Museu-Teatro (das Coisas Guardadas) da Vizinhança de Piracicaba

O Museu-Teatro da Vizinhança de Piracicaba é o resultado de uma Oficina de Teatro de Objetos Documental dirigida a artistas da cidade de Piracicaba, São Paulo. Este livro é um registro das escolas recolhidas e trabalhadas na reflexão sobre uma nova postura do ator que o Teatro contemporâneo demanda. O Grupo Sobrevento acredita que o Teatro de Objetos Documental ajuda a promover tal discussão. Aqui, artistas de Piracicaba buscam refletir o seu entorno, apresentando-o a partir dos objetos que estão nas mesas de centro, nas estantes e no coração dos seus vizinhos. São histórias recolhidas e compartilhadas em um Teatro que mal supúnhamos que morava em tais objetos. Com essas histórias, reunidas durante a oficina de Teatro de Objetos Documental coordenada online pelo Sobrevento, pelos olhos de artistas sensíveis, dedicados e curiosos, esperamos montar um quadro que espelhe a alma de uma vizinhança. O Museu-Teatro da Vizinhança de Piracicaba é o resultado de uma Oficina de Teatro de Objetos Documental dirigida a artistas da cidade de Piracicaba, São Paulo. Este livro é um registro das escolas recolhidas e trabalhadas na reflexão sobre uma nova postura do ator que o Teatro contemporâneo demanda. O Grupo Sobrevento acredita que o Teatro de Objetos Documental ajuda a promover tal discussão. Aqui, artistas de Piracicaba buscam refletir o seu entorno, apresentando-o a partir dos objetos que estão nas mesas de centro, nas estantes e no coração dos seus vizinhos. São histórias recolhidas e compartilhadas em um Teatro que mal supúnhamos que morava em tais objetos. Com essas histórias, reunidas durante a oficina de Teatro de Objetos Documental coordenada online pelo Sobrevento, pelos olhos de artistas sensíveis, dedicados e curiosos, esperamos montar um quadro que espelhe a alma de uma vizinhança.





O Museu-Teatro da Vizinhança de Piracicaba é o resultado de uma

Oficina de Teatro de Objetos Documental dirigida a artistas da

cidade de Piracicaba, São Paulo. Planejada como uma atividade

presencial, terminou sendo realizada virtualmente por conta da

pandemia que, em outubro de 2020, impedia a reunião em

segurança. A atividade foi realizada entre os dias 19 e 25 de

outubro, com oficinas, por Internet, entre os dias 19 e 22, ensaios e

preparação das apresentações e resultados no dia 23 e

apresentações públicas virtuais (por teleconferência e transmissão

pública online), ficando os resultados registrados em vídeo. Foram

utilizadas as plataformas Facebook, Youtube e Zoom e o programa

de transmissão ao vivo (online broadcasting) OBS. Do mesmo modo

que tais plataformas buscaram substituir o Teatro em que tal

atividade ocorreria, na única possível medida responsável, também

foi criado um site interativo virtual para substituir o museu

presencial por um museu interativo virtual.

Este livro é um registro das escolas recolhidas e trabalhadas na

reflexão sobre uma nova postura do ator que o Teatro

contemporâneo demanda. O Grupo Sobrevento acredita que o

Teatro de Objetos Documental ajuda a promover tal discussão.

Aqui, artistas de Piracicaba buscam refletir o seu entorno,

apresentando-o a partir dos objetos que estão nas mesas de centro,

nas estantes e no coração dos seus vizinhos. São histórias recolhidas

e compartilhadas em um Teatro que mal supúnhamos que morava

em tais objetos. Com essas histórias, reunidas durante a oficina de

Teatro de Objetos Documental coordenada online pelo Sobrevento,

pelos olhos de artistas sensíveis, dedicados e curiosos, esperamos

montar um quadro que espelhe a alma de uma vizinhança.

Este projeto foi realizado pelo Programa de Ação Cultural, por

meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de

São Paulo e conta, em Piracicaba, com o apoio da Garapa

Associação Cultural Arte.

