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O Claustro

Edição Mensal d'O Claustro, dezembro de 2020

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O CLAUSTRO

DEZEMBRO

JORNAL EDIÇÃO Nº 1

PROJETOS

investigação

ESTUDOS

entrevista

fpceuc doutoramento fpceuc

pilar simões

TEACHMI- Teacher Preparation For

Migration School Inclusion

Investigação Proaction Lab.

Perspetiva do técnico superior de

educação Ricardo Almeida

O consórcio de investigação internacional

do burnout parental: o IIBP

Experiência emocional das mulheres

portuguesas no período pós-parto

Médica e autora do livro "1 minuto e

36 segundos".


jornal

O Claustro

DESTAQUES

04

projetos da faculdade

Doutor António Gomes Ferreira

Os/as estudantes encontram necessariamente possibilidades de se

confrontarem com uma produção científica de qualidade e de poderem

usufruir de oportunidades de investigação inserindo-se em projetos dos/as

docentes dos seus cursos.

06

Investigação proaction lab

Doutor Jorge Almeida e Daniel Ribeiro

Este é um projeto procura estudar de que forma a informação no nosso cérebro

está organizada, nomeadamente se está estruturada topograficamente, ou seja,

como se de um mapa de tratasse, um mapa do cérebro.

08

O consórcio de investigação internacional

do burnout parental: o IIBP

Professora Maria Filomena Gaspar

O burnout parental é uma condição de saúde mental caracterizada por um estado de

exaustão e um sentimento de saturação relacionados com o papel parental, com

perda de prazer em estar com os filhos e distanciamento emocional destes,

contrastando estes sentimentos e estados com os que existiam antes.

12

Experiência emocional das mulheres

portuguesas no período pós-parto

Ana Fonseca, Mariana Branquinho, Bárbara Rodrigues

Este estudo surgiu da vontade de conhecer melhor determinados aspetos sobre a

sintomatologia depressiva no período pós-parto, o que irá permitir desenvolver

novas intervenções psicológicas, que sejam mais específicas e que incluam novos formatos.


jornal

O Claustro

DESTAQUES

14

projetos de investigação em doutoramento

Doutorando Ricardo Almeida

A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) recebe anualmente milhares

de candidaturas a bolsas de doutoramento, sendo a instituição que mais

bolsas de doutoramento financia.

16

TEACHmi- TEACHER PREPARATION FOR

MIGRATION SCHOOL INCLUSION

Professora Clara Santos

O Projeto Teachmi visa construir ferramentas eficazes, material didáctico e

directrizes não só para professores com turmas multiculturais, mas também para

líderes escolares e partes interessadas, a fim de facilitar a integração de estudantes

com origem migrante nas escolas, tornando o ambiente escolar mais inclusivo.

20

entrevista a pilar burillo simões

Pilar Burillo Simões

Tudo o que são experiências profissionais, em teoria, tornam-te num melhor

profissional. Do ponto de vista pessoal, acho que das experiências profissionais,

nós também retiramos competências para o futuro, aquelas competências

transversais que não aparecem nos livros e que raramente abordamos mas que

acabam por ser relevantes para o resto da nossa vida.

22

"(ECO)-imbra: Inovar na Tradição"

Texto Vencedor "Coimbra aos teus Olhos"

Desenho Vencedor "Coimbra aos teus Olhos"


jornal

O Claustro

04

projetos da faculdade

A Faculdade de Psicologia e de Ciências

da Educação está a comemorar os seus

40 anos mas é resultado de

desenvolvimento da investigação e do

ensino nas áreas da Psicologia e das

Ciências da Educação com início na

segunda década do século XX.

