A Vacina Encontrou um Oponente à Altura?
Entrevista com a Dra. Cristina Roscoe Vianna acerca da eficiência do vacina frente à nova mutação do corona vírus
Entrevista com a Dra. Cristina Roscoe Vianna acerca da eficiência do vacina frente à nova mutação do corona vírus
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Gabriel Ferreira: Uma mutação do Corona Vírus, vista pela primeira vez no Reino Unido,
afeta diretamente na efetividade da vacina. O que ocorre nesse processo de mutação para
que aconteça essa perda de eficiência?
Cristina Roscoe: As mutações que ocorreram no SARS-CoV-2 parecem estar associadas
há erros de replicação do vírus dentro da célula hospedeira e a infecção por múltiplos vírus
de carga genética distinta. A mutação que tem despertado maior atenção é no gene que
codifica as proteínas “spike”, uma das mais importantes para permitir a entrada do vírus na
célula hospedeira. Como algumas utilizam estas proteínas como antígenos para
desencadear a resposta imune, mutações nos genes que a codificam a proteína spike nas
novas variantes do SARS-CoV-2 podem reduzir a eficácia das vacinas. Ou seja, com as
vacinas atuais o organismo humano produzirá anticorpos contra a antiga proteína spike e
não às mutadas.
Gabriel Ferreira: Desde o início da pandemia criou-se uma polêmica em torno do uso da
máscara. Existem benefícios de se usar máscara na prevenção do COVID-19?
Cristina Roscoe: Na prática isso é incontestável, a máscara é um bloqueio. Por mais que a
partícula viral consiga ultrapassar essa barreira, não significa que ela deixa de existir. Então
aqui mesmo, várias pessoas que eu conheço, pessoas que vivem em uma mesma casa, a
pessoa que estava usando máscara não se infectou, diferente do restante da casa. Quando
pensamos em espirro, tem várias fotos na internet da partícula, da tosse, das gotículas que
caem, então é alguma ignorância as pessoas falarem que a máscara não tem eficiência, ela
perde sua eficiência se ela for mal utilizada, aí sim pode até ser um fator prejudicial. Não se
pode deixar a máscara no queixo, quando é necessário tirar a máscara, o ideal é colocar em
um saquinho plástico para não deixar exposta. Lembrando ainda, que existem os
assintomáticos, nós vemos isso no nosso dia a dia, vários conhecidos que já fizeram o teste
para o COVID e deu positivo e essas pessoas não tiveram sintomas, mas tudo indica que
elas são transmissoras, por um período. Elas apenas conseguiram, com o sistema
imunológico, não deixar o vírus progredir, mas ainda podem ser consideradas transmissoras,
não como um doente é claro, mas vão conseguir transmitir. Com certeza sem o uso da
máscara, tudo estaria pior do que está hoje. Todos os países adotam essa metodologia,
então não é possível que são milhares de pessoas erradas contra alguns lunáticos que estão
corretos.
Gabriel Ferreira: Com o surgimento das mutações, há também o surgimento de dúvidas
sobre como o vírus, que não é considerado por alguns como ser vivo, consegue mudar. Você
pode explicar como se dá esse processo? –
Cristina Roscoe: A mutação é um processo que tem um estímulo, mas ele pode ocorrer ao
acaso. Por exemplo, a radiação UV, que se for colocada diante um vírus ou até de uma
célula, poderá causar mutação. No caso da célula, pode se dar o exemplo do câncer, onde
a célula perde o controle de sua divisão, prejudicando todo o organismo. O vírus, quando
exposto à radiação ou alguns agentes químicos sofrerá mutação, e ele ainda tem um
adicional, pois ele se replica, não faz divisão celular, ele infecta a célula, lança o seu material
genético dentro dela, e os ribossomos dessa célula produzirão as proteínas do vírus. Como
ele é um hospedeiro intracelular obrigatório, as chances de ocorrerem essas mutações
dentro da célula hospedeira é grande, porque pode encapsular o material genético que não
é do vírus junto, incorporando esse material genético ao seu genoma. Existem vírus de RNA,
do tipo Corona, que são integrativos, eles integram ao cromossomo da célula, podendo
pegar um pedaço do DNA humano e incorporar ao seu genoma. É importante ter em mente,
que a mutação nem sempre traz uma vantagem adaptativa, existem mutações que não
trazem nenhum benefício, muito pelo contrário, existem mutações que podem levar a morte
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