COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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A história de Jurema
cido.
Fez a mamadeira para o bebê, serviu o café da manhã para as crianças,
ligou para comunicar que seus filhos não iriam à escola e avisou
sua patroa que não iria trabalhar, com a desculpa de que o bebê estava
doente.
Pediu aos filhos que trancassem a porta e ficassem no quarto, enquanto
ela estivesse tomando um banho e vestindo roupas limpas.
Uma grande revolta nasceu dentro dela; o amor que sentia pelo marido
transformou-se em ódio mortal. Pensou no que poderia ter acontecido
com seus filhos e decidiu sair de casa ainda naquela manhã.
Fez rapidamente a mala com algumas roupas para todos, a certidão
de nascimento das crianças, fraldas para o bebê e pão com queijo para
os meninos. Colocou na bolsa o dinheiro que tinha em casa e, antes de
sair, pediu aos meninos que fossem até o portão verificar se o marido
estava por ali.
Ele não estava visível. Saíram, então, da casinha alugada onde moravam,
a última da rua, onde nem tinham vizinhos.
Um ônibus encostou assim que chegaram ao ponto. O destino: um
terminal rodoviário de São Paulo.
Lá chegando, Jurema sentiu-se perdida, sem saber para onde ir. Teria
que ser para uma cidade onde não tivessem parentes e amigos, bem
longe da capital. Cobrindo como podia o próprio rosto, comprou as
passagens para uma cidade bem distante (usando quase todo o pagamento
do mês que havia recebido um dia antes), depois de ouvir algumas
pessoas conversando sobre a possibilidade de encontrarem trabalho
durante uma grande festa que haveria nesse município.
A viagem foi longa, porque o ônibus parava muitas vezes para deixar
e recolher passageiros. O bebê chorava, cansado e nervoso; chegaram
a seu destino tarde da noite.
Dormiram em uma praça deserta, escondidos sob alguns arbustos.
Quando amanheceu, Jurema foi acordada por um senhor de maneiras
distintas, que a ajudou a se levantar e ficou admirado com o estado
de seu rosto, cheio de cortes e hematomas.
Não tenha medo, disse ele.
Vejo que passou por momentos terríveis! Mas, apesar de ferida, você tem um
rosto lindo, que com bons cuidados voltará a ser como era.