponibilidade) deve ser encarada como uma<br />

parte integrante do processo de avaliação de<br />

um novo serviço, e não como uma actividade<br />

posterior que surge apenas quando chega<br />

a altura de utilizar esse novo serviço, na<br />

maioria das vezes já após terem sido assinados<br />

contractos”, explica.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

o custo dA seGurAnçA<br />

Nesse sentido, repara que a pandemia<br />

causou uma baixa nos orçamentos dedicados<br />

à segurança digital, o que o responsável<br />

considera ser uma atitude errada, e “é<br />

preciso investir de forma sensata, sobretudo<br />

ao termos conhecimento das graves<br />

consequências de um ciberataque quando o<br />

mesmo acontece”. Em Portugal, considera que<br />

as organizações ainda têm um longo caminho<br />

a percorrer relativamente à correcta gestão<br />

dos riscos, e que hoje as empresas reagem<br />

às necessidades imediatas, “seguindo muitas<br />

vezes tendências de adopção de tecnologias<br />

por imitação, sem saber distanciar-se o<br />

suficiente para conseguir ver o risco adicional<br />

que essa tecnologia pode trazer”.<br />

“Geralmente, a área de cibersegurança é<br />

apenas encarada como um custo, resultante<br />

muitas vezes do desconhecimento e<br />

incerteza”, comenta João Farinha, e acrescenta<br />

que “é importante reflectir e lembrar que<br />

uma gestão correcta dos ciber-riscos tem um<br />

impacto directo no valor das organizações,<br />

trazendo mais confiança e rapidez na adopção<br />

de soluções inovadoras para o negócio”,<br />

resultando num maior valor acrescentado.<br />

O responsável da S21sec revela que “há<br />

dois caminhos, que não se substituem, para<br />

minimizar o risco de cibersegurança que um<br />

parceiro de negócios ou fornecedor possam<br />

introduzir numa empresa”.<br />

O primeiro passa por um modelo de<br />

avaliação e gestão de risco formalizado, com<br />

uma política clara e com a incorporação de<br />

todas as preocupações e requisitos mínimos<br />

de segurança que qualquer entidade que<br />

necessite interagir com os sistemas de<br />

informação de uma empresa deverá cumprir.<br />

“Estas políticas devem ser incluídas em todos<br />

os contractos de prestação de serviços, que<br />

deverão ainda incluir a possibilidade de uma<br />

empresa auditar (directamente ou através de<br />

terceiros) o seu fornecedor para garantir que<br />

são cumpridos esses requisitos de segurança”.<br />

O segundo, mais técnico, passa pelo<br />

desenvolvimento de uma arquitectura<br />

de cibersegurança que garanta a devida<br />

segregação e isolamento dos sistemas e redes.<br />

Deste modo, procura-se que “mesmo que um<br />

parceiro ou fornecedor seja comprometido,<br />

o impacto para a empresa seja minimizado e<br />

se possa assegurar uma rápida detecção que<br />

possibilite a contenção no menor espaço de<br />

tempo possível”.<br />

É precisO invesTir de fOrma<br />

sensaTa, sObreTudO aO<br />

TermOs cOnhecimenTO das<br />

graves cOnsequências de um<br />

ciberaTaque quandO O mesmO<br />

acOnTece<br />

João Farinha


50<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

erros comuns<br />

Enquanto fornecedor de serviços de<br />

cibersegurança, João Farinha sente que muitas<br />

vezes são os “first responders” numa situação<br />

crítica. “É preocupante a falta de visibilidade e<br />

de capacidade de contenção que se encontra<br />

em muitas empresas, o que demonstra ainda<br />

uma falta da incorporação das preocupações<br />

de cibersegurança logo no desenho das infraestruturas”,<br />

e como forma de explicar a sua<br />

importância, compara esta falta de segurança<br />

digital à colocação de portas de segurança,<br />

sensores de abertura de porta e câmaras<br />

de vigilância fisicamente no edifício. “São<br />

elementos que não podem ser montados à<br />

pressa durante um incidente de segurança,<br />

e mesmo que o sejam, não permitem olhar<br />

para trás no tempo para perceber o que é que<br />

aconteceu”, explica.<br />

No caso concreto da pandemia, o<br />

teletrabalho também não foi bem planeado<br />

devido à sua chegada inesperada, para a qual<br />

grande parte das empresas não se encontrava<br />

preparada. Nem todas as organizações tinham<br />

capacidade de fornecer dispositivos portáteis a<br />

todos os seus colaboradores, o que fez com que<br />

utilizassem dispositivos sem qualquer controlo<br />

de segurança adicional, e os que garantiam um<br />

maior nível de segurança estavam desenhados<br />

para passar grande parte do tempo de uso<br />

ligados a uma rede corporativa, e fora dessa<br />

rede quebraram-se alguns dos pressupostos<br />

essenciais para manter a segurança.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

É essencial que as Organizações<br />

percebam que a ampliTude de um<br />

aTaque É agOra maiOr e, primeirO<br />

que TudO, há que fazer uma<br />

reavaliaçãO dOs riscOs<br />

“É essencial que as organizações percebam<br />

que a amplitude de um ataque é agora<br />

maior e, primeiro que tudo, há que fazer<br />

uma reavaliação dos riscos”, alerta João<br />

Farinha, “depois do impacto da pandemia<br />

em 2020, prevê-se que haja um reforço da<br />

cibersegurança através do outsourcing da<br />

infra-estrutura e dos serviços, mais detecção<br />

e respostas a incidentes, programas de gestão<br />

de vulnerabilidades, mas também formação e<br />

sensibilização em relação à segurança”.<br />

protecção contrA As<br />

frAudes<br />

Ao nível das fraudes, o que têm verificado é<br />

uma migração do que já existia fisicamente<br />

para o domínio digital, pelo que João Farinha<br />

recomenda a utilização dos mecanismos<br />

de prevenção de fraude que têm sido<br />

desenvolvidos ao longo das décadas em<br />

diversas áreas de procurement. “Não podemos<br />

deixar passar os novos vectores de fraude que<br />

a digitalização também trouxe, e que passam<br />

principalmente por dois factores associados<br />

à Internet: o anonimato e a dificuldade de<br />

garantir a identidade de quem comunica<br />

connosco”, explica.<br />

O responsável da S21sec conta que “muitas<br />

das fraudes digitais que temos identificado<br />

passam pela troca de e-mails em que um<br />

atacante se faz passar por quem não é (seja<br />

fornecedor ou cliente), com vista a levar a outra<br />

parte a fazer transferências de verbas para<br />

uma conta controlada pelo atacante”, e explica<br />

que a esta manipulação da vítima se chama<br />

“engenharia social”, ocorrendo muitas vezes<br />

através do aproveitamento de uma “emissão de<br />

uma factura real, para solicitar a alteração de<br />

um número de conta destino para o pagamento<br />

da mesma, ou mesmo a apresentação e<br />

proposta de fornecimento de bens por parte de<br />

uma empresa fictícia”.<br />

Deste modo, recomenda três medidas para<br />

salvaguardar uma empresa contra este tipo de<br />

fraude:<br />

» Assegurar a robustez dos sistemas de<br />

comunicações que utilizam, nomeadamente<br />

no que diz respeito à utilização de passwords<br />

fortes e múltiplos factores de autenticação<br />

(o código no telemóvel, por exemplo, como é<br />

utilizado em muitas instituições financeiras).<br />

Desta forma, um atacante terá maior<br />

dificuldade em comprometer uma conta de<br />

e-mail legítima e usá-la como mecanismo de<br />

ataque;<br />

» Sempre que se suspeite de alguma coisa,<br />

verificar cuidadosamente os endereços de email<br />

dos remetentes, assegurando que não há subtis<br />

variações no nome do domínio de origem (que<br />

aparece à direita do @ num endereço de email)<br />

ou no estilo de escrita da mensagem;<br />

» Implementar mecanismos “offline” para a<br />

verificação de alteração de dados financeiros,<br />

nomeadamente através da confirmação por<br />

telefone com um elemento previamente<br />

conhecido no cliente ou fornecedor, ou através<br />

da exigência de um documento oficial que<br />

prove a legitimidade da alteração que está a ser<br />

solicitada.


