EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
A obra de José Demétrio Coelho narra o processo de emancipação (do começo ao fim), valorizam as pessoas que romperam inúmeros obstáculos pela transformação do distrito em município e abrem um novo capítulo na história e na cultura cajuruenses.
A obra de José Demétrio Coelho narra o processo de emancipação (do começo ao fim), valorizam as pessoas que romperam inúmeros obstáculos pela transformação do distrito em município e abrem um novo capítulo na história e na cultura cajuruenses.
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EMANCIPAÇAO ˜
DE
CARMO DO CAJURU
José Demétrio Coelho
❖
A CHAMA DO IDEAL
Jose Demétrio Coelho
(✬ 02/07/1889 ♱ 22/07/1955),
o primeiro prefeito de Carmo do Cajuru,
foi um admirável ser humano com
elevado espírito público. Intelligentsia
do movimento pela emancipação
de Carmo do Cajuru e um de seus
principais protagonistas, também
foi um criativo escritor e graças a
esse dom, recebemos este impecável
documento escrito há 65 anos.
Na relação de obras escritas por ele,
desde os 20 anos, estão trabalhos
inéditos (cinco novelas) como “Amor
Infeliz” (1910); “O Peão” e “Palestras e
Divagações” (1911); “Justiça” (1940);
“Sonetos do Acaso” (1942); “Amor que
Redimo” e “Feliz tendo paz” (1944).
Em 1945, escreveu uma comédia em
dois atos: “Lamentável Equívoco”.
Inúmeros sonetos de sua autoria foram
publicados pelo jornal “O Município”,
do qual era editor. Em 1948, era o
redator principal da revista “Carmo do
Cajuru” e, em 1950, publicou o livro
“Recordações de Oliveira”.
Sua realização literária mais
importante, no entanto, capaz de
destacar virtudes e acrescer valores
à identidade cajuruense, certamente,
é esta que ora se publica. As páginas
amarelecidas pelo tempo narram o
processo de emancipação (do começo
ao fim), valorizam as pessoas que
romperam inúmeros obstáculos pela
transformação do distrito em município
e desvelam um novo capítulo na
história e na cultura cajuruenses.
Edson de Souza Vilela
EMANCIPAÇAO ˜ DE
CARMO DO CAJURU
Relato Histórico
José Demétrio Coelho
EMANCIPAÇAO ˜ DE
CARMO DO CAJURU
Relato Histórico
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DE CAJURU
Relato Histórico · 1955
JOSÉ DEMÉTRIO COELHO
COMPILAÇÃO DO ORIGINAL
livreto datilografado conservado no museu e arquivo sacro-histórico · reg. 1050
Recomendado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural
para estudos de História Municipal e atividades em Educação Patrimonial
projeto gráfico/ compilação/ editoração
FLÁVIO FLORA
ORCID 0000-0002-4500-625X
fotografias internas
COLEÇÃO DE CÉLIO CORDEIRO
fotografias (Capa e p. 58)
CARLITO GUIMARÃES (1948).
Negativos gentilmente cedidos por Rodrigo Guimarães.
ícones e ornamentos
<www.flaticon.com> . <clipartmax.com>
impressão
GEEC PUBLICAÇÕES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Coelho, José Demétrio, 1889-1956
Emancipação de Carmo do Cajuru : relato
histórico / José Demétrio Coelho ; [organização
e compilação Flávio Flora]. -- 1. ed. --
Divinópolis, MG : Geec Publicações, 2020.
ISBN 978-65-00-02373-2
1. Carmo do Cajuru, Minas Gerais - História
2. Carmo do Cajuru, Minas Gerais - Relatos 3. Carmo
do Cajuru - Civilização - História I. Flora, Flávio.
II. Título.
20-36436 CDD-981.512
PREFEITURA DE CARMO DO CAJURU, MG
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Departamento de Cultura
Agosto de 2020
DEDICATÓRIA
Ao Povo de Carmo do Cajuru,
que sempre soube prezar a tradicional honradez
de seus antepassados; que jamais deixou de demonstrar
sua gratidao ˜ pelo bem que alguém tenha feito a esta terra;
que sabe reconhecer o valor e devotamento daqueles
que trabalham com desinteresse e abnegaçao ˜
pelo seu engrandecimento.
APRESENTAÇAO
~
Este trabalho, com o ser despretensioso, visa rememorar os trabalhos
da Comissão encarregada de promover a emancipação do então
Distrito de Carmo do Cajuru.
Fomos anotando, em ordem cronológica, os fatos e as providências
tomadas no transcurso dos trabalhos, para um lembrete oportuno.
Aqui não omitimos nenhuma ocorrência, embora possa ferir susceptibilidades,
porque trata-se de fatos históricos, que, por isso mesmo,
não devem ser relegados ao esquecimento.
Quem deste relato tomar conhecimento, com espírito patriótico e
imparcial, há de, por certo, reconhecer que não nos animou outro
propósito que o de fazer um apanhado histórico dos acontecimentos
que precederam à nossa autonomia administrativa, que redundou
para o nosso povo, no seu maior acontecimento da vida.
Finalmente, todo cajuruense desejava a emancipação e se alguma
coisa veio demonstrar o contrário devemos considerá-la excesso de
amor-próprio ou uma incompreensão momentânea.
Seja como for, realizou-se o ideal de todos e agora só nos resta
congratularmos com a vitória alcançada e não regateá-la a que quer
que seja.
SUMÁRIO
I. O movimento ousado .............................................. 09
II. Direito de viver independente ............................ 11
III. Um novo censo demográfico ............................... 13
MEMORIAL
· Distrito de Cajuru ..................................................... 21
OCORRÊNCIAS - PRÉ-EMANCIPAÇÃO
IV. A luta pela emancipação ........................................ 49
V. Reparos no Grupo e na Matriz ............................ 55
VI. Serviços de Combate à Malária .......................... 57
DIÁRIO DA EMANCIPAÇÃO
VII. Transcurso das providências ................................ 63
VIII. Constituição do Primeiro Governo ................... 85
IX. Apoio ao Partido Social Democrático ............. 91
I
O movimento ousado
Muito se interessa a posteridade pelos relatos históricos, e ainda
muito mais o conhecimento dos pródromos da independência de um
povo.
É com desvanecimento e alegria que tomamos conhecimento de feitos
gloriosos e episódios épicos vividos por nossos antepassados, que orgulham
e enobrecem a descendência. Exultamos sempre com os feitos
dos que nos antecederam na história.
Conhecendo, pois, esse interesse, que é comum a todos os homens,
vamos relatar, ainda que em descoloridos painéis, os acontecimentos
que antecederam a emancipação político-administrativa de Carmo do
Cajuru, bem como, também, o transcurso de providências que a estabeleceram.
Como em todos os movimentos ousados, onde tudo se avulta contra as
pretensões também ousadas, lutou a Comissão Pró-Emancipação para
ver, afinal, Carmo do Cajuru elevado à categoria de Município.
A luta, entretanto, não foi de um só homem, mas, igualmente, de todos
os companheiros da Comissão, cada um na sua esfera de ação. Foi tão
árdua a luta, que a nenhum dos companheiros foi permitido ter uma
posição cômoda, porquanto havia para cada um uma tarefa determinada.
Ao obtermos a vitória, todos a receberam como paga de um esforço
despendido em favor do ideal comum e da tarefa cumprida. Os pósteros
não poderão, por isso mesmo, olvidar um nome sequer dos que
trabalharam audazmente na luta ingente, onde todos mantinham acesa
a chama do ideal e a vontade firme de vencer.
Oferecemos, pois, a seguir, os lances mais emocionantes do transcurso
do nosso trabalho, bem como a transcrição do Memorial enviado
à Comissão Técnica de Revisão Administrativa e o resumo de outros
episódios vividos através do lapso de tempo decorrido até a eleição do
nosso primeiro governo autônomo e dos que o seguiram.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
II
Direito de viver independente
A emancipação de Carmo do Cajuru se processou em ambiente tão
divergente que exige este relato.
Embora se congregasse a maioria da população em torno dos que pugnavam
pela emancipação, ainda se encontrou um grupo divergente,
que desejava a anulação de nossos esforços.
Quase a totalidade dos que se propuseram a hostilizar o nosso movimento
foram adeptos fervorosos da emancipação do distrito em
época anterior, de modo que nos obrigaram ao convencimento de que
somente um motivo puramente político fosse o responsável pela incompreensão.
Em 1943, quando se agitou a questão de nossa emancipação político-
-administrativa, tendo à frente do movimento Carlos Altivo, José Alves
Nogueira Filho, Oswaldo Coelho, Paulo Batista de Menezes, José Jehovah
Guimarães, José Rodrigues de Carvalho, como também nós e muitos
outros, o processo para emancipação de distritos ainda não se regulava
por determinações expressas de nossa Constituição e, por isso,
havendo arbítrio pessoal para a escolha, perdemos para o distrito de
Itaguara, também do município de Itauna, embora na época já estivéssemos
em condições favoráveis para a conquista de nossa alforria. Não
perdemos com a derrota o entusiasmo latente e a chama que alentava
o nosso ideal permaneceu acesa e crepitando em nossos corações.
Em 1946, começou a surgir, em vários pontos do Estado, as vozes dos
idealistas alentando os interessados a novo movimento.
Bem perto de nós, em Divinópolis, Ataliba Lago, pelas colunas do seu
jornal, o “Divinópolis-Jornal”, concitava o povo de São Gonçalo do Pará
a desenrolar a bandeira emancipatória em favor daquele distrito integrante
do município de Pará de Minas. Lendo o artigo daquele nosso
amigo e confrade, endereçamos-lhe a seguinte carta:
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
11
Carmo do Cajuru, 5 de novembro de 1946
Meu caro Ataliba
Um cordial abraço
Sua local de domingo, no “Divinópolis-Jornal” sobre a emancipação
administrativa de São Gonçalo despertou-me o interesse
de dizer, também, algo sobre Cajuru; é este, pois, o motivo desta
carta.
A época atual não mais permite peias ao desenvolvimento econômico
das comunidades. Já se perde, através do tempo, a compreensão
errônea e inconcebível das comunidades que, para
viverem, se deviam atrelar umas às outras com prejuízo do estímulo
que mais deveriam alimentar para o progresso almejado.
Era o feudalismo, impetando pelo tempo afora, como uma ostentação
do passado e, como se fora um bem a se perpetuar. Hoje,
felizmente, os homens mais atilados não pensam desse modo e
procuram redimir as faltas de seus antepassados.
Um povo que trabalha e produz tem direito de viver independente,
colhendo por suas próprias mãos, os frutos do seu esforço. É
justo, pois, que São Gonçalo agite a bandeira de sua independência
econômica e administrativa, como também muitíssimo
justo seria levantar-se, no mesmo sentido, o povo de Carmo do
Cajuru.
Esta carta foi publicada no “Divinópolis-Jornal”, n. 199, de 1o/ 11/ 1946
Aqui, como,lá, nada falta para a consecução desse ‘desideratum’.
O comércio, a indústria, a lavoura e a pecuária, tanto aqui
como lá, em São Gonçalo, reforçam todos os anos o erário municipal
de seus municípios, vivendo em constante desconforto.
Cajuru, que melhor conheço, posso afirmar, poderá viver se suas
próprias rendas.
A emancipação, tanto de São Gonçalo, como para Carmo do Cajuru,
é uma necessidade. O clamor dos habitantes de distritos,
embora ressoem altissonante e angustioso, perde-se no reduzido
espaço de suas fronteiras, embora o eco se repercuta em todos
os ouvidos para chegar mais além quase em sussurro.