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Depoimentos Recolhidos

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Mundos Encaixados

“Eu venho de uma família grande, onde minha mãe vem de seis irmãos

e meu pai de sete. A descendência de minha mãe é negra com índia e

do meu pai italiano de olhos azuis. Na classificação que eu fiz,

considero-me parda, e isso pra mim é uma alegria, é uma questão que

eu valorizo muito e amo de paixão. E nessa história, minha mãe ficou

cuidando da minha avó e de uma tia solteirona que por sinal era a

minha madrinha e quem me criou. Todo o meu carinho, minha paixão,

meus medos, foi tudo ela que me incentivou, ela quem estava presente,

porque minha mãe sempre trabalhou fora. Na década de sessenta já era

uma mulher que batalhava, trabalhava fora e meu pai também e isso é

inédito naquela época de sessenta e setenta. Mas o que a minha tia me

deixou quando partiu e eu não consegui vê-la, foi a caixinha que me

marca muito, me dá muita saudade, me traz as memórias de infância,

do fogão a lenha, do queijinho queimando no garfo, na ponta do garfo,

bolinho, e ela me deixou essa caixinha com o crucifixo e a aliança dela

que é símbolo do amor que a gente sentia juntas. Uma família, uma

união, ela não foi minha mãe de sangue, mas foi minha mãe de criação

e isso me marcou muito e, se eu tenho algo que eu relembre que está

sempre aqui ao meu lado é essa caixinha que me dá proteção, que me

dá aconchego e eu amo de paixão.

Sou ligada muito em fotos, cadernos antigos que eu tenho de escola e a

minha história e memória é mais focada nisso, assim de objetos mesmo

que eu tenho são isso, fotografia e binóculos… porque vaso, panela,

relógios, coisas antigas de museu eu amo mas eu não tenho porque eu

sou daquelas que tem seis pratos, se eu tenho mais dois ou três é

muito, pois sou aquela pessoa que menos é mais. Eu tinha muita coisa,

mas eu doo. Se eu tenho meia dúzia de panelas se alguém precisa eu

dou uma, entende? Se eu compro panela nova eu vou doando a que já

está usada, pois não preciso mais”.

(depoimento de Dirce Módena, por Solange Barreto)

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Vó Augusta

“Meu avô pai do meu pai foi casado algumas vezes, e em uma

dessas vezes eu e minhas irmãs éramos pequenas e convivemos

muito com uma das esposas do meu avô, lembro de toda minha

infância com ela, chamávamos ela de vó Augusta (esse é o nome

dela) desde pequenas, aí a vida nos separou, não sabemos bem o

porquê, mas nunca esqueci essa vó, até que depois de adulta resolvi

procurá-la e encontrei, imagina minha felicidade. Retomamos

nossa relação e ela conheceu meu marido e minha filha.

No meu aniversário fui na casa dela e ela carinhosamente tirou

esse relógio de um porta-joias e me deu de presente, acho que eu

não teria gostado tanto se fosse novo, o fato se ter sido dela é o que

mais amo, meses depois ela faleceu, e guardo o relógio

com muito carinho”.

(depoimento de Vivian Volpi Costa, por Laura Lavorato)

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Calculando Cores

“Em fevereiro de 2020, resolvi me presentear com um livro de

colorir e uma caixa de lápis de cor. Talvez a ideia fosse retomar um

desejo de criança, mas acabei descobrindo uma forma de me

desconectar do mundo, onde o problema maior era decidir se rosa

combinava com amarelo ou como 48 opções de cores pareciam ser

insuficientes. É verdade que muitas vezes não conseguia pintar

com frequência, mas sempre sentia necessidade de buscar a paleta

de cores para aliviar o stress do dia a dia. Ainda tem muito mais

páginas em branco do que já coloridas… Mas não tem problema,

afinal a vida não é assim?”.

(depoimento de Foltran Spada, por Lívia.Foltran Spada)

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Lírio de Mãe

"Bom, eu fiquei um dia pensando sobre um objeto que fosse

representativo para mim, que me fizesse lembrar de uma pessoa

especial. Na verdade eu acabei optando não por um objeto, mas

uma flor. Não é um objeto, é um ser vivo. Mas é muito especial.

Pouco depois que eu vim morar sozinho, minha mãe me deu uma

muda de lírio da paz, já tive que trocar de vaso duas vezes e ele já

está pedindo a terceira troca. Guardo com muita lembrança e

toda vez que eu estou perto dele, eu sinto que estou perto da

minha mãe também. Cresci numa casa rodeada de flor, era uma

florestinha. Acho que isso desenvolveu em mim um gosto em ter

flores em casa. E eu lembro muito dela quando vejo flores por aí,

mas essa (o lírio) em especial, por ela ter me dado. Vou

guardando, vou tentando torná-la presente com esse lírio da paz.

