UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS ...
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<strong>UNIVERSIDADE</strong> <strong>DO</strong> <strong>VALE</strong> <strong>DO</strong> <strong>RIO</strong> <strong>DO</strong>S <strong>SINOS</strong> - UNI<strong>SINOS</strong><br />
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA<br />
CURSO MBA EM GESTÃO <strong>DO</strong> AGRONEGÓCIO<br />
MILTON CARLOS <strong>DO</strong>SSIN<br />
AGRONEGÓCIO <strong>DO</strong> LEITE: CARACTERIZAÇÃO <strong>DO</strong>S SISTEMAS PRODUTIVOS<br />
E ESPECIALIZAÇÃO DA ATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE RONDA ALTA (RS)<br />
São Leopoldo<br />
2010<br />
1
MILTON CARLOS <strong>DO</strong>SSIN<br />
AGRONEGÓCIO <strong>DO</strong> LEITE: CARACTERIZAÇÃO <strong>DO</strong>S SISTEMAS PRODUTIVOS<br />
E ESPECIALIZAÇÃO DA ATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE RONDA ALTA (RS)<br />
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização<br />
apresentado como requisito parcial para a obtenção<br />
do título de Especialista em Gestão do Agronegócio,<br />
pelo MBA em Gestão do Agronegócio da<br />
Universidade do Vale do Rio dos Sinos.<br />
ORIENTA<strong>DO</strong>R: Prof. Ms. Luiz Antônio Machado<br />
Vial.<br />
São Leopoldo<br />
2010<br />
2
São Leopoldo, 27 de outubro de 2010.<br />
Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno MILTON CARLOS<br />
<strong>DO</strong>SSIN encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e<br />
escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em<br />
Gestão do Agronegócio.<br />
________________________________________<br />
Prof. Ms. Luiz Antônio Machado Vial.<br />
Professor Orientador<br />
3
AGRADECIMENTOS<br />
À EMATER-RS/ASCAR que proporcionou o Curso de MBA em Gestão do<br />
Agronegócio dando oportunidade de ampliar os meus conhecimentos.<br />
Spricigo.<br />
tranquilidade.<br />
À coordenação do curso de MBA – UNI<strong>SINOS</strong> na pessoa da Professora Gisele<br />
Aos meus colegas de curso pela amizade e companheirismo que recebi.<br />
À minha família pela confiança, paciência, estímulo e carinho.<br />
Ao Professor Luiz Antônio Machado Vial que me acompanhou, transmitindo-me<br />
4
RESUMO<br />
Esse estudo aborda a atividade leiteira no município de Ronda Alta (RS), visando identificar<br />
os diversos sistemas produtivos desenvolvidos pelos agricultores familiares e as estratégias<br />
adotadas para sua permanência na atividade diante dos desafios impostos pelo mercado. Os<br />
dados que embasaram a pesquisa foram levantados mediante a aplicação de entrevistas<br />
estruturadas, com a participação de 217 produtores, num universo de 624 produtores na<br />
atividade leiteira do município. O estudo demonstra que os produtores de leite que apresentam<br />
sistemas produtivos com maior grau de especialização, obtiveram maior rentabilidade<br />
econômica nas propriedades pesquisadas. O resultado dessa pesquisa é um estímulo ao<br />
desenvolvimento de outros projetos e ações que busquem o desenvolvimento sustentável da<br />
cadeia produtiva leiteira, observando seus aspectos socioeconômicos e ambientais.<br />
Palavras-chave: leite; especialização; sistemas produtivos.<br />
5
LISTA DE GRÁFICOS<br />
Gráfico 1 – VAB Ronda Alta....................................................................................................23<br />
Gráfico 2 - Evolução da bovinocultura leiteira em Ronda Alta...............................................26<br />
Gráfico 3 - Evolução do Preço do leite no Rio Grande do Sul.................................................29<br />
Gráfico 4 – Evolução do Valor Leite – Ronda Alta..................................................................30<br />
6
LISTA DE QUADROS<br />
Quadro 1 – Produção de leite nos principais Estados produtores.............................................11<br />
Quadro 2 – Produção de leite e custo........................................................................................13<br />
Quadro 3 – Estrutura fundiária – Município de Ronda Alta-RS...............................................22<br />
Quadro 4 – Área Ocupada com culturas de verão em Ronda Alta...........................................24<br />
Quadro 5 – Vacas ordenhadas, produção e produtividade em Ronda Alta...............................25<br />
Quadro 6 – Estabelecimentos, vacas ordenhadas, produção e produtividade de leite de Ronda<br />
Alta e do Estado........................................................................................................................26<br />
Quadro 7 – Informações do rebanho bovino – Levantamento por Localidade – Ronda Alta-<br />
2009...........................................................................................................................................27<br />
Quadro 8 – Fluxograma da cadeia produtiva do leite no Município.........................................30<br />
Quadro 9 – Demonstrativo do gráfico 4 - Número de estabelecimentos e valor do leite por<br />
Ano............................................................................................................................................31<br />
7
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 – Tabela 1 - Área total da propriedade.......................................................................33<br />
Tabela 2 – Inventário Animal da propriedade – Percentual de animais por tamanho da<br />
propriedade................................................................................................................................34<br />
Tabela 3 – Reprodução.............................................................................................................35<br />
Tabela 4 – Alimentação das terneiras.......................................................................................35<br />
Tabela 5 – Utilização do colostro.............................................................................................36<br />
Tabela 6 – Alimentação de novilhas.........................................................................................36<br />
Tabela 7– Alimentos fornecidos às vacas.................................................................................37<br />
Tabela 8 – Interação de feno e silagem na produtividade leiteira.............................................37<br />
Tabela 9 – Conservação do leite...............................................................................................38<br />
Tabela 10 – Tipo de Ordenha....................................................................................................38<br />
Tabela 11 – Média de vacas por propriedade............................................................................39<br />
Tabela 12 - Valor recebido por litro de leite.............................................................................40<br />
8
SUMÁ<strong>RIO</strong><br />
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10<br />
2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 12<br />
3. TRABALHO DE CAMPO ............................................................................................. 18<br />
3.1. CARACTERIZAÇÃO <strong>DO</strong> MUNICÍPIO ................................................................ 18<br />
3.1.1. HISTÓRICO ........................................................................................................ 18<br />
3.1.2. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................. 21<br />
3.1.3. MEIO RURAL .................................................................................................... 21<br />
4. DA PESQUISA .............................................................................................................. 32<br />
4.1. METO<strong>DO</strong>LOGIA .................................................................................................... 32<br />
4.2. DA<strong>DO</strong>S DA PESQUISA .......................................................................................... 32<br />
4.3. RESULTA<strong>DO</strong>S ........................................................................................................ 39<br />
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 40<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 44<br />
ANEXO 1 ........................................................................................................................... 46<br />
9
1. INTRODUÇÃO<br />
O desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do leite é de fundamental<br />
importância para o agronegócio brasileiro, e em especial para os municípios do norte do<br />
Estado do Rio Grande do Sul, onde o espaço rural é ocupado predominantemente por<br />
agricultores familiares. O município de Ronda Alta inclui-se nesse contexto em que a<br />
pecuária leiteira vem possibilitando a reestruturação das propriedades e a especialização do<br />
produtor, propiciando assim, o aumento da renda com consequente melhoria da qualidade de<br />
vida, e redução do êxodo rural, especialmente da população jovem.<br />
O crescimento e desenvolvimento do agronegócio do leite afeta de maneira<br />
significativa a economia do município, pois além de ampliar o Valor Adicionado Bruto<br />
(VAB) da agropecuária local, repercute no aumento do setor de serviços, particularmente no<br />
segmento comercial e de transportes.<br />
No cenário mundial, a produção de leite de vaca foi de 560,5 bilhões de toneladas em<br />
2007, sendo 66% desse volume produzido na Europa e na América do Norte. No entanto, a<br />
expansão da produção tem apresentado maior incremento nos países em desenvolvimento,<br />
destacando-se países asiáticos e latino-americanos. O Brasil é o sexto produtor mundial, com<br />