52 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

blockchAin<br />

Uma das tecnologias do momento, e que pode<br />

revolucionar a cadeia de abastecimento, é a<br />

Blockchain. Esta tecnologia é revolucionária<br />

pela sua inviolabilidade, pois tem como<br />

principal característica o facto de se poder<br />

acrescentar informação, mas não de retirar,<br />

“e para qualquer alteração ser feita, tem<br />

de ser validada por todos os participantes<br />

relevantes, ou seja, um novo registo não pode<br />

ser introduzido sem que seja validado por outro<br />

participante com privilégios para tal”.<br />

a uTilizaçãO de um<br />

sisTema de regisTO<br />

baseadO em blOckchain<br />

permiTirá uma<br />

maiOr visibilidade e<br />

Transparência, O que<br />

levará a um aumenTO da<br />

eficiência, diminuiçãO das<br />

falsificações e reduçãO<br />

de fraude, O que levará<br />

a que TOda a cadeia de<br />

abasTecimenTO Tenha um<br />

maiOr valOr<br />

João Farinha<br />

João Farinha considera que a sua utilização<br />

para esta finalidade assenta em quatro pilares,<br />

únicos ao desenvolvimento de qualquer<br />

blockchain: segurança, imutabilidade,<br />

replicação e consenso. “De forma resumida,<br />

sistemas assentes em tecnologia blockchain<br />

permitem ter um registo partilhado, seguro<br />

e inviolável de todo um processo, seja ele de<br />

fabrico (podendo por exemplo registar nessa<br />

cadeia de informação todos os fornecedores,<br />

lotes de matéria-prima, intermediários, etc),<br />

ou de distribuição (identificando todos os<br />

intervenientes num processo de expedição de<br />

um produto)”, esclarece o responsável. Sobre<br />

a sua aplicação em concreto, João Farinha<br />

considera que existe um elevado número<br />

de possibilidades, algumas previsíveis e<br />

em desenvolvimento, e outras que ainda se<br />

encontram por descobrir.<br />

“No caso da cadeia de abastecimento, no<br />

entanto, é fácil perceber o impacto que dispor<br />

de uma única “fonte de verdade” ao longo de<br />

toda a cadeia de valor poderá trazer”, explica<br />

o responsável, acrescentando que por a cadeia<br />

logística e de abastecimento ser tão complexa<br />

e com tantos intervenientes, cada participante<br />

utiliza registos de informação próprios que<br />

muitas vezes não partilham nem sincronizam<br />

essa informação com os restantes participantes.<br />

João Farinha também considera que “a<br />

utilização de um sistema de registo baseado<br />

em blockchain permitirá uma maior visibilidade<br />

e transparência, o que levará a um aumento<br />

da eficiência, diminuição das falsificações e<br />

redução de fraude, o que levará a que toda<br />

a cadeia de abastecimento tenha um maior<br />

valor”.


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

umA evolução de<br />

mentAlidAde<br />

Pela sua experiência, o responsável da S21sec<br />

sente que houve um aumento da preocupação<br />

das empresas com a cibersegurança, resultado<br />

de uma dependência cada vez maior das<br />

empresas com os sistemas de informação<br />

que operam e que fazem cada vez mais parte<br />

integrante da sua cadeia de valor. “Essa<br />

dependência levou finalmente a cibersegurança<br />

à mesa dos decisores das empresas enquanto<br />

um mecanismo de gestão do risco e até como<br />

um gerador de valor”, explica João Farinha.<br />

“Nos diversos webinars e workshops que<br />

a S21sec desenvolve, estes temas têm vindo<br />

a ser abordados regularmente, e é curiosa a<br />

forma como temos observado participantes<br />

nesses eventos que vêm de áreas que não<br />

estão relacionadas com a cibersegurança, mas<br />

sim com o negócio da empresa. Isto acontece<br />

porque essas áreas de negócio já têm uma<br />

noção clara do impacto da cibersegurança<br />

naquilo que é a cadeia de valor da sua empresa,<br />

especialmente quando tocamos em temas<br />

como a segurança de sistemas de pagamento<br />

ou a segurança industrial e de produção”,<br />

conclui. •<br />

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Logística Compras Operações


54 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Plataforma digital<br />

para transporte de<br />

mercadorias<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“o cliente já não pede que um<br />

cAmião venhA Até si, AproveitA<br />

um cAmião em rotA perto de si”<br />

Qual é a empresa que não ambiciona optimizar os espaços vazios de camiões em<br />

circulação, ter soluções imediatas e competitivas e reduzir a sua pegada ecológica<br />

no momento de transportar e distribuir produtos? Foi com o objectivo de resolver<br />

estes contratempos que Pedro Pepe Dias e João Martins criaram a BIP BIP, uma<br />

plataforma digital inovadora na área do transporte de mercadorias.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Os sócios fundadores da BIP BIP depararam-<br />