É isso”.

(depoimento de Gustavo Almeida, por Felipe Vecchini)

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Um Presépio para Sempre

“Eu estive pensando aqui num objeto significativo pra mim e... é uma história

meio inusitada: eu, quando tinha uns sete, oito anos, mais ou menos, por

incrível que pareça, eu pedi de presente de natal um presépio. eu era apaixonado

por presépio – sou até hoje, porque eu faço coleção de presépio e s presépios

também, faço presépios artesanais, enfim, faço com variedade de material – mas

enfim – e isso também tem a ver com essa questão do teatro, porque é uma cena,

né?! Na realidade, o presépio é uma cena, então, sei lá, mas enfim, eu gostava

muito de presépio, eu era apaixonado por presépio e pedi um presépio de

presente de natal. Meus pais tentaram tirar da minha cabeça, oferecendo outros

presentes, mas eu queria Presépio! E eu acabei ganhando um presépio e... esse

presépio eu tenho até hoje e guardo com muito carinho aqui e.... esse presépio já

viajou, já passou por um monte de coisa [rindo], mas tá aqui firme e forte

comigo, aqui e eu tenho muito carinho por ele.. E eu vou te mandar uma foto do

presépio também.

E esse presépio também – deixa eu detalhar uma coisa aqui – ele tem um

patinho. E esse patinho de presépio – aí, eu já tinha uns seis anos de idade, mais

ou menos, a minha mãe nos levava numa lojinha perto de casa, na época, na loja

do Seu Cristofoletti para escolher o presente, né, que ela tinha conta lá e paga

por mês, um pouquinho por mês, tal. e meu foi, escolheu um avião, minha irmã

escolheu uma boneca lá, enfim. E eu vi na vitrine dele, tinha esse patinho, tinha

uns patinhos de presépio [risos]. E tinha um que era meio azulado assim, sabe?!

E... e eu escolhi o patinho como presente de natal [rindo]. E a minha mãe falou: -

Não mas escolha o patinho, mas escolha outra coisa. Mas eu falava: - Não, eu

não quero outra coisa, eu quero o patinho. e no fim acabei ganhando um... um

quebra-cabeça lá. E o patinho. Mas eu nem brinquei com o quebra-cabeça, com

nada. Eu só queria o patinho. Eu ficava horas, olhando aquele patinho lá, eu

achava muito bonito. E dois anos depois eu quis o presépio e eu tenho esse

patinho e esse presépio até hoje com muito carinho.

Eu faço exposições de presépios em várias cidades. Aqui eu já fiz a câmera

municipal. No Engenho Central. No Teatro Municipal. Já fiz em São Carlos…

Enfim… E esse presépio sempre tem que estar na exposição, porque, afinal de

contas, foi o meu primeiro presépio”.

(depoimento de Carlos ABC, recolhido por Caroline Holanda)

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Sueli e a Canequinha

“Oi, tudo bom essa canequinha é de um ex-patrão meu o Sr Lázaro

de Lemos, pai do Dr. Alceu de Lemos quando eu trabalhei para

essa família durante sete anos e quando a pai morreu o filho Alceu

deu essa canequinha para mim e eu guardei com muito amor; a

canequinha é de 1932, época que ele foi para guerra (Revolução de

1932 – São Paulo contra o Governo ditatorial que não queria uma

Constituição!) e tomava água nessa canequinha. Eu sai de lá

quando a Dona Diva faleceu e vim trabalhar no Formar e aqui

estão com uma decoração tipo memórias do restaurante do tempo

da Guardinha, daí eu falei vou levar para lá porque é uma história

minha também enquanto eu viver essa canequinha vai ficar aqui, a

Guarda é minha família, a hora que Deus me levar eu já deixo essa

canequinha aqui para ele (Fábio Amaral – administrador do

Instituto Formar de Aprendizagem Profissional) no Formar e que

continue essa história é isso aí ela é de 1932, mesmo que eu for

embora vai ficar minha história. Então tá aí a história para quem

quiser saber tchau beijo Tia Sueli: tudo de bom!!!”.