aproximadamente 26,1 bilhões de litros. Nos últimos 10 anos, a produção brasileira teve um<br />
aumento expressivo de 40%, passando de 18,7 bilhões de litros em 1997 para 26,1 bilhões em<br />
2007.<br />
Nesse mesmo período, a produção mundial cresceu 19,5%, ou seja, a expansão da<br />
oferta no Brasil foi duas vezes superior à média mundial. Os seis Estados de maior produção<br />
do País são Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina que<br />
respondem por 73% da oferta brasileira. (Agência de informação EMBRAPA: Agronegócio<br />
do Leite.)<br />
Segundo a Secretaria de Planejamento (SEPLAG/RS), o Estado do Rio Grande do Sul<br />
é o segundo produtor nacional de leite (quadro 1) com 10,6% da produção nacional, sendo<br />
que a produção está mais concentrada na metade norte do Estado. As regiões com maior<br />
produção de leite são o Noroeste Colonial com 11,3%, produção com 11%, Fronteira<br />
Noroeste com 9,4% e Serra com 8,1% do leite produzido no Estado.<br />
10
Quadro 1 Produção de leite nos principais Estados produtores<br />
Período<br />
Quantidade de Leite cru, resfriado ou não (mil litros) - abril de 2009 a março de<br />
2010<br />
Minas<br />
Gerais Rio Grande do Sul Goiás São Paulo Paraná Santa Catarina<br />
abr/09 390.239 196.188 194.423 158.317 140.622 96.472<br />
mai/09 382.988 185.677 187.952 162.367 136.991 92.205<br />
jun/09 364.351 187.729 174.618 168.820 133.219 88.799<br />
jul/09 408.216 224.092 183.034 164.433 158.146 111.034<br />
ago/09 425.742 261.246 186.623 175.852 173.326 121.353<br />
set/09 433.050 270.913 205.513 175.756 188.795 126.003<br />
out/09 503.726 249.581 216.328 188.729 184.866 131.512<br />
nov/09 505.896 230.762 222.778 193.915 185.672 122.762<br />
dez/09 524.613 248.078 233.355 201.561 188.245 129.925<br />
jan/10 504.943 262.231 222.935 197.819 201.270 128.044<br />
fev/10 439.645 204.663 192.536 180.761 183.082 113.037<br />
mar/10 483.951 224.886 203.580 195.272 194.627 118.065<br />
Total 5.367.360 2.746.046 2.423.675 2.163.602 2.068.861 1.379.211<br />
Fonte: Elaborado pelo autor com dados do IBGE (SIDRA -2010).<br />
Na atualidade, entre os setores do agronegócio gaúcho, o leite é um dos produtos que<br />
vem apresentando maior aumento de produção com resultados sócio-econômicos alentadores<br />
para os produtores e muitos municípios do Estado.<br />
Dentre os fatores impulsionadores desse crescimento da cadeia produtiva do leite no<br />
Estado, destacamos o aumento do consumo de produtos lácteos, ampliação no número de<br />
empresas processadoras, diferenciais de preços recebidos, assistência técnica, rebanho com<br />
boa qualidade genética, estrutura fundiária dominada por pequenas propriedades, mão-de-obra<br />
qualificada e condições edafo-climáticas satisfatórias, Lopes (2007).<br />
11
2. REFERENCIAL TEÓRICO<br />
A pecuária leiteira no Brasil, assim como no Rio Grande do Sul, em virtude da<br />
diversidade climática, tradições culturais, estrutura fundiária e diferentes graus de<br />
estruturação da cadeia produtiva e sistemas produtivos, apresenta os mais diversos tipos de<br />
exploração pecuária; desde a pecuária extensiva até a mais sofisticada pecuária leiteira<br />
intensiva e altamente capitalizada.<br />
Segundo Lopes (2007), a análise do sistema produtivo das unidades produtoras de leite<br />
é de vital importância para comparar e relacionar as diversas propriedades.<br />
Tendo em vista as inúmeras as variáveis que podem influenciar no sistema produtivo<br />
ocasionando consequências positivas ou negativas, Lopes (2007) propõe diminuição do<br />
número de variáveis sem diminuir muito o grau de esclarecimento das ocorrências.<br />
A utilização de parâmetros quantitativos e qualitativos referentes às propriedades e à<br />
produção, obtidos com relativa facilidade e rapidez podem auxiliar na identificação de grupo<br />
de produtores, bem como auxiliar técnicos e produtores no planejamento e priorização de<br />
ações focadas nas principais restrições do sistema produtivo adotado (Lopes, 2007).<br />
Para Lopes (2007) essa agilidade na obtenção de dados é fator de grande interesse,<br />
sobretudo quando se trabalha com pequenas unidades produtoras de leite, onde geralmente os<br />
dados são escassos e a resistência a mudanças é fortemente influenciada pelo tradicionalismo<br />
e receio.<br />
Na análise do sistema produtivo, segundo Lopes (2007), vários aspectos técnicos<br />
podem ser considerados na sua caracterização, dentre eles, apresentam grande importância e<br />
relativa facilidade de visualização os referentes à produtividade, alimentação, escala de<br />
produção, genética do rebanho e assistência técnica. Além desses, o gerenciamento e o<br />
controle financeiro, são de primordial importância, embora haja dificuldade na obtenção<br />
desses dados e quando disponibilizados são precários.<br />
Fonseca (1992, apud Lopes, 2007) considera que o baixo nível de produtividade deve-<br />
se, principalmente, à pequena utilização de tecnologias disponíveis e que, para maior<br />
desenvolvimento da pecuária leiteira, é necessário investir em transferência, adaptação e<br />
geração contínua de tecnologia, com o objetivo de oferecer alternativas para aumentar a<br />
eficiência da atividade.<br />
12
De acordo com Sampaio (2004, apud Lopes, 2007), a redução dos custos com<br />
alimentação, sem acarretar sub ou supernutrição dos animais, está na base do sucesso<br />
econômico da exploração leiteira.<br />
O leite produzido por uma vaca leiteira é considerado como um subproduto de sua<br />
função reprodutiva e ambos são dependentes de uma dieta controlada. Dessa dieta, os bovinos<br />
utilizam nutrientes para manutenção, crescimento, reprodução e produção, quer seja na forma<br />
de leite ou carne. Manter uma alimentação adequada é de fundamental importância, tanto do<br />
ponto de vista nutricional quanto econômico. Em um sistema de produção de leite a<br />
alimentação do rebanho tem um custo efetivo representativo. Considerando o custo de<br />
produção de leite, a alimentação representa de 40 a 60%, podendo atingir percentual mais<br />
elevado (EMBRAPA - Gado de leite).<br />
A necessidade de nutrientes para a manutenção corporal de uma vaca é diretamente<br />
proporcional ao seu peso. Assim o volume de leite produzido dependerá do incremento de<br />
nutrientes disponibilizados para o animal para que além de satisfazer as necessidades de<br />
manutenção do animal possibilite energia para produção de leite. (Kirchof, 2005).<br />
Segundo Kirchof (2005), uma vaca de 450 kg necessita para sua manutenção 3.760<br />
gramas de NDT (nutrientes digestíveis totais - energia) por dia e 301 gramas de NDT<br />
(nutrientes digestíveis totais – energia) para a produção de cada litro de leite com 3,5% de<br />
gordura. Comparando-se duas vacas de 450 kg, uma produzindo 5 litros de leite e outra<br />
produzindo 20 litros, temos os seguintes quadros:<br />
Quadro 2 – Produção de leite e custo.<br />
PRODUÇÃO DE 20 LITROS/LEITE/DIA PRODUÇÃO DE 5 LITROS/LEITE/DIA<br />
Necessidade nutrientes manutenção: 3.760 Necessidade nutrientes manutenção: 3.760<br />
g NDT<br />
g NDT<br />
Necessidade nutrientes Produção leite: 6.020 Necessidade nutrientes Produção leite: 1.505<br />
g NDT<br />
g NDT<br />
Total 9.780 Total 5.265<br />
g NDT<br />
g NDT<br />
> Com 9.780 g NDT produziu 20 litros de<br />
leite<br />
> Com 5.265 g NDT produziu 5 litros de leite<br />
> Necessitou de 489 g de energia para cada > Necessitou de 1.053 g de energia para cada<br />
litro de leite<br />
litro de leite<br />
LEITE MAIS BARATO LEITE MAIS CARO<br />
13
O quadro 02 que apresenta um balanço energético comparativo demonstra que a<br />
melhoria da qualidade/quantidade de alimentos disponibilizados para as vacas em lactação<br />
deve ser considerada, tendo em vista que o custo de manutenção de uma vaca (450 Kg de<br />
peso vivo) produzindo 5 litros de leite/dia é o mesmo de uma vaca do mesmo peso<br />
produzindo 15 litros de leite/dia. Portanto, a alimentação é um dos fatores mais importantes<br />
que merece atenção tanto em relação a custos, como para atender satisfatoriamente as<br />
necessidades de cada animal em cada etapa produtiva. Esse tipo de análise deve ser realizada<br />
pelo produtor e está diretamente ligado ao grau de especialização do mesmo.<br />
A escala de produção também influencia na manutenção, ampliação ou encerramento<br />
da atividade leiteira de muitas propriedades.<br />
De acordo com Menegaz (2005, apud Lopes, 2007), a baixa escala de produção das<br />
unidades produtoras impede a redução dos custos de produção, ocasionando a obtenção de<br />
baixas margens de lucro e, como consequência, limitando a capacidade de investimento no<br />
setor.<br />
A produtividade leiteira pode ser estimada pela média da produção de leite por<br />
lactação, produção de leite diária, dentre outros (Embrapa - Gado de Leite).<br />
De acordo com Faria (2001, apud Lopes, 2007), é fundamental que o trabalho<br />
realizado pela assistência técnica passe a contemplar múltiplas funções, como por exemplo,<br />
aquelas referentes ao planejamento, à organização, à execução e ao controle das atividades<br />
desempenhadas pelo setor produtivo, necessitando uma maior atenção à formação da mão de<br />
obra envolvida.<br />
Segundo Campos (et al. , 2007) um melhor conhecimento da atividade leiteira é de<br />
fundamental importância, pois a partir da sua caracterização podem-se traçar novos<br />
direcionamentos e projeções futuras para a pecuária, propiciando uma melhor tomada de<br />
decisão e superação de entraves que impedem o desenvolvimento da atividade<br />
A identificação dos componentes no sistema produtivo em cada propriedade<br />