-se com uma grande lacuna no mercado<br />

dos transportes de mercadorias: obter<br />

soluções regulares e imediatas, a preços<br />

competitivos, tanto na exportação como na<br />

importação de mercadoria por via terrestre.<br />

Não se conformaram com o facto de o<br />

telefone e o e-mail serem as ferramentas<br />

de pesquisa e contratação mais utilizadas e,<br />

por sinal, mais antigas, o que torna todo o<br />

processo não só muito lento e pouco prático,<br />

visto que não tinham o seguimento pretendido<br />

ou, por vezes, até ficavam sem resposta. E não<br />

descansaram enquanto não conseguiram uma<br />

solução rápida e eficaz, propondo à indústria<br />

de transporte passar estas ferramentas para o<br />

digital, sem tempo nem espaço para demoras.<br />

Identificado o problema, a solução é muito<br />

simples. A plataforma foca-se principalmente<br />

na optimização e exploração dos espaços<br />

vazios dos camiões, o que corresponde a cerca<br />

de 30% de todos os camiões em circulação<br />

pelas estradas da Europa. No registo de<br />

entrada da BIP BIP é traçado o perfil de<br />

clientes e de transportadoras, de forma a<br />

obter conhecimento sobre as características<br />

operacionais de ambos. Após esta recolha de<br />

informação para a base de dados, a plataforma<br />

consegue facilitar a pesquisa e contratação<br />

de transporte de mercadorias em tempo real,<br />

fazendo o ‘matching’ da necessidade do cliente<br />

(rota, timing, tipo de carga, etc.) com as rotas


56<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

e disponibilidade dos fornecedores deste<br />

serviço. “A plataforma irá fornecer a potenciais<br />

clientes, a localização de camiões vazios já<br />

em circulação na Europa e irá permitir que<br />

estes contratem um serviço em tempo real,<br />

não tendo que adjudicar um serviço novo<br />

e aproveitando um preço mais competitivo<br />

definido directamente pela transportadora<br />

sem qualquer intermediário”, explica<br />

Diana Franco, directora de Comunicação e<br />

Marketing da BIP BIP. Desta forma, o cliente<br />

irá simplificar o processo de contratação de<br />

serviços de transporte tornando a procura<br />

mais rápida e eficaz, poupando o seu tempo e<br />

tendo acesso a uma maior rede de contactos<br />

com uma disponibilidade durante 24 horas.<br />

a plaTafOrma irá fOrnecer<br />

a pOTenciais clienTes, a<br />

lOcalizaçãO de camiões<br />

vaziOs já em circulaçãO na<br />

eurOpa e irá permiTir que<br />

esTes cOnTraTem um serviçO<br />

em TempO-real, nãO TendO<br />

que adjudicar um serviçO<br />

nOvO e aprOveiTandO um<br />

preçO mais cOmpeTiTivO<br />

definidO direcTamenTe<br />

pela TranspOrTadOra sem


SCM Supply Chain Magazine<br />

57<br />

o futuro está nA<br />

Gestão sustentável<br />

A BIP BIP vem solucionar também um dos<br />

problemas associados a vários transportes<br />

de mercadorias, que é a questão da<br />

sustentabilidade ambiental. Viagens de<br />

camiões em vazio é, não só uma dor de cabeça<br />

a nível económico para as empresas, mas<br />

também para o ambiente, tendo em conta<br />

as altas emissões de CO2 durante todas as<br />

viagens. “A gestão sustentável está entre os<br />

nossos valores fundamentais. Forma a base<br />

do nosso trabalho, guia a nossa estratégia<br />

corporativa e leva-nos até ao futuro. Para nós,<br />

agir de forma sustentável significa respeitar<br />

a lei, preservar os recursos e promover a<br />

protecção climática”, refere Diana Franco.<br />

Ao aproveitar os espaços de veículos já em<br />

circulação e evitando novas contratações<br />

quando não são necessárias, as empresas<br />

contribuem para a redução de CO2, que estão<br />

a atingir valores bastante elevados no sector<br />

da indústria dos transportes de mercadorias.<br />

“O cliente já não pede que um camião venha<br />

até si, o cliente aproveita um camião já em<br />

rota perto de si”, explica.<br />

“Crescer e ajudar os nossos clientes e<br />

parceiros a crescer faz parte do nosso último<br />

valor que é o crescimento. Pautamo-nos por<br />

uma cultura de crescimento responsável, com<br />

respeito por todos aqueles com<br />

quem estabelecemos relações<br />

profissionais, trabalhando<br />

juntos para a construção de um<br />

mundo melhor”, conta Diana<br />

Franco. O feedback obtido<br />

valida, de facto, este princípio,<br />

pois tem sido “excelente” e<br />

tem vindo a notar-se bastante<br />

a necessidade de uma solução<br />

deste género na área dos<br />

transportes. Apesar de a<br />

plataforma ainda estar em<br />

fase de desenvolvimento, com<br />

lançamento previsto para<br />

os próximos meses, conta<br />

já com uma vasta lista de<br />

interessados, tanto de clientes<br />

como de transportadoras, o<br />

que permitirá uma primeira<br />

fase de testes mais avançada<br />

antes do lançamento do<br />

produto final. •


58 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Cargobikes<br />

umA<br />

AlternAtivA<br />

mAis<br />

sAudável e<br />

sustentável


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

Texto: Judite de Assis,<br />

Fundadora da “La Julieta Porta”<br />

Não há dúvidas que a comodidade<br />

éČ uơmő dĄoŝsƌ pƁrƄiİnœcýiİpƁaiİsƌ (oŝuơ mőeċsƌmőoŝ oŝ<br />

pƁrƄiİnœcýiİpƁalň) asƌpƁeċtƙoŝsƌ a tƙeċrƄ eċmő cýoŝnœtƙa<br />

quando falamos de transporte, e<br />

é por isso que se opta pelo carro<br />

ou camião. No entanto, há que<br />

considerar as desvantagens que<br />

advêm desta escolha: as emissões<br />

de CO2 e o sedentarismo. Tendo<br />

isto em conta é de considerar que<br />

as bicicletas são uma alternativa<br />

mais amiga do ambiente e do<br />

corpo. Este meio de transporte<br />

sugere ainda um novo conceito: a<br />

ciclologística.<br />

Ter formação em Recursos Humanos e<br />

experiência em logística resulta numa<br />

mistura ‘out of the box’ que muitos<br />

chamam de loucura e, outros (os mais<br />

ousados), de visionária. Em 2008 defendia<br />

o home office como altamente motivante<br />

para o trabalhador, o que facilitava alcançar<br />

melhores resultados. Chegámos a 2020, e esta<br />

é a única forma segura possível, nesta crise<br />

pandémica, que finalmente concilia a vida<br />

laboral com a familiar. Aqui chegamos ao que<br />

realmente interessa: a ciclologística. Algo que<br />

estudo e aprofundo desde 2005 e que é o mais<br />

efetivo na última milha. A única fase possível<br />

para sofrer melhorias em todo o processo<br />

de entrega. Na Holanda, onde vivi de 2005<br />

a 2007, a bicicleta é o meio de transporte<br />

mais utilizado pelas famílias por ser mais<br />

económico, rápido, ecológico e, sobretudo,<br />

porque pode ser utilizado por qualquer tipo<br />

de pessoa. Aplicado ao setor empresarial,<br />

melhora os resultados no processo de<br />

entrega dada a sua facilidade de deslocação,<br />

nomeadamente nas zonas pedonais em que os<br />

veículos com motor não são permitidos. Neste<br />

momento existem subsídios dados pelo Estado<br />

que fomentam esta alternativa, restando,<br />

agora, replicar toda a cadeia de mobilidade<br />

utilizada no norte da Europa, na zona ibérica<br />

que, gradualmente, desenvolve, ao dia de<br />

hoje, acessos mais seguros que fomentam o<br />

uso da bicicleta como meio de transporte nas<br />

grandes cidades. A EMEL construiu cerca de<br />

10 km de ciclovias nos últimos tempos, por<br />

exemplo. Não se quer colocar a bicicleta como<br />

meio exclusivo de entregas, mas sim conviver<br />

e tirar partido de todas as suas vantagens<br />

económicas e ambientais.


60 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

1<br />

cOm um sOfTware de<br />

gesTãO de cOnTeúdOs<br />

empresariais, uma<br />

OrganizaçãO de<br />

qualquer TamanhO<br />

e de qualquer seTOr<br />

pOde TransfOrmar Os<br />

seus dOcumenTOs num<br />

capiTal valiOsO<br />

As medidas de proteção para evitar o<br />

contágio de COVID-19 originaram uma limpeza<br />

do ar nas grandes cidades devido à pouca<br />

circulação de veículos poluentes. Deu-se<br />

uma queda de emissões durante os meses de<br />

confinamento que nunca se tinha alcançado<br />

com nenhuma medida preventiva de controlo<br />

de gases. Quero com isto dizer que, no centro<br />

das grandes cidades, é possível manter-se<br />

esta qualidade do ar reduzindo os veículos<br />

motorizados e adicionando a ciclologística na<br />

cadeia de transporte empresarial e, inclusive,<br />

familiar. O transporte público também sofreu<br />

uma quebra já que, cerca de 20% da população<br />

decidiu optar pela aquisição de uma bicicleta<br />

nas suas deslocações, evitando a utilização de<br />

metro, autocarro e comboio, a fim de evitar<br />

focos de contágio.


