COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
16 Adalgisa Borsato
água, água ... Brincadeira de molhar uma a outra, alertas a tudo.
No entorno do riacho, pequenos arbustos cresciam na esperança de
sobrevivência. Um movimento, um barulho de galho seco quebrando.
Era preciso atenção. Jocilene pulou fora da água, chamou a irmã para
irem embora. Observaram rastos maiores que os delas em volta do
mato. Foram conversando pelo caminho, na proposta de não deixarem
ninguém as maltratar: nunca!, juraram. E juramento era coisa sagrada
para elas.
Começaram entoar cantigas de roda como se inocentes fossem. Disfarçadamente
aproveitaram para treinar tiro ao alvo. Caminharam.
Chegaram, enfim, em casa. Surpresas, encontraram a mãe amordaçada
e amarrada numa cadeira. Toda casa revirada.
Mãe, o que aconteceu?!, perguntou Jocilene, soltando as amarras da
mãe.
O fazendeiro veio com seus capangas. Queriam o combinado com seu pai,
metade da colheita, mas não colhemos nada, faltou chuva, então pediu para
sairmos das terras!
Rosiclei andou de um lado para o outro, cheia de raiva.
Vamos ... nós vamos embora, ninguém vai nos humilhar!
Mas trabalhamos tantos anos aqui, cuidamos da terra!, falou Mercedes.
Não é nossa terra, mãe, entenda: vamos embora sim!, afirmou Jocilene.
O idoso que deixa o lugar onde se acostumou sofre, perde-se parte da sua história,
se emociona e o coração entristece, disse Mercedes, cheia de dor.
Melhor perder a história do que a vida: recomeçar é natural, falou Rosiclei.
As três mulheres, tomadas pela força natural das sertanejas, planejaram
a partida. Venderam as cabras e saíram à noite para ninguém as
perseguir com cobranças do que nada deviam.
Levaram cantis com água, poucas trocas de roupas e todas as ferramentas
que possuíam para trabalhar a terra; foice, enxada, facão, rastelo,
pregos e arame farpado. Colocaram tudo em um carrinho de mão
para facilitar o transporte.
Vestiram-se com gibão, lenços vermelhos nos pescoços, chapéus de
couro. Nas costas e na cintura, levaram todas as indumentárias iguais
às de Lampião: cinto de couro encravado de balas, duas espingardas,
cartucheira, faca, facão, canivete e boleadeiras.
Com um candeeiro seguia, à frente, a mãe.