Venha, pois, a emancipação para nosso distrito, e assim acontecendo,
os nossos dirigentes poderão alardear o cumprimento de
um dever sagrado e de alta benemerência.
Do seu admirador
Demétrio
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José Demétrio Coelho · 1955
III
Um novo censo demográfico
A o terminar o ano de 1947, a ideia emancipacionista do distrito
já empolgava e era assunto discutido em todas rodas. Foi então que
o industrial e proprietário Amim Mattar, fervoroso adepto do nosso
movimento, procurou-nos para encetá-lo. Podíamos contar com a colaboração
eficaz de Ataliba Lago e outros companheiros como José
Jehovah Guimarães, na atualidade vereador na Câmara Municipal de
Itaúna, entusiasta e devotado amigo de Carmo do Cajuru, para onde
viera moço ainda.
Outros elementos vieram engrossar nossas fileiras como José Rodrigues
de Carvalho, Vítor Epifânio Pereira, José Marra da Silva, Otávio
Djalma de Sá, Antônio Nogueira de Souza, Antônio Miguel Maia, Nagib
Mileib, Orestes Mateus da Silva e muitos outros, convencendo-nos do
êxito seguro de nossa campanha.
Adeptos da emancipação
Convocou-se então uma reunião para em conjunto tomar-se uma resolução
em definitivo. Assim, no dia 14 de dezembro de 1947, reuniram-se
os adeptos da emancipação no Cine Teatro Local e do que se
deliberou dá notícia a seguinte Ata:
Ata da constituição da primeira Diretoria Pró-Emancipação de Carmo
do Cajuru. Aos 14 dias de dezembro de 1947, presentes elementos
entusiastas pró-emancipação desta Vila, em seu trabalho
inicial, aclamaram a diretoria que tomará o encargo de conseguir
elementos para o Relatório que será oportunamente apresentado
à Assembleia Legislativa solicitando a criação do Município conforme
dispõe o Artigo 80 da Constituição Estadual. Por proposta
do senhor José Demétrio Coelho foi aceito o alvitre de se aclamar
a primeira Diretoria, sendo então sob estrondosa salva de palmas
aclamado Presidente de Honra: o senhor Amim Mattar; Presidente:
José Rodrigues de Carvalho; Vice-Presidente: senhor José Demétrio
Coelho; Primeiro-Secretário: o senhor José Marra da Silva;
Segundo-Secretário: senhor José Luiz Passos; Primeiro-Tesoureiro:
senhor Vítor Epifânio Pereira; Segundo-Tesoureiro: Otávio Djalma
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
13
de Sá. Ficou também deliberado que a Diretoria, em sua primeira
reunião, organize as comissões para os trabalhos de organização.
Foi ainda deliberado que todos os signatários desta Ata fiquem
considerados membros efetivos da Diretoria. Nada mais havendo
a constar, eu, José Luiz Passos, Segundo-Secretário, lavrei a presente
Ata.
[Por ordem de assinaturas]
Amim Mattar
José Rodrigues de Carvalho
José Demétrio Coelho
José Marra da Silva
José Luiz Passos
Vítor Epifânio Pereira
Otávio Djalma de Sá
José Jehovah Guimarães
Messias Dias Barbosa
Silvino Pio da Fonseca
Jesus Mateus da Silva
Jorge Dias Barbosa
Geraldo Gomes Diniz
José Nogueira Marra
Josino da Fonseca
Miguel Pio da Fonseca
Vicente Nogueira de Souza
Jacinto Pereira Guimarães
Olandin Nogueira Avelar
Abílio Batista de Faria
Joaquim Brasilino Pinto
Geraldo Guimarães
José Nogueira Avelar
Sebastião Fonte Boa
Valter Rabelo
Petrino Nogueira
Rodolfo Camilo de Souza
Antônio Pio da Fonseca Primo
Sebastião Alves Nogueira
Manoel Alves dos Santos
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José Demétrio Coelho · 1955
Antônio Rabelo
Antônio Ferreira Sobrinho
Francisco Batista Leite
Constantino José de Oliveira
Geraldo Mano da Silva
João José Rabelo
José Alves Nogueira
Luiz Paula Filho
Luiz Gonzaga Miranda
Aristóteles Joaquim de Oliveira
Orígenes Pio Fonseca
Antônio Abreu
Segismundo Fonseca Filho
Luiz José Rabelo
José Dias Barbosa
Acácio Ferreira de Melo
Geraldo Dias Barbosa
Joaquim Mateus da Silva
Elias Ferreira de Melo
Caetano Bastos
Adolfo Timóteo de Sá
Antônio Nogueira de Souza
Carlos Fonte Boa
Cristino Mateus da Silva
João Rabelo de Oliveira
José Vital Filho
Antônio Miguel Maia
Plínio Rocha Soares
Nagib Mileib
Antônio Moreira de Barros
Orestes Mateus da Silva
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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Nosso censo demográfico
Estava assim iniciado o trabalho em prol de nossa emancipação. Deparamos
logo com obstáculos que deviam ser superados com presteza
para não se perder a oportunidade do prazo fixado em lei. Não dispúnhamos
de dados seguros sobre a renda do distrito e ainda mais
quanto à sua população, requisito essencial do art. 80 da Constituição
Estadual, de 14 de julho de 1947, em seu inciso I: 10 mil habitantes.
O último censo demográfico procedido dava a Carmo do Cajuru pouco
mais de sete mil habitantes. Os elementos que se puseram em marcha
contra o nosso movimento já proclamavam abertamente essa nossa
deficiência. Tínhamos necessidade de provar concretamente que o
distrito possuía o número de habitantes exigido para se emancipar e,
por isso, resolvemos promover o nosso censo.
Nova reunião da Diretoria foi feita, em 28 de dezembro de 1947, e ali
debatido o assunto. Dividiu-se o distrito em quatro zonas, entregando-
-se cada delas a pessoas capazes de colher os dados em curto espaço
de tempo.
Hostilidades ao movimento
Já na sessão da Diretoria, de 1 o de janeiro de 1948, pode ser conhecido
o desenvolvimento dos trabalhos do censo que se pretendia, sendo
animadora as notícias veiculadas na reunião. Agora era o movimento
financeiro que exigia providencia imediata. Ali mesmo, em plena
sessão, foi aberta uma lista, subscrita pelos presentes com valiosos
donativos.
Estava, assim, em pleno desenvolvimento os trabalhos da Comissão
Pró-Emancipação de Carmo do Cajuru. De tudo se cuidava com real
interesse para que em tempo útil se apresentasse o pedido em boa
forma.
Eram então patentes as hostilidades ao nosso movimento, promovidas
por aqueles que embora desejassem a emancipação, não a queriam
por nosso intermédio. Teve a Comissão de desdobrar atividade
e prontamente tomar várias providências, pois os nossos contendores
se haviam aliado à sede do município para opor dificuldades ao nosso
movimento.
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José Demétrio Coelho · 1955
Pedida a certidão de renda a Itauna, de lá nos veio um documento estimando-a
em Cr$ 95.408,80, menos Cr$ 4.591,20, da exigência legal!.
Embora elevada, não atingia o quantum determinado pela Constituição.
Estava seriamente comprometida nossa pretensão; não podíamos
provar oficialmente os dois principais requisitos do Artigo 80. Não
desanimamos porém, e nosso trabalho prosseguiu com galhardia e intrepidez.
Como se poderá verificar mais adiante, no Memorial, provamos que
tínhamos renda e população.
No dia 27 de fevereiro de 1948, seguiam para Belo Horizonte os companheiros
Amim Mattar, José Rodrigues de Carvalho, José Marra da
Silva, Otávio Djalma de Sá e José Jehovah Guimarães, a fim de ali se
reunirem aos demais companheiros de trabalho, Dr. Oswaldo Coelho
e Ataliba Lago, para a entrega do Memorial ao Exmo. Sr. Pedro Aleixo,
Secretário do Interior do governo do Exmo. Sr. Dr. Mílton Campos.
Também foi entregue ao ilustre secretário um artístico álbum fotográfico
da vila.
Recebendo o ilustre secretário nosso Memorial e o álbum, teve para
com os membros da Comissão fartos elogios; mas, dizendo que “a Comissão
Técnica da Revisão Administrativa teria em vista somente fatores
técnicos para emancipação de distritos”.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
MEMORIAL
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
DISTRITO DE CAJURU
Exmo. Sr. Dr. Pedro Aleixo
Presidente da Comissão Técnica da Divisão Administrativa
e Judiciária do Estado de Minas Gerais
Os infra-assinados, componentes da Comissão Pró-Emancipação
de Carmo do Cajuru, vêm respeitosamente, perante V. Excia. com
o presente memorial, pleitear a elevação do referido distrito à
categoria de município.
Carmo do Cajuru merece sua emancipação político-administrativa,
porque é uma localidade em pleno florescimento, possuindo
movimentado comércio, poderosa indústria, lavoura bem cuidada
e pecuária bem desenvolvida.
Carmo do Cajuru preenche todos os requisitos exigidos pela
Constituição Estadual, porque tem população superior a 10 mil
almas, tem mais de 600 prédios, terá renda superior a Cr$ 200
mil, tem amplo cemitério, tem local magnífico para instalação de
matadouro, tem prédio novo e suntuoso de três andares, cedido
gentilmente pelo industrial Amim Mattar, para instalação da Prefeitura,
Câmara e Coletoria Estadual.
Carmo do Cajuru, em 1940, justamente na época do último recenseamento,
esteve em dolorosa decadência, em vista do êxodo
da sua população para Goiás e outros pontos do País.
Naquela época, o recenseamento oficial, que foi falho e sem visitas
domiciliárias, conforme é do conhecimento público, acusara
uma população de 6.676 almas.
De 1941 para cá, com o retorno de muitos elementos daqui saídos
e a vinda de elementos estranhos, com o crescimento da
atividade pecuarista e com a instalação de fábricas de manteiga
e de máquinas de beneficiamento de arroz e café, o distrito de
Carmo do Cajuru retomou o seu ritmo de progresso e civilização,
alcançando as suas propriedades valorização superior a 500%.
Os forasteiros que aportam às nossas plagas afirmam sempre
que é uma injustiça Carmo do Cajuru não ser município, porque
o distrito, pela imponência dos seus prédios, se sobrepõe a muitas
cidades mineiras.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
21
Seguem-se, em capítulos distintos e com farta documentação,
os dados referentes a Carmo do Cajuru
» POPULAÇÃO EM 1948
O recenseamento a que se procedeu agora, para verificação da
população de Carmo do Cajuru, veio demonstrar que não estávamos
enganados, quando tínhamos a convicção de que os dados
oficiais, a respeito, não exprimiam a verdade. Nossa convicção se
firmava no conhecimento que tínhamos, pelo contínuo lidar com
o povo, e termos convicção de que o anterior recenseamento não
fora cuidadoso e muito se ressentia de faltas cometidas.
Ao Departamento de Estatística não cabe, absolutamente, qualquer
responsabilidade nessa parte, visto como teria de considerar
como bem-feito o serviço executado em 1940.
Nós, entretanto, que precisávamos provar o quanto atinge no momento
nossa população, que excede em muito aos dados estatísticos,
tomamos a deliberação de promover o atual recenseamento,
como subsídios ao serviço oficial, a fim de termos elemento probante
para um dos requisitos exigidos pelo art. 80 da Constituição
Estadual, para o fim que propomos - solicitar a elevação do distrito
de Carmo do Cajuru à categoria de município.
