BARRETOS EM 3ª PESSOA
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”. Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
Essa é uma obra sobre a cidade. Sobre o seu passado. Aqui, a cidade, Barretos, substantivo próprio, ganha novas roupagens, inclusive na gramática. Ela passa a ser o assunto em comum e a referência em quem todos os autores se debruçam; a 3ª pessoa – “ela”.
Independente da natureza dos textos e da origem dos autores, a ideia é que os leitores, especialmente os barretenses, tenham a chance de visualizar a paisagem da cidade nos tempos idos, em diferentes décadas.
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MANOEL NUNES FILHO 127
gum, totalmente alheio ao perigo daqueles animais bravios trilhando aquele
corredor que os levariam ao frigorifico, para serem abatidos.
Do alto do barranco da estrada, não imaginava que algum daqueles
animais poderia, a qualquer momento, mudar sua trajetória, passar sobre a
estrada e me atropelar. Nesta altura da infância, não tinha noção alguma do
perigo e, ali, ficava a contemplar todo aquele esplendor de centenas de cabeças
de gado que seguiam, também sem imaginar que estavam a caminho do
fim de seus dias, para cumprir a finalidade para que foram criados.
Também chamava a atenção, à beira do corredor, saindo do caminho
da boiada, uma figura característica da região: um senhor de baixa estatura
que não tinha domínio da razão: roupas bem sujas, com muitas latas ve lhas
amarradas às suas vestes e barba sem fazer há muito tempo — daí, o apelido
de Barbudinho ou, às vezes, Sujinho. Vivia da ajuda dos moradores e era o terror
das crianças da redondeza, que o temiam pelas histórias que contavam dele,
as quais nunca comprovadas: era apenas uma pessoa que não tinha o domínio
da consciência e que não fazia mal a ninguém.
Do lado mais alto da estrada, podia-se contemplar também a passagem
do gado em frente a uma grande lagoa, que era explorada com a extração do
saibro para a confecção de tijolos, cuja localização, hoje, situa-se na rua Vinte
e Quatro, nas proximidades da avenida Quarenta e Sete. Nesta esquina, até
hoje, ainda permanece, sob um bueiro, uma mina d’agua, onde a Natureza
insiste em não morrer. Seguindo, a boiada passava em frente a uma capela,
fundada em 12 de outubro de 1921, chamada pelos peões de Igrejinha da Graia,
nome este que não sabiam como nem de onde surgiu.
Capela de Nossa Senhora Aparecida. Fonte: Fotografia do autor