COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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Lá vem a Teresa Torta...
certamente a causa da queda. O estrago só não fora pior pelo auxílio
miraculoso da pia, que além de interrompê-lo de uma completa queda,
salvara-o da inutilidade permanente. Decidira-se, então, a não substituí-
-lo. Esperaria que aquele lhe predestinasse os sete anos de azar. Não
desejaria incorrer no risco de, com um novo, fazê-lo também desabar
daquela parede oca e, com isto, duplicar os anos de infortúnio.
Com o passar do tempo, perdera o interesse em adquirir um que
viesse a substituí-lo. A imagem refletida já não compensaria novo gasto.
Melhor seria continuar se vendo por entre as nesgas das rachaduras.
Para um rosto gasto, aquele trincado espelho bastaria. E, retomando o
início de sua introspecção, como poderia explicar, ainda hoje, as palavras
que sua passagem incitava? Pelos saudosos momentos não inteiramente
esquecidos?
Morava naquelas imediações pelo tempo de sua vida e se julgava
parte da paisagem. Era a velha figueira plantada defronte à casa da Maria;
o banco no bar do falecido Sr. Augusto; o velho poste de madeira
poupado pela companhia energética; as pedras cortantes perdidas no
meio do caminho. Fora um, melhor dizer, era um adorno a mais na vila;
e se sua passagem ainda era recebida por saudosa saudação, certamente
seria devido ao grato reconhecimento da juventude que a recebia
com a mesma euforia herdada dos seus predecessores.
Naquele tempo, seu quadril arredondado e empinado, seios perfeitos
e rijos, cabelos sedosos e naturalmente pretos, pele moreno-jambo,
um sorriso de marfim emoldurado por lábios carnudos e macios, realmente
faziam por merecer aqueles galanteios. Mas, à sua passagem, os
suspiros que os homens lhe dedicavam tornavam-se tímidos, tépidos,
bocas fechadas, gargantas travadas premidas entre dentes... O jargão
repetido à meia-boca interrompia o parcial silêncio. Aquela timidez incoerente
só fora compreendida quando um cliente confidenciara: você
é maravilhosa por inteiro, mas a parte que a difere das demais são seus olhos.
E o que há com meus olhos? – perguntara estarrecida. – Com tantos predicados,
— e alongara a mão em direção ao próprio corpo já mutilado —
são meus olhos que arrebatam a maior atenção? O homem cala-se, absorto.
Arranha suas costas, marcação inútil num território sem lei ou posse,
confere cada detalhe de seu corpo, detém-se na tortuosidade da coluna,
observa minuciosamente. Sorri um sorriso de homem experiente e re-