Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent
Corita Kent (1918 – 1986) foi uma freira designer, artista, professora e defensora da justiça. Aos 18 anos ingressou na ordem religiosa Imaculado Coração de Maria, inicialmente como professora e logo em seguida passou a chefiar o departamento de arte da instituição de ensino da ordem. Corita utilizou a Pop Art como uma ferramenta de ativismo para promoção da paz e justiça social. Com o desejo de homenagear essa incrível mulher e celebrar sua visão de mundo, criei esse livro não comercial para estudo Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent, contendo artigos e entrevistas sobre sua história de vida e progresso artístico com algumas de suas principais obras.
Corita Kent (1918 – 1986) foi uma freira designer, artista, professora e defensora da justiça. Aos 18 anos ingressou na ordem religiosa Imaculado Coração de Maria, inicialmente como professora e logo em seguida passou a chefiar o departamento de arte da instituição de ensino da ordem.
Corita utilizou a Pop Art como uma ferramenta de ativismo para promoção da paz e justiça social.
Com o desejo de homenagear essa incrível mulher e celebrar sua visão de mundo, criei esse livro não comercial para estudo Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent, contendo artigos e entrevistas sobre sua história de vida e progresso artístico com algumas de suas principais obras.
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1
2 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent 3
“Ame o momento, e a energia desse momento
se espalhará além de todos os limites. ”
CORITA Kent
4 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent 1
Editorial Gustavo Gili, SL
Via Laietana 47, 2°, 08003 Barcelona, Espanha. Tel. (+34) 93 322 81 61
Editora G. Gili Ltda
Av. José Maria de Faria, 470, Sala 103, Lapa de Baixo,
CEP 05038-190, São Paulo-SP, Brasil. Tel. (+55) (11) 3611-2443 GG ®
Tradução: Mateus Scopel.
Design da capa, projeto gráfico: Mateus Scopel.
Diagramação: Mateus Scopel.
Pesquisa e curadoria: Mateus Scopel.
1° edição, 2020.
Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação
desta obra só poder ser realizada com a autorização expressa de seus titulares, salvo
exceção prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum trecho desta obra, seja
por meio de fotocópia, digitalização ou transcrição, entrar em contato com a Editora.
A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das
informações contidas neste livro e não assume qualquer responsabilidade legal em caso
de erros ou omissões.
© da tradução: Mateus Scopel.
© dos textos: Giz Modo; The Art Story; Corita Art; The Oral History.
para a edição em português:
© Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2012
ISBN: 978-3-16-148410-0
www.ggili.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent;
[Tradução dos textos Mateus Scopel].
1. ed. -- São Paulo : Gustavo Gili, 2013.
Importante: As informações, textos e imagens sobre a vida e obra de Corita Kent e informações
sobre a Editora GG foram utilizados apenas para estudo para a faculdade de Design,
como treino para pesquisa, projeto gráfico e diagramação. Nada neste livro será usado para
fins comerciais, nem haverá distribuição do mesmo. Todos os créditos vão para os devidos
proprietários das informações.
Sumário
A freira serigrafista que mudou o rumo da arte moderna 13
Biografia e legado 15
Fragmentos de entrevista com Corita Kent 24
Progresso artístico 37
Obras 45
A freira serigrafista que mudou
o rumo da arte moderna
DURANTE A DÉCADA de 1960, uma mulher chamada
Corita Kent transformou um minúsculo departamento
de arte de uma escola católica de Hollywood em um
centro global de design e gravura. Além disso, ela era amiga
de Buckminister Fuller e contava com a IBM como cliente. Ah
sim, e ela era freira!
O trabalho de Kent foi muito positivo, inspirando-se nas escrituras,
na publicidade e nas ruas de Los Angeles. Suas impressões
continham frases e padrões gráficos que se baseavam em
referências culturais e justapunham alto e baixo, técnicas vistas
no trabalho de artistas contemporâneos de Andy Warhol a
Shepard Fairey.
De 1947 a 1968, ensinou arte na Imaculate Heart School, em
Los Angeles, que se tornou lendária sob sua direção. No curta-
-metragem Become a Microscop, os alunos de Kent falam sobre
como visitaram lavagens de carros e supermercados em busca
de inspiração. A cada primavera, a escola celebrava o Dia de
Maria, um festival da comunidade que apresentava elaborados
trajes e decorações desenhados pelos alunos. Kent também
teve aulas em viagens de campo para conhecer outros designers
e visitou regularmente a casa de Charles e Ray Eames.
A freira serigrafista que mudou o rumo da arte moderna
09
A influência de Kent foi além do mundo da arte e do design.
Ela também fez amizade com outros luminares do mundo
cinematográfico de Los Angeles, como Saul Bass e Alfred
Hitchcock, e se encontrou com o compositor John Cage, a
quem ela citou em suas “regras” para seu departamento de
arte. O coreógrafo Merce Cunningham (e o parceiro de Cage)
aparentemente manteve uma cópia das regras de Kent em
seu estúdio. Buckminister Fuller descreveu sua visita a seu
estúdio de arte como “uma das experiências mais fundamentalmente
inspiradoras da minha vida”.
No final da década de 1960, o trabalho de Kent começou a
mudar, abordando questões como direitos civis e a Guerra do
Vietnã. Isso às vezes não soava bem para os líderes religiosos
da escola, que provavelmente também não gostaram do fato
de ela tocar rock durante as aulas de arte. Seu relacionamento
com a Igreja Católica mudou ainda mais depois que o Vaticano
resistiu a reformas que modernizariam a igreja e dariam mais
liberdade às mulheres. Em 1968, ela deixou a igreja.
Como exemplo de uma freira capaz de estabelecer sua própria
identidade e carreira, Kent recebeu elogios internacionais e
foi destaque na capa da Newsweek. Ela foi contratada para
ilustrar o selo Love para o Serviço Postal dos EUA em 1985.
Kent morreu no ano seguinte em Boston, onde provavelmente
é mais conhecida pelo Rainbow Swash, um mural em um tanque
de gasolina que se tornou um marco local e é considerado
o maior trabalho de arte com direitos autorais do mundo.
O estúdio no Imaculate Heart College ainda existe e foi renomeado
para o Corita Art Center em sua homenagem, recebendo
aulas de arte e exposições de galerias na forma como Kent fazia.
Biografia e legado
NAscida em iowa em 1918, em uma família católica
grande e amorosa e piedosa, Frances Elizabeth Kent
era o quinto de seis filhos. Seu pai era um empresário
em Iowa, mas, desde muito jovem, eles se mudaram para
Vancouver, no Canadá, para ele tentar se dedicar à hotelaria
de seu irmão. Então, em 1923, a família mudou-se novamente
para Hollywood, Califórnia. Não é a área mundialmente famosa
e cheia de estrelas que é hoje; na década de 1920, Hollywood
era uma área promissora, mas bastante tranquila. Ao
longo da vida de Kent, ela viu a cidade mudar drasticamente,
mas em sua infância, ela se lembrou dela como uma parte
despretensiosa de Los Angeles.