(depoimento de Sueli Aparecida Gaspar da Silva, por

Rosângela Pereira)

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Doce inocência

“Esse brinquedo representa a minha infância, Na época em que eu

não sabia o que era depressão e ansiedade. Época em que eu não

sabia o que iria me fazer uma adulta frustrada. Eu era feliz e sei

que felicidade são momentos, não uma condição. Mas sei que,

naquela peça, de alguma forma minha felicidade era mais sólida. E

eu sentia falta disso. Conforme o tempo foi passando, as cicatrizes

foram aparecendo e os segredos vieram à tona. Era a vida me

dizendo: “diga adeus à sua doce inocência””.

(depoimento de Nicole Marie, por Benedita Giangrossi, sua mãe)

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A Luminária de Maicira

“Maicira tinha uma luz que não se apagava. Ao virar um copo de

cerveja cor-de-sol, ou quando orbitava pelo salão de dança,

afastava as sombras à sua volta. Ela tinha uma luminária que

acendia ao toque. Pela ponta do dedo passava seu brilho ao objeto.

Mas as irmãs tentavam tapar esse clarão com suas saias longas,

apagar a chama da vela com um fechar de Bíblia. Então a estrela

virou lamparina, virou fósforo, virou fagulha e se apagou. Com

um lençol amarrado no pescoço, Maicira se pendurou na noite

eterna. O viúvo deu a luminária ao meu pai. Ele a pegou na

esperança de uma centelha se acender na alma nublada que herdou

do meu avô. Hoje, quando a luminária acende sozinha no breu da

madrugada, sei que Maicira está ao meu lado, me iluminando”.

(depoimento de Claudemir Antônio Formaggio, por Vítor

de Souza Formaggio)

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Os Desapegos de Dedé

“Dedé é uma pessoa que não tem apegos a objetos, coisas, etc.

—“Nossa, e agora!”, respondeu ela com voz de espanto. “Não

lembro de nada a que eu tenha algum apego, a não ser três

esculturas que fiz em um momento de inspiração: uma se chama

“Mãe suficiente boa”; outra, “Arrancando máscaras” e outra,

“Gaia”. De resto não me lembro de mais nada”. “Ahhhh, tem

também um relógio que foi do meu avô, pai do meu pai (meu pai

não conheceu o pai), está até quebrado, nem sei como veio parar

nas minhas mãos… um desses relógios antigos de bolso, sabe?

Está guardado em algum lugar da casa – preciso procurar –, mas

não pretendo me desfazer dele. Lembrei também de um lavatório

que foi de uma madrinha, irmã do meu pai. Toda vez em que eu ia

na casa dela, eu ficava admirando o móvel. Quando ela morreu, há

uns 37 anos, o filho dela perguntou se eu queria o lavatório.

Rapidamente falei que sim. Está comigo até hoje e, com certeza, vai

continuar assim. Mas, sinceramente, não me apego a nada: tenho

até dificuldades em lembrar de alguma coisa… a não ser as

cadeiras da sala de jantar, que eram da minha mãe…”.

(depoimento de Dedé, recolhido por Jorge Lode)

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As Coisas São Assim

“Eu comprei essa bicicleta em 1960. Comprei pra levá as crianças

pra passeá na Escola Agrícola. Comprei usada, do seu Benedito,

que trabalhava no Doces Martini: ele vendia doce com ela. Eu

reformei, ficou novinha. Tinha até placa. Xi, cadê? Sumiu,

ahahah! Quer ver uma balança? Tem aí também. Ai, que judiação,

ói! Tá assim por causa do desmanzelo da gente. Se a gente cobre

com um pano, num tava assim. Relaxo. Eu andava nela quando

era jovem. O banco é do Palmeiras. Agora taí guardada: vender

pra quê?Ói outra coisa: a balança. Judiação. Num é assim. Tem

coisarada veia aqui. Ói quanta coisa, quanta coisa bonita..De

quem é isso aqui? É do Fernando, meu fio. Depois que ele largou

da muié, deixou as coisas aqui. Num é que a gente guarda coisa

véia! Isso aqui é tudo coisa do Fernando.

Dá dó né? Judiação.

É, meu filho, as coisa é assim, né?”.

