COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
- No tags were found...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
134
Lá vem a Teresa Torta...
ainda fazia bafejar para escrever desinteressantes e efêmeras mensagens
ao mundo — eles a haviam deixado eternamente marcada. Batem a
porta. A chuva caía perpendicularmente em meio a trovões e outras
particularidades inerentes. O pai, que parecia já estar aguardando visita,
se apressa em atender. Abre a porta e, instantaneamente, os dois
metros que os separavam passam a inexistir pela rigidez com que seu
olhar a escrutinava. Não resistindo àquela força que atuava como imã,
se estaca, pronta a obedecê-lo, a segui-lo, a qualquer outra atitude que
o pai lhe impingisse. A porta se abre largamente, dando passagem à
inoportuna visita. O recém-chegado deposita o guarda-chuva contra a
parede, entrega o grosso capote ao pai. Confidenciam ao pé do ouvido.
O homem assente com sisudez. Parecia tenso.
Forte, de ventre proeminente, tez larga — ainda não se encontrava
inteiramente calvo, mas era o que suas grandes entradas lhe prometiam
— passara a mirá-la. Recua o passo atemorizada, recostando o corpo
magro contra o frio e impessoal vidro da janela. O pai chama. Se aproxima,
hesitante. O que poderiam desejar? Alguma oferta de emprego?
Ouvira o pai e a mãe a conversarem e, pelo teor do diálogo, sabia estar
com os dias contados a sua vida sem nenhum, seria correto dizer, afazer
rentável, posto que trabalho era o que mais exercia desde que alcançara
a mínima altura para cuidar da pia, fogão e tanque. Seu pai estaria
recebendo a visita de um possível empregador?
O senhor lhe estendera as mãos gordas, nodosas e morenas que, por
sua aspereza, a fizera acreditar não se tratar de um patrão. A não ser
que se tratasse de um iniciante empregador, o que lhe justificaria os
vários calos existentes. Apresentam-lhe o Sr. Durval e a mandam ser
boazinha com ele. Saem sob a chuva torrencial. Sob a soleira da porta
ainda lhes observa a saída. Ao que precisamente o pai aludira quando
dissera ser boazinha? Talvez se lhe servisse um café... E onde pretendiam
ir com aquela chuva?
Oferece a cadeira. Um som de lenhos ressecados e prestes a cederem
se insinua pela sala triste e úmida. Sai para preparar o café. Ele calmamente
espera. Tinha a eternidade como aliada. Mete a mão no bolso
da camisa, de onde retorna com uma carteira de cigarros e uma caixa
de fósforos. Acende, puxa com vigor, bafejando a primeira e delirante
tragada. Expele generosas baforadas de fumaça perfumada e envolven-