Ao longo de sua infância, Kent sempre foi atraída pelo design e
desenho criativo. Ela relembrou “sempre fazendo algo, como
desenhar coisas, bonecas de papel e suas roupas e depois
desenhar”. Kent disse: “Meus pais - especialmente meu pai,
sempre foram muito encorajadores. Eu levei isso com leviandade;
não pensei nisso como algo demais. Mas eu sempre me
interessei. Eu fiz os pôsteres na escola e tudo mais.” Enquanto
ela não pensava muito em seus primeiros talentos, seus pais e
professores pensavam. Seu pai, talvez, viu um talento que ele
desejava ter explorado; Kent disse a um entrevistador: “Bem,
10 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent biografia e legado 11
acho que ele deveria ter sido um poeta. Ele podia tocar piano;
ele era um cara muito divertido. E ele ficou sobrecarregado,
eu acho, por seis filhos. E minha mãe também”. Eu acho que
ela provavelmente era para ser uma pessoa do meu tipo de
vida, que teve a chance de desenvolver suas próprias coisas.
Então, eu acho que ambos eram pessoas que estavam presas
na vida por ter seis filhos ao mesmo tempo, já que era uma
época em que os católicos tinham muito filhos...”
Kent frequentou uma escola primária católica e depois a
Catholic Girls High School, dirigida por freiras do Coração
Imaculado, em Hollywood. Kent lembrou com tristeza que a
abordagem das freiras mais velhas às aulas de arte era fazer
com que os alunos copiassem Mestres Antigos, mas algumas
freiras mais jovens eram professoras apaixonadas e envolventes.
Eles viram um grande potencial em Frances e a incentivaram
a continuar seu treinamento em arte depois que ela se
formou no colegial, em 1936. Para o choque de alguns de seus
amigos da escola, Frances, com 18 anos, declarou sua intenção
de se juntar ao Convento do Imaculado Coração e continuou
estudando na faculdade particular que as irmãs administravam.
Naquele ano, tornou-se freira iniciante e estudante no
Imaculate Heart College.
Educação e primeiros trabalhos
De 1936 a 1941, Kent estudou e viveu na comunidade
Imaculate Heart College, com o nome de Irmã Mary
Corita. Ao longo desses cinco anos, Kent não apenas
estudou arte, mas também treinou como professora de arte e
depois ensinou os alunos após seu primeiro ano. Além do gosto
pelo ensino, ela gostava principalmente da oportunidade
de expandir sua própria arte. Embora se possa imaginar que o
Imaculate Heart College tenha uma reputação de tradicionalismo
e conservadorismo, dada a natureza religiosa da escola,
ela foi de fato dedicada às artes liberais e conhecida como um
viveiro de idéias de vanguarda. Vários membros da faculdade
causaram uma grande impressão nela, incluindo o historiador
de arte Alois Shardt, que havia escapado da Alemanha nazista
e escreveu sobre arte alemã de vanguarda.
Em 1941, Corita se formou com seu diploma de bacharel. Ela
permaneceu na comunidade do convento, mas foi chamada
em 1944 para um posto de professor na Colúmbia Britânica,
Canadá. Quando ela voltou em 1947 para lecionar no Imaculate
Heart, ela também iniciou um mestrado em história da
arte na Universidade do Sul da Califórnia, que concluiu em
1951. No final de seu tempo na USC, ela fez uma aula de gravura,
onde aprendeu mais sobre serigrafia.
Em 1952, apenas um ano após concluir seus estudos, Corita
Kent teve um grande avanço: ganhou o primeiro prêmio tanto
na competição de impressão do Condado de Los Angeles
quanto na Feira Estadual da Califórnia por The Lord Is With
Thee¹. Kent lembrou em uma entrevista que grande parte de
sua educação subsequente e formativa em serigrafia veio de
Maria Sodi de Ramos Martínez, uma gravadora casada com o
muralista Alfredo Ramos Martinez. Também em 1952, Kent
retornou ao Imaculate Heart e assumiu um cargo de professora
em tempo integral no departamento de arte da faculdade;
como apenas um dos dois membros permanentes da equipe.
Sua reputação, como professora e artista, estava crescendo.
PERÍODO MATURO
Em 1954, Corita começou a usar texto em suas impressões.
Seguindo os pôsteres gráficos que ela havia feito em
seus tempos de escola, Corita começou a usar conscientemente
um estilo mais gráfico em seu trabalho, misturando
imagens com o tipo de letra. A historiadora de arte Donna
¹ Obra na pág. 42
12 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent biografia e legado 13
Steele explicou: “Seu trabalho evolui de peças abstratas, figurativas
e religiosas para um ponto em que se torna um texto
inteiramente tipográfico. A palavra se torna a imagem”. Em
meados da década de 1950 e durante toda a sua experimentação,
a sala de aula de Kent se tornou um ímã para artistas de vanguarda,
incluindo o compositor John Cage, o arquiteto Buckminster
Fuller e o designer Charles Eames, que Kent creditou
como sendo um dos seus melhores professores. Ela lembrou:
“De Eames ou de qualquer um de seus trabalhos, aprendemos
a formar distinções e separações desgastadas e a ver novos
relacionamentos - a ver que não há linha onde a arte para e a
vida comece. Ele falou muito sobre conexões”.
Ela também fez uma viagem informativa no final dos anos 50,
com sua colega Mary Madalena, do departamento de arte,
viajando pela Europa e Egito e colecionando arte folclórica
para a coleção do Imaculate Heart College. Tendo experimentado
mais do mundo e diferentes tradições artísticas, ela voltou
depois de vários meses para ver sua própria arte atualizada.
Um dia em 1962, no entanto, mudou sua trajetória; ela foi ver a
exposição inovadora de Andy Warhol de pinturas de latas de
sopa na Galeria Ferus. Ela disse: “Ao voltar para casa, vi tudo
como Andy Warhol”.
Corita viu um espírito afim em Warhol. Ela imediatamente
começou a trabalhar em sua verdadeira primeira gravura pop,
Wonderbread², em 1962. O Wonderbread consiste em doze
formas ovais ligeiramente irregulares em cores primárias vivas,
contra um fundo branco. A obra é uma impressão pop pura;
linhas limpas, cores fortes, formas simplificadas. Somente
o título fornece uma indicação de quais poderiam ser essas
formas ovais; Kent sugere a forma do pão mais maravilhoso,
a hóstia da comunhão usada para representar o corpo de
Cristo no serviço da Comunhão Católica. Posteriormente, seu
trabalho se tornou maior, mais ousado e mais colorido; ela
² Obra na pág. 45
começou a usar uma variedade muito mais ampla e eclética
de material de referência em suas impressões, desde logotipos
publicitários, estética de embalagens, letras dos Beatles, citações
de Albert Camus e Samuel Beckett e versículos da Bíblia.
Ela começou a imprimir de maneira prolífica e barata; seu
trabalho equilibrou os mundos comercial e espiritual para
produzir uma mensagem de esperança e alegria. Ela gostava
de imprimir, pois era acessível a uma grande variedade de
pessoas e explicava: “a arte melhora a vida das pessoas, elas
precisam vê-la e possuí-la”.
Ela começou a se misturar com figuras influentes de Los Angeles,
incluindo cineastas, escritores, professores, acadêmicos
e artistas. Ela visitava regularmente a casa dos Eames para
jantares e dava as boas-vindas ao arquiteto e designer visionário
da cúpula geodésica Buckminster Fuller em seu estúdio.
Corita Kent, agora freira com 40 e poucos anos, tornou-se
uma artista e educadora de arte absolutamente vital e inovadora
em Los Angeles.
Kent havia se tornado chefe do Departamento de Arte do
Coração Imaculado em 1964. Suas salas de aula tornaram-se
ambientes únicos e dinâmicos. A artista Julie Ault explica:
“Vários filmes foram exibidos simultaneamente, música rock
tocada em estéreo e projetos colaborativos em larga escala
geralmente estavam em andamento”. Buckminster Fuller,
descreveu visitar sua sala de aula como “uma das experiências
mais fundamentalmente inspiradoras da minha vida”. Seus
alunos foram levados a supermercados e cruzamentos para
observação de esboços e frequentemente praticavam pintura
de olhos vendados.
