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BARRETOS EM 3ª PESSOA

Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.

Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.

Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.

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MICHELA SILVA 137

rios políticos de ambos.

A manchete do jornal foi intitulada Dr. Manhães e Professor Adão foram desagravados

devidamente. A notícia traz, em seu escopo, um posicionamento do Partido

Social Progressista, que se manifesta contrário ao ato:

“(...)fiéis intérpretes do pensamento e da tradição da gente barretense (...) Pelo que diz algum

racista de bobagem preocupado com a perniciosa manifestação de insensatas teorias, desconhecendo

talvez a influência do negro na civilização brasileira(...)”.

O Correio de Barretos trazia um tom progressista do acontecido, mesmo

pré-saídos da ditadura do Estado Novo, que “teria inviabilizado as ações independentes por

parte dos movimentos sociais” 13 — e que perdura de 1935 a 1942.

Portanto, quando falamos das décadas de 1930 e 1940, é importante

destacarmos que, neste período, o movimento social negro estava em sua

efervescência na sociedade brasileira. Mesmo passando por momentos repressivos,

teve como principal marco a fundação oficial do Clube Social Negro

Associação Beneficente Estrela d’Oriente, que trazia uma expansão destas discussões

na cidade e que, para além de preencher uma demanda de entretenimento

da população preta, contribuiu também para um fortalecimento moral de

famílias pretas, como um ato de resistência.

Com um pouco dos apontamentos da influência de pessoas pretas, conseguimos

concluir que foi determinante para a formação do povo barretense;

e sua forma de resistir ao processo total de aculturação sofrido desde o início

da escravização, permitiu que sobrevivências culturais perdurassem, mesmo

que a essência africana tenha se perdido em parte.

Vemos, ainda, essa essência representada pelos terreiros das religiões

de Matriz Africana, rodas de capoeira — reconhecendo-as não só como formas

de resistência preta, mas também como traços de uma cultura brasileira

formada com inserção e fusão de elementos culturais e sociais permanentes.

13

MATTOS, Marcelo Badaró. O Sindicalismo

Brasileiro após 1930. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003. p.22

Michela Silva é nascida em Barretos. Graduada em História, Especialista em

História e Cultura Afro-brasileira, atua como professora na Rede Pública Estadual e é

pesquisadora na área de Educação e Relações étnico-raciais em Barretos

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