(depoimento do Sr. Germano Bertoncelli. por Antonio

Chapéu)

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O Chapéu do Vô Luís

“Aqui estão dois objetos: o chapéu e o cachimbo do meu avô, o

Luís. Qual que é a particularidade do meu avô? Nós estamos

falando de uma história de 100 anos, né? Mais de 100 anos: 1900,

por aí. Meu avô tinha uma diferença dos outros que habitavam,

aqui, Santa Olímpia. Eu moro em uma comunidade tradicional…

tinha umas regras, umas tradições diferentes daquelas a que

estamos habituados, hoje. Uma delas era a de que os pais não

podiam carregar os filhos no colo. E o meu avô foi uma pessoa que

quebrou essas regras. Minha mãe dizia que ele pegava ela no colo e

que brincava com ela, quando ela era criança: a que a carregava

pra cá e pra lá, no colo. E os outros, quando viam isso, criticavam

ele, tiravam certo “sarrozinho”. Mas ele não tava nem aí. Ele era

uma pessoa muito carinhosa… Olha o cappello dele e o pito dele

que coisa mais linda. É um pouco da história do meu avô e também

acabou fazendo com que até a minha mãe, depois, sem pensar, fosse

uma pessoa que quebrou um pouquinho de regras… Olha que

coisa: foi a primeira mulher que usou calças”.

(depoimento de André Stenico, por Raíssa Buschini Prado)

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A Dor da Pedra

"Um dia meu pai tava cortando grama aqui em casa (era um dia

antes de começar as aulas), aí tava eu, minha mãe e meu irmão

dentro de casa. Meu irmão tava jogando videogame e eu e minha

mãe estávamos arrumando as coisas. Aí meu irmão não tava

conseguindo passar numa fase e ele saiu. Assim, tipo, ele abriu a

porta pra falar com meu pai. Nisso o cortador de grama pegou em

uma pedra e um pedaço da pedra voou na costela do meu irmão. E

aí, tipo, abriu assim um cortão. Levou um monte de ponto, levou

ponto por dentro, por fora… Um cortão mesmo, fez uma

cicatrizona. E… É isso, nem sei porque ele tá guardando."

(depoimento de Mariana Almeida, por Raíssa Buschini

Prado)

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Boneco-Chaveiro

"Esse boneco, tem uma história muito interessante. Eu ganhei

como um símbolo de gratidão de um antigo funcionário da loja em

que eu sou gestor. O Vitor (moço que deu o objeto) entrou na

empresa como menor aprendiz. Quando percebi seu potencial para

atuar na minha área de atuação, solicitei o remanejo dele pra o

meu setor. Fui desenvolvendo atividade com ele a fim de que

quando saísse ele pudesse assumir minha posição. Acontece que ele

desenvolveu e recebeu uma proposta e aproveitou. No último dia

dele na loja ele me trouxe esse presente que era pra que quando eu

olhasse pra ele, lembrasse-me dele. Isso pra mim foi muito

gratificante, ter a sensação de ensinar e ver a pessoa voar mais alto

do que você. Hoje, sempre que nos falamos, ele me chama de

mestre (risos). É até engraçado".

(depoimento de Jhonatan Aparecido de Carvalho, por

Wellington Fernando de Campos Camargo.)

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Minha Vida em 3 Objetos

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Desbravando o Mundo

de Ponta-Cabeça

com Calma

“Com calma, Vitor nasceu. Não se movia. Vivia achatado como

uma camiseta sobre a cama. Certo dia uma nódoa se formou no

tecido. Ele girou e se amontoou até se tornar uma esfera. Lisa. Sem

arestas. Continentes e países foram gravados em sua superfície.

Rolou rolando até se esquecer de onde veio. Estacionou. Polo Norte

embaixo, Polo Sul em cima. Com um golpe de martelo uma lasca

se desprendeu. Outra pancada esfarelou a base. Quebra quebra

quebra. Um polimento aqui, uma lavada ali, onde era polo norte

estava uma cabeça. Na África um escudo, na América do Sul uma

espada. No centro da Ásia a armadura. Luta, peleja e desbrava

suas guerras. Sempre, com calma”.

Vítor Formaggio

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Café Musical

“O café passado no coador de pano, remete às origens da casa

mineira. Saudade da mãe e do corte da cana. Garapa escorrendo na

boca e melando a roupa. Cafezinho quente na caneca. E a música

sempre presente. Nas danças do pai catireiro, no violão do irmão

sertanejo, nos bares da vida, nas peças de teatro e nas poesias

musicadas. E o trabalho chega, a responsabilidade, os acertos e

apertos da vida. A chave de cano que aperta o coração. É a vida

caminhando, seguindo em frente como boiada errante. Às vezes

uma pausa pra ser feliz. Servido um cafezinho?”.