Sua influência contracultural foi sentida não apenas no departamento
de arte, mas em toda a faculdade. Kent assumiu o
planejamento da celebração anual do Dia de Maria para a
faculdade. Durante anos, a cerimônia tinha sido a mesma;
as mulheres usavam vestidos brancos e caminhavam em
14 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent biografia e legado 15
procissão para a missa, mas sob sua orientação, em meados
da década de 1960, o festival se tornou mais como um hippie,
com vestidos de verão, flores, pandeiros e violões. No primeiro
ano das novas celebrações, o tema foi a Fome Mundial, e os
alunos da irmã Mary Corita carregaram cartazes em 3D de
embalagens de alimentos explodidas.
Além dessas inovações, Kent continuou com uma programação
de palestras, exposições, ensino e impressão. Em 1967,
a Newsweek a apresentou como “The Nun: Going Modern”.
Dentro da Igreja Católica, no entanto, reclamações contra
sua arte controversa e seus ensinamentos foram construídas
contra ela. Para Kent, a arte era uma ferramenta importante
para modernizar e “sacudir” a Igreja e apresentar as mensagens
cristãs de novas maneiras. No entanto, a arquidiocese
viu seu trabalho como frívolo e potencialmente blasfemo, e o
arcebispo escreveu à Madre Geral do convento reclamando
que ele “havia recebido muitos comentários e críticas adversas
a esse tipo de representação artística...”. Suas cartas furiosas
continuaram, “O que diz respeito à liturgia e à arte sacra está
dentro das minhas jurisdições. Pedimos novamente que as
atividades da irmã Corita sejam confinadas à sua sala de aula.”
Em 1968, exausta pela agenda lotada e pela pressão constante
da Igreja, Corita decidiu tirar um ano sabático em Cape Cod
e decidiu pedir dispensa de seus votos e deixou a Imaculada
Ordem do Coração para sempre. Apenas um ano depois, toda
a ordem deixou o controle oficial da Igreja Católica, após
críticas contínuas aos métodos de ensino das irmãs restantes.
PERÍODO TARDIO E MORTE
Aos 50 anos, Corita se viu morando sozinha pela primeira
vez em sua vida. Ela não sabia dirigir ou cozinhar.
Ela se mudou para Boston e encontrou um apartamento
próprio. Com essa dramática mudança de vida, seu trabalho
se tornou mais radical. Afastada dos censores da Igreja, Kent
começou a expressar com mais força suas opiniões políticas no
turbulento final da década de 1960. Ela disse: “Admiro as pessoas
que marcham. Admiro as pessoas que vão para a cadeia.
Não tenho coragem de fazer isso. Então faço o que posso”. O
que ela pôde fazer foi chamar atenção para questões de fome,
raça, direitos civis, pobreza e violência da agressão militar
americana no Vietnã através de suas impressões digitais. Ela
foi fortemente influenciada pelo padre radical Daniel Berrigan,
que era um pacifista cristão que publicamente fez campanha
contra a guerra no Vietnã.
Depois de uma enxurrada de trabalhos políticos, de 1969 a
princípios dos anos 1970, o trabalho de Kent diminuiu consideravelmente.
Como muitos ativistas da época, ela estava
cansada da luta e disse que “o tempo para derrubar as coisas
fisicamente acabou”. Além disso, sua vida se tornou mais
difícil fisicamente, quando ela foi diagnosticada com câncer
em 1974. Ela reagiu a isso de duas maneiras: concentrando-se
na introspecção pessoal e articulando mensagens em todo o
mundo. Não se concentrando mais em questões particulares,
o trabalho de Kent tornou-se filosófico sobre sua própria vida
e lutas e incorporou mensagens públicas de paz e amor. No final
dos anos 1970 e início dos anos 80, a produção artística de
Kent era principalmente uma mistura de serigrafia em tons
suaves e pequenas aquarelas em tons pastel ou obras públicas
em grande escala, projetadas para adicionar positividade à
vida cotidiana, mas ela não abandonou completamente a ousadia
cores fluorescentes. Por exemplo, ela projetou o agora
famoso selo postal Love para a autoridade postal dos EUA em
1985, que emitiu 700 milhões de selos com o design, e projetou
a enorme obra de arte Rainbow Swash³ para os tanques de
gasolina da Boston Gas Company - a maior obra de arte com
direitos autorais no mundo. O trabalho causou controvérsia
nos anos seguintes, pois foi suposto que continha um perfil
³ Obra na pág. 53
16 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent biografia e legado 17
sutil de Ho Chi Minh como um protesto contra a Guerra do
Vietnã. No entanto, Kent negou isso, dizendo que o design
era simplesmente um arco-íris alegre, um presente da Pop
Art para a cidade de Boston. Quando, em 1992, a Boston Gas
Company derrubou o tanque original, houve uma reação tão
grande que eles imediatamente reproduziram o projeto em
um novo tanque.
Em 1977, Kent foi diagnosticada com câncer pela segunda vez,
mas continuou trabalhando. No entanto, em 1986, o câncer
se espalhou para o fígado. Em setembro de 1986, ela faleceu
aos 67 anos. Deixou seus direitos autorais e obras de arte não
vendidas para a Comunidade Imaculate Heart College, que
fundou o Corita Art Center.
O LEGADO DE CORITA KENT
Em 1980, o Museu de Cordova, em Massachusetts, encenou a
primeira retrospectiva da obra de Kent, chamada simplesmente
“Corita”. No entanto, durante a sua vida, e especialmente
nos vinte anos seguintes à sua morte, o trabalho de Kent
nunca chegou ao mainstream. Sendo uma artista feminina e
uma freira, ela não se encaixava na narrativa estética destacada
e cansada do Pop.
No entanto, desde o início dos anos 2000, o trabalho de Kent
tem sido constantemente reconhecido fora dos pequenos
círculos artísticos de Los Angeles e Boston. As exposições de
seu trabalho aumentaram ano após ano nos Estados Unidos e,
mais recentemente, também no Reino Unido, Austrália, Portugal,
Suíça, Alemanha e França. Durante a última década,
Kent foi reconhecida como uma das artistas pop mais originais
e importantes de seu tempo. Donna Steele, curadora da obra
de Kent, diz que é “tão importante quanto a de Warhol... Ela
fica em pé com o trabalho dos grandes artistas da Pop Art -
pessoas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns, Richard
Hamilton e Peter Blake. É grande e ousado e é do momento.
“Seu trabalho não era apenas divertido, moderno e culturalmente
consciente, era simultaneamente significativo e sincero,
com sua própria mensagem única e democrática. “O que
você recebe é esse banquete visual de textos e mensagens distorcidas
e, quanto mais você olha, mais profundo se dá conta
das mensagens”, diz Steele. “Ela aprendeu os slogans cotidianos
da linguagem e da publicidade - essa era a década de 1960,
e a cultura do consumidor estava explodindo; ela usou palavras
como ‘tomate’, ‘hambúrguer’ e ‘bondade’ e as transformou
em mensagens sobre como vivemos, e sobre humanitarismo
e como cuidamos dos outros”. Uma mensagem importante
é embrulhada em um banquete visual; como Kent explicou,
era “a ideia de que usar palavras com formas visuais e usar
apenas passagens curtas geralmente é uma maneira de ajudar
a despertar as pessoas para algo que elas talvez não estejam
cientes, em vez de incluí-las em um livro ou fazer um discurso”.