Ao correr dos serviços de recenseamento fomos anotando os habitantes
que não foram registrados, para os efeitos civis, e chegamos
ao fim do censo com uma elevada contagem dos não registrados,
havendo entre eles inúmeros adultos, até de 50 anos de idade.
Nossa população excedeu em número à previsão estatuída no Departamento
de Estatística, o que nos leva a reforçar a nossa suposição
de que o engano já vem do último recenseamento efeito.
Se verificarmos, comparativamente, o acréscimo de população da
sede do distrito, com as zonas rurais, chegaremos à conclusão de
que o aumento é mais sensível nos povoados.
O recenseamento, portanto, se impunha, como aí está a população
para, de novo, ser recenseada, se preciso; mas, serviu nosso
serviço para uma prova evidente de que precisa ser corrigida a
falta acusada.
A população atual de toda a área territorial do distrito de Carmo
do Cajuru [incluindo o povoado de Salgado] é de 10.700 almas,
22
José Demétrio Coelho · 1955
conforme recenseamento procedido. Prevalecendo as divisas propostas
para a criação do município, divisas constantes do estudo
cartográfico apenso, a população de Carmo de Cajuru chegará a
11.296 habitantes, assim distribuídos:
População estimada para o novo município - 1948
População atual do distrito 8.170
População do povoado de Salgado 2.530
População do povoado de Cunhas 596
Total 11.296
Fonte: Comissão Pró-Emancipação de Carmo do Cajuru (1948)
» EXATIDÃO DO RECENSEAMENTO
Para o censo agora feito, em fichas distintas, adotou-se rigoroso
critério para fidelidade dos números.
Antes de ser iniciado esse serviço, a Comissão Pró-Emancipação
de Carmo do Cajuru solicitou à douta Comissão Técnica da Divisão
Administrativa e Judiciária a vinda a este distrito de um funcionário
do Serviço de Estatística para, in loco, fiscalizar a coleta
das fichas do censo demográfico que promovemos.
Como prazo para encaminhamento de pedidos de emancipação
político- administrativa termina em 2 de março do corrente ano,
fomos obrigados a dar por concluído o recenseamento de nossa
população.
O aludido serviço censitário foi feito de povoado em povoado. Para
tanto, tivemos a honra de contar com a decidida cooperação dos
fazendeiros.
Todos os papéis relativos a esse serviço (fichas autenticadas por
autoridades locais) encontram-se à disposição da ilustrada Comissão
Técnica, caso julgue necessário examinar o recenseamento
agora processado.
Segue, incluso, um documento assinado pelas maiores autoridades
do distrito, que examinaram e autenticaram as fichas de recenseamento
agora feito.
» PATRIMÔNIO PREDIAL
A sede do distrito de Carmo do Cajuru, consoante recenseamento
feito Serviço Nacional de Malária, possui 620 prédios.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
23
O povoado de Salgados possui 108 casas arruadas, muitas no
centro da localidade, de boa construção e de preço elevado.
A sede do distrito de Carmo do Cajuru está a 745,36 metros de
altitude acima do nível do mar, situada em colina suave e graciosa
de onde emerge o seu casario, confortáveis umas e pequenas
outras, oferecendo aos seus visitantes um horizonte casto e
belíssimo.
Ao norte, nordeste e oeste, ora uma colina verdejante seguida
de mais outras, todas como que invejosas da sorte da primeira,
escolhida para pedestal de Carmo do Cajuru; ora um monte que
arremete garboso para o alto, o famoso monte do Cajuru, como
todos os denominam; e mais além, em todos os pontos, uma prolongada
crista azul das últimas serras.
A pouca distância da vila, passa célere o rio Pará. No perímetro
urbano, estão situados os bairros Centro, Dias, Pinguelão, Papa
Grilo e Bonfim (que se articulam com ruas de 12 metros), além
de três praças compondo a povoação. Essas ruas ensaibradas,
algumas com passeio de 1,20 m, são de aspecto agradável pelas
construções, na sua maioria modernas, umas e outras de aspecto
colonial, e pelos estabelecimentos comerciais e bancários que
possuem.
Entre seus edifícios, muitos de apurado gosto arquitetônico, destaca-se
o de propriedade do industrial Amim Mattar, em três pisos
e de ótima construção moderna, o do Grupo Escolar e os de suas
indústrias.
Possui uma cadeia distrital, três escritórios bancários, duas farmácias,
consultórios médicos e dentários, duas oficinas de calçados,
bares, sorveterias, quatro barbearias, três fábricas de laticínios,
duas usinas de beneficiar arroz, uma de leite, correios, oficinas de
marcenarias, três alfaiatarias, cinco templos católicos, distribuidora
de luz, hotel, uma ponte de concreto sobre o ribeirão do Empanturrado.
Na sede, três açougues, 40 casas comerciais, duas
padarias.
Em suas ruas e praças, simétricas algumas, arborizadas outras, se
distribui o seu casario, edificados em lotes de 12 metros de frente,
no mínimo, com os espaços entre as construções, murados, dando
expressão urbana à localidade.
Servida pela Rede Mineira de Viação (RMV), a Estação Ferroviária
de Carmo do Cajuru está situada no Centro da Vila, na espaçosa
praça Getúlio Vargas. Possui magnífica iluminação elétrica pública
e particular, tão boa quanto às demais adiantadas cidades; água
24
José Demétrio Coelho · 1955
canalizada abundante e algumas redes de esgoto apararelham-na
de todo o conforto, colocando-a em condições de ser satisfatoriamente
a sede de governo do futuro município de Carmo do Cajuru.
Contornando a parte urbana da vila, corre o ribeirão do Empaturrado
com abundante manancial onde precipitam cursos d’água
em cachoeiras que são reservas à espera de aproveitamento, sendo
de destaque a dos Dias, situada nas proximidades do Centro,
ao sul da localidade, medindo 10 m com volume d’água de 300
litros por segundo e força de 40HP.
O distrito de Carmo do Cajuru divisa com os municípios de Cláudio,
Divinópolis, Pará de Minas e Itaguara.
A maior densidade da população não se encontra na sede. Distribui-se
pelos inúmeros sítios e fazendas e se adensa em vários povoados
como São José do Salgado, Ribeiros, Angicos, Maribondo,
Mangonga, Empanturrado e Jacuba, que são os mais populosos.
Dentre eles se destacam pelas suas possibilidades o de São José
do Salgado, que se candidata a distrito do futuro município de
Carmo do Cajuru.
» RENDAS MUNICIPAIS
Na certidão junta, fornecida pelo senhor prefeito municipal de
Itauna, figura a renda de Carmo do Cajuru, em 1947, como sendo
de Cr$ 95.408,80, e sendo estimada a renda do distrito para
1948 em Cr$ 116 mil.
Na certidão do Sr. Prefeito, certamente, foi acusada apenas a renda
de impostos e taxas, não se incluindo a renda de eventuais, a
qual é cobrada, no distrito, pelo fiscal da prefeitura.
Vê-se claramente que a previsão orçamentária de 1948 para o
distrito, feita pela prefeitura de Itauna, foi simplesmente pessimista
porque, com a transferência integral do imposto das indústrias
e profissões para os municípios, todos os orçamentos municipais
já publicados foram aumentados em média de 80% (oitenta por
cento).
Com a renda de eventuais; com a renda dos serviços de água
potável (cada pena d’água custa Cr$ 60, anualmente); e com o
imposto integral de indústria e profissões, a renda municipal anual
de Carmo do Cajuru, seguramente, será superior a Cr$ 200 mil. O
povoado de Salgado, cuja área territorial pertence a este distrito e
que possui 13 casas comerciais, rende mais de Cr$ 30 mil para
os cofres municipais.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
25
» RENDAS ESTADUAIS
O distrito de Carmo do Cajuru, em 1947, rendeu mais de Cr$ 200
mil para o erário estadual. Com a elevação do distrito a município,
seguramente, a Coletoria Estadual, a ser aqui instalada, terá renda
aproximada de Cr$ 300 mil.
» RENDAS FEDERAIS
Em virtude do intenso movimento bancário e da expansão industrial
deste distrito, as rendas federais serão apreciáveis.
» MATADOURO MUNICIPAL
A Carta Constitucional Mineira, de 14 de julho de 1947, exige, na
criação de novos municípios, a existência de Matadouro. Carmo
do Cajuru ainda não possui esse melhoramento de alta relevância;
possui, entretanto, locais apropriados para sua instalação.
A Comissão Pró-Emancipação, cogitando desse serviço, já tem
em vista três locais onde, vantajosamente, poderá ser instalado o
Matadouro, distanciando o mais afastado, 1.500m. Qualquer deles,
que se situam nas margens do ribeirão Empanturrado, caudal
abundante, satisfaz plenamente as exigências.
O senhor Nagib Mileib, próspero industrial neste distrito, já ofereceu
gentilmente o terreno necessário para a instalação do Matadouro
local.
» CEMITÉRIO
O único cemitério existente na sede do distrito foi construído no
ano de 1854, pelos reverendíssimos frades missionários “barbônios”
Eugênio Maria de Gênova, Francisco Coriliano D’Otranto e
Irmão Leigo Arcângelo de Nápoles, todos de origem italiana da
Ordem dos Mínimos (OM) de São Francisco de Paula. Povo e missionários
citados foram os construtores que deram à paróquia uma
admirável obra de alvenaria de pedras secas, ocupando uma área
de 3.692 m2, situado em uma colina ao norte da vila, onde dormem
o último sono tantos entes que nos eram caros e ante cujas
cinzas nos ajoelhamos respeitosos.
Em 1944, o governo municipal de Itaúna, tendo como prefeito o
Dr. Lincoln Nogueira Machado, construiu, a pedido do vigário Pe.
Raul Silva, um aumento de sua capacidade para mais 665 m 2 .
26
José Demétrio Coelho · 1955
Cemitério do Bonfim
Antes da construção do cemitério, os corpos eram sepultados no
átrio da antiga capela matriz. Os padres Izaias, Taveira e Guilherme
Nunes de Oliveira, que faleceram na paróquia, foram sepultados
no interior da velha matriz, mais tarde demolida. O reverendíssimo
padre José Alexandre de Mendonça, o último vigário
falecido, foi dado à sepultura no interior da nova igreja matriz, por
ordem do senhor arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral.
» CADEIA
A cadeia de Carmo do Cajuru acha-se em local apropriado, não
afastada do Centro e em prédio de recente construção, oferecendo
todas as condições de segurança, embora se destine apenas para
as prisões correcionais.
Com a criação do município a que se empenha a população, poderá
ser ampliado o prédio no sentido que se desejar.
» ÁGUA POTÁVEL
Os serviços de captação, de canalização d’água no distrito foram
realizadas no ano de 1918, quando presidia a Câmara Municipal
de Itauna o coronel Antônio Gonçalves de Matos. Era vereador
pelo distrito o ilustre cajuruense Sinfrônio Batista Jota, já falecido,
e a quem Carmo do Cajuru, reverenciando a sua memória pelos
serviços prestados à coletividade de sua terra, a tradição recorda
a cada passo a sua obra com flores de gratidão.
A nascente e a represa do grande manancial da cristalina água,
que serve à população, fica a nove quilômetros da sede do distrito.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
27
Vem em rego descoberto até o sítio de propriedade do senhor Manoel
Martins de Menezes, sendo aí então captada e canalizada em
duas redes de canos de grosso calibre, sendo a rede mais antiga
de canos galvanizados e a mais recente em canos de “brasilite”
que abastecem duas caixas distribuidoras, das quais partem redes
que satisfazem plenamente as necessidades da população.
