BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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A CLASSE OPERÁRIA EM BARRETOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES (...) 159
Em outro importante trabalho acadêmico, o historiador Humberto Perinelli
Neto,
[...] Amparado numa etnografia histórica, busco[u] salientar a ambivalência contida
neste espaço fabril, posto que é possível notar a convivência de traços industriais e
das antigas fazendas de café, as preocupações sanitárias e marcas do trabalho escravo,
bem como notar a presença de dispositivos disciplinares e a ressignificação dos
“espaços vazios” pelos operários. 11
Podemos perceber que o autor utilizou como aporte metodológico a
análise das fontes fotográficas, que lhe serviram como evidências da ressignificação
dos espaços promovida pelos operários, como forma de burlar
dificuldades em um contexto repressivo. Observação esta que pode ser extravasada
para o espaço da própria vila operária, sua disposição enquanto cidade
disciplinar 12 , bem como a constituição de uma cultura operária, expressa pelas
práticas de lazer próprias do operariado, como o clube de futebol e o cinema.
Há que se levar em consideração, portanto, que a classe operária se
constitui não somente em relação à uma cultura militante, mas também enquanto
artífices de uma cultura operária, donde ganham destaque as celebrações, os
rituais, o lazer, entre outros.
Reconhecer a existência de ambos aspectos implica enfrentar a difícil tarefa de articular
a visão da classe operária como totalidade cultural consolidada, com práticas,
símbolos e instituições próprias claramente diferenciadas, como na ênfase de Hobsbawm,
com o desenvolvimento do processo cultural que institui a consciência de classe,
processo esse marcado pela multiplicidade de experiências, pela flexibilidade dos costumes
e pela circulação de valores, como na análise de Thompson. 13
É este o desafio a ser enfrentado: desvendar a constituição histórica
da classe trabalhadora em Barretos; não só do operariado, mas de trabalhadores
do campo, comércio e serviços e suas consequências estruturantes
para a cidade, como a expansão da área urbana 14 , o aumento populacional,
a diversificação das composições classistas e suas formas de organização.
Neste sentido, recentemente, um pesquisador do Serviço Social analisou
as relações de trabalho e saúde nos frigoríficos de Barretos, e demonstrou
um aprofundamento da exploração do trabalhador, gerando impactos negativos
como o aumento dos problemas de saúde e a depreciação dos direitos
trabalhistas 15 . No entanto, ainda percebemos uma grande lacuna a ser
preenchida pelos historiadores, preocupados em compreender e transformar
a realidade. Nestas breves páginas, não tive a intenção de encerrar o assunto,
mas apenas privilegiar o trabalho de historiadores locais, apontar possibilidades
de pesquisas e, talvez, provocar sua curiosidade acerca do tema.