Antonio Chapéu

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Ressignificando a Dobra no Tempo

“Somos o que fazemos do nosso tempo. De pequena, eu gostava de

ter tempo de escutar o vento. De inventar coisas, construir,

desenhar. Gostava de imaginar outros mundos.

Me vi obrigada a romper meu ritmo: correr, trabalhar, tecnologia,

ciências exatas, empresas. Mas, de alguma forma eu protegi meu

pequeno mundo colorido. E me fiz uma lutadora pelo direito dos

outros a mundos coloridos. Essa luta também me custou muito.

Agora eu me fecho um pouco mais de novo, com cenas-emanualidades,

tentando pinçar com mais cuidado o que deixo

entrar, tentando aprender a cortar o que não me ajuda a construir

vida potente… escolhendo com mais cuidado o que ser-tempo”.

Caroline Holanda

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Eterna Transição

“O diário de bordo do grupo de teatro representa a maior paixão.

A figura mostrando os objetos de forma decrescente, põe a

importância de cada. Os estudos de forma geral, demonstram a

necessidade de estar aprendendo algo novo sempre. O prontuário

médico, demonstra o tratamento externo que faço, mas me remete

muito ao tratamento de alma e espírito. Essas três imagens juntas

definem uma faceta da personalidade”.

Wellington Fernando de Campos Camargo

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Pés na Terra

“As fotos escolhidas me remetem a tempos e espaços diversos da

minha vida, todos eles recheados pela mística da natureza que ora

me faz estar com os pés no chão, ora voando como um pássaro no

mundo da leitura e da escrita. A terra, a Sol… minha vida

acumulada entre os baús da minha memória e da memória dos

outros. As partes divididas… eu e o outro, os espaços de

conquista, a família, os amigos, o trabalho, os encontros, os

desencontros, as dores e as alegrias. Os pés na terra, nos cumes de

montanhas, mas muito mais próximos das nuvens”.

Sol Barreto

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Homeostase

“Foi um menino tímido, inocente, esforçado nos estudos para

atender à rígida educação dos pais. Buscou uma formação

institucional que lhe conferisse reconhecimento e atuação

profissional, para enfim poder desfrutar a vida com tranquilidade,

conhecer novos lugares. Mas ainda é introspectivo e parece

esconder mistérios”.

Felipe Vecchine

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Do Casulo ao Voo

“Durante a infância, protegida no casulo, eu pintava o mundo de

canetinha. Nos primeiros anos dessa fase, a sala de aula não era,

nem de longe, meu lugar favorito e era onde a timidez tomava

conta, por isso eu ansiava a chegada das férias. No entanto, eu

tinha queridas amigas – apesar de poucas – e professoras que

nutriam carinho por mim e que escreveram mensagens amáveis na

minha camiseta do 3° ano do fundamental 1.

Com o passar do tempo, fui me tornando extrovertida. Passei a me

expor e impor mais. Fiz vários amigos e não via mais a escola de

forma tão negativa. A passagem da infância para a adolescência foi

marcada pela roupa que usei no primeiro show em que eu fui. Era

do Emicida: um dos meus cantores preferidos até hoje.

Entre os 15 e 16 anos, viajei, com o Grupo Andaime, para várias

cidades, apresentando o espetáculo “Coração dos Teatros

Rodantes". Eu carregava o meu figurino dentro da mala retratada

na imagem. Foi nessa época na qual eu, a mala e a arte rompemos

fronteiras. Conheci diferentes jeitos de ver a vida e, finalmente,

voei através daquele mundo que pintei de canetinha”.

Raíssa Buschini Prado

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Nas Ondas da Arte

“A magia que a Arte pode realizar é algo surpreendente.

A menina que pensava não conseguir sobreviver naquele mar

revolto e assustador no qual vivia, de repente descobre nos sons de

um piano, uma saída, um respiro…

Adolescente… as ondas furiosas ainda muito e cada vez mais

presentes… mas… um vento forte soprou e a levou pra longe… o

que a salvou, de novo… risadas, amigos, música, dança e muita

arte.

A menina se tornou mulher… o mundo deu voltas e voltas… no

mar, às vezes marolas, às vezes ondas difíceis de furar… e a

ARTE, já como um grande tecido envolvendo as suas entranhas, o

seu potencial… a sua alma”.

