182RESENHA DE UM IMIGRANTE LIBANÊS EM BARRETOSnaquelas plagas. Eram, historicamente, os inimigos dos cristãos e, dizia-se,comiam carne humana. Fruto da implacável propaganda orquestrada pelaIgreja Católica desde a Idade Média, aquelas pessoas que falavam uma línguaesquisita e cheia de “rala-rala” sofreriam a discriminação dos nativos. Afinal,eles representavam a “verdadeira civilização”, a começar pelo “caráter cristão”da vida que levavam. Esqueciam-se de que o próprio Cristo nasceu lá,exatamente: naquela terra disputada à espada de ferro rijo, forjada nas terrasorientais e bem mais leve que a ocidental, que mais parecia um porrete.Contam, até, que Ricardo Coração de Leão fez uma demonstração a Saladino(Saleh Ud Dinn Ayoub), batendo sua espada, com forte pancada, sobre umamadeira, quebrando o lenho. O muçulmano tomou da cabeça de uma jovemo seu véu e soltou-o, do ar para o chão. No meio do caminho o aparou com aespada e o fino véu se abriu em dois, com seu próprio peso.A diferença é sutil e notável, fazendo boa leitura dos fatos.Enfim, a barreira da língua foi vencida, embora as letras “p” e “v” continuassema ser pronunciadas como “b”, e o uso dos verbos dispensasse aconjugação correta, a comunicação tornara-se possível. Cada um de per si, masunidos, ajudaram-se mutuamente e criaram famílias; estas famílias foramcrescendo e, pouco a pouco, eram assimiladas ou foram se assimilando.Intensa troca de costumes: estranheza numa hora, boa receptividadenoutra. Mas, ganhavam, já, algum dinheiro. E a fome não estava à vista nemamedrontava.Neste clima e dessa forma, meu avô Zaiden (Isidoro) chegou ao Brasil,em 1924, aos doze anos de idade, vindo com a mãe (bisavó Helena) e a irmãgêmea Zehie (Maria), para descer em Santos. Seus demais irmãos eram Rosali,Ayed (Abrão), Sultan, Abdo El Carim, Othman e Gaze (o famoso tio RoseAbrão). Todos, menos os gêmeos Zaiden e Zehie, nasceram em Barretos.Aqui, conheceu minha avó Nabia (Maria), cujos irmãos eram: Chafik,Nadim (falecido quando criança), Nadime, Zuleika, Leila e Neuza, todos nascidosem Barretos.Uniram-se, portanto, as famílias Geraige e Thomé, todos de ascendêncialibanesa cristã, mas mantinham excelente relacionamento com todos os libanesesde outras religiões. Na verdade, tratavam-se como irmãos, talvez porquetenham vivido de forma contemporânea a desgraça da fome e da guerra.Aqui, uma curiosidade. Há 22 países considerados “árabes”. Mas o queé ser árabe? É uma etnia? Antigamente, consideravam-se árabes os povoslocalizados na extensa faixa de terras denominada Península Arábica. Hoje, adefinição mais aceita é a que conceitua como árabes todos aqueles povos quetêm como primeiro idioma a língua árabe, ou seja: não se trata de etnia. Porexemplo, os libaneses descendem, etnicamente, dos Fenícios, antigos navegadores;já os demais povos árabes, como sauditas, iraquianos, jordanianos
ZAIDEN GERAIGE NETO 183etc. têm outras etnias, não tendo, portanto, nenhuma relação genética (nosentido étnico, claro) com os libaneses; por outro lado, os países do norte daÁfrica, como Egito, Marrocos, Líbia etc., não são considerados árabes, masapenas arabizados, sendo o “mouro” o resultado do cruzamento de povos árabesque vieram do Oriente com os negros africanos.Foram esses indivíduos que conquistaram a Península Ibérica (Portugal e Espanha)e lá ficaram por diversos séculos. Da mesma forma, o Irã não é um paísárabe. É persa, lá fala-se outra língua e têm-se outros costumes; e a Turquiatambém não é árabe. É otomana, com língua e costumes diferentes, com origemna região da Anatólia.Meu avô e seu irmão Ayed (tio Abrão) sempre trabalharam juntos — doinício até a morte —, somando-se, depois, os demais irmãos. Meu avô começoua fazer bicos, trabalhando ora numa coisa ora noutra, até que aprendeua ser sapateiro, fazendo botinas. Depois montaram, no distrito de Ibitú, umpequeno comércio chamado de “secos e molhados”, onde se vendia de tudo. Passandoalgum tempo, montaram máquina de beneficiamento de arroz, postode gasolina e se tornaram proprietários de terras.Foto com documentos contábeis das empresas de Zaiden e Ayed Geraige. (Fonte: arquivo do autor)A máquina de beneficiamento de arroz funcionou, primeiramente, emdiversos lugares do Bairro Santa Helena, fixando-se na Rua 28 com a Avenida 27
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