BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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SHIRLEY SPAOLONSI PIGNANELLI 173
identificavam a série a que o aluno pertencia) e continham uma etiqueta na
capa com o nome da atividade a que se destinavam: caderno de Ocupação, de Tarefas,
de Ciências, etc. Nessa época, não se falava série e, sim, ano: primeiro ano,
segundo ano e assim por diante, numa linguagem direta e simplificada. Os
livros não continham imagens fartamente coloridas como os de hoje, mas a
imaginação, correndo livre e solta, supria essa falta.
A leitura individual de trechos em voz alta era matéria obrigatória. A
tabuada também era repetida em voz alta, em ritmo alegre e cadenciado, e
ensinada de mil maneiras criadas pelos professores para que o cálculo se
fixasse em suas memórias infantis, preocupação quase inexistente hoje pelo
surgimento de calculadoras que fazem tudo em poucos segundos.
O material pedagógico era precário e ficávamos à mercê de nossa própria
criatividade: flanelógrafos (um quadro recoberto por flanela, onde fixávamos
gravuras com uma lixa colada no verso), cartazes em cartolina feitos
pelo próprio professor, com algo que facilitasse o aprendizado do dia e pouca
coisa mais. O máximo à nossa disposição, na escola, era uma caixa com sólidos
geométricos de madeira, um conjunto de gravuras para inspirarem as
redações (presas em um cavalete), mapas quase se desfazendo e alguns objetos
como conchas marinhas e pequenos animais fossilizados para ilustrarem
as aulas de Ciências. Esse material ficava na antessala do gabinete dentário,
onde, na época, o Dr. Dirceu Baroni prestava serviço.
Os trabalhos dos alunos eram levados para serem corrigidos em casa,
onde também eram preparados os planos de aula, que eram denominados Semanários
e que o próprio diretor devia verificar, pois a função de coordenador
pedagógico só seria criada mais tarde.
Nada de cursos de atualização ou material de suporte que tornassem
as aulas mais atrativas. No entanto, uma mudança significativa que ocorreu
enquanto eu ainda estava no Fausto Lex me aflora à memória: a implantação
do sistema chamado de “rodízio”, para os alunos de terceira e quarta séries,
isto é: uma professora se encarregaria das aulas de Matemática e Ciências,
durante metade do tempo, enquanto outra ficaria com Língua Portuguesa e
Estudos Sociais no tempo restante, revezando-se em duas salas, o que, além
de outras vantagens, facilitava a transição dos alunos para a quinta série,
onde teriam que se adaptar a vários professores.
Voltando às gravuras expostas em um cavalete, lembro-me de algumas
dessas ilustrações: uma garotinha correndo de alguns gansos, outra mostrando
seus surrados sapatos para o sapateiro com uma carinha triste, um
grupo de crianças encarapitadas sobre uma porteira de fazenda e outras
cenas das quais não me recordo mais.
Tempos românticos, mas tempos difíceis. Tempos em que a merenda escolar
era servida apenas aos mais carentes, o que os discriminava e rotulava,