Laura Lavorato

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Uma Vida de Paixões!!!!

“Desde pequena apaixonada por caixas, ora para guardar

brinquedos, ora para guardar “coisas”… tudo sempre

guardadinho, tão guardado que às vezes nem sabe onde, “mas está

guardado”… junto com emoções e muitos sentimentos… caixas

bonitas ou apenas diferentes, pois são verdadeiros cofres, porém

sem travas.

O tempo passou e ela foi até a “Caixa da Caixa”. Quem se

aproxima de coração aberto acessa suas caixas.... suas paixões pela

Arte, pelo Teatro que a tornou de menina tímida a militante e

ativista Cultural.

De si, da poesia, da música, da arte, das caixas saem muita energia

e cor que se unem aos outros seres num movimento contínuo

promovido pela Cultura, que a fez ser o que é hoje”.

Rosângela Pereira

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Colando os Cacos da Vida

“Um sino, trazendo na lembrança o despertar na casa dos meus

pais, ele era posicionado atrás da porta de uma cozinha que dava

para o quintal, e assim começava o dia naquela casa com o som do

abrir a porta e esse sino. Um troféu de Teatro, onde subi pela

primeira vez no palco para representar meu grupo de Teatro em

uma premiação da Mostra Estudantil. Pode ser que pra você que

olhe rapidamente possa parecer uma bipolaridade, algo confuso,

uma distorção. Mas quem não era assim na adolescência? O Santo

São Judas é uma lembrança de um período de viagens para os

cursos de Teatro em São Paulo, ele tem duas partes quebradas e

agora coladas, uma no pescoço e outra na sua base. Por que em

uma dessas viagens de apresentações ele quebrou em cena e esse

instante é inesquecível, porque faz a gente pensar que muitas

vezes precisamos improvisar para a vida continuar”.

Livia Foltran Spada

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Molduras de uma Vida

“Infância introspectiva, já parecia adulto em pensamentos, receios

e medos. Pouco sapeca, mas muito criativo. A igreja desempenhou

e ainda inconsciente ou conscientemente exerce influência nos

pensamentos. Hinos no culto, televisão no vizinho. O representar

sempre presente nas brincadeiras de cirquinhos ou teatrinhos

quando menino, na sala de aula quando adolescente e em

espetáculos de comédias, tragédias, épicas quando adulto. O troféu

chegou para um certo reconhecimento e também para amenizar a

dor da perda da mãe”.

Jorge Lode

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A INADEQUAÇÃO É A PORTA DE OUTROS POSSÍVEIS

“Meus objetos aleatórios dizem do meu nascimento, um pouco

confuso, com riscos, mas cujo curso a fé de minha mãe pôde

mudar. A minha infância e adolescência foram marcadas por uma

religiosidade não muito entendida, pois não me sentia bem e, me

questionando, passei a me sentir como um E.T. Peguei os meus

discos voadores da imaginação e voei, mas sempre tendo que fazer

paradas na terra. Experimentei a Faculdade, a maternidade, um

grande amor não compreendido e não assumido (por ele), duas

filhas, o teatro (essa foi a acensão definitiva e dessa nave não saltei

até hoje). Mas, enfim chega o momento da vida em que a nave fica

cansada de voar, principalmente quando chega a Neta e os

prazeres afetivos de família falam ainda mais alto”.

Benedita Giangrossi

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Museu-Teatro (das Coisas Guardadas) da Vizinhança

criado a partir da

Oficina (Virtual) de Teatro de Objetos Documental

para Artistas de Piracicaba

realizada de 19 a 25/10/2020

Realização:

Grupo Sobrevento

Criação dos textos e recolhimento dos depoimentos:

Antonio Chapéu

Benedita Giangrossi

Caroline Holanda

Felipe Vecchini

Jorge Lode

Laura Lavorato

Livia Foltran Spada

Raíssa Buschini Prado

Rosângela Pereira

Solange Barreto

Vitor de Souza Formaggio

Wellington Fernando de Carvalho

Coordenação da Oficina de Teatro Documental:

Sandra Vargas e Luiz André Cherubini

Produção Executiva:

Maurício Santana

Programação Visual (cartaz e filipetas): Marcos Correia

Design desta Publicação:

Luiz André Cherubini

Design de site interativo:

Milena Moura

Produção Local:

Antonio Chapéu

Apoio:

Garapa Associação Cultural Arte

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