De facto, as suas origens estão no Laboratório de Psicologia Experimental e na

Escola Normal Superior da Universidade de Coimbra, onde ensinou Augusto

Joaquim Alves dos Santos (1866-1924), precisamente, o primeiro diretor do

referido Laboratório e pessoa que procurou contribuir para a construção de um

conhecimento científico-experimental sobre a criança, a pedologia, que muito

influenciaria a psicologia do desenvolvimento e a pedagogia na primeira metade

do século XX. Mas outros nomes merecem especial realce neste percurso do

ensino e da investigação em Psicologia e em educação, agora no âmbito do Curso

de Ciências Pedagógicas: Sílvio Lima, arrojado pensador que tão bem soube

contrariar psicologias determinísticas e lineares, e Emile Planchard, pedagogo

muito ativo na defesa dos métodos científicos provindos da pedagogia

experimental.


05

jornal

O Claustro

A investigação constitui, de facto, um dos pilares fundamentais da FPCEUC e, por

isso, tem merecido uma especial atenção nos últimos anos, o que se tem

traduzido numa maior produção científica, num maior envolvimento dos seus

investigadores em projetos de investigação e em maior articulação com

diferentes parceiros nacionais e internacionais. O sustentado aumento do

número de trabalhos publicados em reconhecidas revistas científicas, vem

contribuindo para posicionar bem a Faculdade em vários rankings internacionais

com destaque para o prestigiado ARWU Shanghai Ranking. A FPCEUC reúne as

condições necessárias a uma investigação cada vez mais consistente pois dispõe

das estruturas fundamentais para tal, como um Centro de investigação com uma

avaliação externa de excelente (CINEICC) e vários Laboratórios, que vêm

contribuindo, de forma decisiva, para reafirmar a aposta numa investigação

alinhada com as tendências internacionais.

Sublinhe-se que só o Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção

Cognitivo-Comportamental da FPCEUC tem um elevado número de

investigadores contratados. Atualmente estão ativos algumas dezenas de

projetos de investigação financiados, uns com financiamento nacional através da

FCT; outros, com financiamento nacional através de empresas, indústria e fontes

privadas nacionais; outros, ainda, com financiamento internacional através da

Comissão Europeia e projetos financiados por empresas, indústria e fontes

privadas internacionais. Em 2020 foram já aprovados novos projetos financiados

através da iniciativa Research 4 Covid-19 e Research 4 Covid-19 2ª edição. Não é

de mais realçar que se encontra em curso uma ERC, atribuída ao Prof. Jorge

Almeida, intitulada ContentMap, a primeira em Portugal na área da Psicologia e a

primeira na UC. Em face deste dinamismo, os/as estudantes encontram

necessariamente possibilidades de se confrontarem com uma produção científica

de qualidade e de poderem usufruir de oportunidades de investigação inserindose

em projetos dos/as docentes dos seus cursos. Claro, é preciso que falem com

os/as professores/as, que procurem conhecer os projetos de investigação em

curso na FPCEUC, que se informem com os/as coordenadores/as dos ciclos de

estudo que frequentam, porque a oportunidade para a investigação está aí para

estudantes que a queiram aproveitar para aprenderem mais e estarem mais

conscientes do que é conhecimento científico.

Doutor António Gomes Ferreira


jornal

O Claustro

06

proaction lab

O laboratório de Perceção e Reconhecimento de Objetos e Ações, mais conhecido

como Proaction Lab, é um grupo de investigação da Faculdade de Psicologia e de

Ciências da Educação liderado pelo Professor Jorge Almeida. Foi fundado em

2013, com um restrito número de investigadores, e ao longo dos tempos foi

crescendo consideravelmente. E 2019 conquistou uma subvenção do Conselho

Europeu de Investigação (ERC), a entidade europeia que financia a investigação

científica de excelência. Essa ideia, a que hoje chamamos de ContentMap, valeu

1.8 milhões de euros ao Professor Jorge Almeida e à Universidade de Coimbra,

que viu a 9 de julho de 2018 conquistado o primeiro projeto ERC na área da

Psicologia em Portugal.

Desde então, e graças a este financiamento, o Proaction Lab continuou cresceu.

