BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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SADA ALI
virilhas, provocando latências e visões de panturrilhas, espartilhos, lábios e seios. A hora convida ao
prazer mas, antes, a fé no divino. Antes da parada obrigatória no famoso bordel “Bico do Pavão”, o
momento era de dar graças. Na Praça Francisco Barreto prendem os animais. A molecada, em grupo,
se aproxima. Um trocado para uma casquinha de biju e os cavalos escovados e brilhantes ao fim da
missa. O pároco termina e retornam à praça lotada. As mães, divididas entre as brincadeiras dos
pequenos e as tentativas de flerte das filhas maiores. Um único olhar valia mais do que qualquer
punição anunciada. Os sorrisinhos afetados eram recolhidos e a expressão do rosto retornava ao
pretenso tédio.
Neste vai-e-vem, o footing prosseguia, sendo a maior atração da Praça Francisco Barreto, mas
distante dos desejos daqueles homens que queriam mesmo era circular entre os movimentos de ancas,
cafungar nos cheiros nos cangotes, sentir os gemidos e ritmos ao pé do ouvido e além. O mundo
girando em sua rota e o Bico do Pavão circulando em outra, onde o céu não era feito de estrelas, mas
de explosões de meteoritos.
Ah, seo Américo! Que saudade do não vivido, de vida no paraíso, girando
feito caleidoscópico. Memórias foscas feitas de desenhos sobre a areia
na proximidade do mar. Tudo fluído, volátil, derretendo feito sorvete ao sol,
incorporado por dentro como as sinapses em ondas neurais.
Ação, movimento, geração de vida. Um tempo de regras simples, de ser
assim ou ser assado, de seguir sem muitas inferências ou expectativas de
mudanças.
Ah, esse meu Barretos de outrora! A eterna Terra do Chão Preto, do vento
gelado, da florada do ipê, da Festa do Peão e do Berrantão.
Barretos, um orgulho do noroeste paulista.
Sada Ali nasceu em Barretos. Lançou sua obra bipartite “Perfume dos
Laranjais”em Barretos, Ribeirão Preto, Uberaba e São João del-Rei/MG (vencedora
de edital da UFSJ), além das Feiras do Livro. Ainda lançou em Florianópolis (Livraria
Catarinense) e em São Paulo (Bienal, Livraria Cultura e Casa das Rosas). No exterior,
sua obra esteve na 107 Foire de Paris, na França e London Book Fair (Inglaterra).
Ainda em terras francesas, pelo Ministério da Cultura, Sada lançou em Lyon (2013).
A convite, também levou “Perfume” a Portugal (2016), quando lançou em Gaia e
Porto. Titular da cadeira 1 da ABC, cujo patrono é Antônio Gonçalves Gomide