A arte e a filosofia de Kent foram profundamente influentes
em seu próprio círculo social, incluindo o designer gráfico e de
pôster Saul Bass. No entanto, seu alcance é sentido de maneira
igualmente forte no trabalho de várias gravadoras, artistas e
designers modernos, incluindo Julie Ault, Mike Kelley e Ciara
Phillips, que sentem uma conexão emocional única com Kent.
Ao contrário de muitos outros artistas pop, ela tinha uma
abordagem refrescante de esperança e compaixão em seu
trabalho que se conecta com as pessoas até hoje.
18 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent biografia e legado 19
alguns anos, porque quando nos mudamos para Los Angeles,
eu ainda não estava pronta para a escola. Então, lembro que já
devia ter quatro ou cinco anos.
[...]
Fragmentos de entrevista
com Corita Kent
Quem entrevistou? Bernard Galm.
Quem foi Entrevistado? Corita Kent.
Quem publicou? UCLA Library.
Quando foi publicado? 1977.
Quem traduziu? Mateus Pasinatto Scopel.
FITA NÚMERO I, LADO UM, 6 DE ABRIL DE 1976
GALM Srta. Kent, nós costumamos começar as entrevistas com
alguns fatos importantes como quando e onde você nasceu.
CORITA Um-hmm. Eu nasci em Fort Dodge, Iowa, em 20 de
novembro de 1918.
GALM Sei pela minha pesquisa que sua família não passou
muito tempo lá.
CORITA Sim, acho que partimos quando eu tinha dezoito
meses e nos mudamos para Vancouver. Ficamos lá por talvez
GALM Quantos membros da família nasceram depois de você?
Quantas crianças?
CORITA Nós éramos seis, eu fui a quinta.
GALM Então sua família se estabeleceu em Vancouver e seu
pai trabalhou no ramo de restaurantes por um tempo. O que o
levou a Hollywood?
CORITA Não sei o que o levou pra lá, exceto que lembro que
viemos de barco [risos]. Mas nós viemos por provavelmente,
uma questão de trabalho. Mas não me lembro o que aconteceu
para trazê-lo aqui. Enquanto isso, os pais de minha mãe se
mudaram para cá. Meu avô, que deve ter sido um homem muito
empreendedor naqueles dias, havia comprado propriedades
em Hollywood. Ele tinha várias unidades que alugou. E então
moramos em um desses. E depois que meu avô e minha avó
morreram, minha mãe conseguiu gerenciar até que ela morreu.
GALM Onde era localizado?
CORITA Era na 6616 De Longpre Avenue.
GALM Bem no coração de Hollywood.
CORITA Bem em Hollywood, sim. Naquela época, havia um
terreno baldio onde agora existem prédios, e do outro lado da
rua estava o De Longpre Park, que costumava ser chamado de
outra coisa. Mas acho que agora está de volta ao De Longpre. E
havia filmes sendo filmados por lá, eu me lembro, de tempos
em tempos. Então estávamos bem perto de Hollywood.
20 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 21
GALM Então quando chegou a hora de ir para a escola, para
onde você foi?
CORITA Eu fui para a escola que ficava a cerca de três ou quatro
quadras de distância, na escola primária católica Santíssimo
Sacramento, que fica no Sunset, e eu fui lá por nove anos.
Naquela época, eles tinham ensino médio. E depois fui para
a Catholic Girls High, que agora é chamada Conaty High, na
rua Pico, que era uma escola para meninas ensinada por diferentes
comunidades de freiras. E quando terminei o ensino
médio, fui para o Otis Art Institute e, em setembro de 1936,
entrei na comunidade no Imaculate Heart.
GALM Como você se decidiu ir para Otis durante o verão?
CORITA Bem, eu sempre me interessei pela arte, desde quando
eu era muito nova.
GALM Quão nova?
CORITA Vamos ver, quão nova? Lembro-me de sempre fazer
coisas, como desenhar, fazer bonecas de papel e suas roupas
e depois desenhar. E tinha duas freiras, especialmente uma,
na sexta série, eu acho, que naquele momento estava fazendo
cursos na UCLA e se interessava bastante pelo meu talento;
e ela me deu as aulas que estava tendo. Então foi realmente
muito divertido. Isso foi depois da escola em particular, e acho
que esse foi o começo real desse tipo de incentivo. Meus pais,
especialmente meu pai sempre foi muito encorajador. O dois
na verdade sempre foram encorajadores. Mas eu não pensava
nisso como algo demais. Mas mesmo assim eu estava sempre
interessada. Eu fazia pôsteres na escola e tudo mais.
[...]
GALM Você sentiu nos anos posteriores que os pôsteres que
você fez foram o começo para os trabalhos que viriam?
CORITA Nunca pensei nisso até você dizer isso. Uh-huh. Não.
Mas a primeira vez que usei palavras em uma imagem foi
provavelmente no início dos anos cinquenta. Comecei logo
depois, quando comecei minhas impressões. Comecei a imprimir
em 1951, e foi nessas primeiras impressões que havia
palavras nelas. Lembro-me de um professor extraordinário
que veio ensinar para nós. Ele era o diretor de pintura do
museu de Berlim, eu acho, e era apenas um - oh, um dos melhores
homens que eu já conheci [...]. Acho que foi ele quem
primeiro - sempre conto ele e Charles Eames como as pessoas
que me educaram. Mesmo na escola, os professores que eu
tinha eram - muitos deles provavelmente esplêndidos, mas
esses dois eram os homens que realmente tinham, acho, a
capacidade de transmitir conceitos, e não uma série de fatos.
[...]
GALM Você tinha alguma aula de caligrafia no ensino médio
ou isso viria depois?
CORITA Não, eu realmente desenvolvi os - quero dizer, os
pôsteres que acabei de fazer sem muita ajuda de ninguém. A
caligrafia real chegou - bem, houve um tempo em que conheci
Martin Oberstein, que é calígrafo, e ele me deu uma aula. Ele
apareceu na escola por alguma coisa e me mostrou como usar
caneta de ponta larga. Então, a partir desse momento, fiquei
sozinha e aprendi como fazer caligrafia, e depois ensinei. Mas,
finalmente, suponho que, ao ver pôsteres e reproduções de
pôsteres, tive ideias de que existem diferentes possibilidades
de usar formas de letras. E eu sempre penso que a letra forma
tantos objetos quanto pessoas, flores ou outros assuntos. Não
penso neles como algo diferente. Penso que uma imagem
com todas as palavras é tanto uma imagem quanto algo com
formas abstratas ou formas reconhecíveis. Acho que tudo
depende do espaçamento e do tipo de totalidade da imagem
que pode ser boa ou não.
22 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 23
GALM Quando você fazia esses pôsteres quando criança, você
gostava de escrevê-los à mão, em vez de usar uma forma ou
letras recortadas?
CORITA Acho que sempre os escrevia à mão, porque essa era
a única maneira disponível para mim, e provavelmente não
tinha pensado em outra maneira de fazê-lo. Também os ilustrava
de vez em quando, por isso não era apenas impressão.
GALM Em que momento você decidiu se tornar freira?
CORITA Logo após o ensino médio.
GALM Portanto, não era algo que sempre...?