» ENERGIA ELÉTRICA
A Usina Hidrelétrica, que fornece energia à vila de Carmo do Cajuru,
está situada no município de Divinópolis, com aproveitamento
das águas do rio Pará, que fica a três quilômetros da vila de Carmo
do Cajuru. A casa de máquinas está situada à margem esquerda
do referido rio.
Companhia Força e Luz Oeste de Minas
Foi a usina instalada em 1921 pela Companhia Força e Luz Oeste
de Minas, com escritório em Divinópolis, tendo como presidente
o Dr. Fernando Gomes de Carvalho. Foi construída pela firma
Mayrink Veiga & Cia., do Rio de Janeiro. Em 1923, foi adquirida
a usina pelo industrial Licínio Notini, que continuou mantendo
escritório em Divinópolis.
Em 1947, passou a pertencer à Empresa de Eletricidade Divinópolis-Cajuru
S.A. Esta usina fornece força e luz a Divinópolis e Carmo
do Cajuru. Tem, atualmente a produção de 750HP, passando em
breve, com os serviços já iniciados, a produzir 1.250HP. A renda da
Empresa em Carmo do Cajuru é de, aproximadamente, Cr$ 60 mil.
Esse grande melhoramento, qual o de possuir instalação elétrica
com rigorosa aparelhagem moderna, deve Carmo do Cajuru aos
esforços de seu grande benemérito padre José Alexandre de Mendonça,
já falecido.
28
José Demétrio Coelho · 1955
» INSTRUÇÃO
O povo de Carmo do Cajuru muito se interessa pela instrução de
sua infância e juventude. Apesar de ser pequeno o atual Grupo
Escolar, denominado “Princesa Isabel” – denominação esta proposta
pelo senhor Francisco Epifânio que, na data de inauguração,
exercia o mandado de vereador pelo distrito – a afluência de
crianças em idade escolar se manifesta de modo crescente, de
ano para ano.
A abnegação do culto professorado local e os resultados colhidos
com os modernos métodos de ensino, criaram na sociedade
cajuruense profundo interesse pela instrução. Para isso, vem influindo
muito a ação social e o desempenho honesto e proveitoso
do referido professorado, que aqui forma a legião de heroínas e
patriotas na mais ampla e exata expressão, cujo diuturno labor
alicerça o civismo e o sentimento de Pátria.
O Grupo Escolar de Carmo do Cajuru foi criado no governo do
grande mineiro, hoje senador da República, Dr. Fernando de Melo
Viana. A sua instalação se deu aos 30 de junho de 1928, quando
governava Minas o saudoso estadista Dr. Antônio Carvalho Ribeiro
de Andrada. Foi seu primeiro diretor o farmacêutico José Maria
Alves da Silva Campos. Funcionou de início em dois turnos e oito
classes.
Grupo Escolar “Prindesa Isabel”
O primeiro corpo docente era assim constituído: professoras Ismênia
Santos, Zélia Rodrigues Alves, Raquel E. Santiago, Etelvina
Anísia e Ilda Ferreira da Silva.
Tendo o farmacêutico José Maria Alves da Silva Campos, em
1931, pedido sua exoneração, passou a professora Adelina Fer-
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
29
reira Pinto a reger o estabelecimento, em comissão. Em 24 de fevereiro
de 1936, foi substituída pelo professor Joaquim Bahia de
Carvalho, que dirigiu o educandário até 1937. Sucedeu-o a diretora,
farmacêutica Maria Elisa de Castro, regendo o estabelecimento
até abril de 1944, quando foi removida para o Grupo de Mateus
Leme, sendo substituída pela professora Maria Soares, até outubro
de 1944, mudando-se esta em seguida para Belo Horizonte.
Atualmente, o estabelecimento está sob a regência da professora
Ana Izabel de Jesus. São professoras efetivas do Grupo: Ana
Augusta Maia, Ângela Passos, Lúcia Guimarães, Margarida de
Oliveira, Margarida Gomes de Souza, Maria Batista de Jesus, Maria
José de Oliveira e Nair Moreira da Silva. Contratados para as
classes vagas: José Dias Barbosa, Maria Nogueira de Vasconcelos.
Substitutas: Ester de Melo Malaquias, Olímpia Guimarães e Teresinha
de Oliveira.
Professoras do Grupo Escolar “Prindesa Isabel”
Segundo certificado firmado pela diretoria atual, a matrícula de
1947 foi de 344 alunos. Para o exercício de 1948, a matrícula
atingiu a cifra de 385, sendo 204 do sexo masculino e 181 do
sexo feminino.
Em virtude de ser reduzido o número de salas do educandário,
se fez necessário o funcionamento de aulas em três turnos, porquanto
o prédio dispõe de apenas quatro salas destinadas às aulas.
Dispõe de biblioteca para as professoras bem como para os
alunos. Mantém uma caixa escolar com a denominação de Caixa
Escolar Dr. Francisco Campos.
30
José Demétrio Coelho · 1955
Periodicamente, publica o jornal das classes “Sol Nascente”.
Completam as atividades escolares: festas, exposições de trabalhos,
auditórios etc., fixando de modo indelével e denodado o interesse
que mestres e a sociedade cajuruense têm pela instrução
primária.
Existem ainda, na zona rural, as escolas de São José do Salgado,
Mangonga, Ribeiros, Barreiros, Capão escuro, Maribondo e Cunhas,
com uma frequência de 683 alunos de ambos os sexos. Em São
José do Salgado está funcionando um curso noturno com a matrícula
de 76 alunos, sob a regência da professora Jandira Soares.
Cine-Teatro, sede do Club Lítero Recreativo
» DIVERSÕES
Dentre os seus edifícios, Carmo do Cajuru conta com um prédio
situado na rua XV de Novembro, destinado ao Cine-Teatro. Construído
em 1920, pelo engenheiro Godofredo Passos, já falecido,
vem este edifício prestando-se para o cinema local e sede do Club
Lítero Recreativo. É um edifício de um só pavimento, de sólida
construção, dispondo de amplo salão destinado ao público e de
palco. Dispondo a sociedade cajuruense de um excelente grupo
de amadores do teatro, já têm sido levadas em cena várias peças
com geral agrado.
Atualmente, uma empresa cinematográfica de Itaúna contratou o
prédio para duas exibições semanais. Com a instalação do cine,
a diretoria do Club Literário Recreativo pretende instalar-se em
outro amplo edifício. A localidade e´, amiudadas vezes, visitada
por companhias teatrais, parques, circos etc.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
31
» DESPORTOS
Carmo do Cajuru possui duas excelentes praças de esporte: uma,
pertencente ao Tupi Esporte Clube e, outra, ao Esporte Clube de
Cajuru. O Tupi Esporte Clube é um dos mais fortes conjuntos de
futebol da região Oeste de Minas e disputa, anualmente, o campeonato
promovido pela Liga Divinopolitana.
» SAÚDE PÚBLICA
O clima de Carmo do Cajuru é quente, seco e saudável, sendo
raríssimos os casos de moléstias de caráter compulsório.
No ano de 1912, a população de Carmo do Cajuru sofreu os efeitos
de um surto de impaludismo (malária), ficando por vários anos em
situação endêmica, manifestando-se com mais intensidade no estio.
Com as providências, porém, que foram postas em prática pelo
Departamento de Saúde Pública do Estado, a situação melhorou
sensivelmente até que, com a instalação do Serviço Nacional de
Malária, sediado em Divinópolis, cujos raios de ação se estendem
até Carmo do Cajuru, praticamente está debelado o mal neste setor,
porquanto são raros os casos novos verificados na localidade.
Capela de N. S. do Carmo, ao início do séc. XX
» TEMPLOS RELIGIOSOS
Apear dos esforços empenhados no sentido de fixar-se a data da
construção da antiga matriz, que foi demolida em 1906, não foram
encontrados dados seguros sobre a época de sua edificação.
Supõe-se, todavia, que tenha sido construída há mais de 100
anos. Por uma cópia de “Instituição de Igrejas, no Bispado de
Mariana”, verificamos o seguinte:
32
José Demétrio Coelho · 1955
Cajurú, capela de Nossa Senhora do Carmo, erigida na fazenda
do Cajurú, da Freguesia de Pitangui, por Provisão da Mesa da
Consciência e Ordens de 16 de agosto de 1825 e instituída canonicamente
por provisão episcopal de 16 de agosto de 1892, a
pedido de Dona Tereza Maria da Silva, viúva do capitão Manoel
Gomes Pinheiro, Freguesia por L. P., n. 1.196, de 6 de agosto de
1864 (I Livro do Tombo, fl. 90).
» IGREJA MATRIZ
A 15 de setembro de 1912, foi inaugurada e benta a nova e espaçosa
Matriz da Vila, construída por esforços do reverendíssimo
padre José Alexandre de Mendonça, então vigário da paróquia e
que, a 8 de março de 1936, veio a falecer com a idade de 70
anos. O templo foi edificado em seis anos. É de estilo gótico e é
um dos mais suntuosos do nosso estado. A nova Matriz, em que
se gastou vultosa importância, marca com muita honra o esforço
inaudito dos paroquianos, sob a feliz direção espiritual do saudoso
padre José Alexandre de Mendonça.
Onze degraus em vasto semicírculo
conduzem ao átrio. A igreja,
com uma torre central na frente, é
em forma de cruz. O telhado termina
em elegante platibanda rendilhada.
Na frente e nos braços da
cruz, oito pirâmides descansam
em capitéis. As paredes medem
12 m de altura e a igreja, da porta
principal até a sacristia, 33 m.
A torre, de 50 m de altura, tem
quatro graciosos passeios (plataformas)
com parapeitos. Os dois
altares laterais, nos braços da
cruz, são puro estilo gótico.
Igreja Matriz de N. S. do Carmo
O altar-mor que é belíssimo, é de
gótico jônico. Vê-se que presidiu
essa obra monumental a preocupação
da arte clássica. Por qualquer
lado que se entre no templo,
descortina-se deslumbrante a
cruz do Redentor, que descansa
na aguda cúpula da torre.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
33
Esta casa sagrada é de cor verde-azeitona, cuja torre se divisa em
pontos distantes da localidade; tão bela e tão alta, é um permanente
convite ao reino da pureza que simboliza.
É justo nomearmos agora para reverência à sua memória o nome
do saudoso arquiteto Amadeu Celso Grassi que, com dedicação
idealizou e fez o majestoso templo, admirado por todos e dedicado
a Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Carmo do Cajuru.
O templo, que é uma obra monumental, sobrecelebra com muita
honra o nome do então padre José Alexandre de Mendonça, do
arquiteto Amadeu Celso Grassi e do povo em geral, é a demonstração
da harmonia religiosa de uma freguesia feliz pela vitalidade
de sua fé.
Capela de N. S. do Rosário e a Casa de Força & Luz
» CAPELA DO ROSÁRIO
Foi construída por iniciativa do então tesoureiro da Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário, senhor Antônio Batista Leite, no ano
de 1883. É uma construção de estilo antigo, toda de madeira de
lei. Está localizada na praça Governador Valadares, uma das principais
vias públicas do distrito.
» CAPELA DOS PASSOS
É muito pequena e de estilo antigo. Destina-se ao depósito de
imagens de Nosso Senhor dos Passos, nas solenidades da Semana
Santa, solenidades que, anualmente, atraem milhares de
forasteiros.