Fez crescer a sua equipa com investigadores de vários pontos do planeta, com

habilidades variadas (psicólogos, engenheiros, físicos, etc.). Apostou na gestão e

comunicação de ciência ao acrescentar à equipa dois elementos especializados

nestas funções com o objetivo de alavancar novos projetos e comunicar a

investigação para o exterior. Com a equipa a crescer, tornou-se imperativo

conseguir um novo espaço e no dia 25 de junho de 2019, o laboratório

inaugurava o seu novo espaço no Colégio de Jesus, junto às instalações do Museu

da Ciência. Além do espaço foi necessário dotar a equipa de material para

começar a trabalhar no grande projeto.

Mas o que é, afinal, o ContentMap? Este é um projeto procura estudar de que

forma a informação no nosso cérebro está organizada, nomeadamente se está

estruturada topograficamente, ou seja, como se de um mapa de tratasse, um

mapa do cérebro. Sabe-se que o ser humano é muito rápido a reconhecer o que

se encontra ao seu redor, tão rápido que nos parece instantâneo. Quanto tempo

demora a identificar que um copo é um copo? Ou que uma tesoura é uma

tesoura? A equipa do Proaction Lab pensa que esta organização topográfica da

informação no cérebro pode estar relacionada com a rapidez com que é possível

identificar objetos no quotidiano.


07

jornal

O Claustro

Este tipo de organização pode ser encontrado, por

exemplo, no córtex auditivo, onde sons com frequências

semelhantes são processados em zonas mais próximas do

córtex do que sons com frequências diferentes, o que

resulta numa organização em gradiente de frequências.

Será que o mesmo acontece com objetos manipuláveis?

Responder a esta questão não é simples. Aliás, qualquer

projeto financiado pelo Conselho Europeu de Investigação

será, à partida, um projeto inovador capaz de catapultar a

investigação científica na sua área. No entanto, não é nada

fácil fazê-lo. Para o fazer, o laboratório funciona com vários

pequenos projetos que vão trazer alguma nova informação

ao ContentMap. Atualmente o laboratório pode contar com

investigadores em várias fases da carreira científica e são

também várias as técnicas que utilizam nos seus estudos.

A imagem por ressonância magnética funcional é uma das

mais utilizadas uma vez que permite uma boa resolução

espacial (mas não temporal) do cérebro. Através da

ressonância magnética funcional, os investigadores

conseguem perceber quais são as regiões do cérebro onde

existe uma maior ativação quando o participante é exposto

a um determinado estímulo. Por outro lado, a

eletroencefalografia (EEG) permite uma boa resolução

temporal (e não espacial). Existem ainda as experiências

comportamentais (geralmente realizadas em computador),

técnicas de neuromodulação, eye tracking, motion tracking,

entre outras.

Independentemente da técnica, o Proaction Lab necessita

fundamentalmente de pessoas. Por um lado, de

participantes para as suas experiências e que os ajudem a

compreender melhor como o nosso cérebro funciona e, por

outro, o entusiamo e a dedicação daqueles que querem

desvendar connosco os mistérios do cérebro.

peça escrita pelo Comunicador de Ciência

Daniel Ribeiro e pelo doutor jorge almeida


jornal

O Claustro

08

O consórcio de

investigação

internacional

do burnout

parental: o IIBP

O burnout parental é uma condição de saúde mental caracterizada por um

estado de exaustão e um sentimento de saturação relacionados com o papel

parental, com perda de prazer em estar com os filhos e distanciamento

emocional destes, contrastando estes sentimentos e estados com os que

existiam antes. Surge quando há um «desequilíbrio entre as “exigências” que se

colocam ao exercício do papel parental e os “recursos” que coexistem para lidar

com elas ((Roskam, Brianda, & Mikolajczak, 2018).

Com o objetivo de investigar esta condição foi constituído um consórcio de 40

países (IIBP: Internacional Investigation of Parental Burnout) liderado pela

Universidade de Louvain, na Bélgica

(https://www.burnoutparental.com/international-consortium). Em Portugal fazem

parte deste consórcio as Universidades de Coimbra e do Porto. Em Coimbra é

coordenado por Maria Filomena Gaspar, professora associada da Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação e investigadora do Centro de Estudos

Sociais, também da Universidade de Coimbra, e do Laboratório Colaborativo

ProChild.


