BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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RETALHOS DO PASSADO 169
guampas, cabeça no travesseiro feito de sela e do pelego, a cama. Nessas horas, o olhar recaía naturalmente
ao céu, tapete de estrelas. As vozes intensas do dia iam murchando em resmungos. O silêncio
dá lugar à cadência da natureza a embalar segredos e sonhos. Nenhum dos homens ousaria diminuir
a virilidade falando de amenidades tão singelas quanto a beleza do luar, meditar sobre aquela singularidade
de tempo que habitaria eterno lugar dentro dos seus corações, ou refletir na temporalidade
da vida; uma vida de feita de esperas, seguidas esperas, até um breve instante em que nada mais se
poderia esperar. A espera jazendo consumada.
Ao alvorecer, cavalos encilhados, gado contado na certeza de que nenhum ficaria pelo caminho,
e a rotina de levantar o que sobrara do acampamento. Homem e natureza, constituição do
mesmo universo e o ponteiro à frente, conduzindo pelos últimos quilômetros de cavalgada. Em quatro
horas avistam, através do corredor boiadeiro, a próxima cidade. Barretos descortinava-se no horizonte.
A tropa corta a cidade. Aquela passagem das comitivas traduzia-se em espetáculo à parte e a
Estrada Boiadeira era orgulho para os moradores da cidade.
Acenando nas janelas as mulheres se debruçam, esperando passar o último dos tropeiros.
Tudo as atraía: a beleza da capa, o chapéu, as botas, a arma presa na guaiaca, o porte, a virilidade. Os
tropeiros, acostumados a rudez da vida em meio aos cerrados e matas, abrindo caminhos formando
vilas, cidades por onde passavam, sentiam predileção especial por esses momentos. O ego se inflando;
enchiam as panturrilhas. Meses longe de casa e o desejo se tornando latente — mas, em Barretos do
Bico do Pavão, não sairiam enquanto não tivessem dado vazão a todos os sentidos.
Coreto da Praça Francisco Barreto no início do século XX (arquivo do Museu “Ruy Menezes”)
Na força da narrativa, se conseguia enxergar o seo Américo ainda jovem,
entrando pela cidade e carregando aquele seu berrante:
À noite, o lusco-fusco, um universo longínquo de astros crescendo ou diminuindo sob a copa
dos chapéus e da intensidade do olhar. Àquele vislumbre da hora vespertina o desejo intumescido nas