Retalhos do passadoSada AliNParte do centro de Barretos na década de 1910, onde nota-se a estrutura urbana,o fluxo de pessoas e as casas comerciais (arquivo do Museu “Ruy Menezes”)uma casa com comércio para a Rua 4, vivia uma família compostapor dez filhos e seus pais; um imigrante libanês e a esposa nascida em terrasmineiras, que por força do destino e desejo dos avós, fazendeiros naquelasterras, decidem-se a fazer morada em terras paulistas. Vendem a fazenda,trocando o leite pelo café, como diziam à época. Mal sabia ele ‘onde estavam amarrandoos bigodes’. Minas Gerais, de povo acolhedor e de terras próprias, para SãoPaulo, de povo culturalmente menos afetuoso, mais reservado, muito distanteda acolhida oferecida em terras mineiras. Os ricos contos de réis da vendada fazenda em Minas nada significavam em terras paulistas; e o rico avô, defazendeiro nobre para um reles empregado em terras alheias. E assim, emvisitas a essas terras, onde a família mineira passa a trabalhar, o imigrantemascate conhece a pequena mineira, tímida, de fervorosa fé e caráter. Seapaixona pela bela morena e pede sua mão em casamento. Passado algum
RETALHOS DO PASSADO 167tempo de vida em comum, dos inúmeros filhos nascidos, o mascate decidefixar o comércio ambulante nessa casa do início da narrativa — a da Rua 4.Ali, com o pequeno comércio e a lida materna na rotina do lar, encaminhamos filhos aos estudos que a eles fora negado. A mãe tentara estudarnuma escola pública, a léguas de distância da fazenda onde residiam,atravessando porteiras, pulando cercas, cruzando pastos sob a força do sol,chuva, frio. Seu sonho era se tornar uma PROFESSORA — repetido, assim,PROFESSORA, enchendo a boca para falar. A vida a permitira seguir apenasaté o terceiro ano. Algo semelhante acontecera ao imigrante que, ainda commenor conhecimento que a esposa, aprendera apenas a escrever números;nenhuma letra, NADA. Todas as suas clientes eram donas Marias, mas seu sorriso,sereno e humilde, era cativante e conquistava a confiança sem precisarescrever sequer uma letra. Era um tempo onde a palavra dita valia a vida,onde se vendia fazendas sem cartório, sem papéis, pela honra do nome. Ocaráter era moldado no olhar dos pais e o fio do bigode lavrava sentenças.Nesse quintal que parecia tão imenso florescia o abacateiro, mangueira,goiabeira, bananeira; o persistente imigrante insistia em colher produtosda estação: milho, que era servido assado na brasa, em bolos, pamonhas e,para acompanhar, o arroz e feijão; plantava também verduras, que davamgosto de se ver e comer. Ali florescia alho, couve, alface, cenoura, numa variedadede canteiros preparados por ele que, até hoje, persiste na memóriados que o viram. Braço na enxada cavoucando a terra, numa prova de determinaçãoe resistência: braço-cavouco-enxada-terra, em sucessivas enxadadas, atécompor aquele belo e bucólico cenário de cores, sabores, vida.Monet não pintaria cena mais bela!Numa das laterais da casa, uma cerealista, ou como diziam, máquinade fazer arroz: era sempre uma alegria ver a máquina limpando o cereal —de um lado arroz, do outro a casca. Que avanço em tecnologia! Era inspirador!Aquela parede alta fornecia a sombra necessária para o cultivo da belae variada horta. Na outra lateral da casa, um terreno baldio, muito extensoque recortava a quase totalidade esquerda do quarteirão, um terreno onde omato, as árvores, cresciam desordenadamente. Bem ao fundo, num cantinhominúsculo vivia o seo Américo, um antigo boiadeiro que, tendo vivido a lidadas comitivas, já cansado e mais idoso, fixara residência naquele pontinhode areia, num mar de oceano chamado Terra.Dizem que quem bebe das águas de Barretos não se esquece jamais...Seo Américo era contador de histórias, ele próprio era a história. Chapéu,botas, calças rancheiras, cabelos encarapinhados e brancos, com bigodetambém branco contrastando com a cor preta da pele e o berrante, seu únicobem em toda essa terra. Seo Américo, além de contador de histórias, pagavaguaraná — pra alegria da criançada, que só bebia do líquido quando estava
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