09

jornal

O Claustro

Este consórcio conduziu dois grandes estudos: um em 2018 e outro em 2020

(durante o confinamento na crise pandémica; através de um questionário online

aplicado durante o período de confinamento, entre 30 de abril e 20 de maio).

Em Portugal da amostra do Estudo 1 fizeram parte 406 sujeitos (50.5% dos quais

mães), e do Estudo 2 589 (80.8% mães) com pelo menos um(a) filho(a) a viver em

casa.

De acordo com os resultados, quer do Estudo 1, quer do Estudo 2, as mães

relatam mais burnout que os pais, o que se explica pelo facto de em Portugal

uma grande maioria continuar a ser a principal cuidadora das crianças e

responsável pelas tarefas domésticas.

Entre os dois momentos os pais homens aumentaram mais que as mães (embora

ambos tenham aumentado) os níveis de stresse relacionados com a exaustão,

enquanto nas mães houve um decréscimo mais acentuado que nos pais nos

níveis de stresse relacionados com a saturação com o papel parental (embora

ambos tenham reduzido).

professora maria filomena gaspar


jornal

O Claustro

10

O aumento da exaustão durante o

confinamento pode explicar-se pela

circunscrição à habitação, o

encerramento das creches, jardins-deinfância

e escolas, o teletrabalho e o

isolamento social.

19% dos pais e 31% das mães, no Estudo

2, afirmaram que o confinamento à

habitação e o isolamento social

causaram um aumento dos sintomas de

burnout parental, com impacto negativo

nos seus comportamentos em relação

aos filhos, relatando mais práticas

educativas negativas, como, por

exemplo, dar palmadas e dizer coisas

aos filhos que depois se arrependem, e

de desligamento - por exemplo, não dar

atenção e prestar cuidados quando

acham que o deviam fazer.

No sentido oposto, 27% das mães e 19%

dos pais encararam esta fase como uma

oportunidade para aumentar a

qualidade da sua parentalidade e da

relação com os filhos, acompanhada de

redução do burnout relacionado com o

exercício da parentalidade.

professora maria filomena gaspar


11

jornal

O Claustro

Entre os maiores desafios enfrentados

pelos investigadores na recolha da

amostra no Estudo 2 encontram-se a

dificuldade de motivar e envolver mães

e pais que não têm literacia digital para

responder a um questionário numa

plataforma, o que resultou numa

amostra com escolaridade superior e

não representativa da população

portuguesa. Outra desafio foi a

dificuldade de obter respostas de

homens, com as mães a aderirem mais,

o que já é habitual em estudos sobre a

parentalidade.

Os alunos da Faculdade de Psicologia e

de Ciências da Educação podem

participar em futuros estudos no âmbito

deste Consórcio através da inscrição na

unidade curricular de “projeto de

investigação” ao nível dos cursos do 2º

ciclo, como disciplina de opção. Os dos

1º ciclos podem colaborar na

organização de congressos e outros

iniciativas que venham a decorrer.

professora maria filomena gaspar


jornal

O Claustro

12

Experiência

emocional das

mulheres

portuguesas no

período pós-parto

A gravidez e a maternidade são normalmente conhecidos como períodos de

prosperidade e sentimentos positivos na vida da mulher No entanto, a transição

para a maternidade é um período pautado por diversas mudanças significativas

para a mulher em todos os seus domínios de vida. Efetivamente, os desafios e

exigências inerentes a esta fase podem funcionar como um fator precipitante

para o aparecimento (ou reaparecimento) de doenças do foro mental entre as

quais a depressão pós-parto, que pode afetar cerca de 10 a 15% das mulheres.

Neste sentido, um grupo de investigadores do grupo de investigação Relações,

Desenvolvimento & Saúde do CINEICC (Centro de Investigação em

Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental) da Faculdade de

Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, teve a ideia de

desenvolver um estudo para avaliar e caraterizar a experiência emocional das

mulheres portuguesas no período pós-parto.

