PORTFÓLIO DANIEL BLAUFUKS
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Como uma sutura, e não como uma rotura, as
imagens de Daniel Blaufuks procuram assim unir os
espaços ou os intervalos da perceção, mesmo se no
final mantemos um sentimento de indecisão,
abertura e especulação sobre as mesmas. A sua fé
nas imagens, apesar das dúvidas crescentes sobre o
atual poder da fotografia nesse processo, continua
a manter Blaufuks preso a um exercício imperativo,
a um compromisso absoluto com o trabalho da sua
produção e reflexão, apontando a memória que se
espelha na imanência da fotografia como uma
espécie particular de sombra que nos persegue a
todo o tempo, em todos os movimentos dos corpos
e da luz.
Nos antípodas de Peter Schlemihl – a famosa
personagem de Chamisso que vendeu a sua
sombra e se enredou depois na rejeição social e no
isolamento – Blaufuks procura recuperar,
obstinadamente, não tanto a sua própria sombra
(embora também o faça em parte) mas aquela que
o passado da humanidade nos deixou, sem
contorno definido ou estabilizado, nas imagens
fotográficas dispersas pela longa temporalidade
moderna e a sua parada tecnológica. O resultado
desse caleidoscópio, como podemos intuir na
poética que funda o trabalho de Daniel Blaufuks,
será sempre apenas, contudo, mais uma centelha
que persistirá durante algum tempo na nossa
memória, após a passagem dos corpos, das
sombras e dos sentidos que fizeram um dia a vida
parecer eterna.
production and reflection, indicating that the
memory mirrored in the immanence of
photography is a kind of shadow that haunts
us constantly, in every movement of bodies
and light.
David Santos
Diretor do MNAC
David Santos
Diretor do MNAC