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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Lembranças de cobras e lagartos - Miriam Leirias

Era uma casa branca, pintada de cal, com paredes muito largas e

janelas grandes e generosas de cor marrom. Sentávamos nelas

para ver o trem passar, duas vezes por dia: uma, no sentido capital, de

manhã, e a volta no sentido do interior do Estado, à noitinha. Balançávamos

nossas pernas e mãos. Acenávamos para os viajantes anônimos,

alguns dos quais nos retribuíam, com entusiasmo.

Os cômodos da casa eram amplos e continham armadores de redes,

em sua maioria, o que ajudava a mudar suas funções à noite. Quartos,

só havia dois: um para minha mãe e outro para minha irmã mais velha,

recém-casada, que tivera um filho e morava conosco provisoriamente.

A sala de jantar tinha um banco grande e cadeiras para acomodar

todos nós: mamãe e seus oito filhos. Cada um buscando as migalhas de

sua atenção, repartida entre uma viuvez recente, dificuldades financeiras

e a criação dos filhos.

Cada um buscando criar-se e recriar-se, como a sinfonia mais desencontrada

do John Cage.

A cozinha, além de potes de água fresquinha, comprada e trazida

do olheiro de água doce, comportava um fogão a carvão e um armário

forrado de papel picotado, formando quase que um bordado.

O banheiro — aliás, os banheiros — eram lá fora da casa. Um bem

próximo e um mais distante. O mais próximo continha a privada e um

cacimbão, de onde era retirada a água e posta num tanque para uso

doméstico. O outro, meu preferido, estava bem mais distante e só havia

a privada, instalada num patamar de três andares, uma espécie de altar.

Para chegar lá, precisava passar pelo pé de mangueira, pelas bananeiras

e pelo capinzal.

Como já falei, era o meu preferido.

Lá podia ficar o tempo que quisesse sem ser perturbada, pois meus

irmãos não gostavam dele. Dava mais trabalho para manter sua higiene

e era longe de casa.

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