Em particular, este estudo tem os seguintes objetivos: avaliar e caraterizar os

diferentes tipos de sintomas depressivos no período pós-parto; avaliar a

aceitabilidade de intervenções com componentes online para a depressão pósparto;

e avaliar a influência da solidão e da importância percebida para os outros

na sintomatologia depressiva.


13

jornal

O Claustro

Este estudo surgiu da vontade de conhecer melhor determinados aspetos sobre

a sintomatologia depressiva no período pós-parto, o que irá permitir desenvolver

novas intervenções psicológicas, que sejam mais específicas e que incluam novos

formatos.

Podem participar todas as mulheres portuguesas, com idade igual ou superior a

18 anos, e que tenham sido mães nos últimos 12 meses.

A recolha da amostra realiza-se de forma online, através do preenchimento de

um questionário de autorresposta, ao qual podem aceder através da nossa

página do facebook – Experiência emocional das mulheres portuguesas no

período pós-parto – ou instagram (@expemocional.posparto).

peça escrita Por Ana Fonseca, Investigadora do CINEICC,

Mariana Branquinho, Aluna de Doutoramento CINEICC e

por Bárbara Rodrigues, ALUNA DO MIP


jornal

O Claustro

14

projetos de

investigação em

doutoramento

Qual o processo de criação e desenvolvimento dos projetos de investigação?

A FPCEUC oferece um leque de opções vasto para a realização de projetos de

doutoramento. O processo inicia com a escolha da tipologia e estrutura do plano

de estudos, que poderá ser realizado com curso, frequentando durante o

primeiro ano diferentes unidades curriculares, durante as quais é criado e

estruturado o projeto de doutoramento a ser desenvolvido nos anos seguintes;

ou sem curso. Neste último caso, o processo de candidatura a doutoramento

obedece a diferentes requisitos. O primeiro, a aceitação por parte de um/a

orientador/a, professor/a da FPCEUC. Esta procura poderá ser realizada por

meios próprios, ou através do preenchimento de um formulário disponível no

site da FPCEUC (https://www.fpce.uc.pt/semcurso/). Após a atribuição de um

orientador/a, o aluno deve proceder a candidatura a esta modalidade, que

requer aprovação do Conselho Científico da FPCEUC (dependendo do projeto

apresentado poderá ainda carecer de aprovação pelo Conselho de Ética da

FPCEUC). Durante a fase de candidatura é desenvolvido em pormenor o projeto

de dissertação, partindo da questão de investigação (o que pretende provar), até

à metodologia de investigação (plano de investigação, metas, definição da

amostra, instrumentos, entre outros).

Como funciona a candidatura bolsas de investigação em doutoramento e

quais as suas mais valias?

Após aprovação do projeto pela unidade de acolhimento, o candidato poderá

decidir candidatar-se a bolsa de investigação.


15

jornal

O Claustro

A Fundação para a Ciência e Tecnologia

(FCT) recebe anualmente milhares de

candidaturas a bolsas de doutoramento,

sendo a instituição que mais bolsas de

doutoramento financia. Porém, existem

outras opções público-privadas, que

poderão esporadicamente apoiar os

estudantes neste ciclo de estudos,

sendo, por norma, apoios muito

específicos a determinadas áreas. Caso

não receba aprovação poderá sempre

avançar com fundos próprios, tal como

noutros ciclos de estudo.

Que conselho pode deixar aos

estudantes e futuros investigadores?

A opção por frequentar o terceiro ciclo

de estudos (com vários anos), criar um

projeto de doutoramento, ultrapassar

um processo demoroso com

persistência e resiliência, é uma decisão

que não deve ser tomada de ânimo leve.

É para mim uma enorme vontade

pessoal, uma conquista académica e

profissional, partilhada por muitos

estudantes, que sentem ou sentiram a

necessidade de continuar a persecução

dos seus estudos para o nível seguinte,

independentemente dos obstáculos ou

dificuldades. Esse é o meu conselho

para todos/as aqueles/as que pensam

em avançar, que o façam, com coragem,

sabendo que o caminho é de muito

trabalho, demoroso, mas também de

uma realização imensa.