SCM Supply Chain Magazine<br />

61<br />

As desvantagens são poucas comparando<br />

com as vantagens que se obtêm com este meio,<br />

nomeadamente o clima e zonas com acesso<br />

exclusivo a peões. As vantagens são bastantes,<br />

quer a nível económico como a nível funcional.<br />

O valor para aquisição de uma cargobike ronda<br />

os 2600 euros. O seguro não é obrigatório, mas<br />

sempre recomendável, não existe qualquer<br />

gasto com combustível e a bateria poderá ser<br />

carregada numa tomada tradicional (cerca de<br />

0.06 euros). A entrega poderá ser realizada<br />

à porta do destinatário, o que não acontece<br />

com um veículo automóvel pela dificuldade<br />

em arranjar sítio para parar ou estacionar,<br />

dada a limitação existente nos centros das<br />

cidades. A rapidez é um ponto importante<br />

já que uma bicicleta poderá utilizar acessos<br />

em que os carros não são permitidos, o que<br />

demora a chegar ao destino. O preço de custo<br />

do próprio serviço é inferior ao tradicional<br />

já que, devido à facilidade na deslocação, se<br />

pode realizar um número de serviços superior<br />

ao que se está habituado a efetuar utilizando<br />

um veículo motorizado. A questão ecológica<br />

não deixa de ser importante porque contribui<br />

para evitar emissão de gases nas grandes<br />

cidades. Uma última vantagem, sem deixar<br />

de ser prioritária, é a possibilidade de ter vida<br />

não sedentária e conciliar a vida profissional<br />

com uma vida saudável reduzindo o stress<br />

que existe normalmente. O facto de não levar<br />

qualquer mochila às costas e poder transportar<br />

as encomendas em boas condições na caixa é<br />

sempre de salientar, já que o trabalhador viaja<br />

cómodo e estável evitando qualquer incidência<br />

no transporte.


62 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

“lA julietA portA”<br />

cAso prático<br />

“La Julieta Porta” (em português “A Julieta<br />

leva”) é um projeto de entregas a domicílio<br />

exclusivo com cargobikes Babboe.com. A<br />

empresa fornecedora possui mais de 15 anos<br />

no mercado, oferece modelos de cargobike<br />

com uma excelente relação qualidade preço,<br />

sem falar nos 5 anos de garantia que o cliente<br />

pode usufruir, e na durabilidade do produto.<br />

Esta marca holandesa não só é líder no setor<br />

particular como também possui opções<br />

empresariais bastante efetivas e visíveis. A<br />

forma ligeira de condução permite a qualquer<br />

utilizador uma condução leve e exata nesta<br />

bicicleta de carga. A visibilidade gera um<br />

interesse imediato por parte do destinatário<br />

como também da pessoa que a vê pela<br />

primeira vez, sendo adquirida muitas vezes<br />

para campanhas de publicidade.<br />

Já na parte particular e familiar, esta forma<br />

de vida é utilizada em qualquer zona da<br />

Holanda. Claro que ao ser um país sem colinas<br />

torna a mobilidade mais fácil. A maioria<br />

de bicicletas não possui qualquer sistema<br />

de apoio elétrico já que, além de poder ser<br />

menos económico, o não sedentarismo é algo<br />

que está bem assimilado nesta cultura. Para<br />

adaptar a outros países com menos planícies,<br />

a opção elétrica é sempre viável já que<br />

oferece um suporte em qualquer subida mais<br />

acentuada durante a viagem. Em Portugal já<br />

existem vias exclusivas para bicicletas, mas<br />

não podemos esquecer que este meio de<br />

transporte é versátil já que pode andar numa<br />

estrada, num passeio e numa ciclovia. Claro<br />

está que há que respeitar o código aplicado<br />

em qualquer destas vias.<br />

As cargobikes familiares encontramse<br />

totalmente homologadas, são seguras<br />

para todos os passageiros e vêm concorrer<br />

diretamente com o uso incorreto das<br />

trotinetes elétricas que são utilizadas por dois<br />

ocupantes.<br />

Voltando ao case study, ao 4º dia de<br />

atividade, fomos contactados pela app Timblo<br />

para ser parceiro no negócio. Esta aplicação


SCM Supply Chain Magazine<br />

63<br />

é a versão digital<br />

do típico comércio<br />

de bairro que<br />

junta no mesmo<br />

sítio todo o tipo<br />

de alimentação<br />

saudável. O cliente<br />

recebe numa só<br />

entrega semanal,<br />

realizada de forma<br />

sustentável,<br />

os produtos<br />

necessários. O<br />

objetivo é apoiar<br />

o comércio local<br />

nesta fase crítica originada pelo COVID.<br />

A aplicação está em funcionamento em<br />

3 cidades (Badalona, Granada e Roma) e<br />

pretende expandir para outras 10.<br />

A principal ideia deste conceito é poder<br />

criar postos de trabalho para pessoas<br />

desempregadas que pretendam ter o seu<br />

próprio negócio e viver de uma forma<br />

ativa, não colocando quaisquer barreiras<br />

na educação nem na condição física,<br />

simplesmente oferecer um serviço dedicado,<br />

de qualidade e ser a cara do cliente que<br />

contrata o nosso serviço. A questão social é<br />

muito importante já que abre portas e oferece<br />

uma oportunidade a quem, quer por idade<br />

quer por falta de experiência, tem dificuldades<br />

em encontrar um emprego, sem esquecer<br />

nas algumas pessoas idosas que não têm<br />

capacidade de sair e fazer as suas próprias<br />

compras. Esta dificuldade foi esquecida por<br />

muitas entidades públicas, mas foi oferecida<br />

por uma ONG chamada “O vizinho amigo” em<br />

Portugal, que pretendemos replicar na zona<br />

onde operamos, preparando um possível novo<br />

confinamento total.<br />

Dada a originalidade desta startup e da<br />

vertente social, não foi difícil encontrar<br />

investidores e patrocinadores, sem falar nas<br />

ajudas da UE existentes e que é possível<br />

aceder. O mesmo acontece em Portugal já<br />

que estão disponíveis subsídios para apoiar<br />

empreendedores.<br />

Muitas empresas de logística estão a<br />

adaptar esta nova modalidade de entrega. A<br />

Aliexpress, assim como a Amazon, começou<br />

a operar no centro de Barcelona. A La Julieta<br />

Porta forneceu várias Babboe Cargo (similares<br />

às nossas) ao principal fornecedor que<br />

opera em toda a zona de Barcelona cidade.<br />

Foram criados hubs mais centrais para que<br />

os distribuidores possam carregar de uma<br />

forma rápida e próxima todas as expedições<br />

da zona central e reduzir o tempo de entrega.<br />

Os serviços das zonas mais altas serão<br />

realizados com o apoio de motos elétricas,<br />

dadas as subidas íngremes que existem na<br />

cidade condal. Pretende-se assim reduzir a<br />

circulação de veículos contaminantes sem<br />

perder a qualidade nem o desenvolvimento<br />

logístico da nova era. A própria SEUR adquiriu<br />

formas semelhantes para o seu negócio tendo<br />

em conta a rentabilidade e viabilidade desta<br />

opção, assumindo que isto será o futuro.<br />

A sustentabilidade depende de nós e de<br />

como as nossas atitudes e decisões afetam o<br />

ambiente quer positiva quer negativamente.<br />

Da parte da “La Julieta Porta” pretendemos<br />

que o nosso projeto mude o mindset da nossa<br />

sociedade e que juntos possamos desfrutar<br />

de um mundo melhor, de uma qualidade de<br />

vida superior e uma forma de vida menos<br />

sedentária. Para tudo há que ter motivação<br />

e benefícios. Nós já estamos a dar o nosso<br />

contributo. •


64<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Quick-Commerce<br />

o novo desAfio<br />

loGístico dA<br />

Glovo<br />

Quick-commerce: é o nome da mais recente<br />

aposta da Glovo que pretende competir<br />

com a gigante do comércio electrónico, a<br />

Amazon. A Glovo dispõe agora de uma rede<br />

de dark stores, onde armazena variados<br />

produtos para recolher os pedidos e<br />

eċnœtƙrƄeċgĤarƄ nœuơmő pƁrƄazǎoŝ mőáxǃiİmőoŝ dĄeċ 30 mőiİnœuơtƙoŝsƌ.<br />

É uơmő dĄeċsƌafiǟoŝ pƁiİoŝnœeċiİrƄoŝ nœaqƃuơeċlňeċ qƃuơeċ éČ oŝ<br />

competitivo sector das entregas.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Texto: Ana Paiva<br />