34
José Demétrio Coelho · 1955
» OUTRAS IGREJAS
Os povoados de Salgado, Ribeiro e Jacuba, dentro da área territorial
do distrito, tem também suas igrejas modernas, de boa
construção, oficiadas, as duas primeiras pelo vigário de Carmo
do Cajuru, padre Raul Silva, e a terceira pelo vigário de Itaguara.
» FORÇA ELEITORAL
Carmo do Cajuru, presentemente, tem 1.400 eleitores. Se houvesse
interesse para o serviço eleitoral no distrito, poderíamos mobilizar
mais de 3.000 eleitores.
Em todos os prélios eleitorais, aqui verificados, a política dominante
da sede municipal de Itauna tem sido vencida por maioria
esmagadora, por um protesto ao descaminho com que as administrações
municipais sempre cuidaram das coisas do distrito de
Carmo do Cajuru.
Estação Ferroviária de Cajuru
» ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS
Carmo do Cajuru é servido por duas estações da Rede Mineira de
Viação (RMV): a da sede do distrito e a de Angicos.
Apesar de estar a vila servida por uma boa estrada de rodagem,
ligando Divinópolis a Itauna, por onde transita enorme volume
de sua produção, serve-se ainda, o distrito, dessas duas estações
ferroviárias para sua exportação que atinge, anualmente,
respeitável cifra.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
35
Só a venda de lenha e dormentes, anualmente, é de mais de R$ 5
milhões. Dedicam-se a esse comércio cinco comerciantes ativos e
abastados, além de inúmeros intermediários.
A estação local mantém um movimento ativo e contínuo, atendendo
despachos de exportação e importação, e tem renda anual,
aproximadamente, de R$ 500 mil.
Pela estação de Carmo do Cajuru, é exportada para Belo Horizonte,
diariamente, grande quantidade de leite frigorificado, que entra
na Usina por vários meios de transporte, inclusive uma parte pela
própria estrada de ferro que o apanha em estribos à margem da
linha, entre as duas estações citadas.
» BANCOS
Como demonstração das possibilidades econômico-financeiras de
Carmo do Cajuru desenvolvem aqui suas atividades, três estabelecimentos
bancários, cujo desenvolvimento é notório.
Antes da instalação do primeiro deles, o Banco da Lavoura de
Minas Gerais S. A., no dia 1 o de maio de 1941, já funcionavam
correspondentes deste e de outros bancos, cabendo a primazia ao
banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais S. A., com serviço
regular de cobranças e depósitos.
Vieram depois, instalando seus departamentos, o Banco Industrial
de Minas Gerais, em 31 de maio de 1944, e o Financial da Produção,
no dia 16 de março de 1947.
A afluência de negócios tem sido lisonjeira para todos eles e mais
os Correspondentes dos Bancos de Crédito Real de Minas Gerais,
Mineiro da Produção e Nacional de Minas Gerais.
Apesar de funcionarem tantos estabelecimentos bancários em
Carmo do Cajuru, existem ainda inúmeras pessoas abastadas que
não têm seus depósitos em Bancos, continuando, como sempre
o fizeram, empregando seu dinheiro em diversas modalidades de
empréstimos e financiamentos.
Calcula-se o montante das disponibilidades do povo de Carmo do
Cajuru, em bancos, com particulares e invertidas, em mais de Cr$
50 milhões, permanecendo em bancos, apenas uma quinta parte
dessa importância.
Não se encontra uma pessoa sequer no distrito, que não se dedique
a qualquer empreendimento comercial, desde o ambulante ao de
instalação modelar. Está, por isso, o capital sempre em movimento,
36
José Demétrio Coelho · 1955
criando novas fontes de renda e proventos vários, que provocam o
seu aumento constante.
» MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Carmo do Cajuru é servido, além do recurso de estrada de ferro,
por duas estradas de automóvel, conforme já ficou demonstrado
linhas atrás.
A estrada de automóvel, que parte do distrito e vai a Divinópolis,
em 20 minutos, passa por uma grande ponte de madeira sobre o
rio Pará, a um quilômetro da vila; ponte construída pelo Estado e
que está reclamando reparos urgentes.
A estrada de automóvel, que parte da Vila e vai a Itaúna, tem
ramal para Salgado e de Salgado faz ligação à rodovia de primeira
classe, que leva a Belo Horizonte.
Ponte de madeira sobre o rio Pará
» DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO-SOCIAL
Poucas comunas mineiras, ao pleitear sua emancipação, certamente,
apresentarão dados tão expressivos de desenvolvimento
econômico e social como Carmo do Cajuru.
Para qualquer observador imparcial, esta localidade é um motivo
permanente de admiração, de aplausos sinceros, pelo ardor progressista
de sua gente.
Assim, Carmo do Cajuru apresenta para emancipar-se, entre outras
provas convincentes, a história de seu desenvolvimento econômico
e social, que constitui, por si só, eloquente exemplo de trabalho
e de honradez, exemplo que dá ao povo local o indiscutível
direito de governo próprio.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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» COMÉRCIO
Sendo a localidade servida por estrada de ferro e outros meios
de comunicação, com terras férteis e bem exploradas, Carmo do
Cajuru é um estuante centro comercial. Possuindo mais de 40
casas comerciais de várias espécies – desde as que se dedicam às
transações com secos e molhados, fazendas (tecidos), armarinhos
etc., até bares otimamente instalados – a localidade tem uma vida
comercial intensiva.
Exporta, anualmente, grande quantidade de arroz, milho, feijão,
aves, laticínios etc. O seu comércio de madeiras é bem desenvolvido,
sendo este distrito, na região Oeste de Minas, o maior fornecedor
de lenha e dormentes à Rede Mineira de Viação.
» INDÚSTRIA
Eis aqui, em rápida enumeração, o que é a indústria de Carmo do
Cajuru: três grandes fábricas de manteiga; uma usina de pasteurização
de leite; três máquinas de beneficiamento de arroz e café;
uma fundição em vias de ser constituída para fabricação de arados,
engenhos e outros mecanismos agrícolas; e dois panifícios.
Os maiores industriais locais são os senhores Antônio Altivo, Antônio
Miguel Maia, Nagib Mileib e Amim Mattar.
Em Carmo do Cajuru, está sediada a matriz das indústrias Antônio
Altivo (fabricação de manteiga, banha e pasteurização de leite) que
mantém filiais nas cidades de Nova Lima, Divinópolis e Sabará.
» PECUÁRIA, AGRICULTURA, AVICULTURA
Carmo do Cajuru possui inúmeras fazendas que se prestam admiravelmente
à criação de gado bovino. Seu rebanho leiteiro merece
referências especiais, por sua seleção, pelo carinho com que é
tratado. A criação de gado de corte é bem desenvolvida, sendo
este distrito um grande centro abastecedor de gado gordo para
Belo Horizonte.
Como maiores pecuaristas do distrito, dentre muitos, destacam-
-se os senhores: Alcides José de Andrade, Amim Mattar, Antenor
Batista Quadros, Antônio Miguel Maia, Artur Nogueira, Augusto
Maia Filho, Bernardino Andrade, Cândida Carolina, Carlindo de
Sá, Clarimundo de Souza, Custódio Guimarães, Dionísio Antônio,
Francisco Batista Leite, Francisco Rabelo Filho, Geraldo Mano,
Jacó de Souza, João José Rabelo, João Pacífico, João Rabelo de
Vasconcelos, Joaquim Gomes Quirino, Joaquim Osório, Jorge Fonte
Boa, José Fernandes, José Regino, José Teles Filho, José Vilela,
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José Demétrio Coelho · 1955
Josias Gomes, Jove Gontijo, Jovelino Nogueira de Souza, Lindolfo
Pio, Manoel Regino, Modestino Rabelo do Amaral, Nagib Mileib,
Orígenes Pio, Pedro Regino, Petrino Nogueira, Roldão Quirino, Silvino
Pio, Zamiro Nogueira e Zoroastro Gontijo.
A agricultura, dada a fertilidade das terras do distrito, é um dos
maiores mananciais de riqueza da região. Sua produção de milho,
de arroz e de feijão merece destaque especial. Há aqui também
culturas especiais de batatas e cebolas, cuja produção atinge milhares
de arrobas.
Quanto a avicultura, além de ser bem desenvolvida em todas as
fazendas, existe aqui uma granja modelo, que está desenvolvendo
e melhorando notavelmente a sua criação de aves. Este distrito
exporta, diariamente, grande quantidade de aves e ovos para a
capital mineira.
» REINCORPORAÇÃO DE “CUNHAS”
Vista parcial da vila, à época da emancipação
Concomitantemente, com a organização de dados, que vão provar
o legítimo direito de Carmo do Cajuru aos favores da lei, no
sentido de ser elevado à categoria de município, demonstra-se,
na carta geográfica confeccionada, a necessidade de retornar ao
distrito a localidade denominada “Cunhas”.
Essa parte territorial do município de Itaúna, sempre esteve incorporada
a Carmo do Cajuru, civil e eclesiasticamente. Não se
concebe nem se pode atinar com os motivos que teriam invocado
os dirigentes do município para anexá-la ao distrito da cidade.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
39
Se examinarmos as distâncias compreendidas entre a do município
e o núcleo populoso de Cunhas, verificaremos ser maior a
distância desta localidade a Itaúna que para Carmo do Cajuru,
porquanto encontramos 22 quilômetros para Itaúna e 12 quilômetros
para Carmo do Cajuru.
Esse encurtamento de distância provoca afluência dos moradores
de Cunhas para Carmo do Cajuru, quer para comerciar, quer para
assistência aos atos religiosos, principalmente para sepultamentos,
que se fazem no cemitério de Carmo do Cajuru.
Como facilmente se deduz, não há, absolutamente, vantagem de
qualquer ordem para os habitantes de Cunhas permanecerem sob
a jurisdição do distrito da cidade.
Atentando-se para as divisas naturais, que norteiam sempre os
trabalhos geográficos, na delimitação das parcelas populosas, encontram-se
as serras do Galinheiro e Três Barras, serras que sempre
foram o nosso marco divisório e que hoje se encontram além
da demarcação.
A Comissão de Estudos da Divisão Administrativa e Judiciária do
Estado, em sua reunião de 2 de fevereiro deste ano, como se vê
da notícia publicada no jornal Estado de Minas, de 3 do mesmo
mês, julgou, entre outras providências de caráter técnico, considerar
para a atual divisão dos novos municípios estrita observância
na fixação em “acidentes naturais facilmente reconhecidos
no terreno”.
Nossa divisa, então, se viermos a conseguir a emancipação que se
pleiteia, será com o município de Itaúna pelas serras do Galinheiro
e Três Barras, acidentes naturais visíveis, evitando-se assim, divisas
por limites de propriedades particulares, para se evitar o que
se dá atualmente com Carmo do Cajuru, cuja divisa com a sede de
Itauna corta a fazenda do senhor Antônio Nogueira Gontijo.
Voltando nossa divisa à antiga demarcação, isto é, pelas serras
do Galinheiro e Três Barras, muito se beneficiará a população de
Cunhas e terá, assim, realizado seu desejo já expresso em abaixo-
-assinado junto a este Memorial.
» RESUMO HISTÓRICO DE CARMO DO CAJURU
Em 1715, Cajuru, como era denominado, já figurava no grupo das
vinte frequezias que constituíam o antigo município de Pitangui.
Em 1856, ou 57, com a criação do município de Pará de Minas,
ex-Patafufo, Cajuru, juntamente com Mateus Leme, Santana de
40
José Demétrio Coelho · 1955
São João Acima (hoje Itauna) e São Gonçalo do Pará foram desmembrados
de Pitangui para serem incorporados ao novo município
criado. Mais tarde, com a criação do Termo da Vila de Itaúna,
pela Lei 719, de 16 de setembro de 1901, foi Cajuru desligado de
Pará de Minas para ser incorporado ao novel município, já então
sob a denominação de “Carmo do Cajuru”.