Doutorando Ricardo Almeida


jornal

O Claustro

16

TEACHmi- TEACHER

PREPARATION FOR

MIGRATION SCHOOL

INCLUSION

O projeto TEACHmi – “Teacher preparation for migrant school inclusion” é um

projeto internacional constituído por um consórcio de 6 países, nomeadamente

Portugal, Bélgica, Itália, Grécia, Chipre e Bulgária. É um projeto com

financiamento externo no âmbito do Programa Erasmus + Key Action (KA3) que

visa o desenvolvimento de projetos que incentivem a implementação de novas

práticas sociais passiveis de serem transformadas em recomendações da politica

publica setorial a qual se dirige.

O Projeto Teachmi visa construir ferramentas eficazes, material didáctico e

directrizes não só para professores com turmas multiculturais, mas também para

líderes escolares e partes interessadas, a fim de facilitar a integração de

estudantes com origem migrante nas escolas, tornando o ambiente escolar mais

inclusivo.

A duração de 36 meses da implementação do projecto Teachmi centra-se no

reforço do papel da educação, promovendo os valores comuns da UE de

tolerância e não-discriminação, ao mesmo tempo que coloca a ênfase no reforço

da coesão social.

professora Clara Cruz Santos


17

jornal

O Claustro

Descrição do ponto de partida do

projeto

O projeto é proposto ao Observatório de

Cidadania e Intervenção Social (OCIS) da

Faculdade de Psicologia da Universidade

de Coimbra, por parte da Universidade

Grega de Piréus.

Nasce da necessidade sentida pelas

escolas secundárias europeias em

possuírem estratégias e referenciais

pedagógicos que lhes permitam intervir

junto dos/as alunos/as migrantes e

refugiados de forma eficaz potenciando

não só a sua inclusão na cultura

europeia de ensino, mas respeitando,

igualmente, o seu capital cultural.

A educação é um fator importante não

só de integração, mas também de

mobilidade social. A escola é um espaço

de socialização, mas também de

aquisição de relações e laços sociais

para este jovens. A tradução

intercultural é fundamental para que

estes objetivos sejam eficazes e

possíveis de serem alcançados com

sucesso.

professora Clara Cruz Santos


jornal

O Claustro

18

Processo de planeamento do projeto

O OCIS faz parte da rede de parceiros

deste projeto e é o coordenador a nível

nacional. Nesta qualidade, quando foi

convidado já a conceção do projeto

estava desenhada pelos coordenadores

(Universidade de Piréus). O maior

desafio que este projeto tem enfrentado

é a Pandemia COVID 19. Aliás o primeiro

ano do Projeto respeita o ano de

Pandemia. O estudo em colaboração

com as escolas tem sido mais lento do

que o desejável pois enfrentámos, desde

logo, a quarentena e os desafios

colocados ao sistema Escolar para se

adequarem a este contexto.

Uma forma de contornar estes

obstáculo foi conseguida através do

protocolo estabelecido com a

Cooperativa de Intervenção Social e

Artística – Propella que através do

recurso ao documentário e à imagem,

nos permitiu contatar as famílias

refugiadas e estabelecer relações de

familiaridade e de confiança, podendo

ouvir na primeira pessoa as suas

dificuldades, ambições, sonhos e

expetativas face à comunidade

portuguesa e à sua inclusão escolar,

social e pessoal.

professora Clara Cruz Santos


19

jornal

O Claustro

Abertura à comunidade estudantil

Os alunos participaram através das Unidades Curriculares optativas de projeto

de investigação.

Conselho/s para futuros investigadores

A dinâmica social está em permanente mudança e os futuros investigadores

sociais devem possuir esta capacidade de ler o que os circunda e caso queiram

(como é no TEACHMI) ter um atitude transformadora e de intervenção social é

importante imergirem nesta realidade. Não a compreender só através dos olhos

dos outros (livros, artigos, outros autores) mas compreender o mundo vivido

pelos sujeitos. Como estes o equacionam e como eles são, igualmente, agentes

de mudança.

