BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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MINHA BARRETOS: O SER-TÃO PROFUNDO 37
geralmente eram buscados pelas comitivas locais. Vê-se que o peão de boiadeiro
era um personagem central nessa história, por ser o condutor de todo
esse gado.
No década de 1950, meu pai havia sido chamado em Barretos de “o
homem da tropa roxa”, por conta da cor de seus animais. Ele contava isso com
orgulho. Falo de minha família porque ela é um meio para entender um pouco
da história de nossa cidade e porque falo a partir de minhas memórias.
Barretos teve, em meados do século XX, talvez o mais movimentado ponto
de pouso do Estado de São Paulo, quiçá do Brasil, o São Domingos, e a vida
de minha família passa por ele, porque minha mãe, Nazaré Carrilho, trabalhava
como babá desde a década de 1930, naquele lugar, para a família que
administrava a fazenda que era propriedade da Agrícola Pastoril Mombaça.
Em 1943, meus pais (meu pai, já peão há anos), se casaram e passaram
a tomar conta da fazenda e do ponto de pouso e isso duraria, não de
forma contínua, até 1960. Lá nasceram meus irmãos mais velhos, Armando
Garcia que hoje cuida do Concurso de Berrantes da festa de Barretos e Alceu
do Berrante, que se tornaria uma lenda do berrante no país. A casa que
meus pais moravam era um casarão daqueles cheios de janelas enormes e
com uma arquitetura rústica; ficava próximo à lagoa da atual Via das Comitivas,
naquela época corredor boiadeiro. A Fazenda São Domingos se estendia da atual
avenida Rio Dalva (também corredor boiadeiro na época), até próximo ao Rio
das Pedras, onde atualmente há um clube. Simbolicamente, a área onde hoje é o
Parque do Peão, fazia parte da fazenda. Em frente (ao casarão) do outro lado do
corredor, havia um sítio e um outro ponto de pouso, onde morava um outro
comissário importante em Barretos, Antônio Ângelo. Nesse tempo (década
de 1940) é que meu pai começou a comprar burros e deixou de ser somente
peão para ser também comissário de comitiva boiadeira.
Me permita, leitor, duas explicações: um ponto de pouso era um espaço
fundamental na logística de uma comitiva boiadeira. Era onde havia um
rancho (nem sempre) para se proteger da chuva e do frio e um pasto para a
tropa descansar e para a boiada ficar; ou, se não havia pasto, havia um jeito,
um espaço que permitia aos peões fazerem ronda. Era também onde havia
água para preparar refeições; a comida era a mais trivial possível, porque
o cozinheiro tinha que ser rápido — às vezes, cozinhava embaixo de chuva.
A segunda explicação é sobre a “Queima do Alho”, o tradicional evento da
culinária boiadeira. No ponto de pouso era onde se fazia a comida e havia
o hábito de se dizer “queimar o alho” que era um tempero que podia viajar
nas bruacas meses sem estragar; portanto, muito usado nas comitivas. Em
Barretos, na segunda Festa do Peão, o comissário Onésio Carvalho, que não
desfilava, mas era muito próximo das comitivas que o faziam, propôs que se
fizesse na festa também um almoço e que se tocasse “uma ponta de boi” para as