CORITA Não. Minha amiga mais íntima ficou totalmente
chocada quando eu disse a ela, durante o verão depois de nos
formarmos, que eu queria me tornar freira. Então era um
segredo bem guardado. Não me lembro de guardar segredo,
mas acho que não falei sobre isso. E ela disse: “Quando você se
decidiu?” E eu disse: “Não sei. Acho que sempre quis ser”.
GALM Alguém da sua família tinha precedido você na ordem?
CORITA Sim, eu tinha uma família católica típica. Eu tinha
um irmão mais velho [Mark], que era padre e uma irmã mais
velha [irmã Ruth], que haviam entrado na mesma comunidade.
Ela foi uma das freiras que me ensinaram na escola primária.
[...]
GALM Quando você decidiu se tornar freira, você se imaginou
se tornando uma professora do ensino fundamental?
CORITA Não, na verdade, sempre é muito engraçado para
mim quando relembro, porque tinha certeza de que não sabia
ensinar. Eu tinha uma estimativa baixa da minha inteligência
e pensei que realmente nunca seria capaz de ensinar. E, no
entanto, essa foi a única coisa que essas freiras faziam.
GALM Você não podia nem ao menos ser uma irmã cozinheira.
CORITA Não, eu não tinha noção suficiente para ser uma irmã
cozinheira [risos]. Quero dizer, eu era muito jovem, e isso
era difícil de imaginar pra mim. De fato, comecei a ensinar
quase assim que entrei, porque de alguma forma sempre fui
escolhida para ser substituta quando precisavam, mesmo
que eu ainda não tivesse chegado ao estágio de ensino. Então,
eu realmente comecei a ensinar de uma forma muito difícil,
porque eu não tinha treinamento e pouca educação na época,
tendo a pouco terminado o ensino médio.
GALM Após isso você se formou na Immaculate Heart?
CORITA Sim, eu consegui meu bacharel lá [...]
GALM Você estava sendo treinada como historiadora de arte
ou algo assim?
CORITA Sim, eu me graduei em história da arte [...].
[...]
GALM Quem te ensinou gravura na USC? Você se lembra?
CORITA Sim, lembro-me dele e estou tentando lembrar do
nome. Acho que era Michael Andrews, mas eu não tenho
certeza. Eu tenho uma memória terrível.
GALM Ele se tornou uma influência pra você, ou é lembrado
apenas pelo ensino das técnicas?
CORITA Não, na verdade não. A pessoa que realmente me
ensinou serigrafia foi a sra. Martinez. Não sei se você conhece
24 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 25
Alfredo Martinez. Ele fazia murais, mas na folga fazia serigrafia,
em jornais, em qualquer coisa. E então, quando ele morreu,
sua viúva decidiu que queria perpetuar o trabalho dele. Então,
ela foi a uma escola de arte, aprendeu a técnica e reproduziu
várias de suas pinturas. Lembro-me que, antes de assistir às
aulas na faculdade, tinha um kit de serigrafia e eu queria
ensinar aos alunos como fazer. Então comecei a experimentar,
e fiz meu primeiro trabalho, um pequeno cartão com caligrafia.
Eu estava usando o processo fotográfico, porque esse era o
processo descrito nesse kit, e me dei muito bem com o desenvolvimento,
a impressão e depois a impressão na tela de seda.
Mas quando se tratava de remover o estêncil da tela de seda,
eu evidentemente não tinha o solvente adequado. Um dia, eu
estava me esfregando nessa tela, tentando descobrir coisas
diferentes, e um dos alunos veio e disse: “Conheço uma senhora
que sabe como fazer trabalhos em serigrafia. Gostaria de conhecê-la?
“ E eu disse: “Claro”. Então ela veio e em uma tarde
me contou tudo o que sabia. Ela me mostrou algumas coisas, e
isso era realmente tudo o que você precisava saber. É um processo
muito simples. E a partir de então, com experimentos e
apenas fazendo aprendi o resto.
[...]
GALM Houve alguém durante esse período, como professora,
de quem você se lembra de ser influenciada?
CORITA Não, na verdade não. Eu acho que o que mais me influenciou
foram as coisas que eu via nas exposições. E mesmo
tendo alguns pintores profissionais na USC, não me lembro de
eles terem sido suficientes para o meu gosto para me influenciar.
[...]
FITA NÚMERO I, LADO DOIS, 6 DE ABRIL DE 1976
[...]
GALM Como você lidou com os primeiros produtos do seu
trabalho? Você tentou encontrar uma galeria?
CORITA Não. A irmã Magdalen Mary, especialmente no começo,
era como uma gerente. Ela combinava os trabalhos, os meus e
os dos alunos, para enviar para exposições. E então recebemos
ou enviamos pedidos para eventos. E muito desse envio e
contato foi feito pela irmã Magdalen Mary. Eu não acho que
fiquei muito animada com isso. Naquela época, eu estava
muito mais preocupada com o ensino, e tudo aquilo sempre
era uma coisa secundária. Então, acho que no último ano em
que estive na faculdade, fiz um projeto - enquanto isso fazia
muito trabalho freelancer, designs de capas para pessoas,
revistas e ilustrações internas, uma coisa e outra - e eu fiz um
projeto para o relatório anual de um hospital no norte. E eles
o imprimiram em serigrafia. Foi um trabalho tão bonito que
perguntei pra eles quem o fez e entrei em contato com esse
Harry Hambly em Santa Clara. Naquele ano, eu preparei as
separações e enviei metade das minhas impressões até ele para
ver como funcionaria. E então, a partir de então, ele fez toda
a minha impressão. Foi um relacionamento maravilhoso,
porque sempre estivemos longe - agora estou mais longe, em
Boston - e ele sempre entendeu o que eu queria. Para que eu
possa enviá-lo - costumo fazer meu trabalho cerca de três
polegadas quadradas, às vezes - e digo: “Amplie isso para um
tamanho ou outro, e faça isso nesta cor, e essa outra nessa
essa cor”. E ele sempre entende ou sabe o suficiente para fazer
as perguntas certas. Então agora tudo depende de eu fazer o
design para eles - ele faz a impressão. Tenho um lote chegando
no final do mês e terei um show.
[...]
GALM Quando você arrumou tempo pra coletar tantas dessas
citações e slogans que tanto fazem parte do seu trabalho?
CORITA Bem, é claro, naqueles dias, eu estava cercada por
26 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 27
pessoas muito letradas. Essa comunidade tinha algumas das
melhores mulheres que você poderia conhecer, e todas eram
pessoas de diferentes campos. Então, às vezes, as pessoas
apontam para mim ou enviam coisas para mim. E eu era - e
ainda sou - uma grande “viradora de páginas”, você sabe, ao invés
de um leitora: folhear um livro e encontrar coisas boas. E
então, às vezes, você acaba encontrando - como a vez em que
a IBM lançou uma revista que tinha uma página de citações, e
às vezes você encontrava uma boa por lá. Então eu acho que as
pessoas que pensam que eu sou uma leitora ávida - eu não leio
tanto quanto parece. Eu só vi a citação em algum lugar.
[...]
GALM Seus alunos influenciaram seu trabalho?
CORITA Eu acho que havia uma grande troca entre nós. Antes
de tudo, víamos as mesmas coisas, porque geralmente íamos
a exposições juntos. Então acho que houve uma grande troca
no que diz respeito ao trabalho da classe, quanto às tarefas
que eu daria a eles e como elas interpretariam essas tarefas.
Acho que provavelmente, por trabalharmos tão juntos, tínhamos
uma maneira muito semelhante de ver as coisas e provavelmente
gostos semelhantes. Tenho certeza de que eles foram...