possibilita a tipificação dos produtores dentro de uma região.<br />
14
O uso de uma tipificação representativa do universo dos produtores familiares de leite<br />
torna-se uma ferramenta importante, a fim de se adequar a um modelo inicial para uma<br />
pesquisa (Weber, 2002 apud Wagner, 2004).<br />
Dentre os inúmeros tipos de produtores de leite no Brasil, Jank e Galan (1998)<br />
definem dois tipos básicos, nos extremos: produtores especializados e produtores não<br />
especializados.<br />
Os produtores especializados são aqueles que têm como atividade principal a produção<br />
de leite, obtida a partir de rebanhos constituídos por animais de alta genética, disponibilizam<br />
alimentos concentrados (farelo de soja, milho, rações formuladas, etc.), alimentos volumosos<br />
(pastagens, silagens, fenos, etc.), dispõem de instalações e equipamentos de ordenha,<br />
ensiladeiras, desensiladeiras, resfriadores de leite, galpão de alimentação, etc. Esses<br />
produtores obtêm volume e qualidade do leite que possibilitam produzir com ganho de<br />
produtividade e qualidade, comparáveis a indicadores de países eficientes nesse tipo de<br />
produção.<br />
Os produtores não especializados são produtores que trabalham de maneira incipiente,<br />
com baixa tecnologia. Trata-se, na sua maioria, de produtores que encontram no leite uma<br />
atividade típica de subsistência, que serve mais como uma fonte adicional de renda mensal,<br />
onde os custos de produção são, no geral, bastante reduzidos em relação à avaliação<br />
financeira e não empresarial.<br />
Complementa o conceito de especialização dos produtores na atividade leiteira a<br />
capacidade de gerenciamento por parte do produtor no tocante a custos de produção,<br />
administrando o negócio de forma ágil acompanhando a tendência do mercado tanto quanto<br />
ao preço do leite, como também dos custos dos insumos, em especial a alimentação. Dessa<br />
forma a eficiência da propriedade leiteira está diretamente relacionada à especialização do<br />
produtor tanto no aspecto tecnológico como administrativo.<br />
Segundo Wagner (et al) diferentes tipos de produtores familiares de leite foram<br />
construídos por Gehlen (2000), que coordenou uma pesquisa para estudar a questão da<br />
competitividade e identidade dos produtores familiares de leite no Estado do Rio Grande do<br />
Sul. Segundo o autor, os produtores familiares de leite constituem-se em três tipos ideais, são<br />
eles:<br />
15
a) Produtor moderno convencional: produtor consolidado, ou seja, que apresenta um<br />
tempo de regularidade mínimo de cinco anos na atividade de forma comercial, identifica-se e<br />
tem uma racionalidade de produtor de leite moderno, sua produtividade está de acordo com o<br />
padrão moderno dentro da sua região. A produção de leite é estratégica na propriedade e<br />
utiliza a força de trabalho principal na atividade, sendo que essa se ocupa, na sua maior parte,<br />
na atividade leiteira. A organização sistêmica da propriedade prioriza a atividade leiteira e o<br />
reinvestimento dos rendimentos dá-se na sua maior parte na própria atividade. O padrão<br />
tecnológico adotado por esse produtor segue as especificações do pacote tecnológico ditado<br />
pelas agroindústrias, os animais são especializados na produção leiteira, a alimentação é<br />
balanceada e controlada de acordo com critérios técnicos especificados pela assistência<br />
técnica (geralmente prestada pelas grandes agroindústrias).<br />
b) Produtor em transição: Também é um produtor consolidado, mas não se identifica<br />
completamente como produtor moderno e nem adota completamente essa racionalidade, sua<br />
produtividade não está de acordo com o padrão moderno dentro de sua região, pois sua média<br />
de produtividade é mais baixa. A produção de leite está se tornando estratégica e na<br />
organização sistêmica da propriedade, a força de trabalho principal está se envolvendo cada<br />
vez mais na atividade. O reinvestimento dos rendimentos dá-se cada vez mais na atividade,<br />
embora ainda não seja a principal atividade. No que diz respeito ao padrão tecnológico,<br />
embora as instalações e os equipamentos ainda sejam um pouco precários, já houve aquisição<br />
de equipamentos adequados e construções específicas para a atividade. Os animais, embora na<br />
sua maioria sejam mestiços, já estão sendo melhorados geneticamente, e, em alguns casos, há<br />
aquisição de animais puros. A força de trabalho está se qualificando para a atividade, existe a<br />
percepção da necessidade de fazer um balanceamento adequado na alimentação dos animais e<br />
de prover alimento o ano inteiro, o que já começa a ser executado de forma gradual. Esse<br />
produtor está numa situação em que pode evoluir para um produtor Moderno Convencional,<br />
ou de acordo com a conjuntura, desistir da atividade.<br />
c) Produtor tradicional: Também é um produtor consolidado. Identifica-se como<br />
tradicional e tem uma racionalidade compatível com a identidade de produtor tradicional, ou<br />
seja, sua produtividade está de acordo com o padrão tradicional na sua região. A produção de<br />
leite não é uma atividade estratégica dentro da propriedade, utilizando-se da força de trabalho<br />
secundária e apenas o tempo necessário, não sendo essa qualificada. A organização sistêmica<br />
da propriedade, não prioriza a produção de leite, sendo que o reinvestimento dos rendimentos<br />
16
aramente dá-se na atividade leiteira. No padrão tecnológico, as instalações e equipamentos,<br />
quando existem, são precários; os animais não são especializados, a alimentação não é<br />
balanceada e na maior parte do tempo é precária.<br />
Nesse aspecto, a tipologia acima explicitada, será a considerada ao longo deste estudo,<br />
para caracterizar o grau de especialização dos produtores de leite, no município de Ronda<br />
Alta.<br />
17
3. TRABALHO DE CAMPO<br />
3.1. CARACTERIZAÇÃO <strong>DO</strong> MUNICÍPIO<br />
3.1.1. HISTÓRICO<br />
Segundo informações coletadas na Prefeitura do Município de Ronda Alta e no<br />
Diagnóstico do Município de Ronda Alta, elaborado pelo escritório municipal da<br />
EMATER/RS-ASCAR, os primeiros habitantes de Ronda Alta foram os índios Caingangues,<br />
vindos dos sertões paranaenses. Os índios buscavam as gigantescas matas nativas que, além<br />
da segurança, ofereciam fartos meios de subsistência.<br />
A primeira "picada" aberta no município foi para permitir a passagem da linha<br />
telegráfica que ligava o sul do país com o Estado de São Paulo, por volta do ano de 1900.<br />
Orientados por essa linha telegráfica, por aqui passavam os tropeiros provindos da Argentina<br />
e Região das Missões, conduzindo gado bovino e muar (animal pertencente à raça do mulo)<br />
até Sorocaba, São Paulo.<br />
Os tropeiros escolheram o lugar denominado de fazenda Sarandi, no km 71 da rodovia<br />
RS 324, que liga Passo Fundo a Ronda Alta, a 5 km da cidade; essas terras serviam para<br />
descanso dos tropeiros e das tropas, era lugar propício, por ter abundante pastagem e duas<br />
sangas que convergem para o mesmo lugar, formando uma espécie de cercamento natural,<br />
onde os animais podiam ser soltos bastando fazer a "Ronda" no "Alto", para que os animais<br />
não escapassem. Inicialmente, os tropeiros chamavam este lugar de Rondinha do Campo,<br />
porém mais tarde para diferenciar de Águas da Rondinha, uma vez que estava dando confusão<br />
com as correspondências e pelo fato de os tropeiros fazerem a Ronda do Alto, passou a<br />
chamar-se Ronda Alta.<br />
Os primeiros moradores chegaram por volta de 1904, quando Antônio Severiano dos<br />
Santos começou a colonização. Por volta de 1911 é construído um galpão chamado “Casa de<br />
Pastos” para servir de abrigo aos animais dos tropeiros que aqui pernoitavam. O crescimento<br />
deu-se a partir de 1928, com a chegada dos imigrantes italianos, instalando a primeira<br />
indústria, uma ferraria; nessa época montou-se também a primeira carpintaria.<br />
Em 1929 chegaram os alemães, instalando-se onde hoje se situa o Passo da Entrada.<br />
Em 1931 chega o primeiro bodegueiro e a partir desse momento “Rondinha do Campo” passa<br />
a ter aspecto de povoado. A urbanização veio com Mose Míssio fazendo o primeiro<br />
18
loteamento no município em 1938, dando crescimento ao comércio. Em meados de 1939<br />
chegam o primeiro rádio, o automóvel de pedal e o Ford 17.<br />
Em 1949 Rondinha do Campo tornou-se distrito de Passo Fundo, trocando o nome<br />
para Ronda Alta. Nesta época chega ao distrito a primeira sapataria, ao mesmo tempo em que<br />
são construídos um hotel e uma rodoviária<br />
A primeira capela aqui fundada foi na Linha Bosa, onde foi instalado também, um dos<br />
primeiros geradores de energia elétrica.<br />
Construiu-se no povoado mais uma capela sendo que o primeiro padroeiro era “São<br />
Jorge” cuja festa durava dois dias. Em 13 de dezembro de 1959 a capela de São Jorge foi<br />
elevada à categoria de paróquia e teve seu primeiro vigário Pe. Wolgang Grabasch. A partir<br />
de 02 de janeiro de 1967 a paróquia passou a ser chamada de Nossa Senhora dos Navegantes.<br />
A constituição do Município de Ronda Alta deu-se com a emancipação político-<br />
administrativa de Sarandi, através da Lei Estadual n° 4.690 de 26 de dezembro de 1963. O<br />
território original foi composto em sua grande parte por área cedida do município-mãe<br />
(Sarandi) e por parte do território do Município de Nonoai. Desmembrou-se posteriormente<br />
do Município de Ronda Alta o Distrito de Três Palmeiras, em 1988.<br />
Em 1992, Pontão, então Distrito de Passo Fundo, emancipou-se desse Município,<br />
