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BARRETOS EM 3ª PESSOA

Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.

Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.

Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.

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MINHA BARRETOS: O SER-TÃO PROFUNDO 39

peão de boiadeiro teve um papel, talvez, único na história e no mundo: não

só em Barretos, mas pelo interior do Brasil. Mas Barretos era o centro.

Ocorre que o país se industrializou a partir do governo de Getúlio Vargas

e, com o passar dos anos, as estradas de asfalto foram avançando pelo

interior e, nelas, vieram os caminhões. Pois bem: ter uma comitiva boiadeira

a partir da década de 1970, na nossa região, ficou impraticável. Meu pai vendeu

sua última tropa em 1975; o ciclo se encerrava, aos poucos, para todos.

Pode-se dizer que a história não quis ser generosa com o peões de boiadeiro:

aos mais velhos, restou a solidão e o reajuste, trabalhando em atividades

que nem sempre tinham relação com o seu trabalho do passado. Muitos

dos peões mais jovens, que não tinham mais o “estradão” para trabalhar, foram

para as fazendas; mas viria um outro ciclo, a partir dos anos 2000, que

é o da Cana-de-Açúcar, que também tiraria o espaço deles.

A profissão de peão de boiadeiro, cantada e romantizada na música

sertaneja que dá nomes a eventos importantes como a festa de Barretos,

não teve, na realidade, a mesma celebração e foi destruída na nossa região.

Saudosismo? Não. Eu fui uma criança que viu o mundo do seu pai ruir:

não somente a profissão, já que ser peão de boiadeiro não era somente um

trabalho para garantir o sustento; era também um sonho, um posicionamento

na vida. O que aconteceu no interior do Brasil e, particularmente, em

Barretos, deixou de existir; no Pantanal, por exemplo, não existe, em certo

sentido, o peão de boiadeiro: existe o peão de fazenda, que leva o gado de um

local para outro por conta das cheias, mas não tem a mesma dimensão dos

peões que cortavam o país tocando boiada.

No caso da minha família, usamos da arte para não deixar morrer essa

Foto do filme “Rodeio de Bravos – Onde o Chão é o Limite”;

roteiro e direção de Coriolano Rodrigo, produção de Armando Garcia

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