Os dados que nos autorizam a afirmação deste resumo histórico,
sobre os primórdios de Carmo do Cajuru foram extraídos dos
“Apontamentos Históricos da Cidade de Pitangui” e do “Anuário do
Estado de Minas Gerais”.
No setor eclesiástico, Cajuru, em 1841, era ainda curato, pertencente
a Espírito Santo da Itapecerica, hoje Divinópolis. Com a criação,
em 7 de abril de 1841, da paróquia de Santana de São João
Acima, passou o curato de Cajuru à jurisdição desta paróquia, no
mesmo ano citado.
Desses papéis do arquivo paroquial constam os nomes dos reverendíssimos
padres Felício Flávio dos Santos e José Fernandes
Taveira, servindo a população.
Por lei de 6 de agosto de 1864, Cajuru foi elevado a sede da paróquia
de São Gonçalo do Pará, reunindo ainda, em setembro de
1870, a paróquia de São Francisco do Onça.
Os seus primeiros vigários foram: padre José Fernandes Taveira,
padre Francisco Calixto da Fonseca (em 1858), seguindo-se na
ordem de sucessão o reverendíssimo padre Izaías, padre Guilherme
Nunes de Oliveira, tendo este assumido a paróquia em 1875,
vindo a falecer em 1889.
Com o seu falecimento, assumiu a paróquia o reverendíssimo padre
José Alexandre de Mendonça, que tomou posse em 15 de
dezembro de 1889, exercendo com o maior zelo apostólico o seu
paroquiato até 8 de março de 1936, quando faleceu, com a idade
de 70 anos.
Em seguida, assumiu a paróquia o reverendíssimo padre Israel
Miranda Diniz, que tomou posse em 7 de maio de 1936. Como
seu sucessor, tomou posse o reverendíssimo padre Augusto Cerdeira,
em 7 de janeiro de 1937, cuja gestão foi até 6 de janeiro
de 1943, quando foi sucedido pelo atual vigário, padre Raul Silva,
que tomou posse no dia 6 de janeiro de 1943.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
41
» DIVISAS QUE PROPOMOS PARA
O MUNICÍPIO DE CARMO DO CAJURU
A – LIMITES MUNICIPAIS
1) Com o município de Pará de Minas – Começa na confluência dos
rios Itapecerica e Pará; sobe o espigão da vertente da margem direita
do rio Pará e, passando pelos altos do Pau Torto e Mingrosso,
atinge o córrego do Salgado, na foz do córrego Barreiro ou Baraúna;
continua pelo divisor da vertente da margem esquerda deste
córrego e, pelo espigão, contornando as cabeceiras do córrego da
Pedra Negra.
2) Com o município de Itaúna – Começa no alto que defronta a cabeceira
do córrego da Pedra Negra; segue pelo divisor da vertente da
margem direita do rio Pará, passando pelas serras das Tres Barras,
do Galinheiro e do Monjolo até defrontar a cabeceira do córrego do
Soldado; continua pelo mesmo divisor até defrontar a cabeceira do
córrego dos Paivas.
3) Com o município de Itaguara – Começa no divisor da vertente
da margem direita do rio Pará, defrontando a cabeceira do córrego
dos Paivas; segue pelos espigões que limitam a vertente da
margem direita deste córrego e do córrego da Vargem, do qual o
primeiro é tributário, passando pela serra da Maravilha, até encontrar
o rio Pará, na foz do mesmo córrego da Vargem.
4) Com o município de Cláudio – Começa no rio Pará, na foz do córrego
da Vargem; desce pelo rio Pará até a foz do ribeirão do Cervo.
5) Com o município de Divinópolis – Começa no rio Pará, na foz do
ribeirão do Cervo; desce pelo rio Pará até sua confluência com o
rio Itapecerica.
B – DIVISAS INTERDISTRITAIS
Entre os distritos de Carmo do Cajuru e Salgado – Começa na
desembocadura do córrego da Mangonga, seguindo pelo córrego
acima até a serra do mesmo nome; e pelo divisor da vertente, até
a serra das Três Barras.
▪ ␥␥␥ ▪
42
José Demétrio Coelho · 1955
FINALMENTE
Exmo Sr. Dr. Presidente e Membros da Comissão Técnica da
Divisão Administrativa e Judiciária de Minas
Pelos dados relacionados neste Memorial, e com os documentos
juntos, vê-se que Carmo do Cajuru não pode deixar de
merecer a sua emancipação político-administrativa.
Está cabalmente provado que Carmo do Cajuru preenche todos
os requisitos constitucionais. A sua elevação a município
é obrigatória em face do que dispõe a Constituição Estadual.
A egrégia Comissão Técnica da Divisão Administrativa e Judiciária
do Estado de Minas Gerais, integrada de verdadeiros
florões da cultura jurídica, de mineiros ilustres por todos os
títulos, há de ter a nítida compreensão patriótica de que a
criação de unidades administrativas é de reais proventos à
administração pública, ao progresso e à civilização, porque
são estímulos às populações as melhorias de categorias administrativas.
Um distrito elevado a município ou um povoado caracterizado
como distrito, são animadores prêmios às populações
que empregam seu labor fecundo em esplêndidas iniciativas,
valorizando o homem e a terra. A criação de um município
ou distrito é a compensação justa que recebem aqueles que
povoaram faixas de terra, que trabalharam e construíram, que
não foram egoístas ou displicentes.
Carmo do Cajuru, com sua elevação a município, será dentro
em pouco tempo uma grande cidade, porque, até aqui, sem
receber favores oficiais, sem merecer carinhos das administrações
municipais, cresceu e refloriu. Ademais, o povo local
acredita que a “Justiça tarda, mas não falta!”…
Carmo do Cajuru, para sua emancipação, não pretende arranhar
o patrimônio territorial de outros municípios. Deseja a
sua emancipação com os seus próprios recursos.
Se, pela planta junta, reclama a reincorporação da parte territorial
de Cunhas é porque a mesma lhe foi desmembrada
para estabelecimento de divisas menos claras. Pretende a
reincorporação da faixa territorial de Cunhas, faixa aliás pequena,
não só para uma reivindicação justa como também
para adoção de divisas intermunicipais de maior relevo geográfico.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
43
Ocorre ainda a circunstância notável de que a população daquela
faixa de terras, conforme abaixo-assinado incluso, quer
pertencer a Carmo do Cajuru, porque aquele povoado está mais
próximo de Carmo do Cajuru do que de Itaúna, pois é em Carmo
do Cajuru que a população de Cunhas faz comércio e cumpre
com seus deveres religiosos.
Ao terminar, os signatários abaixo, em nome de todo o povo de
Carmo do Cajuru, dirigem as melhores saudações à douta Comissão
Técnica da Divisão Administrativa e Judiciária de Minas Gerais
e confiam plenamente no alto espírito de justiça dos homens
que a integram, convocados para a prestação do mais relevante
serviço à comunidade mineira.
Carmo do Cajuru, 15 de fevereiro de 1948.
Amim Mattar – Presidente de Honra
José Rodrigues de Carvalho – Presidente Efetivo
José Demétrio Coelho – Vice-Presidente
José Marra da Silva – Primeiro-Secretário
José Luiz Passos – Segundo-Secretário
Vitor Epifânio Pereira – Primeiro-Tesoureiro
Otávio Djalma de Sá – Segundo-Tesoureiro
44
José Demétrio Coelho · 1955
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
OCORRÊNCIAS
Pré-Emancipaçao ~
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
IV
A luta pela emancipaçao ~
E m vista do andamento de nosso processo, que já se apresentava com
possibilidade de êxito, passaram nossos contendores a empregar novos
meios anulatórios. Ora alegavam que éramos carecedores dos principais
requisitos – renda e população – ora instigando o desmembramento de
nosso território. Cientes de que Itaúna reclamava a desanexação de Maribondo,
foi enviado à Comissão Técnica um protesto firmado pelo vereador
José Jehovah Guimarães, o mesmo acontecendo com alteração de
divisas com São Gonçalo do Pará. Itaúna, por sua vez, apresentou também
um pedido de revisão de divisas da sede com o distrito de Carmo
do Cajuru, cujo pedido foi entregue ao saudoso Dr. Hildebrando Clark,
como se vê do “Minas Gerais”, de 10 de março de 1948.
Estabelecendo a verdade
Em virtude das constantes reclamações de nossos adversários, no
sentido de anular o trabalho encetado para a emancipação de Carmo
do Cajuru e em face do trabalho apresentado pela Comissão Pró-Emancipação,
provando com evidência que o distrito preenchia todos
os requisitos constitucionais, teve a Comissão Técnica de Divisão Administrativa
e Judiciária necessidade de estabelecer a verdade para o
devido encaminhamento do processo à Assembleia Legislativa. Assim,
deliberou mandar uma Comissão de Engenheiros para in loco estudar
não só as condições da localidade como colher dados estatísticos e geográficos
para resolver com justiça o pedido feito.
No dia 2 de maio de 1948, chegaram em Carmo do Cajuru os ilustres
engenheiros do Estado, Dr. Waldemar Lobato, representando o Dr. Benedito
Quintino dos Santos e mais os senhores Drs. Joaquim Barbosa e
Inácio Murta, acompanhados do Dr. Oswaldo Coelho.
À chegada, foi a ilustre Comissão saudada pelo companheiro, farmacêutico
José Jehovah Guimarães, que teve palavras de louvor para com
a Comissão Técnica de Divisão Administrativa e Judiciária, que vinha,
assim, demonstrar zelo e interesse para com os serviços que o governo
tão sabiamente lhes havia confiado.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
49
Agradeceu a saudação o Dr. Waldemar Lobato, à entrada do saguão
do palacete Amim Mattar, onde se havia organizado uma exposição de
fotografias de diversos pontos de Carmo do Cajuru.
Recepção e honras
A entrada para o saguão estava vedada por um laço de fita verde-amarela,
que foi desfeito por diversas senhorinhas de nossa sociedade, a
pedido do Dr. Waldemar Lobato. Transposta a entrada, encontraram-
-se os visitantes ante a exposição, cujas fotografias, suspensas das paredes
estavam adornadas por festões de folhagem e flores, o mesmo
acontecendo aos escudos espalhados por toda a extensão da sala nos
quais se liam os nomes dos componentes da Comissão Técnica, dos
membros da Comissão Pró-Emancipação e, em destaque, o escudo do
Exmo. Sr. Governador, Dr. Milton Soares de Campos, do qual pendia um
laço de fita com as cores nacionais.
Este escudo estava ladeado por outro com o nome do Exmo. Sr. Secretário
do Interior, Dr. Pedro Aleixo, e por outro ainda com o nome do Dr.
Benedito Quintino dos Santos. Dois outros escudos traziam os nomes
de Ataliba Lago e Dr. Osvaldo Coelho.
Suspenso de um tripé via-se esplêndida alegoria, representando
um livro aberto, de par em par, escrito em caracteres góticos prestando
uma homenagem à Comissão Técnica pela Comissão Pró-Emancipação.
Solicitou à Comissão de Engenheiros permissão para conduzir a Belo
Horizonte não somente a alegoria, mas também os escudos, cuja honra
muito nos desvanecera.