formando-se também com parte do território de Ronda Alta.<br />
indígenas.<br />
A formação étnica do Município é composta de italianos, alemães, caboclos e<br />
À primeira vista, Ronda Alta se parece com tantos outros municípios do interior do<br />
país, no entanto, a sua história trilhou caminhos distintos e lhe imprimiu uma configuração<br />
sócio-política toda especial.<br />
Inicialmente a gleba devoluta era terra de índios e posseiros, posteriormente foi<br />
registrada por paulistas, e mais tarde, após conflitos e lutas pela posse da terra, foi ocupado<br />
por colonos de origem europeus, agricultores sem terra e indígenas. Inicialmente a reserva<br />
indígena Caingangue da Serrinha, compreendia 11.348 ha dentro do território de Ronda Alta,<br />
desapareceu do mapa do Município a partir de 1949, quando parte da reserva se tornou Parque<br />
19
Florestal e outra passou a ser ocupada por posseiros legitimados pelo Estado. A reserva foi<br />
extinta em 1962, empurrando os índios para a Reserva Indígena do município de Nonoai/RS.<br />
Nesse mesmo ano, 500 colonos sem terras ocupam a Fazenda Sarandi instalando o<br />
Acampamento Riacho Cascavel. O governo desapropria parte da mesma, que era de<br />
propriedade dos uruguaios, para assentamento dos agricultores.<br />
Em 1975, 54 famílias de “afogados do Passo Real” e mais 13 famílias de empregados<br />
da Fazenda, foram reassentados em parte da Fazenda Anoni, desapropriada pelo INCRA.<br />
A partir de 1978, grande parte da área do município passa a ser ocupada, pelos<br />
agricultores sem terra, com acampamentos e consequentes assentamentos nas granjas Macali<br />
I, Macali II, Brilhante, Nova Ronda Alta, Vitória da União (Cascavel) e Nossa Senhora<br />
Conquistadora da Terra.<br />
Nos anos de 1979 e 1980, o Município caracterizou-se como berço dos movimentos<br />
sociais de grande apelo popular, principalmente no que tange à luta pela posse da terra. Em<br />
1981, houve a instalação do marcante acampamento na Encruzilhada Natalino, com 600<br />
famílias de agricultores sem terras, o qual teve duração de três longos anos. No ano de 1985,<br />
ocorreu a ocupação da Fazenda Anoni, com a participação de aproximadamente 150 famílias<br />
de agricultores de Ronda Alta.<br />
Ronda Alta foi ponto de partida da organização do Movimento Sem Terra – (MST) do<br />
Estado do Rio Grande do Sul, através da ocupação da Fazenda Macali, Brilhante e<br />
Acampamento da Encruzilhada Natalino.<br />
Temos atualmente no Município 07 assentamentos, totalizando 155 famílias<br />
assentadas em 3.152 ha., representando 9% da área total do Município.<br />
Em 06 de outubro de 1996, os índios retomam a reserva indígena da Serrinha, dentro<br />
do território de Ronda Alta, causando conflito com os colonos. Foram cinco anos de<br />
negociação entre colonos, Governo do Estado e FUNAI. Através das negociações elaborou-se<br />
um acordo, onde ficou decidida a saída dos colonos, após o pagamento das terras por parte do<br />
Governo e a indenização das benfeitorias por parte da FUNAI e praticamente toda a reserva já<br />
foi devolvida aos Indígenas.<br />
20
3.1.2. LOCALIZAÇÃO<br />
O Município de Ronda Alta pertence à Micro Região Colonial de Iraí e que está<br />
localizado no extremo Norte do Estado do Rio Grande do Sul, na Bacia do Rio Uruguai e na<br />
Sub-Bacia do Rio Passo Fundo e Rio da Várzea, 7ª Zona fisiográfica denominada Alto<br />
Uruguai.<br />
Está a uma distância de 375 Km da Capital do Estado, com acesso pela BR 386, sua<br />
área é de 419,69 Km² e sua altitude é de 710 metros do nível do mar. É localizado na latitude<br />
27º 48” e longitude 52º 47”. O clima é sub-tropical e a temperatura média é de 18ºC.<br />
Faz limite com oito municípios: ao norte com Três Palmeiras; ao sul com Sarandi e<br />
Pontão; a leste com Campinas do Sul e ao oeste com Rondinha e Engenho Velho. A<br />
hidrografia do Município é realçada pela barragem do Rio Passo Fundo. A RS 324 é<br />
praticamente um divisor de águas da Sub-Bacia do Rio da Várzea e Sub-Bacia do Rio Passo<br />
Fundo, ambos desembocam e pertencem à Bacia do Rio Uruguai. As chuvas normalmente são<br />
bem distribuídas, com maior intensidade no período de inverno, com precipitação média de<br />
1.800 a 2.000 mm/ano.<br />
Segundo o Censo do IBGE 2000, a população é de 10.049 habitantes, sendo que, do<br />
total 4.388 (44%) residem na cidade e 5.661(56%) residem na zona rural. Estima-se um total<br />
de 2.871 famílias, sendo que 1617, na área rural e 1.254, na área urbana. A densidade<br />
populacional é de 24,34 habitantes por Km² e é constituída por 50% de origem Italiana e 50%<br />
de Alemães, Caboclos, Poloneses, indígenas e outros.<br />
3.1.3. MEIO RURAL<br />
As atividades econômicas que predominam no setor primário do município são a<br />
agricultura, com os cultivos de soja, milho, trigo e fumo, seguido da pecuária leiteira. Na<br />
silvicultura destaca-se o cultivo da erva-mate.<br />
Inicialmente a produção estava voltada à subsistência e venda do pequeno excedente,<br />
principalmente milho, feijão e suínos ocupando as áreas de maior declividade e maior<br />
21
fertilidade natural composto por solos neossolos litólicos eutróficos e chernossolos<br />
argilúvicos férricos típico (unidade Ciríaco). Essas áreas foram ocupadas por agricultores de<br />
etnia predominantemente italiana que migraram de outras regiões do estado, principalmente<br />
do município de Guaporé/RS, ampliando a fronteira agrícola do Estado.<br />
Posteriormente alguns colonos ocuparam áreas de topografia mais planas, porém estas<br />
glebas apresentavam como fator limitante a acidez e a baixa fertilidade natural dos solos<br />
denominados latossolos vermelhos distróficos típicos – Unidade Passo Fundo A superação<br />
desta limitação, só foi possível com a modernização da agricultura baseada nos princípios da<br />
“revolução verde” envolvendo a introdução de variedades de alto rendimento, mecanização, e<br />
correção da acidez e fertilidade do solo, entre outras. Nestas áreas desenvolveram-se as<br />
médias e grandes propriedades cuja especialização está centrada nos cultivos extensivos de<br />
soja, milho e trigo. Recentemente foram implantados também, os assentamentos rurais com<br />
lotes de área média de 24 hectares. Atualmente o município possui 963 estabelecimentos<br />
rurais, sua estrutura fundiária pode ser observada no quando abaixo:<br />
Quadro 03 – Estrutura fundiária – Município de Ronda Alta-RS<br />
Área da Propriedade (ha) N.º de Propriedades Área Total (ha)(1) N.º de Propriedades<br />
(1)<br />
(2)<br />
Menos de 01 03 1,80 09<br />
De 1 a menos de 02 13 17,26 27<br />
De 2 a menos de 05 77 258,17 78<br />
De 5 a menos de 10 212 1.508,28 152<br />
De 10 a menos de 20 533 7.560,16 377<br />
De 20 a menos de 50 238 6.759,21 201<br />
De 50 a menos de 100 47 3.130,26 54<br />
De 100 a menos de 200 29 3.931,40 26<br />
De 200 a menos de 500 13 3.684,10 14<br />
De 500 a menos de 1.000 05 3.546,60 03<br />
De 1.000 a menos de 2.000 03 3.440,00 04<br />
De 2.000 a menos de 5.000 01 2.000,00 00<br />
Produtor sem área Sem registro Sem registro 18<br />
TOTAL 1.174 35.837,24 963<br />
Fonte: ( 1 ) Censo Agropecuário 1996 ( 2 ) Censo Agropecuário de 2006<br />
Portanto, ao se fazer a comparação dos dados levantados dos Censos de 1996 com o de<br />
2006, observa-se que nesses 10 anos houve uma redução de 17,97% no número total de<br />
22
estabelecimentos rurais (propriedades). Mesmo assim, a maioria das propriedades (87,64%)<br />
apresenta áreas menores que 50 hectares.<br />
Dentre as causas dessa concentração de terras podemos citar o êxodo rural (tanto de<br />
jovens como de idosos) e migração de famílias de produtores para outros locais,<br />
principalmente para o centro-oeste do Brasil, em virtude da impossibilidade de expansão da<br />
fronteira agrícola local ou regional.<br />
Atualmente Ronda Alta tem sua matriz produtiva alicerçada na agropecuária,<br />
especialmente nas culturas de soja, milho, fumo, trigo e pecuária de leite, apesar do setor de<br />
serviços contribuir com o maior percentual do Valor Adicionado Bruto (VAB) do município,<br />
conforme podemos observar no gráfico da sua estrutura abaixo.<br />
Gráfico 1 – Estrutura do Valor Adicionado Bruto (VAB) % em 2007- Ronda Alta<br />
Fonte: FEE – 2007<br />
58%<br />
VAB - Ronda Alta-RS<br />
5%<br />
necessidade de atender o percentual de área obrigatória de reserva legal (ARL) e a<br />
23<br />
37%<br />
Agropecuária<br />
Indústria<br />
Serviços<br />
No entanto, dentre os principais fatores que restringem a incorporação de novas áreas<br />
para a ampliação de cultivos e/ou criações extensivas tradicionais, podemos citar: a legislação<br />
ambiental restritiva (matas nativas, áreas de preservação permanente, etc). Essa legislação<br />
restritiva poderá inclusive ocasionar a redução das áreas em uso atualmente devido à
composição de Áreas de Preservação Permanente (APP) (1) conforme as determinações do<br />
Código Florestal em vigor 1 . Dessa forma, o aumento da renda dos produtores rurais fica<br />
condicionado principalmente ao aumento da produtividade das culturas e criações existentes,<br />
preço do produto, redução de custos de produção ou conversão da atual matriz produtiva rural<br />
agregando novas atividades agrícolas ou não-agrícolas.<br />
No quadro abaixo podemos observar que área ocupada com cultivos de verão (soja e<br />
milho) se mantém praticamente inalterada nos últimos anos no município de Ronda Alta,<br />
explicitando os limites da incorporação de novas áreas para o cultivo de grãos.<br />
Quadro 4 – Área Ocupada com culturas de verão em Ronda Alta.<br />
Safra<br />
SOJA<br />
Área ( ha)<br />
MILHO<br />
Área ( ha )<br />
TOTAL CULTIVO VERÃO<br />
