BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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ALGUNS APONTAMENTOS DE TRAJETÓRIAS PRETAS EM BARRETOS
te pela busca de seus objetivos, quais sejam, de se alfabetizar; portanto, homem
negro, em meio às dificuldades e estatísticas do processo de alfabetização
desta raça no país e em Barretos, no período em que ele viveu.
Pouco se sabe sobre a trajetória de Geremaro Manhães, preto de pele retinta,
médico, que chega a Barretos junto de sua família para prestar serviços
à Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A família Manhães também deve ser
lembrada: exemplo na luta do negro na conquista de seu espaço, composta
pelo médico Geremaro Manhães, Lidia Gonçalves Manhães, enfermeira, e seus quatro
filhos; pessoas muito ativas na vida da cidade. Geremaro, além de médico,
foi professor da disciplina de Biologia Aplicada no Colégio Estadual e Escola Normal
Mário Vieira Marcondes e colunista do jornal Correio de Barretos. A História Oral traz
alguns relatos sobre a chegada de Geremaro Manhães e sobre suas ações na sociedade
barretense. Uma entrevis ta de um anônimo, um garoto de 15 anos
na época em que Geremaro chega a Barretos, diz:
“(...) eu fui na casa dele vê se eles pricisava dos meus serviço, eu fiquei com a maior
vergonha fia, tinha um negão trabaiando no jardim e perguntei onde tava o patrão o
doto e num é que era ele o doto. Eu sou negão tamém mais eu nunca que tinha visto um
negão que nem eu doto (ANÔNIMO, 2015) 10 .”
Podemos ilustrar aqui o contexto de invisibilidade de pessoas pretas
na Medicina desde as décadas subsequentes à escravização preta no Brasil.
Voltando à trajetória de Geremaro, as três entrevistas feitas com pessoas
que conviveram com Geremaro Manhães sempre relatam que ele e Dona
Lídia eram pessoas muito generosas 11 . Em uma entrevista com a médica Nilda
Carreira, ela enfatiza que, no período em que trabalharam juntos, os dois estavam
entre os poucos médicos que faziam questão de atender pessoas pobres
que, às vezes, precisavam aprender coisas simples do dia a dia, como tomar
banho e lavar as mãos 12 .
Apresento alguns aspectos da trajetória de Adão de Carvalho e Geremaro
Manhães para que possamos ilustrar como a perversidade do racismo age de
maneira sorrateira, de forma a passar despercebido aos olhos das pessoas
brancas. Podemos destacar, principalmente, a ilusão de que a ascensão social
de pessoas negras trará algum retorno positivo, falando em estruturas
racistas, assim estabelecendo um paralelo com o mito da democracia racial.
Voltando ao jornal: de fato, no ano de 1947, em data próxima à posse
do então prefeito Mário Vieira Marcondes, foi retratada uma manifestação de
apoio de O Correio às figuras de Adão de Carvalho e Geremaro Manhães, redatores do
periódico que, nos dizeres da época, foram vítimas de racismo por adversá-
10
ANÔNIMO 1. Reconhecimento de Fotos de Barretos.
11
TOMÁS, Dercidi. Reconhecendo fotos de Barretos.
12
CARREIRA, NILDA B. Trajetória da Primeira Médica de Barretos.