Bem, acho que foi realmente um tipo de influência mútua, que
muitas vezes eu era estimulada por alguma coisa, como no
caso de uma faixa que eu fiz, que era bastante acidental: eu
estava olhando para o trabalho de um aluno quando eu tive a
ideia.
[...]
GALM Quais foram algumas das tarefas que você deu aos seus
alunos?
CORITA Bem, eu sempre tive, ou desenvolvi mais tarde, acho,
esse negócio de quantidade, com a noção que, se eles tivessem
que fazer muitas coisas, eles simplesmente se aprofundariam,
mesmo eles talvez achando inútil. Considerando que se você
se depara com a necessidade de fazer uma única coisa, tem
grandes expectativas de que deve ser ótimo e se preocupa com
isso. Por outro lado, você obtém muita experiência fazendo
vários e obtém qualidade com a experiência, ao fazer isso
repetidamente. Por exemplo, eu pediria que eles pegassem
um pedaço de papelão com um buraco ou um quadrado no
centro e passassem as páginas das revistas e, quando encontrassem
algo de que gostassem, desenhassem uma linha ao
redor e recortassem. Bem, eu gostaria que eles fizessem 500
de cada vez, e alguns deles eram muito inteligentes. Eles
pegavam apenas uma revista, o cortador de papel e cortavam,
e depois voltavam, vasculhavam e tiravam as que gostavam
[risos]. Por isso, desenvolveram esse tipo maravilhoso de
criatividade para fazer as coisas. Eles pensariam em maneiras
inacreditáveis - e eu sempre disse: se você pode conseguir
alguém para fazer isso por você ou com você ou ajudá-lo, tudo
bem. E dessa forma envolveu outros alunos.
[...]
FITA NÚMERO: II, LADO UM, 13 DE ABRIL DE 1976
[...]
GALM Quando sua consciência social começou? Tenho certeza
de que você sempre teve, mas me refiro em direção a arte.
CORITA Suponho que pessoas como Dan [Berrigan] tenham
muito a ver com isso, porque lembro que ele foi o primeiro
que ouvi falar sobre a Guerra do Vietnã. E isso foi bem no
início. Mal tinha me encontrado em relação ao problema dos
negros e à pobreza, e de repente ele estava dizendo, antes de
ouvir mais alguém que era errado estarmos na guerra. Eu
pensei: “Como ele pode dizer isso?” [risos]. Então, acho que
começou ao conhecer pessoas como ele. E acho que viver com
28 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 29
pessoas que também eram socialmente conscientes ajudou
muito. Tenho certeza de que se eu fosse uma boa dona de casa,
não teria esbarrado em todas essas ideias. E uma vez que você
entende isso, você melhora a percepção e se expandir também.
GALM A guerra pareceu estimular mais a sua consciência do
que, digamos, o movimento pelos direitos civis?
CORITA Não, eu não penso isso. Eu acho que ambos eram problemas
muito reais para nós. Talvez mais na comunidade do que
entre os alunos: acho que realmente se originou na comunidade
e depois, através dos professores, foi filtrada pelos alunos.
[...]
GALM Vamos falar um pouco sobre um trabalho importante
que você teve, que foi o muro do Vatican Pavilion. Você mencionou
na última vez que o convite para fazer isso não veio das
autoridades da igreja.
CORITA O convite não veio de Roma [risos].
GALM Veio de quem?
CORITA Norman Laliberte. Ele era responsável por uma grande
área no primeiro andar. Era uma exposição de dois andares.
Ele foi realmente quem me escreveu e perguntou se eu
faria. Então eu fiz três e escolhi o que eu mais gostei e enviei.
GALM Você fez três de que forma? Em escala ou na íntegra?
CORITA Não, eu fiz três completos porque nunca tinha feito
algo tão grande. Bem, eu tinha feito, eu acho, um outdoor
pequeno. Eu esqueci o que era, até. Mas eu apenas senti que
queria fazer mais de um. De fato, costumo fazer mais de uma
coisa quando trabalho, porque trabalho muito a partir de um
tipo de nível intuitivo; Eu tenho que ser muito livre quando
estou trabalhando, e às vezes você não é livre quando começa.
E então você relaxa em uma ideia, e acho que há uma comunicação
maior entre o que começa no nível do intestino e o que
sai da sua mão. [...]
[...]
FITA NÚMERO: II, LADO DOIS, 13 DE ABRIL DE 1976
[...]
GALM Seus alunos foram capazes de ser eles mesmos como
artistas ou havia uma tendência de virarem outras Coritas?
CORITA Pequenas Coritas. Poucos estudantes foram para as
artes. De fato, costumávamos desencorajá-los contra isso.
Dissemos a eles com muita franqueza, você sabe: “Se você for
para o campo da arte, começará do fundo; fará coisas que sabe
que não quer fazer e que sabe que não é bom. Seria muito melhor
se você conseguisse um emprego digitando ou ensinando ou
fazendo alguma outra coisa e fizesse sua arte de lado até que
chegasse ao ponto que fosse aceitável. E então você pode mudar
para a arte”. E, na maior parte, os melhores se tornaram professores.
E suponho que esse foi um resultado muito natural,
porque eles foram ensinados de maneira a formarem grandes
professores. Eles aprenderam a jogar problemas para os alunos
e deixá-los se abrir sob os problemas, em vez de apenas ensiná-
-los de maneira rotineira. Acho que fizemos alguns professores
espetaculares.
[...]
GALM Quando você entrou no ramo de publicação de livros?
Qual foi o primeiro livro?
CORITA Continuum era uma revista - não sei se ainda existe -
que foi impressa em Chicago, que era uma espécie de revista
30 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent fragmentos de entrevista com corita kent 31
popular teológica, provavelmente não muito popular, mas de
boa qualidade. Estou tentando lembrar o nome do homem que
escreveu e me perguntou se eu faria uma seção para eles que
seria publicada na revista e depois seria publicada como um
livro. E então eles a publicaram em forma de livro. Chamava-se
Footnotes and Headlines.
GALM Então o livro de preces foi a primeira publicação?
CORITA Isso mesmo. Foi o único que eu escrevi, se você quiser
chamar isso escrita. Todos os outros livros foram feitos em
coautoria, alguém escrevia e eu fazia a parte visual.
[...]
GALM A vida na comunidade já foi uma restrição a sua arte?
CORITA Não. Lembro que tínhamos algumas, eram duas pessoas
que pensavam que eram chefes da comunidade que realmente
não gostavam do que estávamos fazendo, não era do
gosto deles. Mas nunca houve qualquer tipo de restrição sobre
isso. E achei muito interessante, porque uma dessas pessoas
[irmã Regina McPartlin] agora está trabalhando em um hospital
e me procurou outro dia para me pedir para projetar três
quartos no hospital. Então, se você esperar o suficiente, as
pessoas mudam de ideia [risos].
[...]
Progresso artístico
1951 - The Lord Is With Thee
The Lord Is With Thee⁴ foi uma das peça mais importante
de Kent depois de se formar no programa de mestrado
da Universidade do Sul da Califórnia. Kent lembrou-se
de seu ano passado na USC “Durante o curso, fiz duas impressões.
E no verão seguinte, olhei para uma delas, e foi tão ruim
que comecei a adicionar cores em cima dela, fazendo uma
gravura completamente nova, que é aquela gravada pendurada
ali chamada The Lord Is With Thee. Tornou-se uma imagem
completamente diferente porque, por baixo, havia uma gravura
da Assunção.”