Área (ha)<br />
1998/99 22.000 4.000 26.000<br />
1999/00 22.000 4.300 26.300<br />
2000/01 23.000 5.000 28.000<br />
2001/02 23.000 3.500 26.500<br />
2002/03 24.000 3.100 27.100<br />
2003/04 24.600 2.500 27.100<br />
2004/05 24.000 3.100 27.100<br />
2005/06 22.000 5.100 27.100<br />
2006/07 23.100 4.000 27.100<br />
2007/08 21.600 5.500 27.100<br />
2008/09 21.600 5.500 27.100<br />
Fonte: IPAN – EMATER-RS/ASCAR<br />
3.1.4. ATIVIDADE LEITEIRA NO MUNICÍPIO<br />
A atividade leiteira no município é realizada pela grande maioria das propriedades<br />
rurais familiares (estimada em 624 – segundo a Inspetoria Veterinária de Ronda Alta) sendo<br />
1<br />
Legislação Ambiental<br />
-Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal Brasileiro e alterações pela Lei<br />
federal nº 7.803 de 18 de julho de 1989,<br />
-Lei Estadual nº 9.519 de 21 de janeiro de 1992 que instituiu o Código Florestal do Estado do Rio Grande do<br />
Sul,<br />
-Lei Estadual nº 11.520 de 3 de agosto de 2000 que instituiu o Código do Meio Ambiente do Estado do Rio<br />
Grande do Sul,<br />
-Resolução do CONAMA nº 303 de 20 de março de 2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de<br />
Áreas de Preservação Permanente.<br />
24
que segundo o Censo Agropecuário/2006 realizado pelo IBGE, seiscentas propriedades rurais<br />
desenvolvem a atividade leiteira com fins comerciais.<br />
Em algumas dessas propriedades, a produção leiteira apresenta uma característica<br />
sazonal com significativo aumento do volume ofertado nos meses de inverno, em virtude da<br />
oferta de pastagens espontâneas, principalmente do azevém, em áreas não ocupadas com<br />
cultivos de inverno.<br />
O rebanho leiteiro é constituído basicamente por animais da raça holandesa com<br />
pequena expressão para a raça Jersey e de mestiços.<br />
A produção de leite no município começou a ter maior expressão econômica a partir<br />
de 1995 (gráfico 02) sendo atualmente desenvolvida por produtores com diversos graus de<br />
especialização com tendência de evolução partilhando em grande parte com a atividade que<br />
envolve o cultivo de lavouras anuais, principalmente soja, milho, trigo, canola e fumo.<br />
Os dados do quadro 05 (abaixo) originaram a elaboração do gráfico 02, que permite<br />
observar a pequena variação no número de vacas ordenhadas no período de 1995 a 2008. Em<br />
contrapartida, houve incremento significativo na produção e produtividade leiteira,<br />
demonstrando que houve ampliação da importância do setor na geração de renda e<br />
composição da matriz produtiva rural do município.<br />
Quadro 5 - Vacas ordenhadas, produção e produtividade em Ronda Alta.<br />
ANO<br />
N.º VACAS<br />
ORDENHADAS<br />
PRODUÇÃO EM<br />
1000 L<br />
LITROS-MÉDIA<br />
POR VACA/ANO<br />
1995 2.890 3.535 1.223<br />
2005 2.700 5.942 2.201<br />
2006 3.000 7.645 2.548<br />
2007 2.700 6.880 2.548<br />
2008 2.920 7.440 2.548<br />
Fonte: IBGE – SIDRA- Pesquisa Pecuária Municipal<br />
25
Gráfico 2 - Evolução da bovinocultura leiteira em Ronda Alta (1.995 A 2.008)<br />
9.000<br />
8.000<br />
7.000<br />
6.000<br />
5.000<br />
4.000<br />
3.000<br />
2.000<br />
1.000<br />
0<br />
Nº vacas ordenhadas Produção em 1.000<br />
litros<br />
Fonte: IBGE – SIDRA- Pesquisa Pecuária Municipal<br />
Litros/Vaca/ano<br />
1995<br />
2005<br />
2006<br />
2007<br />
2008<br />
O quadro a seguir, apresenta o número de estabelecimentos, a quantidade de vacas<br />
ordenhadas e a produtividade de leite no Município Ronda Alta e no Rio Grande do Sul como<br />
um todo. Isso permite fazer uma rápida comparação e evidenciar que a produção e a<br />
produtividade são maiores que a média estadual, indicando o atual estágio e a tendência<br />
positiva de desenvolvimento da atividade no município.<br />
Quadro 06 - Estabelecimentos, vacas ordenhadas, produção e produtividade de leite de Ronda<br />
Alta e do Estado<br />
N.º De N.º Vacas Vacas/ Litros/Ano L/Est./Dia<br />
Local Estabelecimentos ordenhadas Estabelecimento<br />
Ronda Alta 600 3.311 5,52 8.789.000 40,13<br />
Rio Grande<br />
do Sul<br />
205.158 981.769 4,79 2.455.611.000 32,79<br />
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário, 2006.<br />
O quadro 07, abaixo, apresenta um detalhamento sobre o número de famílias por<br />
localidade que desenvolvem a atividade leiteira no município , assim como, o número de<br />
bovinos e vacas em lactação, que nos permite dimensionar a importância da atividade no<br />
processo de desenvolvimento rural do município.<br />
26
Quadro 07 - Informações do rebanho bovino – Levantamento por Localidade – Ronda<br />
Alta-2009<br />
LINHA<br />
N.º AGRICULTOR<br />
FAMILIAR N.º BOVINOS<br />
N.º VACAS EM<br />
LACTAÇÃO<br />
SEDE 38 487 196<br />
CASCAVEL 10 123 49<br />
ARVORE<strong>DO</strong> 06 135 57<br />
BRILHANTE 51 670 326<br />
CAPÃO ALTO 08 62 25<br />
CONQUISTA<strong>DO</strong>RA 06 109 49<br />
SANTA CATARINA 23 584 315<br />
MACALI I 20 233 106<br />
MACALI 2 20 294 139<br />
PINHEIRINHOS 27 500 204<br />
SANTO ANTONIO 13 135 48<br />
<strong>DO</strong>NA CLARA 13 231 102<br />
<strong>DO</strong>NA CAROLINA 34 583 331<br />
NOVA RONDA ALTA 06 123 64<br />
PASSO DA ENTRADA 05 47 22<br />
RANCHO ALEGRE 10 133 51<br />
SANTA LUCIA 08 117 66<br />
SUBIDA GRANDE 22 315 161<br />
SÃO SEBASTIÃO 24 325 149<br />
SECA 41 624 288<br />
ARSEGO 9 128 52<br />
VITORIA 41 740 307<br />
DIVISORIA 46 534 214<br />
B.V. GUSATTI 15 282 127<br />
B.V. SÃO PEDRO 47 727 318<br />
CAVASINI 11 331 185<br />
SANGA MATHIAS 08 88 39<br />
SIQUEIRA 26 277 121<br />
RESERVA INDÍGENA 36 269 78<br />
TOTAL GERAL 624 9.206 4.189<br />
Fonte: SEAPPA - IVZ RONDA ALTA – Inspetoria Veterinária.<br />
Portanto, a partir das informações dos dados apresentados no quadro 07, podemos<br />
afirmar que a quase totalidade das famílias residentes no meio rural de Ronda Alta dependem<br />
da atividade leiteira como importante fonte de geração de renda.<br />
A cadeia produtiva do leite no município de Ronda Alta<br />
O quadro 08 abaixo apresenta os diferentes elos da cadeia produtiva do leite no espaço<br />
local. Salientamos que o mercado municipal absorve apenas 8% do leite produzido, e que o<br />
27
mesmo tende à expansão, exigindo aumento de produção e qualidade do produto o que remete<br />
à necessária especialização dos agricultores, pois a maior parte do excedente gerado é<br />
direcionado ao mercado regional e estadual.<br />
Quadro 08 - Fluxograma da cadeia produtiva do leite no Município.<br />
Fornecedores<br />
de insumos e<br />
serviços<br />
Sementes<br />
Mudas<br />
Rações, Sal<br />
Mineralizado<br />
Medicamentos<br />
Assistência<br />
veterinária<br />
Produtores<br />
de leite<br />
Matrizes<br />
leite “in natura<br />
Agroindústria<br />
falimiar- Queijo e<br />
leite pasteurizado<br />
queijo colonial<br />
Segundo o Diagnóstico Rural Participativo de 2004, em torno de 92% do leite<br />
produzido em Ronda Alta é comercializado com empresas que realizam o processo de<br />
industrialização fora do município, sendo que apenas uma empresa possui entreposto de<br />
recebimento de leite no município.<br />
Destinação do leite<br />
produzido<br />
Posto de<br />
Recepção no<br />
município (1)<br />
Coleta por<br />
empresas com<br />
transporte do<br />
leite para outros<br />
municípios<br />
Do restante do leite produzido, parte é processado por uma agroindústria familiar<br />
(envasamento e pasteurização de aproximadamente 15.000 litros de leite/mês e fabricação de<br />
1.000 Kg de queijo inspecionado pelo Sistema de Inspeção Municipal (SIM), e o restante é<br />
comercializado “in natura” e/ou utilizado na fabricação de queijos coloniais pelos produtores<br />
para consumo próprio e para comercialização no município.<br />
Comercialização<br />
Processamento e<br />
comercialização em<br />
outros municípios<br />
Bares e<br />
Restaurantes<br />
Mercearias<br />
Supermercados<br />
Consumidor<br />
Final<br />
28
Esse mesmo diagnóstico 2 da realidade da cadeia leiteira do município, já identificava<br />
pontos fortes e fracos do setor conforme segue:<br />
Fatores Restritivos / Pontos de Estrangulamento:<br />
• Deficiência de alimentação (pastagens, feno ou silagem) principalmente durante o<br />
período do verão (área ocupada com culturas de verão: milho e soja).<br />
• As terneiras (futuras matrizes) não recebem, de maneira geral, manejo adequado,<br />
aliado à reprodução realizada no sistema de monta ou com a utilização de sêmen de<br />
menor potencial genético-menor custo.<br />
• Períodos de desequilíbrio entre o preço recebido pelo leite / custo de produção.<br />
• Deficiência no manejo de pastagens, não utilização de adubações ou sub-adubações<br />
bem como insuficiência de área de pastagens e incorreto dimensionamento e período<br />
de utilização de piquetes.<br />
Fatores impulsores:<br />
• Já existem iniciativas de condução de áreas com pastoreio rotativo (piquetes) para<br />
produção de leite a pasto.<br />
• Rebanho leiteiro constituído basicamente pela raça holandesa.<br />
• Facilidade na comercialização do leite, pois diversas empresas realizam a coleta e a<br />
aquisição de leite com destaque para a Cotrisal, Laticínio Bom Gosto, DPA, Italac,<br />
Coopac e Tirol.<br />
• Mercado consumidor local: costume no consumo de leite que adquirem diretamente de<br />
“leiteiros tradicionais,” que entregam a domicílio, em embalagem plástica tipo “pet”<br />
sem pasteurização e de um produtor (agroindústria familiar) que realiza o envase e<br />
Fonte: Diagnóstico Municipal – Escritório Municipal de Ronda Alta, dezembro de 2004.<br />
29
pasteurização do leite e fabrica queijos tipo colonial, com registro no Serviço de<br />
Inspeção Municipal – SIM.<br />