fotos: Glovo<br />

A<br />

Glovo está a expandir os seus serviços,<br />

agora através do ‘Q-commerce’, o campo de<br />

batalha competitivo das entregas rápidas.<br />

A empresa está a preparar-se para entregar<br />

uma gama muito mais ampla de produtos,<br />

num período de 30 minutos, através de um<br />

jogo de logística B2B, com base numa rede de<br />

dark stores, ou seja, os próprios armazéns que<br />

estão localizados dentro das cidades, servindo<br />

o supermercado de conveniência mais rápido:<br />

o Glovo Market, como conta Daniel Alonso,<br />

director geral global da Q-commerce. “É<br />

um super-mercado digital aberto sete dias<br />

por semana, sem compra mínima, em que<br />

os utilizadores encontram os produtos mais<br />

populares como, por exemplo, fruta, legumes,<br />

produtos de limpeza, gelo ou água”, refere.<br />

O serviço já se encontra operacional em<br />

Barcelona, Madrid e Milão e, em Portugal, a<br />

empresa começou por implementar o primeiro<br />

pilar do Quick-Commerce, nomeadamente a<br />

logística, em 2020, em Lisboa.<br />

A nível nacional, a empresa está a colaborar<br />

com grandes cadeias de supermercados como<br />

Auchan, Continente e Dia, e nível global,<br />

opera com marcas de retalho como a Univeler,<br />

Nestlé e L’Oréal e supermercados como<br />

Walmart, Carrefour, Kaufland e Biedronka,<br />

para armazenar e vender os seus produtos<br />

das dark stores, oferecendo aos consumidores<br />

uma entrega rápida de produtos seleccionados<br />

e outros itens da Glovo Market, actualmente<br />

com entrega gratuita de 24 horas e sem gasto<br />

mínimo.<br />

O investimento supera os 20 milhões de<br />

euros, e mais de 100 profissionais terão a<br />

oportunidade de expandir o seu serviço de<br />

logística instantânea além de alimentos,<br />

tais como: produtos de supermercado e de<br />

outros estabelecimentos da cidade (incluindo<br />

presentes), brinquedos, flores, livros ou<br />

produtos de farmácia. Esta nova fase de<br />

evolução da Glovo incluirá ainda alianças com<br />

empresas como El Corte Inglés, Douglas e<br />

Clarel para abastecer a procura por produtos<br />

de beleza, moda e electrónicos. Existem<br />

algumas falhas nesta lista, como as lojas de<br />

roupa e de calçado, que são as mais propensas<br />

a ter já a sua própria<br />

infraestrutura de<br />

compras online. Além<br />

disso, a compra de<br />

roupa também é mais<br />

complexa, dada a<br />

probabilidade para<br />

devoluções quando<br />

os produtos não<br />

servem. Mas parece<br />

que a Glovo vai atrás<br />

de quase tudo o<br />

resto.


66 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

cOm as lOjas a fechar em TOdO O<br />

mundO, Os cOnsumidOres agOra<br />

querem, e esperam, que mais<br />

prOduTOs sejam enTregues às<br />

suas pOrTas<br />

Daniel Alonso refere que o Glovo Market<br />

conta com mais de 40.000 utilizadores<br />

mensais e já entrega uma média de duas<br />

encomendas por minuto em Espanha, e que<br />

pretende triplicar o volume de negócios,<br />

passando de oito para 15 darkstores<br />

em diferentes pontos do país em <strong>2021</strong>.<br />

O objectivo é crescer em todas a áreas,<br />

expandindo o alcance da oferta do Glovo<br />

Market para mais cidades e lançando uma<br />

oferta B2B para abastecer outras lojas online.<br />

As entregas de refeições representavam<br />

três quartos da sua receita no início do ano,<br />

mas a empresa tem agora ambições de vencer<br />

a Amazon no que diz respeito à entrega de<br />

todos os tipos de produtos, de forma bastante<br />

rápida. Até já tem investidores a bordo deste<br />

plano.<br />

Daniel Alonso afirma que o Q-commerce é<br />

uma solução para os retalhistas continuarem<br />

a operar com entregas enquanto as restrições<br />

da COVID-19 mantêm as vitrines fechadas ou<br />

as pessoas em casa. “Com as lojas a fechar<br />

em todo o mundo, os consumidores agora<br />

querem, e esperam, que mais produtos sejam<br />

entregues às suas portas”, diz o responsável,<br />

acrescentando que “esta tendência trouxe<br />

novas demandas, já não é preciso esperar 24<br />

a 48 horas por uma entrega. Pelo contrário,<br />

a expectativa é uma questão de minutos”.<br />

Acrescenta ainda que este compromisso<br />

responde aos novos hábitos de consumo da<br />

população, “queremos oferecer um serviço tão<br />

imediato quanto abrir uma torneira de casa e<br />

ver a água a correr”, revela, “a Glovo sempre<br />

foi mais do que uma app de comida, mas agora<br />

vamos um passo mais além: queremos tornarnos<br />

a plataforma nº1 do comércio local e que<br />

o utilizador possa comprar qualquer produto<br />

da sua cidade, quando e onde quiser, quase de<br />

imediato”.


SCM Supply Chain Magazine<br />

67<br />

a glOvO sempre fOi mais dO<br />

que uma app de cOmida, mas<br />

agOra vamOs um passO mais<br />

alÉm: queremOs TOrnar-nOs a<br />

plaTafOrma nº1 dO cOmÉrciO<br />

lOcal e que O uTilizadOr pOssa<br />

cOmprar qualquer prOduTO<br />

da sua cidade, quandO e Onde<br />

quiser, quase de imediaTO<br />

Relativamente à sustentabilidade ambiental,<br />

também está tida em conta neste projecto,<br />

uma vez que evita deslocações e efectua<br />

viagens mais curtas, tanto em distância<br />

como em duração. “Convém não esquecer<br />

o tempo que decorre entre as mercadorias<br />

chegarem aos armazéns das darkstores e<br />

aos consumidores também é reduzido e que<br />

isso significa uma cadeia mais optimizada de<br />

distribuição e, acreditamos, melhor qualidade<br />

no serviço e nos produtos”, explica Daniel<br />

Alonso.<br />

A nível global a Glovo já entregou mais de 9<br />

milhões de encomendas através desta unidade<br />

de negócio. •<br />

Food Service Logistics<br />

O seu parceiro de negócio<br />

HAVI.COM


68 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

CARREIRA<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Entrevista a Vítor<br />

Peliteiro, Randstad<br />

recrutAmento<br />

especiAl num Ano Atípico<br />

Todos os anos em momentos de pico<br />

é comum às empresas recorrerem ao<br />

recrutamento pontual para fazer face<br />

à maior movimentação de produtos.<br />

Momentos como o Natal, a Black Friday, o<br />

Verão, a Páscoa… Dependendo da área de<br />

actuação, as necessidades são diferentes,<br />

e também as alturas dos picos o são. As<br />

empresas de recrutamento passam a ter<br />

um papel fundamental aqui, contribuindo<br />

para o sucesso das operações das empresas<br />

nestes momentos esporádicos.<br />

O<br />

ano que passou foi tudo menos<br />

normal, para todos. Uns para melhor,<br />

outros, infelizmente, para pior, mas<br />

independentemente do resultado, a questão<br />

foi sempre a mesma: “e agora, o que é que nos<br />

espera?”. 2020 foi marcado pela incerteza, as<br />

empresas não sabiam como lidar com esta<br />

ameaça mundial, quanto tempo duraria e<br />

qual a melhor forma de manterem os seus<br />

serviços a funcionar - algumas delas optaram,<br />

inclusive, por reestruturar o seu modelo de<br />

negócio -, mas a solução encontrada foi um<br />

pouco transversal: o online.