Pelas ruas da Vila
Depois de prolongada visita à nossa exposição, onde se encontravam
também, sobre uma mesa, os quatro volumes do censo da população
de Carmo do Cajuru, foram os mesmos examinados detidamente pelos
membros da Comissão de Engenheiros.
Em seguida, foram os visitantes convidados para uma visita pelos logradouros
a fim de melhor conhecerem a Vila, sendo nessa oportunidade
recebido na residência do autor destas linhas, vice-presidente da
Comissão Pró-Emancipação, onde lhes foi servido um café.
50
José Demétrio Coelho · 1955
Após alguns instantes de descanso, tomaram os visitantes parte num
jantar que a Comissão Pró-Emancipação lhe oferecia. À mesa assentaram-se
também pessoas amigas de Divinópolis.
Um brinde solene
Ao champanhe, falou o vice-presidente da Comissão Pró-Emancipação,
José Demétrio Coelho, saudando a Comissão de Divisão Geográfica,
representada nas pessoas dos visitantes, ressaltando a pretensão
de nosso povo. Foi o seguinte o discurso proferido:
Ilustres membros da Comissão de Revisão Geográfica, Administrativa
e Judiciária do Estado de Minas Gerais
Meus senhores
Carmo do Cajuru sente-se empolgada e sobremaneira honrada
com a presença de Vossas Excelências, em seu solo.
Nosso júbilo cresce e toma expressão de verdadeiro acontecimento
histórico neste momento. Nem podia ser de outro modo
a nossa apreciação, quando as vossas presenças, em Carmo do
Cajuru, se prendem aos motivos do ideal que nos empolga, vindo
em busca do esclarecimento da verdade por nós proclamada
para que a justiça nos seja feita. Outro motivo de nosso júbilo é
o de contar com a presença de Vossas Excelências, vultos da alta
administração do Estado, em nossa terra.
Os habitantes de Carmo do Cajuru, excelentíssimos senhores,
fazem institucionalmente do trabalho o único encanto da vida
e, por isso mesmo, na sua simplicidade de homens do campo,
gozam um espetáculo novo e se sentem honrados em lidar com
lídimos representantes da cultura pátria.
Correndo este povo em busca de um ideal, ainda mais se sente
feliz, sabendo-o enfeixado nas mãos de Vossas Excelências.
Abstraindo-nos, todavia, do motivo empolgante que a todos nós
domina, encontramos ainda uma oportunidade, mesmo transitória,
de termos em nossa terra pessoas de tão alta significação
no cenário político-administrativo de nosso caro estado de Minas
Gerais, além de outras que ilustram e honram a judicatura,
a engenharia e as ciências. Isto somente nos bastaria para um
contentamento integral. Queremos, entretanto, aproveitar este
ensejo para uma demonstração do que sentimos no tocante à
emancipação de Carmo do Cajuru.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
51
Na preparação dos dados requeridos pela Constituição de 14 de
julho de 1947, procurou a Comissão Pró-Emancipação coligi-los
dentro da mais estrita e rigorosa verdade estatística e geográfica.
E é, por isso mesmo, que as vossas presenças em Carmo do
Cajuru, muito nos anima, certos como estamos de que do pouco
que puderem constatar já poderão certamente avaliar a justiça
de nossa causa.
Através da história, verificamos quão proveitoso têm sido ao progresso
dos povos esses movimentos emancipacionistas, embora
a alguns tenha acarretado episódios menos agradáveis, devido à
má compreensão e demasiado apego à rotina.
Como consequência lógica, porém, só têm os movimentos dessa
natureza, redundado em surtos de progresso, enriquecimento e
bem-estar para os que puderam, por si mesmos, guiar seus destinos.
Poderíamos citar, em interminável sequência, o benefício que
as emancipações trouxeram aos povos. E sem recorrer à história,
para enumerá-los, podemos numa síntese citar alguns municípios
vizinhos que floresceram tão logo tiveram sua alforria, como
Divinópolis, hoje uma cidade progressista, dinâmica, que pode
ombrear-se às mais importantes do Estado, provindo ela do pequeno
arraial que foi Henrique Galvão.
Pará de Minas acompanha-lhe as passadas no caminho do progresso,
o mesmo acontecendo a Itauna, de onde pretendemos
desmembrar.
A desagregação territorial em nada prejudica os grandes municípios;
pelo contrário, dá-lhe oportunidade de melhor cuidar de
seu patrimônio reduzido.
Haja vista o surto de progresso de Oliveira, um dos maiores municípios
do Oeste de Minas, pela vastidão de seu território, donde
saíram diversos novos municípios, o mesmo acontecendo a
Pitangui, que transpunha até vários rios na sua imensa extensão
territorial.
O povo que procura o progresso deve ser acalentado no seu ideal,
porque daí advirá, certamente, o engrandecimento da Pátria,
que é o supremo ideal da nacionalidade.
O povo de Carmo do Cajuru, pedindo a sua emancipação, não o
faz por mera vaidade, pois está bem certo dos ônus naturais que
o empreendimento acarreta, mas quer ver o fruto de seu labor
convertido no progresso de sua terra.
52
José Demétrio Coelho · 1955
Quando nos animamos a solicitar um favor de tão alta significação,
aconselhados por dispositivos constitucionais, já havíamos
balanceado nossas forças e auscultado a voz de nosso povo, e
isto nos convence da vitória de nossa causa. Como município,
jamais decepcionaremos nosso Estado, mas queremos a integridade
de nosso território.
Neste ponto, fazemos um apelo veemente à douta Comissão que
preside a justa distribuição das parcelas que se subdividem, na
oportunidade da presente revisão, para que conserve intacto o
território de Carmo do Cajuru e, em troca, prometemos ajudá-la
na obra patriótica que acalenta os sonhos de cada um dos seus
membros, aumentando as cintilações que emanam de suas almas
patrióticas no desejo de que Minas Gerais se torne maior dentro do
Brasil, desse Brasil que pela cultura e pelo trabalho de seus filhos
será um gigante no futuro.
Queremos a emancipação de Carmo do Cajuru para aproveitar
suas riquezas naturais em benefício de seu povo; queremos urbanizar
nossa vila; queremos cuidar da saúde de seu povo. Eis
porque nos lançamos nesta campanha com tato ardor e dela jamais
nos afastaremos enquanto não conseguirmos a almejada
vitória.
Oferecemos a Vossas Excelências este jantar como recordação
feliz da permanência de tão proeminentes vultos da alta esfera
administrativa de Minas, em nossa terra, embora seja tão curta a
visita, mas que recebemos como uma grande honra dispensada
à nossa terra, obrigando-nos à gratidão.
Sabemos sobejamente que a Comissão da Revisão Administrativa
e Judiciária do estado de Minas tem hoje sobre seus ombros uma
tarefa árdua e ingrata a vencer; entretanto, sabemos também
que um alto espírito de justiça preside seus atos, suavizando as
agruras da investidura.
Dentro do critério geográfico, encontrará a doutra Comissão, meios
de delimitar os novos municípios e, nesta parte, Carmo do Cajuru
sente-se à vontade e sem temores porque as cordilheiras que
cercam seu território hão de, por certo, contribuir para facilitar a
tarefa, como marcos naturais e visíveis que são.
Hoje, ao ensejo dessa reunião de cordialidade, inscrevemos os
nomes de Vossas Excelências nos corações dos cajuruenses;
amanhã, os terão inscritos em seus anais para que os pósteros
possam reverenciar-lhes os nomes, como seus benfeitores.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
53
Estes momentos de cordialidade se escoam céleres como imperativo
do tempo que mede e delimita as existências, embora algumas
vezes tenhamos o desejo de fazer-lhe um apelo para que
se detenha, como agora, por exemplo, para termos os ilustres
visitantes entre nós por mais tempo, embora, regressando a seus
lares, poderão levar a certeza de nosso afeto e da nossa gratidão.
Tenho a honra de erguer minha taça à saúde dos componentes
da Comissão Técnica de Revisão Administrativa e Judiciária, nas
pessoas de Vossas Excelências.
Em seguida, usaram da palavra o farmacêutico José Jehovah Guimarães
e o jornalista Ataliba lago, o primeiro levantando um brinde ao
senhor secretário do Interior, Dr. Pedro Aleixo, e o segundo ao senhor
governador do estado, Dr. Milton Campos. Por último, falou o Dr. Waldemar
Lobato, agradecendo a homenagem.
Regressaram a Belo Horizonte os componentes da Comissão, tendo
antes deixado em nosso livro de atas o seguinte termo de visita:
“Ao registrarmos nossa prazerosa visita à vila de Carmo do Cajuru,
aqui deixamos assinalado o nosso preito de gratidão a esse progressista e
hospitaleiro povo, pela cativante fidalguia com que fomos recebidos e a
satisfação que tivemos em ver de perto o surto de progresso com que se
apresenta Cajuru ao pleitear sua emancipação.”
Carmo do Cajuru, 2 de maio de 1948.
@ Waldemar Lobato; @ Inácio Murta; @ Joaquim Moreira Barbosa.
Levado o livro de Atas a Belo Horizonte, recebeu o termo mais as seguintes
assinaturas dos que foram por delegação, como representantes
da Comissão:
@ Benedito Quintino dos Santos; @ Teixeira de Sales;
@ Hildebrando Clark; @ Sebastião Virgílio Ferreira;
@ Pedro Agnaldo Fulgêncio; @ Carlos Fulgêncio Peixoto;
@ Bolivar Mineiro; @ D. C. Mendanha.
54
José Demétrio Coelho · 1955
V
Reparos no Grupo e na Matriz
E nquanto se processava a emancipação de Carmo do Cajuru, dava a
Comissão Pró-Emancipação provas concretas de seu desejo de cuidar
com carinho das coisas do distrito, demonstrando que não a animava
um desejo prosaico e de apenas interesse político.
O nosso Grupo Escolar teve de suspender suas aulas em virtude do
mau estado do telhado do prédio. Para se evitar tal calamidade para
os alunos, resolveu a Comissão de acordo com a direção do estabelecimento
que os alunos fossem transferidos para casas particulares e ali
funcionassem as classes até que ficasse terminado o reparo do telhado
do Grupo.
Aproveitou-se o oferecimento gentil do senhor Nagib Mileib, que cedeu
acomodação para duas classes, o mesmo fazendo a Irmandade do
Rosário, cedendo sua capela para mais duas classes. O governo, entretanto,
tardava a mandar proceder os reparos do prédio do grupo, o que
levou os ofertantes das salas a reclamá-las.
Embora muito fraco o nosso caixa, resolveu a Comissão executar as
obras do Grupo Escolar e já no dia 8 de junho de 1948, reiniciavam-se
as aulas no nosso educandário.
Como atestado evidente dos bons propósitos que nos animavam em
proporcionar o bem da população de Carmo do Cajuru, foi-nos dada
outra oportunidade de cooperação noutro setor, o social-religioso. No
dia 9 de julho de 1948, o vigário da freguesia convidou, pelo alto-falante
da igreja, os homens das várias correntes políticas para uma reunião
na Casa Paroquial, a fim de ser organizada a comissão que superintenderia
os reparos de que necessitava a matriz local.
No dia 10 do mesmo mês, comparecemos nas pessoas dos companheiros
José Jehovah Guimarães, José Rodrigues de Carvalho, Otávio Djalma
de Sá, Antônio Pio da Fonseca Primo, Antônio Nogueira de Souza,
José Luiz Passos, Antônio Miguel Maia e Cândido Pereira Guimarães. A
parte adversária foi representada pelos senhores José Camilo de Souza,
Firmino Lopes Câmara, Paulo Batista de Menezes, Manoel Martins
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
55
de Menezes e Cândido Campos Malaquias (do Partido Social Democrático/
PSD) e José Gomes Diniz (do Partido de Representação Popular/
PRP).