Mais informações em https://www.teachmi.eu/

professora Clara Cruz Santos


jornal

O Claustro

20

entrevista a pilar

burillo simões

Pilar Burillo Simões tem 25 anos e exerce medicina há 11 meses. Há 2 anos atrás

começou um projeto novo, paralelamente ao seu percurso académico, que consistiu

na elaboração de um livro intitulado “1 minuto e 36 segundos” .

Porquê o nome “1 minuto e 36 segundos”?

A prova que todos os futuros médicos necessitam de

fazer para depois poderem escolher a sua

especialidade dura 4h. São 75 perguntas por cada 2h,

separadas por um intervalo de 1h. Em cada pergunta, o

estudante tem exatamente 1 minuto e 36 segundos

para perceber a pergunta e respondê-la. Escolhi assim,

o tempo que temos por pergunta para título do livro

uma vez que achei que traduzia perfeitamente a

pressão a que nós estamos sujeitos ao longo de todo o

ano. O facto de estarmos a passar por um período de

pandemia veio também reforçar uma das necessidades

fulcrais que o livro aborda: a saúde mental.

O que te motivou a escreveres um livro?

Foi um processo. Para contextualizar, nós alunos de medicina, demoramos um ano a

prepararmo-nos para a prova, prova esta que seguia os mesmos moldes de há 20, 30

anos atrás. Entretanto, em maio de há dois anos saiu um decreto lei que mudou a

forma da prova, algo completamente diferente baseado em casos clínicos, e o meu ano

seria o primeiro a realizá-la. Eu percebi que precisava de um escape, e uma vez que já

passava a maior parte dos meus dias a falar sobre medicina e a preparar-me para o

exame, decidi escrever sobre isso mesmo, partilhando no meu blogue. Quando cheguei

ao último capítulo, curiosamente ao de psiquiatria, pensei “Espera, acho que escrevi um

livro”.

Quais foram as maiores dificuldades que sentiste ao escrever o livro?

A verdade é que eu estava numa fase na minha vida em que sabia que ela iria mudar

drasticamente e escrever foi a minha maneira de digerir essa mudança. Como é uma

obra não ficção, sinto que o principal desafio foi tentar perceber até que ponto é que

podia envolver as pessoas que estavam à minha volta, sendo que queria manter a

privacidade dos meus amigos e da minha família e ao mesmo tempo gerir aquilo que

eu acabava de expor sobre mim mesma.


21

jornal

O Claustro

De que forma é que consideras que este

livro pode ajudar os futuros

profissionais de saúde, ou mesmo todos

os estudantes que lidam diariamente

com este tipo de exigências?

Eu acho que a mensagem principal do

livro é que nós temos que tirar tempo para

sarar as nossas próprias feridas,

porque ninguém progredir do ponto de

vista pessoal ou desempenhar a sua

função a 100% se não tirar um momento

para si, nem que seja 1 minuto.

Face ao período pandémico em que

vivemos, existem muitos profissionais de

saúde a sofrerem uma pressão enorme e

os psicólogos são um exemplo disso,

porque o próprio confinamento e a

ansiedade que o mesmo gera é apenas

uma das faces da moeda. É também

preocupante a quebra que se deu a nível

financeiro e de saúde, que passou a fazer

parte da realidade de muitas famílias e os

psicólogos necessitam de conciliar os seus

próprios problemas com o aumento de

carga profissional. Por isso, volto a frisar

de que precisamos de tempo. Tempo para

sarar as feridas, para nos dar paz e para

seguirmos em frente com mais força.

Até que ponto é que consideras que

estar envolvida noutros projetos te

ajudou a lidar com as fases mais difíceis

que passamos enquanto estudantes?

Tudo o que são experiências profissionais,

em teoria, tornam-te num melhor

profissional.