De muitas maneiras, a composição é tradicional, mostrando
a Virgem Maria com véu e coroada com as mãos levantadas,
cercada por santos, anjos, reis e pastores. Influenciado pela
arte bizantina e medieval, que Kent havia estudado na faculdade,
o estilo bidimensional plano se presta ao processo de
serigrafia. No entanto, de outras maneiras, a impressão está
longe de ser tradicional. A cena é um tumulto de cores fortes,
comemorativas, com linhas irregulares e figuras simplificadas.
O amarelo escaldante se sobrepõe bagunçado com o fundo
azul profundo e detalhes em rosa pastel, enquanto muitas das
32 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent progresso artístico 33
figuras são preenchidas com marrom terra. Pinceladas e gotas
de cor são deixadas visíveis nesta impressão, claramente um
exemplo inicial da influência dos expressionistas abstratos.
Mesmo nesta obra inicial e mais tradicional, a ideia de Kent
de uma celebração da Madonna celestial não coincidiu necessariamente
com o gosto católico mais conservador da década
de 1950 em Los Angeles.
1964 - That They May Have Life (Enriched Bread)
Em 1962, a arte de Kent havia mudado significativamente,
após ter ensinado por muitos anos e viajado para novos
lugares. O mundo tornou-se mais voltado para o consumidor,
e Hollywood foi subitamente engolida por publicidade,
marcas, moda, música e filmes. Com esse contexto cultural
em mente, quando Kent viu o trabalho de Andy Warhol pela
primeira vez em 1962, fez em resposta uma impressão chamada
Wonderbread.
Em 1964, Kent desenvolveu uma idéia, criando uma gravura
chamada That They May Have Life (Enriched Bread)⁴. Kent se
inspirou na embalagem do Wonder Bread, onde notou que
essas mesmas formas circulares eram usadas para decorar
a embalagem. Na reprodução da publicidade, essas formas,
combinadas com a frase “pão enriquecido”, transforma o design
geométrico da embalagem em um símbolo da Eucaristia,
o pão consagrado que os católicos acreditam ser o corpo de
Cristo, que eles consomem na cerimônia de Comunhão, que
comemora a Última Ceia. Aqui, Kent incorpora, ou vê, Cristo
no cotidiano, uma presença real no mundo moderno, mas
a peça também contém um comentário social sobre a fome.
No lado esquerdo, Kent incluiu uma citação da esposa de um
mineiro de Kentucky, falando sobre suas lutas para alimentar
seus cinco filhos famintos. E através dos círculos vermelhos
menores, uma citação de Gandhi: “Há tantas pessoas famintas
que Deus não pode aparecer para elas, exceto na forma de pão”.
1964 - The Juiciest Tomato of All⁵
Em 1964, a irmã Mary Corita se apropriou do rótulo dos
tomates Del Monte, cujo slogan, “Os tomates mais suculentos
de todos”, tornou-se a base para uma impressão.
A tela representa perfeitamente o uso de Corita do que ela
chamaria de “Notas de rodapé e manchetes”. Ela usa o “título”
da palavra “tomate” em letras arrojadas e parecidas com
supermercados, lembrando um anúncio ou logotipo de outdoor.
Uma referência fácil de entender e reconhecível, atrai o espectador
para a composição e, uma vez atraídos, eles encontram
a “nota de rodapé”, a escrita menor e cursiva dentro das letras,
que declara: “Maria Mãe é o tomate mais suculento de todos”.
Talvez seja isso que significa a gíria ‘ela é um pêssego!’ ou ‘que
tomate!’ “Alguns viam essa linguagem - descrevendo a Virgem
Maria como um tomate” suculento “- como sacrílega por causa
de suas conotações sexuais.
Esta “nota de rodapé” ou texto de suporte transforma completamente
o significado do texto da “manchete”. A palavra
“tomate”, em vez de ser uma citação de uma marca de comida,
torna-se algo imbuído do divino. Torna-se uma parte do mundo
cotidiano em que o espiritual pode brilhar de uma maneira
real e incorporada. As novas diretrizes do Vaticano II incluíam
o combate à fome no mundo e Kent recuperou o uso capitalista
da linguagem para promover esse objetivo. Com humor característico,
a irmã Corita apropriou-se da linguagem pop para seus
próprios usos, permitindo-lhe demonstrar como a generosidade,
a bondade e a abundância da Mãe Maria e de Cristo podem
ser encontradas na existência cotidiana moderna.
A irmã Corita escreveu que “de certa forma, todas as palavras
que precisamos estão nos anúncios”. Enquanto seus contem-
⁴ Obra na pág. 45 ⁵ Obra na pág. 46
34 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent progresso artístico 35
porâneos Jasper Johns, Jim Dine, Robert Indiana e Edward
Ruscha também brincavam com a linguagem em suas composições
pop, ninguém a imbuía da espiritualidade de Kent.
Apesar das diferenças de Andy Warhol, ele ficou fascinado
pelo trabalho dela, talvez por causa de seu próprio relacionamento
complicado com o catolicismo. Em 1965, uma Imaculada
Coração Irmã escreveu sobre a exposição anual de inverno da
Irmã Corita: “A abertura está cheia de fãs. Andy Warhol está
lá. Ele ficaria cativado com a ideia de uma freira artista, especialmente
aquela que usa o Wonderbread como um símbolo
para Eucaristia.”
1967 - Jesus Never Fails
Jesus Never Fails⁶ é uma produção típica de Corita Kent
em meados da década de 1960. Naquela época, ela estava
totalmente comprometida com o Pop, mas ainda envolvida
na comunidade do Imaculado Coração. Suas impressões dessa
época sugeriam uma espécie de protesto social contra o desespero
e a desilusão, incentivando a esperança e a ação positiva.
Um arranjo Pop clássico, blocos coloridos dividem o espaço,
da mesma forma que nomes de marcas, logotipos e slogans dividem
outdoors e embalagens. As formas rigidamente controladas
são interrompidas com trechos de frases que cruzam os
limites dos quadrados e, em alguns casos, são escritos em um
ângulo leve. A tipografia é interrompida, rotacionada, invertida
ou cortada, fazendo com que o espectador se concentre
em trabalhar para extrair significado das palavras, um processo
distintamente diferente da passividade da publicidade.
Cada frase apresentada na composição parece desconectada
das outras: do religioso “Jesus nunca falha” e da demanda “DO”,
à inscrição “Não é fácil” e a letra dos Beatles “I get by with a
little help from my friends.” Uma mistura tipicamente eclética
de referências, quando tomadas juntas, deixam o espectador
com uma mensagem simultaneamente vaga, mas distinta:
a vida é difícil e a esperança não é fácil, mas se alguém se comprometer
a viver ativamente, na consciência da presença de
Deus e da amizade, esperança pode ser encontrada. Quando
considerado no contexto da Califórnia de 1967, conhecido pelo
verão do amor, Jesus nunca falha torna-se parte de um apelo
mais amplo ao foco na harmonia e na espiritualidade.
1968 - Let the Sunshine In⁷
Em 1962, o Papa João XXIII formou o Vaticano II, um conselho
de reforma que visava modernizar a Igreja Católica.
O conselho enfatizou o aumento do diálogo com outras
religiões e o uso de linguagem, música e obras de arte vernáculas
(não latinas) na igreja. João XXIII disse que era hora de “abrir
as janelas [da Igreja] e deixar entrar um pouco de ar fresco”.