SCM Supply Chain Magazine<br />

69<br />

Com o aumento<br />

da utilização do<br />

canal digital criou-se<br />

consequentemente<br />

um hábito de<br />

comércio electrónico<br />

em Portugal, que<br />

apesar de estar a<br />

crescer anualmente<br />

a dois dígitos,<br />

foi fortemente<br />

acelerado pela<br />

pandemia, e isso<br />

afecta directamente<br />

a logística das<br />

empresas.<br />

Vítor Peliteiro,<br />

director de staffing<br />

Randstad Portugal, é<br />

um dos responsáveis<br />

pelo recrutamento<br />

sazonal, que faz<br />

frente a estes picos<br />

de movimentação<br />

de produtos nas<br />

empresas, e quando<br />

questionado sobre o<br />

esperado sobre as mudanças nas necessidades<br />

das empresas, o recrutador considera que<br />

existem funções com menos procura devido<br />

à limitação de pessoas nos espaços de venda,<br />

o que requer menos colaboradores presentes,<br />

mas que é necessário preparar o retalho<br />

para o caso de haver baixas no serviço, seja<br />

por doença, quarentena ou apoio à família.<br />

“Esta preparação exige um planeamento<br />

de forma a que tenhamos desde logo perfis<br />

identificados para entrada imediata, sob pena<br />

de não conseguirmos responder”, explica o<br />

responsável.<br />

No que toca ao comércio electrónico,<br />

defende que é necessário olhar para toda a<br />

cadeia de valor e prepará-la a vários níveis,<br />

desde o armazém, logística e transportes. “Só<br />

com este redimensionamento e planeamento<br />

também no que se relaciona ao absentismo<br />

é que podemos ter uma experiência de<br />

e-commerce e de loja que não tenha um<br />

impacto negativo para as marcas e também<br />

para o consumo”, defende Vítor Peliteiro.<br />

Independentemente da época do ano, o<br />

recrutador considera bastante importante<br />

que existam serviços de apoio ao cliente, de<br />

modo a que o cliente tenha uma forma de<br />

esclarecimento ou de informação adicional,<br />

especialmente nesta fase da pandemia<br />

em que o cliente se torna mais exigente:<br />

“se numa primeira fase da pandemia o<br />

consumidor foi mais tolerante com atrasos de<br />

encomendas e falta de informação sobre as<br />

mesmas, devido às restrições estabelecidas e<br />

também aos ajustes que as empresas fizeram<br />

numa fase inicial, agora a expectativa de<br />

uma experiência que se traduza em 100%<br />

de satisfação é muito maior e a exigência<br />

também está em níveis mais altos”.<br />

esTa preparaçãO exige um<br />

planeamenTO de fOrma a que<br />

TenhamOs desde lOgO perfis<br />

idenTificadOs para enTrada<br />

imediaTa, sOb pena de nãO<br />

cOnseguirmOs respOnder<br />

Vítor Peliteiro


70 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

Neste sentido, considera importante que<br />

as empresas reforcem as suas equipas em<br />

determinadas áreas específicas, de modo a que<br />

o cliente possa ter um contacto disponível,<br />

independentemente da plataforma de<br />

comunicação, e conseguir prestar esse apoio<br />

ao cliente.<br />

Na sequência do confinamento e da<br />

preocupação das pessoas com a sua saúde<br />

e com o cumprimento das regras em vigor,<br />

alerta para o reforço do modelo de entregas,<br />

pois estando confinadas, as pessoas<br />

pretendem receber as suas compras em casa,<br />

ou enviar directamente para casa de alguém<br />

a quem queiram oferecer. “O reforço nesse<br />

comportamento do consumidor vai certamente<br />

impactar toda a área de logística, armazém e<br />

distribuição, sem esquecer ainda os serviços<br />

de apoio ao cliente não presencial como forma<br />

de reforçar as cadeias de abastecimento e<br />

melhorar a experiência dos clientes”, defende<br />

ainda Vítor Peliteiro.<br />

No início de Dezembro, o recrutador conta<br />

que se encontravam a trabalhar a vertente<br />

de atendimento multicanal no sector do<br />

retalho, distribuição e marketplaces, que<br />

pela altura da Black Friday estavam a ganhar<br />

maior relevância, e que antecipavam que se<br />

mantivesse pela altura do Natal.<br />

Era ainda esperado que a época natalícia,<br />

pelo contexto da pandemia, fosse um desafio<br />

fora do normal, o que se verificou de facto.<br />

Já nesta altura, e sem conhecimento ainda<br />

de quais seriam as regras estipuladas para o<br />

Natal, Vítor Peliteiro olhava para os meses<br />

anteriores e considerava que “as medidas que<br />

têm sido adoptadas acabam por condicionar o<br />

volume e os perfis de contratação, assumindo<br />

que uma contracção no consumo se irá<br />

reflectir numa redução na procura do produto<br />

de trabalho temporário”.<br />

Os dados de que dispunham apontavam<br />

para a alteração no tipo de perfis dos recursos<br />

humanos, diminuindo a procura de perfis<br />

direccionados para o retalho, como assistentes<br />

de loja, contrariamente ao verificado nas<br />

vertentes de comércio digital, que estava, e<br />

está, em clara ascensão, e de distribuição.<br />

Para além disso, Vítor Peliteiro explica que<br />

também aumentaram algumas substituições<br />

temporárias devido à quarentena, apoio à<br />

família ou doença.<br />

Estes foram alguns dos impactos que a<br />

pandemia teve, e tal como aos mais diversos<br />

negócios foi necessário que a Randstad<br />

também se adaptasse às necessidades<br />

do mercado. No caso do recrutamento<br />

de pessoas, a Randstad manteve o seu<br />

foco para com a sociedade “de moldar o<br />

mundo do trabalho aproximando a oferta<br />

e a procura no mercado”, através de novas<br />

soluções de Recursos Humanos e fornecendo<br />

valor à sociedade como um todo, explica o<br />

responsável. Como exemplo, refere o anúncio<br />

feito ainda em 2020 de que a Randstad<br />

pretendia contratar 1.000 profissionais até ao<br />

final do ano para diversas áreas, entre elas<br />

apoio ao cliente, (suporte através de linha<br />

telefónica, redes sociais, web-chat, loja e<br />

e-mail), ou o suporte ao e-commerce.<br />

“Temos um serviço para identificar perfis<br />

críticos de empresas para responder às<br />

necessidades de substituição”, comenta Vítor<br />

Peliteiro, sendo que “esta identificação não<br />

tem qualquer custo e funciona como se fosse<br />

um seguro para a empresa, que caso necessite<br />

pode imediatamente pedir a integração<br />

de uma pessoa, não colocando em causa a<br />

continuidade do negócio”.<br />

Outra das acções que a Randstad<br />

desenvolveu, esta para acompanhar os<br />

candidatos que procuram recomeçar ou


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

TemOs um serviçO para idenTificar perfis críTicOs de empresas para<br />

respOnder às necessidades de subsTiTuiçãO<br />

relançar a sua vida activa a nível profissional,<br />

foi a campanha #EverydayHero, que pretende<br />

apoiar de forma gratuita os candidatos através<br />

da partilha de informação, de recomendações<br />

e do esclarecimento de dúvidas, através de<br />

três acções concretas: um grupo de Whatsapp,<br />

um podcast e uma newsletter.<br />

Desenvolveram também a app myRandstad,<br />

que desempenha um papel fundamental no<br />