Do ponto de vista pessoal, acho que das

experiências profissionais nós também

retiramos competências para o futuro,

aquelas competências transversais que

não aparecem nos livros e que raramente

abordamos mas que acabam por ser

relevantes para o resto da nossa vida.

Ganhamos persistência quando

procuramos patrocinadores, ganhamos

pontualidade nas reuniões, ganhamos

diplomacia porque aprendemos a falar

com pessoas que têm interesses

diferentes dos nossos, tornamo-nos mais

organizados, mais disciplinados,

percebemos aquilo que realmente

gostamos de fazer e eu acredito que

quantas mais hipóteses exploramos, mais

experiências temos, experiências essas

que nos trazem sempre algo de bom a

nível pessoal.

Que conselhos deixas aos estudantes

para conseguirem lidar com a

pressão dos exames?

Encontrem os vossos 30 minutos. Nos

momentos de pausa, façam algo

significativo e algo de que gostem,

percebam o que vos traz felicidade de

forma a levarem um pouco dessa

felicidade para a vossa vida. Não se sintam

culpados por descansar ou por estarem

presentes porque todos precisamos de

colocar a nossa vida pessoal e a nossa

saúde mental no mesmo patamar da nossa

vida profissional.

pilar burillo simões


jornal

O Claustro

22

(ECO)-imbra:

inovar a

tradição

O conhecimento que retemos de Coimbra faz-se caminhando pela cidade,

com as pernas, as mãos, os olhos e a mente. Conhecer Coimbra é deambular

acesos livremente, é termos no corpo a eterna renovação de Caeiro, sentir as

pulsões do nosso conhecimento a fluir dentro e fora do nosso todo, completo

e complexo, até a cidade ecoar por entre nós e através de nós a cada passo,

nas nossas conversas, mentalidades, sonhos e olhares.

É termos a tradição do conhecimento humano, absorvendo-o. Sabermos que

existem elos de ligação que nos conectam numa teia de memórias e vivências

perpétuas, onde se criam raízes mentais que suscitam uma memória ativa. Ir

beber às diversas fontes de conhecimento, para nascerem outras delicadezas

do ser, vivendo o passado no presente, neste lugar privilegiado, onde os mitos

se reformulam para nos acolherem dentro e fora da nossa casa principal, que

é a mente.

Texto Vencedor "Coimbra aos teus Olhos"


23

jornal

O Claustro

Há que aproveitar ainda o Sol diurno e noturno, onde estes são mais eletrizantes,

seja num bar a beber um shot às quatro da manhã, nos lençóis de um Amor, na

casa de um amigo a falar sobre os mundos de cada um ou na sala de estudo, até

nos interromperem o estudo, anunciando a hora de fechar.

Conhecer Coimbra significa apreender Coimbra nos seus pormenores e

peculiaridades. Conhecer Coimbra é viver Coimbra em tudo o que esta tem para

nos oferecer.

É encontrarmos o nosso nicho, mas sair dele, é falarmos com o melhor amigo,

mas com outros também, Coimbra é a cidade dos contactos, na plurissignificação

que o termo admite, abrindo-se desde o seu ventre para o(s) mundo(s) que

entram e saem de si, mas nunca se fechando.

Foi atribuído a este espaço, simbolicamente, pelos antigos, o significado do eterno

retorno e, ainda hoje, ao sairmos da cidade, são produzidos todos os tipos de

epopeias verbais, pois a ideia da sua grandiosidade já está espalhada por cada um

dos países do mundo.

Em cada uma das moradas grita-se magia ao ver o seu nome numa das

representações físicas e mentais, que logo nos faz retornar às ruas calorosas da

baixa, às memórias coloridas dos Cortejos indomáveis, à brisa de Primavera do

Parque Verde, às viagens de carro pela Ponte Rainha Santa Isabel, ao Jardim da

Sereia e à entrada imponente de uma das Faculdades, arrebatados.

Texto Vencedor "Coimbra aos teus Olhos"


Fotografia Vencedora "Coimbra aos teus Olhos"

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