As freiras (especialmente a irmã Corita) levaram essas mudanças
a sério e tiveram como objetivo formar suas vidas, comunidade
e arte em torno desse novo e moderno catolicismo. No entanto,
embora essas mudanças sísmicas tenham sido discutidas em
Roma, muitos líderes na América não receberam bem as novas
diretrizes. O arcebispo de Los Angeles, cardeal James Francis
McIntyre, foi altamente conservador e objetou fortemente ao
que ele descreveu como a arte “estranha e sinistra” de Corita.
Mostrando uma imagem granulada e amarela do Papa João
XXIII, a impressão foi acompanhada do texto “Let the sunshine
in”. A combinação de texto e imagem apela aos líderes da
Igreja Católica para permitir o prometido “ar fresco” e sol,
aceitando novas ideias e atitudes.
Para acrescentar ao chamado revolucionário da Igreja na
impressão, a irmã Corita citou Arthur Waskow, o rabino
⁶ Obra na pág. 46
⁷ Obra na pág. 47
36 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent progresso artístico 37
revolucionário ligado ao Movimento de Renovação Judaico
da época: “A Revolução criativa - para pegar um pedaço do
futuro imaginado e colocá-lo no presente - seguir esse pedaço
do futuro e vivê-lo no presente”. Ela incita os católicos americanos,
sugerindo que se figuras como Waskow conseguiram
modernizar o judaísmo, por que não o catolicismo? No entanto, é
provável que a gravura de 1968 da irmã Corita Let the Sunshine
In tenha sido a gota d’água para o cardeal. Depois de um período
sabático, no final do ano, a desaprovação do arcebispo
foi demais para Corita, e ela deixou oficialmente o Imaculate
Heart College e a vida de freira para sempre.
1969 - Manflowers
Em 1969, duas mudanças importantes afetaram as telas
de Corita Kent; ela foi libertada da censura ou pressão
que estava sofrendo como freira formalmente servindo
a Igreja Católica, e estava claro que o verão do amor havia
terminado definitivamente. Os gentis apelos à paz e ao amor
deram lugar a protestos raivosos devido a massa de inquietação
política nos EUA, mais à força, em indignação com o contínuo
envolvimento americano na Guerra do Vietnã e nos tumultos
após o assassinato de Martin Luther King, Jr.
Durante esse período, Kent produziu uma série de gravuras,
intitulada Heroes and Sheroes. Uma das gravuras, Moonflowers⁸,
aborda a ocasião do primeiro homem na lua, mas Manflowers
assume as baixas da Guerra do Vietnã. Uma imagem amarela
e roxa intensa cobre a composição, mostrando dois jovens
soldados americanos feridos. Um soldado se agacha na lama,
tendendo para outro com bandagens enquanto ele deita de
costas. Sob a imagem, Kent imprimiu duas frases: “Man Pow-
-er!” e “Where have all the flowers gone?” A segunda frase é da
canção: “Where have all the flowers gone?” escrito pelo músico
folk Peter Seeger. A música lamenta a perda de jovens alegres
por meio da guerra e questiona se algum dia aprenderemos a
paz com as mortes causadas pela guerra. A frase “Man Power”
é desarticulada e destruída; em vez disso, esses jovens vulneráveis
agora são Manflowers, enraizados na lama dos campos
de batalha que tantos lutaram e morreram.
1977 - Life is a Succession, from Moments Suite
Em meados da década de 1970, Kent estava chegando aos
sessenta e sofrendo com seu primeiro diagnóstico de câncer.
Afastando-se de protestos estritos e temas políticos,
seu trabalho tornou-se mais introspectivo e filosófico sobre seu
próprio tempo na terra, explorando novos modos de espiritualidade
e tornando-se mais consciente do ambiente natural. Em
1977, ela e sua querida amiga, irmã Mary Catherine, estavam
sofrendo de câncer; Mary Catherine morreu dois anos depois,
em 1979.
Depois de todo o seu foco no mundo comercial e político em
ritmo acelerado, essas impressões tardias revelavam as coisas
mais simples e silenciosas. Pequenas flores simplificadas em
cores brilhantes cruzam traços abstratos de tons pastel e enquadram
os pensamentos discretos, mas comoventes, escritos na
minúscula letra cursiva de Kent. A artista Julie Ault explica:
“A caligrafia - da Corita - tornou-se tão reconhecível na década
de 1960 que uma empresa de tipografia a produziu como uma
folha de transferência de tipo. A fonte Corita foi usada como
um modelo tipográfico para colocar versículos da Bíblia em
pôsteres de igrejas”.
Life is a Succession⁹ encapsula completamente o espírito dessas
peças tardias. Listras alaranjadas, azuis e amarelas são cobertas
com flores pintadas de forma simples e folhas delicadas. No
plano amarelo, lemos: “A vida é uma sucessão de momentos.
Viver cada um é ter sucesso”. Uma mensagem de sabedoria
⁸ Obra na pág. 51 ⁹ Obra na pág. 54
38 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent progresso artístico 39
universal, mas ao mesmo tempo pessoal, encoraja o leitor a
ter esperança, fé e alegria em todos os momentos de sua existência,
pois cada um é uma bênção em si. Mesmo nos últimos
anos da vida de Corita Kent, como disse um crítico, ao lado
de suas realizações na arte de protesto e na estética pop seu
trabalho envia uma mensagem de esperança e amor”.
Obras
40 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 41
seat of wisdom,
1952
the lord is with thee,
1952
gloria,
1960
as a cedar of lebanon
1953
42 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 43
plan of his heart
1960
wonderbread
1962
that they may have life (enriched bread)
1964
pigeons on the grass, alas
1961
44 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 45
The Juiciest
Tomato of All
1967
LET THE SUN SHINE IN
1968
jesus never fails
1967
46 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 47
c capital clown
1968
o greatest
show of worth
1968
r rosey runnerS
1968
i i am coming alive
1968
t the tight rope
1968
a i love that one
1968
48 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 49
GREENS FINGERS
1969
manflowers
1969
50 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 51
a small brown bird
1969
within us
1972
RAINBOW SWASH
1971
52 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 53
Life is a Succession, from Moments Suite
1972
yes #3
1979
54 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent obras 55
Corita kent
1918 - 1986
56 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent 57
Referências
Corita Kent: How a Screenprinting Nun Changed the Course
of Modern Art
https://gizmodo.com/how-a-screenprinting-nun-changed-the-course-of-modern-a-1412576274
Corita Kent - Biography and Legacy
https://www.theartstory.org/artist/kent-corita/life-and-legacy/#nav
Corita Kent Artworks
https://www.theartstory.org/artist/kent-corita/artworks/
Interview of Corita Kent
http://oralhistory.library.ucla.edu/viewItem.do?ark=21198/zz0008z9kb&title=Kent,%20Corita
The Corita Collection
https://corita.org/collection
58 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent referências 59
Esse livro teve seu projeto gráfico e diagramação feito por Mateus Scopel. Sua impressão
e acabamento foram feitos na gráfica Geográfica em São Paulo.
A fonte de texto e fólios é a Literata, uma fonte com serifas projetada pela TypeTogether
para o Google.
A fonte usada para a capa e os títulos de capítulos é a Gotham, uma fonte sem serifa
projetada pelos designers Tobias Frere-Jones e Jesse Ragan.
O papel utilizado até a página 40 é o Polén Soft 80g/m², feito pela Cia. Suzano, São Paulo.
Para o restante do livro foi utilizado o papel couché 90 g/m².
A marca FSC® é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação
do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas
de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente
viável, além de outras fontes de origem controlada.
60 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent 61
62 Uma viagem pela vida e obra de Corita Kent 63