Podemos observar que entre os quatro principais Fatores Restritivos ou Pontos de<br />
Estrangulamento, levantados no Diagnóstico Rural Participativo, três referem-se a aspectos<br />
que dizem respeito diretamente ao grau de especialização do produtor de leite.<br />
Pelo que se observa nos Gráficos 03 e 04 abaixo, o preço do leite recebido pelos<br />
produtores não tem sofrido grandes oscilações durante o período de 2002 a 2009 (preços<br />
corrigidos pelo IPCA), tanto no Estado do Rio Grande do Sul como no município de Ronda<br />
Alta, o que possibilita o planejamento e investimentos na atividade leiteira. Podemos notar<br />
também, o aumento da entrega do produto com nota fiscal, permitindo assim, a ampliação dos<br />
investimentos públicos municipais, na ampliação e conservação da infra-estrutura coletiva de<br />
transporte e de criação e implementação de projetos de apoio à estruturação da atividade<br />
leiteira nas propriedades leiteiras.<br />
Gráfico 03 - Evolução do Preço do leite no Rio Grande do Sul<br />
V A LOR ES E M R$<br />
4,00<br />
3,50<br />
3,00<br />
2,50<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
0,00<br />
2002 01<br />
2002 07<br />
EVOLUÇÃO <strong>DO</strong> PREÇO <strong>DO</strong> LEITE NO <strong>RIO</strong> GRANDE <strong>DO</strong> SUL<br />
2003 01<br />
2003 07<br />
2004 01<br />
2004 07<br />
2005 01<br />
2005 07<br />
2006 01<br />
2006 07<br />
PERÍO<strong>DO</strong><br />
2007 01<br />
2007 07<br />
2008 01<br />
2008 07<br />
2009 01<br />
2009 07<br />
(R$/l)<br />
R$/US$<br />
Corrigido IPCA<br />
Fonte: Elaborado pelo autor com dados com base em dados da EMATER – RS / ASCAR,<br />
Intranet, Sistema Super, Preços recebidos – leite.<br />
30
Gráfico 04 – Evolução do Valor Leite – Ronda Alta.<br />
V A LOR E M M IL R$<br />
5000<br />
4000<br />
3000<br />
2000<br />
1000<br />
0<br />
VALOR TOTAL ANUAL- DECLARA<strong>DO</strong> ATRAVÉS NOTA <strong>DO</strong><br />
PRODUTOR RURAL<br />
Nº DE ESTABELECIMENTOS VALOR LEITE (em mil R$)<br />
Fonte: SITAGRO – Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul.<br />
No quadro abaixo 09 pode-se observar um crescimento no valor do leite dos<br />
estabelecimentos que emitiram notas fiscais de venda entre 2003 a 2008, período em que não<br />
houve aumento no número de propriedades, no município de Ronda Alta/RS.<br />
Quadro 09 – Demonstrativo do gráfico 04 - Número de estabelecimentos e valor do leite por<br />
ano<br />
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS<br />
QUE EMITIRAM NOTA DE VENDA DE<br />
LEITE<br />
ANO VALOR LEITE<br />
(mil R$)<br />
249 2003 1.259,51<br />
325 2004 1.869,88<br />
249 2005 1.587,94<br />
277 2006 1.940,54<br />
256 2007 3.374,93<br />
254 2008 4.427,94<br />
Fonte: SITAGRO – Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul, dados obtidos<br />
junto a Secretaria Municipal de Fazenda de Ronda Alta.<br />
2003<br />
2004<br />
2005<br />
2006<br />
2007<br />
2008<br />
31
4. DA PESQUISA<br />
4.1. METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />
Para a execução do trabalho utilizou-se o método de pesquisa de campo, por meio da<br />
aplicação de entrevista estruturada (anexo 01) com 217 produtores, dentro de um universo de<br />
624 produtores cadastrados na Inspetoria Veterinária de Ronda Alta, com diferentes graus de<br />
especialização na atividade leiteira. Desde os agricultores que têm a atividade leiteira como a<br />
principal atividade econômica na propriedade, até os produtores com participação marginal<br />
(consumo próprio ou comércio local de leite ou derivados e venda sazonal do excedente),<br />
normalmente associado com outras atividades (milho, soja, trigo, fumo, etc.).<br />
As entrevistas foram realizadas no período de outubro a dezembro de 2009 e buscou-<br />
se levantar dados do sistema produtivo tais como: área da propriedade, inventário animal,<br />
reprodução animal adotada. Alimentação ministrada às vacas e às terneiras, tipo de<br />
resfriadores utilizados, tipo de ordenha e preços recebidos pelo produto no último mês.<br />
A identificação e mensuração dessas variáveis, acima descritas, possibilitam<br />
identificar e classificar os níveis de especialização na atividade leiteira dentro do universo das<br />
propriedades pesquisadas. Utilizou-se também dados obtidos junto à Prefeitura Municipal de<br />
Ronda Alta, à Inspetoria Veterinária do Estado e pesquisa em sites de órgãos governamentais<br />
estaduais e federais.<br />
Os dados obtidos foram tabulados em planilha Excel e relacionados com a<br />
produtividade leiteira do rebanho leiteiro das propriedades.<br />
A produtividade leiteira foi estabelecida a partir da produção anual do rebanho,<br />
informada pelo produtor.<br />
4.2. DA<strong>DO</strong>S DA PESQUISA<br />
Total de propriedades com atividade leiteira em Ronda Alta: 624<br />
Percentual de propriedades amostradas: 34,77<br />
32
Total de propriedades amostradas: 217<br />
Total de vacas em lactação: 2.151<br />
Produtividade média diária: 0l vaca / Dados do Questionário: 12,34<br />
Relativo à pesquisa (Anexo 01), foram realizadas 217 entrevistas e os resultados estão<br />
enumerados e comentados a seguir:<br />
1. Área total da propriedade<br />
Os resultados obtidos nessa primeira questão (tabela 01) demonstram que a atividade<br />
leiteira é realizada por pequenas propriedades, uma vez que 98,16% dos produtores<br />
entrevistados possuem propriedades com área máxima de 50 ha, dos quais 34,10% possuem<br />
menos de 10 ha e apenas 1,84% possuem mais de 50 ha.<br />
Proporcionalmente ao número de propriedades a maior produção de leite provém das<br />
propriedades com área de 10 a 30 hectares (57,14%) com participação de 84,65% do total de<br />
leite produzido.<br />
Tabela 01 - Área total da propriedade<br />
Área total da propriedade N.º prop. % Propr. N.º Vacas L/Mês L/Vc/Dia<br />
Menos de 10 ha 74 34,10 562 156.350 9,27<br />
10 a 20 ha 98 45,16 949 318.150 11,17<br />
20 a 30 ha 26 11,98 390 199.800 17,08<br />
30 a 40 ha 08 3,69 100 50.500 16,83<br />
40 a 50 ha 07 3,23 101 47.800 15,78<br />
Mais de 50 ha 04 1,84 49 24.000 16,33<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
2. Inventário Animal da propriedade<br />
O total de animais contabilizados na pesquisa foi de 3.666 cabeças, sendo 2.151 vacas,<br />
812 novilhas e 703 terneiras.<br />
33
Tabela 02 - Inventário Animal da propriedade – Percentual de animais por tamanho da<br />
propriedade<br />
Área total da<br />
propriedade<br />
N.º de N.º<br />
Propriedades Vacas<br />
% do<br />
total<br />
vacas<br />
% do<br />
% do total<br />
N.º total N.º<br />
terneiras<br />
Novilhas novilhas Terneiras<br />
Menos de 10 ha 74 562 26,13 230 28,33 187 26,60<br />
10 a 20 ha 98 949 44,12 321 39,53 307 43,67<br />
20 a 30 ha 26 390 18,13 161 19,83 124 17,64<br />
30 a 40 ha 08 100 4,65 36 4,43 29 4,13<br />
40 a 50 ha 07 101 4,70 45 5,54 38 5,41<br />
Mais de 50 ha 04 49 2,28 19 2,34 18 2,56<br />
TOTAL 217 2151 100,00 812 100,00 703 100,00<br />
Observa-se na tabela 02 que as propriedades com até 30 ha (198 propriedades,<br />
91,24%) detém 88,38% das vacas, 87,69% das novilhas e 87,91% das terneiras do total<br />
contabilizado na pesquisa. Esse fato identifica a pecuária de leite como atividade<br />
característica da AF (Agricultura Familiar), pois a maioria dos criadores exploram áreas<br />
inferiores a 04 módulos fiscais (80 ha).<br />
3. Tipo de reprodução utilizada<br />
A utilização de inseminação constitui na principal forma de reprodução, sendo<br />
utilizada em 65,44% das propriedades pesquisadas; sua utilização pode ser considerada um<br />
bom indicador do grau de especialização dos produtores, ao contrário da reprodução através<br />
do uso de touro (monta) que é utilizado em apenas 34,56% das propriedades.<br />
Na correlação tipo de reprodução, observa-se pela tabela 04 que nas propriedades que<br />
utilizam a inseminação, a média de produção de leite diária (13,43 l/Vc) é superior às obtidas<br />
nas propriedades que utilizam a reprodução através de touro (monta) (9,20 l/Vaca).<br />
Tabela 03 - Reprodução<br />
Tipo de reprodução<br />
Número de % das<br />
N.º Vacas<br />
Propriedades Propried.<br />
L/Mês L/V/Dia<br />
INSEMINAÇÃO 142 65,44 1.600 644.450 13,43<br />
MONTA (TOURO) 75 34,56 551 152.150 9,20<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
34
No tocante à inseminação, não foi analisado o valor do sêmen utilizado, apenas sua<br />
utilização ou não.<br />
4. Para a alimentação das terneiras o que é utilizado diariamente<br />
Observou-se que em 56,68% das propriedades já é praticado o fornecimento de feno<br />
para as terneiras. O fornecimento de ração já atinge 72,35 das propriedades e a conjugação<br />
dos dois alimentos abrange praticamente 50% das propriedades.<br />
Tabela 04 - Alimentação das terneiras<br />
Alimento N.º propriedades % das propriedades<br />
Fornecem feno 123 56,68<br />
Fornecem ração 157 72,35<br />
Fornecem feno e ração 108 49,77<br />
A utilização do colostro é feita em 57,6% das propriedades na forma “in natura,” não<br />
havendo o armazenamento do excedente para fornecimento posterior. Isto implica a aquisição<br />
de produtos industrializados e /ou utilização de leite comercializável, aumentando os custos<br />
de criação da terneira. O excedente do colostro é utilizado para a alimentação de outros<br />
animais da propriedade, como suínos e animais domésticos.<br />
Em somente 16,59% das propriedades, o excedente de colostro é armazenado no<br />
resfriador de leite juntamente com os tarros e fornecido, posteriormente, às terneiras.<br />
O armazenamento do excedente de colostro em forma de silagem é utilizado em<br />
25,81% das propriedades em decorrência da substituição dos resfriadores de tarro por a granel<br />