apoio a quem quer encontrar o trabalho que<br />

mais se ajusta ao seu perfil, e onde a equipa<br />

de especialistas cruza os perfis dos candidatos<br />

e das empresas que se encontram a recrutar.<br />

Os inscritos recebem um alerta através da<br />

aplicação sempre que existir uma vaga que<br />

corresponda ao seu perfil e permite que o<br />

processo de procura e oferta de trabalho se<br />

torne mais ágil, eficaz e seguro.<br />

Por fim, a YouPlan, uma solução tecnológica<br />

“que permite gerir horários com a criação de<br />

escalas para os colaboradores e ainda com a<br />

possibilidade de comunicação, tudo através de<br />

uma forma rápida, simples e intuitiva”, explica<br />

Vítor Peliteiro. “Esta aplicação trata-se de<br />

uma ferramenta única de gestão, que permite<br />

comunicar de forma imediata e a qualquer<br />

hora com os colaboradores, bem como gerir<br />

escalas, planear turnos, propor horas extra e<br />

registos de horas”.<br />

“Tratou-se da resposta à necessidade sentida<br />

por muitas empresas que, devido às medidas<br />

impostas, se viram forçadas a mudarem o<br />

seu plano de funcionamento”, conclui Vítor<br />

Peliteiro.<br />

Se a tendência se mantiver é a próxima<br />

questão do momento, visto que os últimos<br />

meses têm sido completamente inesperados e<br />

os próximos também o serão. Para já resta-nos<br />

observar e analisar, e deste modo procurar<br />

antecipar o melhor possível, tendo sempre um<br />

plano B à mão. Um plano B que pode passar<br />

por recrutar pessoas temporariamente para<br />

responder a momentos inesperados, pois<br />

todos temos um papel na supply chain. •


72<br />

JANEIRO <strong>2021</strong><br />

CARREIRA<br />

Gestão de pessoas<br />

evitAr o<br />

pAndemónio<br />

durAnte A<br />

pAndemiA<br />

Com a generalização do trabalho remoto<br />

nos casos em que tal é possível e para evitar<br />

que passemos da pandemia ao pandemónio<br />

no que à gestão de equipas diz respeito, a<br />

Ordem dos Psicólogos preparou algumas<br />

recomendações, que podem ser úteis a<br />

todos os que têm que à distância gerir as<br />

suas equipas, manter o foco e não perder<br />

coesão.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

Texto: Dora Assis<br />

1. Clarificar papéis, responsabilidades<br />

e expertise na equipa, no momento em<br />

que as equipas são constituídas e antes<br />

de iniciarem o seu trabalho. Esta prática<br />

inclui a clarificação de hábitos ou formas<br />

de trabalho presenciais, estabelecimento<br />

de normas internas de funcionamento<br />

do grupo, atribuição de funções e<br />

responsabilidades e a clarificação das áreas<br />

de expertise para além daquilo que possa<br />

estar explicitamente definido. A realização<br />

desta clarificação reduz o número de erros<br />

cometidos, acelera o processo de tomada<br />

de decisão e melhora a capacidade de<br />

adaptação aos imprevistos que possam<br />

surgir durante o trabalho.<br />

2. Estabelecer objectivos e estratégias<br />

de curto e médio prazo, passíveis de<br />

serem revistas e adaptadas regularmente.<br />

Isto dá à equipa um sentido de direcção<br />

e propósito, reduzindo a incerteza.<br />

Ao mesmo tempo, a flexibilidade dos<br />

objectivos e estratégias definidos a curto<br />

e médio-prazo facilita a modificação dos<br />

mesmos em função da evolução do cenário.<br />

Isto pode contribuir para reduzir o nível de<br />

stress a que as equipas estão expostas e<br />

melhorar a eficácia das mesmas.<br />

3. Estabelecer rotinas regulares de<br />

reflexão durante o período de trabalho,<br />

feitas antes (briefings), durante e depois<br />

(debriefings) de acções ou períodos-chave.<br />

Nestas rotinas, cada membro da equipa<br />

deve procurar partilhar com os restantes<br />

membros o que sentiu e o modo como isso<br />

influenciou o seu trabalho, o que correu<br />

bem no funcionamento da equipa, o que<br />

correu menos bem e pode ser melhorado<br />

no funcionamento da equipa e o que<br />

pretendem fazer a seguir. Esta rotina pode<br />

ser autogerida pela equipa ou coordenada<br />

pelo chefe de equipa. Estas rotinas<br />

aumentam a percepção de controlo que os<br />

membros têm acerca da situação, reforçam<br />

a coesão e a confiança no grupo, reduzem<br />

a ansiedade e aumentam a capacidade de<br />

adaptação aos imprevistos que possam<br />

surgir.


74 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

4. Partilhar ou pedir informação relevante,<br />

de forma objectiva e nos momentos-chave,<br />

contribui para melhorar a coordenação<br />

entre os membros da equipa, reduzir os<br />

erros, melhorar o desempenho e aumentar<br />

a capacidade de adaptação aos imprevistos.<br />

A partilha e os pedidos de informação<br />

podem ser feitos pelos membros da equipa<br />

e pela chefia directa. A equipa pode definir<br />

à partida a quem compete realizar esta<br />

actividade.<br />

Em ambientes relativamente estáveis<br />

e previsíveis, em que a mudança ocorre<br />

a baixo ritmo, este processo pode ser<br />

centralizado na chefia directa por isto<br />

aumentar a eficiência da equipa. No entanto,<br />

em situações de imprevisibilidade, que<br />

requerem maior flexibilidade e capacidade<br />

de improvisação, as equipas beneficiam de<br />

um processo em que todos os membros<br />

estão envolvidos nesta actividade para<br />

garantir que toda a informação relevante<br />

lhes chega e é igualmente partilhada<br />

pelos seus membros. Especialmente para<br />

as equipas cuja comunicação também<br />

é feita através de tecnologia e onde a<br />

troca de informação não seja síncrona,<br />

recomenda-se que o assunto da conversa<br />

seja clarificado tão cedo quanto possível no<br />

início da conversa; a informação considerada<br />

crítica ou vital deve ser repetida durante a<br />

conversa para assegurar que todos recebem<br />

a mensagem relevante, por exemplo,<br />

recapitulando; o conteúdo da conversa deve<br />

ser gravado para facilitar consulta posterior<br />

se necessário. As mensagens escritas são<br />

mais eficazes para a coordenação de tarefas<br />

de rotina, enquanto que as mensagens de<br />

voz são mais eficazes para fortalecer as<br />

relações entre os membros da equipa.<br />

5. Manter os afectos positivos e gerir o<br />

conflito na equipa, através da adopção de<br />

uma atitude cooperante entre todos os<br />

membros da equipa e independente do<br />

estatuto, formação ou lugar hierárquico; do<br />

uso do humor enquanto forma de amenizar<br />

a severidade da situação; a adopção de<br />

comportamentos de suporte emocional<br />

(mostrar empatia) e de tarefa (oferecer<br />

ajuda sem que esta seja solicitada); o<br />

entendimento e clarificação dos diversos<br />

pontos de vista dentro da equipa e a<br />

identificação das características especiais da<br />

equipa, que lhe conferem uma identidade<br />

própria. Este tipo de práticas ajuda a<br />

estabelecer ligações afectivas fortes. De<br />

igual modo, servem como estratégias de<br />

resiliência que ajudam a equipa a lidar<br />

emocionalmente com a severidade do<br />

contexto.


