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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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16 Adalgisa Borsato

água, água ... Brincadeira de molhar uma a outra, alertas a tudo.

No entorno do riacho, pequenos arbustos cresciam na esperança de

sobrevivência. Um movimento, um barulho de galho seco quebrando.

Era preciso atenção. Jocilene pulou fora da água, chamou a irmã para

irem embora. Observaram rastos maiores que os delas em volta do

mato. Foram conversando pelo caminho, na proposta de não deixarem

ninguém as maltratar: nunca!, juraram. E juramento era coisa sagrada

para elas.

Começaram entoar cantigas de roda como se inocentes fossem. Disfarçadamente

aproveitaram para treinar tiro ao alvo. Caminharam.

Chegaram, enfim, em casa. Surpresas, encontraram a mãe amordaçada

e amarrada numa cadeira. Toda casa revirada.

Mãe, o que aconteceu?!, perguntou Jocilene, soltando as amarras da

mãe.

O fazendeiro veio com seus capangas. Queriam o combinado com seu pai,

metade da colheita, mas não colhemos nada, faltou chuva, então pediu para

sairmos das terras!

Rosiclei andou de um lado para o outro, cheia de raiva.

Vamos ... nós vamos embora, ninguém vai nos humilhar!

Mas trabalhamos tantos anos aqui, cuidamos da terra!, falou Mercedes.

Não é nossa terra, mãe, entenda: vamos embora sim!, afirmou Jocilene.

O idoso que deixa o lugar onde se acostumou sofre, perde-se parte da sua história,

se emociona e o coração entristece, disse Mercedes, cheia de dor.

Melhor perder a história do que a vida: recomeçar é natural, falou Rosiclei.

As três mulheres, tomadas pela força natural das sertanejas, planejaram

a partida. Venderam as cabras e saíram à noite para ninguém as

perseguir com cobranças do que nada deviam.

Levaram cantis com água, poucas trocas de roupas e todas as ferramentas

que possuíam para trabalhar a terra; foice, enxada, facão, rastelo,

pregos e arame farpado. Colocaram tudo em um carrinho de mão

para facilitar o transporte.

Vestiram-se com gibão, lenços vermelhos nos pescoços, chapéus de

couro. Nas costas e na cintura, levaram todas as indumentárias iguais

às de Lampião: cinto de couro encravado de balas, duas espingardas,

cartucheira, faca, facão, canivete e boleadeiras.

Com um candeeiro seguia, à frente, a mãe.

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