e pela divulgação dos trabalhos desenvolvidos sobre silagem de colostro, pela EMATER-<br />
RS/ASCAR de Pelotas, através da médica veterinária da Emater/RS-Ascar, Med. Vet. Mara<br />
Helena Saalfeld.<br />
35
Tabela 05 - Utilização do colostro<br />
Utilização do colostro N.º propriedades % das propriedades<br />
Fornecem colostro resfriado 36 16,59<br />
Fornecem silagem de colostro 56 25,81<br />
Fornecem colostro "in natura" 125 57,60<br />
TOTAL 217 100,00<br />
5. Na alimentação das novilhas<br />
Quando se relaciona a alimentação das novilhas com a produtividade leiteira obtida<br />
nessas propriedades, verifica-se significativa diferença em relação à produtividade média<br />
obtida na pesquisa de 12,34 l/Vc/dia, conforme tabela 07.<br />
Tabela 06 – Alimentação de novilhas<br />
Alimentação N.º Prop. % N.º Vacas N.º Novilhas L/leite/mês L/Vc/Dia<br />
Ração e feno 108 49,77 1.379 554 572.400 13,84<br />
Outros 109 50,23 772 258 224.600 9,70<br />
Total 217 100 2.151 812 796.600 12,34<br />
6. Para a alimentação das vacas o que é utilizado diariamente<br />
Na dieta das vacas foram considerados os principais alimentos utilizados no município<br />
e região que são: feno, ração formulada, silagem de milho e pastagem permanente.<br />
Pelos dados levantados, constatou-se que a utilização de feno é realizada por apenas<br />
20,28% das propriedades, ração formulada por 63,59% das propriedades, silagem de milho<br />
por 60,83% das propriedades e pastagem permanente por 46,08% das propriedades conforme<br />
podemos observar na Tabela 07 abaixo:<br />
Tabela 07 - Alimentos fornecidos às vacas<br />
Alimento<br />
N.º<br />
propriedades % Propr. N.º Vacas L/Mês L/Vc/Dia<br />
Fornecem feno 44 20,28 577 275.850 15,94<br />
Não fornecem feno 173 79,72 1.574 520.750 11,03<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
Fornecem ração formulada 138 63,59 1.587 644.350 13,53<br />
Não fornecem ração formulada 79 36,41 564 152.250 9,00<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
Fornecem silagem de milho 132 60,83 1.625 657.900 13,50<br />
Não fornecem silagem de milho 85 39,17 526 138.700 8,79<br />
36
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
Dispõe de pastagem permanente 100 46,08 1.352 576.650 14,22<br />
Não dispõe de pastagem<br />
permanente 117 53,92 799 219.950 9,18<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
Quando há a interação entre o fornecimento de feno e silagem aos animais, a<br />
produtividade do leite (Litro/vaca/Dia) cresce significativamente como podemos observar na<br />
tabela 08 abaixo, indicando também o grau de especialização do produtor, mas somente<br />
13,82% das propriedades amostradas adotam essa importante prática.<br />
Tabela 08 - Interação de feno e silagem na produtividade leiteira.<br />
Interação feno e silagem Propriedades % Propr. N.º Vacas L/Mês L/Vc/Dia<br />
Fornecem feno e silagem 30 13,82 489 254.800 17,37<br />
Não fornecem feno nem silagem 70 32,26 438 117.650 8,95<br />
Fornecem ou feno ou silagem 117 53,92 1.224 424.150 11,55<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
7. Que tipo de resfriador de leite utiliza<br />
O armazenamento e conservação do leite através de resfriador de tarros ainda é<br />
utilizado em 51,15% das propriedades do município devido ao custo de aquisição de<br />
resfriador a granel associado ao baixo volume de leite produzido nestas propriedades.<br />
A utilização de resfriador a granel é adotada em 29,49% das propriedades que<br />
apresentam uma maior produção leiteira e melhores produtividades, como está demonstrado<br />
na tabela abaixo.<br />
Em 19,35% das propriedades não há resfriadores. Nessas propriedades, a maior parte<br />
do leite é utilizado para a fabricação de queijo utilizado para consumos próprio e<br />
comercializado no município. O excedente do leite é entregue em resfriadores de vizinhos que<br />
pelo volume total, conseguem preços melhores pelo leite. Observa-se pela tabela abaixo que<br />
essas propriedades obtêm as menores produtividades de leite (média de 7,83 l/Vc/dia).<br />
37
Tabela 9 - Conservação do leite<br />
Conservação do leite<br />
N.º de<br />
propriedades % Propr. N.º Vacas L/Mês L/Vc/Dia<br />
Resfriador de tarros 111 51,15 942 266.850 9,44<br />
Resfriador a granel 64 29,49 1005 481.800 15,98<br />
Não possue resfriador 42 19,35 204 47.950 7,83<br />
TOTAL 217 100,00 2151 796.600 12,34<br />
8. De que forma é realizada a ordenha<br />
A ordenha mecânica é utilizada em 71,89% das propriedades e a ordenha manual em<br />
28,11% das propriedades leiteiras de Ronda Alta.<br />
Relacionando-se o tipo de ordenha com a produtividade leiteira observa-se maior<br />
produtividade nas propriedades que utilizam a ordenha mecânica. Isto se deve à associação<br />
com outros fatores como: nutrição do rebanho, produção leiteira e nível de especialização do<br />
produtor.<br />
Tabela 10 - Tipo de Ordenha<br />
Tipo de ordenha<br />
N.º de<br />
propriedades % Propr. N.º Vacas L/Vc/Mês L/Vc/Dia<br />
Ordenha mecânica 156 71,89 1.874 732.900 13,04<br />
Ordenha manual 61 28,11 277 63.700 7,67<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
9. Qual a produção média diária por vaca<br />
Verifica-se que nas propriedades com até 10 vacas (73,73%), a produtividade leiteira<br />
está abaixo da média constatada na pesquisa que é de 12,34 litros/vaca/dia. As propriedades<br />
com produtividades acima da média possuem um rebanho acima de 20 vacas e representam<br />
6,91% das propriedades.<br />
Tabela 11 - Média de vacas por propriedade<br />
N.º de Vacas por propriedade<br />
N.º de<br />
propriedades % Propr. N.º Vacas L/Vc/Mês L/Vc/Dia<br />
ATÉ 05 VACAS 52 23,96 195 53.850 9,21<br />
DE 06 A 10 VACAS 108 49,77 855 248.450 9,69<br />
DE 11 A 20 VACAS 42 19,35 583 208.800 11,94<br />
DE 21 A 30 VACAS<br />
MAIS DE<br />
12 5,53 311 138.500 14,84<br />
31 VACAS 03 1,38 207 147.000 23,67<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
38
10. Qual o valor recebido por litro de leite no último mês<br />
Pela pesquisa observa-se que o preço recebido pelo produtor está diretamente<br />
relacionado com a produção obtida por propriedade, a qual está normalmente relacionada com<br />
a produtividade leiteira conforme podemos visualizar na tabela 14.<br />
Tabela 12 - Valor recebido por litro de leite<br />
N.º de<br />
Valor do leite recebido propriedades % Propr. N.º Vacas L/Vc/Mês L/Vc/Dia<br />
Abaixo de R$ 0,56/litro 44 20,28 363 100.750 9,25<br />
De R$ 0,56 a R$ 0,64/litro 84 38,71 726 231.900 10,65<br />
Acima de R$ 0,64/litro 49 22,58 858 410.000 15,93<br />
Produzem queijo 40 18,43 204 53.950 8,82<br />
TOTAL 217 100,00 2.151 796.600 12,34<br />
4.3. RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
1. Propriedades com até 10 vacas (73,73%) obtiveram os menores índices de<br />
produtividade de leite (igual ou menor que 9,69 l/vc/dia), enquanto as propriedades com mais<br />
de 30 vacas em lactação ( 6,91 %) obtiveram as produtividades mais altas ( 23,67 l/vc/dia);<br />
2. Considerando a produtividade e o volume da produção como parâmetros importantes<br />
para estabelecer o grau de especialização dos produtores de leite de Ronda Alta podemos<br />
verificar que a maioria dos produtores tem baixo grau de especialização na atividade leiteira;<br />
3. Os sistemas produtivos das propriedades onde as práticas de alimentação e<br />
melhoramento genético foram adotadas, constituem importantes indicadores do grau de<br />
especialização dos agricultores, pois são fatores determinantes para o aumento da<br />
produtividade e rentabilidade da atividade leiteira;<br />
4. As propriedades com menores produtividades receberam os menores preços pelo leite;<br />
5. O grau de especialização dos produtores de leite é fator condicionante para a sua<br />
permanência na cadeia produtiva.<br />
39
5. CONCLUSÃO<br />
O setor agropecuário representa a mola propulsora da economia do município de<br />
Ronda Alta - RS, pois 45,5 % da população residente no espaço rural é responsável por 38%<br />
do VAB local, dando suporte ao desenvolvimento dos demais setores da economia,<br />
especialmente o de serviços (58% do VAB) conforme explicado na página 24 desse trabalho.<br />
A área agricultável do município encontra-se praticamente estabilizada, não<br />
ocorrendo aumentos significativos da produção nos últimos anos, especialmente das culturas<br />
tradicionais de grãos como soja e milho, devido à impossibilidade da expansão da fronteira<br />
agrícola como se apresentou na página 25. Dessa forma, o aumento da renda da população<br />
rural no tocante à agricultura, especialmente a produção de grãos e fumo, está dependente do<br />
aumento da produtividade, redução de custos de produção, principalmente dos insumos<br />
utilizados a cada safra, bem como da valorização do produto,<br />
A atividade leiteira no município de Ronda Alta vem periodicamente mostrando<br />
incremento significativo da produção e da produtividade, decorrentes da especialização na<br />
atividade. A especialização dos produtores de leite deve ser vista como fator determinante<br />
para a otimização dos fatores de produção (terra, capital, trabalho, conhecimento e tecnologia)<br />
com aumento da renda e da qualidade de vida das famílias rurais.<br />
No atual estágio de desenvolvimento da cadeia leiteira no município, a<br />
especialização dos produtores é fundamental para a obtenção de uma escala mínima de<br />
produção, assim como, a qualificação do produto que garanta preços satisfatórios e aumento<br />
da receita, possibilitando assim, os investimentos necessários para a reprodução e<br />
sustentabilidade do negócio. A baixa produtividade leiteira constatada na maioria das<br />