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

6. As chefias directas monitorizarem e<br />

assegurarem a realização das práticas<br />

descritas acima. Na impossibilidade de<br />

a equipa poder parar para realizar os<br />

diferentes exercícios acima descritos,<br />

é sobre as chefias directas que recai a<br />

responsabilidade de assegurar que as<br />

diferentes acções são implementadas.<br />

Desta forma, a chefia directa e cada equipa<br />

poderá contribuir para reduzir a incerteza,<br />

fortalecer a confiança e coesão no grupo<br />

e assegurar os níveis de desempenho<br />

desejados.<br />

Como vê, é possível não quebrar laços<br />

e manter a equipa unida mesmo que<br />

funcionando em home office. Com empenho<br />

e alguma criatividade podem contribuir<br />

para manter as suas pessoas em contacto,<br />

motivadas… mesmo que remotamente. •<br />

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76 JANEIRO <strong>2021</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Rui Miranda<br />

Director de Logística do Grupo Barros & Moreira<br />

loGísticA do futuro:<br />

AutomAtizAr pArA<br />

AcrescentAr vAlor<br />

Vivemos tempos difíceis. A pandemia, sendo inesperada, avassaladora e<br />

implacável não só em termos sanitários, mas também económicos, obriga por<br />

outro lado à necessidade de uma visão optimista, colocando no horizonte e na<br />

nossa mente que podemos mudar para alterar o paradigma na sociedade em<br />

gĤeċrƄalň eċ sƌoŝbürƄeċtƙuơdĄoŝ nœoŝ mőeċiİoŝ pƁrƄoŝfiǟsƌsƌiİoŝnœalň.


SCM Supply Chain Magazine<br />

77<br />

Nesta base, olhando para as empresas nacionais e para a logística em particular, verificamos<br />

que actualmente é ainda considerada como uma área de grande operacionalidade com<br />

múltiplas tarefas, normalmente repetitivas, que oneram a operação, ampliando custos a uma<br />

estrutura já de si robusta. O que podemos fazer para alterar este paradigma?<br />

A operação logística, muitas vezes considerada o motor que faz acontecer aquilo que<br />

anteriormente é estrategicamente planeado, por isso fundamental na cadeia de valor, carece<br />

de um salto importante ao nível do desenvolvimento tecnológico. Sabemos, por exemplo, que<br />

muitas empresas investem na automatização das suas indústrias, mas deixam a logística para<br />

outro plano, negligenciando custos que seriam facilmente controláveis e rebatíveis.<br />

No entanto, acredito que a operação logística também alterará o seu paradigma. Felizmente,<br />

hoje, há já inúmeros exemplos de inovação, automatização e robótica. Várias são as empresas que<br />

investem em desenvolvimento de softwares e alta tecnologia para que a operação seja adequada<br />

ao futuro e possam com isso competir globalmente.<br />

Num futuro próximo, no amanhã, a operação logística terá processos de repetição executados<br />

por máquinas e não operadores, tornando-a mais ágil e dinâmica e com o just-in-time como pilar<br />

básico. Os operadores tornar-se-ão cada vez mais operacionais especializados em conduzir e<br />

garantir que a automatização dentro da logística decorre normalmente, sem limitações de tarefas<br />

ou esgotamento físico. Não significa diminuir emprego, significa acrescentar valor à operação<br />

levando a que tarefas de grande envergadura se tornem rotineiras, ou o tempo consumido na<br />

operação seja cada vez mais diminuto. A automatização imprimirá grande dinâmica, agregando<br />

valor para a empresa e, no final, aumentando a satisfação do cliente.<br />

A logística será no futuro – o amanhã – não só uma operação, como também uma área<br />

estratégica onde o planeamento fará parte do dia-a-dia. Os que melhor e mais rapidamente<br />

se adaptarem a esta realidade e renovarem a sua operação, terão mais e melhores formas de<br />

resistir, por exemplo, em tempos de grande adversidade como os que atravessamos. A logística<br />

acompanhará a indústria e os serviços no seu desenvolvimento estrutural evolutivo para a<br />

inovação e automatização que adicionarão valor à sua operação e por inerência à empresa.<br />

Em futuros artigos, procurarei dar uma perspectiva sobre esta temática da Logística do Futuro,<br />

nomeadamente no que diz respeito às operações repetitivas vs. de criação, à logística partilhada,<br />

aos chamados armazéns high-tech, ao pilar da mobilidade, à automatização como novo<br />

paradigma ou à logística 4.0 e a inteligência artificial. Este contributo visa a melhor compreensão<br />

da importância da actualização neste sector e o que isso pode trazer beneficamente para as<br />

empresas. •


78<br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“A genialidade emergente das colónias de formigas”<br />

Deborah Gordon, 1.2 milhões de visualizações, 2003<br />

As formigas existem há 130 milhões de anos e as suas 13.500 espécies cobrem todos os continentes, excepto<br />

a Antártida. As formigas-vermelhas, que se alimentam de sementes no deserto, formam colónias que atingem<br />

a maturidade ao fim de 5 anos, fixando-se numa população de 10 a 12 mil membros e durando mais 10 a 15<br />

anos, em função do tempo de vida da sua rainha, cuja única função é pôr os ovos a partir dos quais nascem<br />

todas as outras formigas. As fêmeas adultas estéreis dos ovos fertilizados vivem cerca de um ano e são as<br />

trabalhadoras. Quando o tamanho da colmeia estabiliza, uma vez por ano nascem formigas com asas, que<br />

voam para um lugar adequado à construção duma colónia. As fêmeas virgens são então fecundadas pelos<br />

machos, os quais nascem de ovos não fertilizados e morrem logo após cumprirem a sua função. Cada nova<br />

rainha assim formada perde as asas e dá origem a uma nova colónia, começando por alimentar as primeiras<br />

larvas nascidas dos ovos. Estas, ao tornarem-se adultas, passam a tomar conta da sucessiva prole da sua mãe, e<br />

a partir desse momento a rainha nunca mais é vista.<br />

As formigas são consideradas um modelo de<br />

organização social, apesar de funcionarem sem<br />

qualquer tipo de controlo centralizado. Deborah<br />

Gordon investigou em detalhe o processo<br />

de alocação de tarefas nestas condições e a<br />

reacção do conjunto às alterações das condições<br />

externas, sem qualquer forma de planeamento ou<br />

comunicação central.<br />

As formigas-vermelhas trabalhadoras<br />

representam cerca de um quarto do total<br />

da colónia, dividindo-se em quatro grupos:<br />

as forrageiras que procuram comida, as<br />

patrulheiras, as que fazem a manutenção do<br />

ninho e as operárias lixeiras. Em cada momento,<br />

adicionalmente, cerca de metade das formigas da<br />

colónia estão inactivas, dentro do ninho, servindo<br />

de reserva. Em caso de necessidade, todas as<br />

trabalhadoras se podem tornar forrageiras, sendo<br />

as da manutenção substituídas pelas da reserva.<br />

As patrulheiras saem de manhã cedo, antes de<br />

todas as outras, e só pelo facto de regressarem<br />

transmitem a informação de que o exterior<br />

é seguro. Cada formiga comunica com as<br />

outras formigas através do contacto das suas<br />

antenas, tocando-se, ouvindo-se e cheirandose<br />

mutuamente, num processo aleatório e<br />

não previsível, em função da densidade de<br />

indivíduos. Interacções aparentemente caóticas<br />

entre formigas criam assim uma rede de padrões<br />

de interacção que levam a que uma colónia<br />

estabelecida tenha grande previsibilidade e<br />

estabilidade de comportamento, programado<br />

biologicamente. Existe ainda uma outra<br />

capacidade, chamada de recrutamento, em que<br />

um caminho que leva a comida é marcado com<br />

feromonas, sendo este cheiro fortalecido pela<br />

passagem de formigas enquanto há comida, e<br />

enfraquecendo quando esta acaba.<br />

Estes métodos de procura e recuperação<br />

de comida parecem pouco eficientes, contudo<br />

os algoritmos que os representam podem ser<br />

aplicados a modelos computacionais, de redes<br />

neuronais e até de desenvolvimento de células<br />

cancerígenas.<br />

Deborah Gordon é bióloga, e professora no<br />

departamento de Biologia na Universidade de<br />

Stanford. O seu trabalho de campo inclui um estudo<br />

de décadas de colónias de formigas-vermelhas no<br />

deserto do Arizona.


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