propriedades rurais pesquisadas está diretamente relacionada com os fatores abaixo<br />
relacionados.<br />
Área total da propriedade e inventário animal<br />
A atividade leiteira é realizada predominantemente pelas pequenas propriedades, uma<br />
vez que 98,16% dos produtores entrevistados possuem propriedades com área máxima de 50<br />
ha, dos quais 34,10% possuem menos de 10 ha e apenas 1,84% possuem mais de 50 hectares.<br />
40
Conforme dados amostrais, as propriedades com até 30 ha (198 propriedades, 91,24%)<br />
detêm 88,38% das vacas, 87,69% das novilhas e 87,91% das terneiras do total do rebanho<br />
leiteiro contabilizado na pesquisa. Esse fato identifica a pecuária de leite como atividade<br />
característica da AF (Agricultura Familiar), pois a maioria dos criadores exploram áreas<br />
inferiores a 4 módulos fiscais (80 ha).<br />
Tipo de reprodução utilizada<br />
A utilização de inseminação artificial constitui a principal forma de reprodução,<br />
sendo utilizada em 65,44% das propriedades pesquisadas; sua utilização pode ser considerado<br />
um bom indicador do grau de especialização dos produtores ao contrário da reprodução<br />
através do uso de touro (monta) que é utilizado em apenas 34,56% das propriedades.<br />
Para a alimentação das terneiras o que é utilizado diariamente<br />
Observou-se que em 56,68% das propriedades já é praticado o fornecimento de feno<br />
para as terneiras. O fornecimento de ração já atinge 72,35 das propriedades e a conjugação<br />
dos dois alimentos abrange praticamente 50% das propriedades.<br />
A utilização do colostro é feita em 57,6% das propriedades na forma “in natura” não<br />
havendo o armazenamento do excedente para fornecimento posterior. Isto implica a aquisição<br />
de produtos industrializados e ou utilização de leite comercializável aumentando os custos de<br />
criação da terneira. Em somente 16,59% das propriedades o excedente de colostro é<br />
armazenado no resfriador de leite juntamente com os tarros e fornecido posteriormente às<br />
terneiras.<br />
O armazenamento do excedente de colostro em forma de silagem é utilizado em<br />
25,81% das propriedades indicando necessidade de avançar na adoção dessa prática para<br />
aumentar o grau de especialização dos produtores.<br />
Alimentação das vacas e novilhas utilizadas diariamente<br />
Na dieta das vacas e novilhas, constatou-se que a utilização de feno é realizada por<br />
apenas 20,28% das propriedades, ração formulada por 63,59%, silagem de milho por 60,83%<br />
e pastagem permanente por 46,08% das propriedades.<br />
Quando há a interação entre o fornecimento de feno e silagem aos animais, a<br />
produtividade do leite (Litro/vaca/Dia) cresce significativamente, indicando também o grau de<br />
41
especialização do produtor, mas somente 13,82% das propriedades amostradas adotam essa<br />
importante prática.<br />
Tipo de resfriador de leite utilizado<br />
O armazenamento e conservação do leite através de resfriador de tarros ainda é<br />
utilizado em 51,15% das propriedades do município devido ao custo de aquisição de<br />
resfriador a granel associado ao baixo volume de leite produzido nessas propriedades.<br />
A utilização de resfriador a granel é adotada em 29,49% das propriedades que<br />
apresentam uma maior produção leiteira e melhores produtividades, em 19,35% das<br />
propriedades não há resfriadores.<br />
Tipo de ordenha realizada<br />
A ordenha mecânica é utilizada em 71,89% das propriedades e a ordenha manual em<br />
28,11% das propriedades leiteiras de Ronda Alta.<br />
Relacionando-se o tipo de ordenha com a produtividade leiteira observa-se maior<br />
produtividade nas propriedades que utilizam ordenha mecânica. Isso se deve à associação com<br />
outros fatores como nutrição do rebanho, produção leiteira e nível de especialização do<br />
produtor. .<br />
Qual a produção média diária de leite por vaca<br />
Verifica-se que nas propriedades com até 10 vacas (73,73%), a produtividade leiteira<br />
está abaixo da média constatada na pesquisa que é de 12,34 litros/vaca/dia. As propriedades<br />
com produtividades acima da média possuem um rebanho acima de 20 vacas e representam<br />
6,91% das propriedades.<br />
Valor recebido por litro de leite no último mês<br />
Os dados levantados pela pesquisa demonstram que os preços recebidos pelos<br />
produtores está diretamente relacionado com o volume e a produtividade leiteira, portanto os<br />
criadores que apresentam maiores índices de produção e produtividade têm obtidos maiores<br />
preços pelo produto.<br />
Considerando os fatores acima mencionados como indicadores do nível de<br />
especialização dos produtores de leite do município de Ronda Alta, parece plausível afirmar<br />
42
que a permanência dos mesmos de maneira sustentável nessa cadeia produtiva dependerá<br />
diretamente do incremento do processo de especialização.<br />
Podemos observar durante a pesquisa que na maioria das propriedades não é<br />
realizado o controle de produção de leite por vaca (controle leiteiro), o que ocasiona maiores<br />
custos de produção do leite devido à manutenção de animais com baixo potencial produtivo,<br />
reduzindo a produtividade do rebanho e a rentabilidade da atividade como um todo, conforme<br />
relatado por Kirchof (2005), ao qual nos referimos no quarto parágrafo, na página 13 desse<br />
trabalho.<br />
Enfatizamos que esse é um estudo desenvolvido por um Extensionista Rural com<br />
formação técnica, diretamente envolvido com as questões e problemas práticos do cotidiano<br />
dos agricultores familiares participantes da cadeia produtiva do leite, no município de Ronda<br />
Alta.<br />
Acreditamos que outros estudos dessa natureza possam ser realizados para identificar<br />
a influência de novas variáveis, como políticas públicas (crédito rural, assistência técnica,<br />
etc.), assim como a identificação das estratégias de resistência adotadas pelos produtores<br />
rurais para sua permanência na atividade. Nesse caso, alguns fenômenos sócio-econômicos<br />
relacionados com a multifuncionalidade e pluralidade da agricultura deverão ser considerados.<br />
Certamente que o olhar crítico de profissionais de outras áreas do conhecimento,<br />
especialmente das ciências sociais, enfatizando outros aspectos da realidade, são<br />
fundamentais para diagnosticar problemas, gerar, aplicar e universalizar conhecimentos e<br />
tecnologias em prol do desenvolvimento rural sustentável<br />
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AGÊNCIA DE INFORMAÇÃO EMBRAPA: Agronegócio do Leite. Disponível em:<br />
. Acesso em: 10 jan.<br />
2010.<br />
ATLAS SOCIOECONÔMICO <strong>DO</strong> <strong>RIO</strong> GRANDE <strong>DO</strong> SUL. Disponível em<br />
. Acesso em: 23 jan. 2010.<br />
CAMPOS, C. Kilmer; PIACENTI, A. Carlos. Agronegócio do leite: cenário atual e<br />
perspectivas. Disponível em: . Acesso em: 23<br />
jan. 2010.<br />
EMATER-RS/ASCAR, Diagnóstico Municipal do Município de Ronda Alta. Escritório<br />
Municipal de Ronda Alta, dezembro de 2004.<br />
EMATER-RS/ASCAR. Intranet, Sistema Super, Preços Recebidos-Leite. Disponível em:<br />
LOPES, F, Patrick et al. Metodologias de custos de produção na pecuária leiteira: Um<br />
estudo nos principais estados produtores do Brasil. Disponível em:<br />
. Acesso em: 25 jan. 2010.<br />
SEAPPA: Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio do Rio Grande do Sul.<br />
Dados cedidos pela Inspetoria Veterinária, IVZ Ronda Alta.<br />
SITAGRO: Secretaria Da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul, Relatório de produtores<br />
referentes a Leite e Creme de Leite (nata). Dados cedidos pela Secretaria Municipal da<br />
Fazenda de Ronda Alta-RS.<br />
SIDRA, IBGE Disponível em ><br />
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?t=3&z=t&o=23&u1=1&u2=1&u4=1&u5<br />
=1&u6=1&u7=1&u3=34. Acesso em 02 set.2010.<br />
WAGNER, Saionara Araújo; Ivaldo Gehlen; José Maria Wiest. Padrão tecnológico em<br />
unidades de produção familiar de leite no Rio Grande do Sul relacionado com diferentes<br />
tipologias. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-<br />
84782004000500039&script=sci_arttext. Acesso em 02 set.2010.<br />
45
ANEXO 1<br />
Questionário utilizado nas entrevistas com 217 produtores de leite no Município de<br />
1. Área total da propriedade<br />
01-Menos de 10 ha<br />
02-De 10 a 20 ha<br />
03-De 20 a 50 ha<br />
04-Mais de 50 ha<br />
2. Inventário Animal da propriedade<br />
01-Número de vacas<br />
02-Número de novilhas<br />
03-Número de terneiras<br />
3. Tipo de reprodução utilizada?<br />
01-Inseminação<br />
02-Monta<br />
Ronda Alta-RS<br />
4. Para a alimentação das terneiras o que é utilizado diariamente?<br />
01-Feno<br />
46
02-Ração formulada<br />
03-Colostro resfriado<br />
04-Silagem de colostro<br />
05-Nenhum dos citados<br />
5. Na alimentação das novilhas o que fornece diariamente?<br />
01-Ração e feno<br />
02-Outros<br />
6. Para a alimentação das vacas o que é utilizado diariamente?<br />
01-Feno<br />
02-Ração formulada<br />
03-Silagem de milho<br />
04-Pastagem permanente<br />
05-Nenhum citado<br />
7. Que tipo de resfriador de leite possui?<br />
01-De tarros<br />
02-Tanque a granel<br />
03-Não possui<br />
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8. De que forma é realizada a ordenha?<br />
01-Manual<br />
02-Mecânica<br />
9. Qual a produção média diária por vaca?<br />
01-Até 10 litros<br />
02-De 10 a 12 litros<br />
03-De 12 a 15 litros<br />
04-Acima de 15 litros<br />
10. Qual o valor recebido por litro de leite no último mês?<br />
01-Até R$ 0,56<br />
02-De R$ 0,56 a R$ 0,64<br />
03-Acima de R$ 0,64<br />
04-Fabricam queijo<br />
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