Após deliberação em comum, ficou constituída a seguinte comissão:
Paulo Batista de Menezes (Presidente); José Luiz Passos (primeiro-secretário);
Cândido Pereira Guimarães (segundo-secretário); Firmino
Lopes Câmara (primeiro-tesoureiro); Antônio Nogueira de Souza (segundo-tesoureiro);
Otávio Djalma de Sá, Cândido Campos Malaquias e
Antônio de Souza Ribeiro (fiscais).
Deu-se, assim, uma prova concreta e insofismável dos propósitos
amistosos e de cooperação que a todos nos animavam em se tratando
do bem coletivo e do progresso de Carmo do Cajuru.
56
José Demétrio Coelho · 1955
VI
Serviços de Combate à Malária
No dia 14 de julho de 1948, esteve em Carmo do Cajuru, o senhor
prefeito de Itauna, Dr. Antônio de Lima Coutinho, a fim de comunicar
às correntes políticas locais a vinda do senhor Ministro da Educação
e Saúde, Dr. Clemente Mariani, a nossa vila, onde inauguraria oficialmente
os serviços de combate à malária, em Minas Gerais.
Recebemos, como era natural, com muito agrado, o terem lembrado de
Carmo do Cajuru para tal empreendimento.
Em Belo Horizonte, entretanto, ninguém sabia ainda da vinda do ministro
a Carmo do Cajuru, mesmo o senhor Governador do Estado tendo
conhecimento do acontecimento por intermédio do prefeito itaunense.
De qualquer modo, tomamos as primeiras providências para
a recepção, cuja data viemos a saber no dia 28 de julho pelo próprio
Dr. Lima Coutinho, que viera a Carmo do Cajuru acompanhado de um
médico do Serviço Nacional de Malária, anunciando-nos a chegada do
ministro Mariani, do governador Milton Campos, secretários de estado
e demais membros da comitiva, no dia 6 de agosto.
Marcamos então uma reunião para tratar da recepção, tendo comparecido
o reverendíssimo padre Raul Silva (vigário local), Firmino Lopes
Câmara, Paulo Batista de Menezes, Vicente Gualberto Soares, José
Jehovah Guimarães, José Rodrigues de Carvalho, Vitor Epifânio Pereira,
Otávio Djalma de Sá, Amim Mattar, José Luiz Passos, José Marra da
Silva e José Demétrio Coelho.
Foram discutidos todos os assuntos relativos às festas que se promoveriam
em homenagem aos ilustres visitantes, ficando nomeada a comissão
de recepção em Itauna, composta dos senhores: padre Raul Silva,
Amim Mattar, Paulo Batista de Menezes, José Marra da Silva e José
Demétrio Coelho.
No dia 4 de agosto, chegavam em Carmo do Cajuru os médicos do Serviço
Nacional da Malária, doutores Fidélis e Olímpio, além de outros
que não tivemos, em tempo, seus nomes, a fim de organizarem o estande
para demonstrações e outras providências técnicas. O estande era
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
57
constituído de inúmeros mapas da região que iria ser beneficiada com
os serviços e demais detalhes para o exame que o Ministério da Saúde
Públicas procederia.
No dia 6, finalmente, engalanou-se a vila para a recepção anunciada.
A rua Tiradentes apresentava um aspecto festivo, lotada. Diversas faixas
estendidas de um a outro lado, ostentavam os nomes do ministro
Dr. Clemente Mariani, do governador Dr. Milton Campos, como ainda
de outros vultos do governo mineiro e, à entrada da vila, no bairro
Bonfim, sobre a ponte de concreto, uma faixa com o nome de Dr. João
Dornas Filho, a quem se deveu a construção. As salas do primeiro pavimento
do palacete de Amim Mattar, também se encontrava ricamente
ornamentada, vendo-se afixados nas paredes escudos com os nomes
do secretariado mineiro.
Carlito Guimarães
Lançamento da campanha estadual contra a malária, aconteceu na vila Cajuru (1948)
Os visitantes almoçaram em Itaúna, tendo tomado parte, assentando-
-se à mesa um dos membros de nossa comissão, o padre Raul Silva.
Transcorreu o almoço em ambiente festivo, tocando uma banda de
música postada numa sala contígua, durante todo o almoço.
Embora tenha a comitiva se demorado bastante em Itaúna, ainda
veio encontrar o povo, numa massa compacta, em frente ao palacete
Amim Mattar e adjacências. Ao chegarem os visitantes, se ouviram os
acordes de uma banda de música enquanto espoucavam foguetes em
todas direções.
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José Demétrio Coelho · 1955
Compunham a comitiva do senhor ministro e do senhor governador
do estado os senhores secretários Dr. José de Magalhães Pinto,
Abgard Renault, Baeta Viana, José Rodrigues Seabra, Dr. Mário Pinotti
(diretor do Serviço Nacional de Malária), Dr. Paulo Campos
Guimarães (chefe de gabinete do secretário estadual de Finanças),
Dr. Paulo Correia (chefe de gabinete do secretário estadual de Saúde),
Dr. Abílio Machado, Dr. João Dornas Filho e outros, cujos nomes
não pudemos guardar. De Itaúna vieram o prefeito, Dr. Antônio de
Lima Coutinho, Ronan Soares Nogueira e outros.
Em Cajuru, aguardavam a chegada dos senhores ministro e governador
o prefeito de Divinópolis, Jovelino Rabello, bem como médicos,
advogados, comerciantes e industriais de Divinópolis acompanhados
de suas excelentíssimas famílias.
Descidos dos automóveis, num trecho além da rua Tiradentes, vieram
os visitantes entre alas de crianças do Grupo Escolar, senhorinhas
e senhoras da sociedade local e grande massa popular que a
custo dava passagem.
Em frente da entrada do estande, falou o farmacêutico José Jehovah
Guimarães, saudando os ilustres visitantes. Em seguida, usou da
palavra o Dr. Mário Pinotti para inaugurar os Serviços de Combate
à Malária, por meio de dedetização, recentemente adotada.
Após demorada visita ao estande, com demonstrações pelos chefes
do departamento, Drs. Olímpio Silva e Oto Galvão, foi oferecido um
lanche aos visitantes.
Falaram na ocasião o Dr. Carlos Altivo (filho de Carmo do Cajuru e
advogado em Divinópolis), Ataliba Lago, num vibrante improviso, e
o Dr. Milton Campos, em agradecimento.
Aproveitando o ensejo, o Dr. João Dornas Filho conduziu o secretário
estadual de Viação, Dr. José Rodrigues Seabra, até a ponte de
madeira, em ruínas, sobre o rio Pará, a fim de que verificasse, de
visu, a necessidade de construção de uma outra ponte. O senhor secretário
ficou impressionadíssimo com o que viu e prometeu providências
imediatas.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
DIÁRIO DA EMANCIPAÇAO ~
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
61
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José Demétrio Coelho · 1955
VII
Transcurso das providências
Através da imprensa e de informações pessoais, acompanhamos
todo o trâmite do processo de Carmo do Cajuru, na Assembleia Legislativa.
Tivemos muitos sobressaltos e desilusões nos dias que antecederam
o desfecho final da causa que nos empolgava e não permitia um
momento de descanso.
Fomos anotando, cronologicamente, os lances, as providências e o curso
do projeto que nos dizia respeito na emancipação.
Passemos ao relato dos fatos.
· 18 de setembro de 1948 ·
O “Estado de Minas” publica a notícia da distribuição de processos de
emancipação de 44 distritos a 11 deputados. O de Carmo do Cajuru foi
entregue ao deputado Guilhermino de Oliveira.
· 21 de setembro de 1948 ·
O “Estado de Minas” de hoje, traz a notícia de ter sido aprovada, em
primeira discussão, a Mensagem do senhor governador, que acompanhou
o projeto da criação dos novos municípios, ficando o projeto
sobre a Mesa para receber emendas, durante o prazo de cinco dias. Publica
o jornal, na íntegra, a Mensagem e o Projeto, bem como diversos
quadros referentes à Divisão Administrativa e Judiciária. Propõe o governo,
como já foi noticiado dia 18, a criação de 44 novos municípios.
· 4 de outubro de 1948 ·
O “Minas Gerais” de hoje traz uma emenda do deputado Oscar Dias
Correia, criando o distrito de Salgado em o novo município de Carmo
do Cajuru.
· 7 de outubro de 1948 ·
Do Dr. Oswaldo Coelho recebemos uma carta, dando notícia da entrega
que fez ao deputado Oscar Correia de um abaixo-assinado nosso,
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
63
solicitando a anexação do povoado de Cunhas a Carmo do Cajuru. O
deputado Oscar Correia respondeu ao nosso portador que iria a Itaúna
se entender a respeito com udenistas dali.
· 8 de outubro de 1948 ·
Recebemos uma carta do Dr. Oswaldo Coelho, comunicando-nos se ter
entendido com o deputado Guilhermino de Oliveira e este lhe prometera
anexar o povoado de Cunhas a Carmo do Cajuru.
Os jornais de hoje dão notícia de que vinte distritos já obtiveram aprovação
para serem emancipados.
O deputado Manoel Taveira pediu vista do processo de Carmo do
Cajuru.
· 9 de outubro de 1948 ·
Os jornais de hoje trazem os despachos de resultado dos trabalhos de
ontem na Assembleia Legislativa. O processo de Carmo do Cajuru foi
aprovado.
· 13 de outubro de 1948 ·
Os jornais de hoje dão notícia da aprovação da emenda do deputado
Oscar Correia, elevando Salgado à categoria de distrito, mas no município
de Itaúna.
· 19 de outubro de 1948 ·
Mandamos hoje um ofício ao deputado Oscar Correia, pedindo sua interferência
na Assembleia, no sentido de ser combatida a Emenda n.
205, do deputado Bolivar de Freitas, que modifica nossas divisas com
São Gonçalo do Pará, recuando-as até o córrego do Frutuoso, isto porque
é evidente o intuito de privar-nos do direito assegurado pela Constituição
de 14 de julho de 1946, sobre a força da Usina do Gafanhoto,
que se localiza em território de Carmo do Cajuru.
Essa Emenda vem corroborar nossa suposição anterior quando, no dia
18 de julho passado, fomos convidados para uma reunião em Salgado
para a organização de uma sociedade para explorar ali uma fábrica de
tecido, utilizando-se a força do Gafanhoto.
Posteriormente, um amigo que nos presta relevante serviço no movimento
de emancipacionista disse-me que deveríamos ceder nosso
64
José Demétrio Coelho · 1955
direito sobre a força à Companhia que se organizasse em Salgado e
então essa Companhia se encarregaria de nos fornecer força e luz aqui
em Carmo do Cajuru.
Os partidários do Partido Social Democrático (PSD) local promoveram
um abaixo-assinado.
Como estamos fazendo um relato histórico, não podemos omitir ocorrência
alguma que se relacione com o nosso movimento emancipacionista.
E é com pesar que registramos certos fatos contrários ao nosso
trabalho.
Em fins de outubro, nossos adversários enviaram aos doutores Júlio
de Carvalho e Tancredo Neves, um abaixo-assinado, solicitando providências
no sentido de ser Carmo do Cajuru transferido da Comarca de
Itauna para a de Divinópolis.
Como entendíamos ser nociva e descortês para com Itaúna, solicitamos
dos seus promotores desistirem do intento. Como não fomos
atendidos, resolvemos pedir a interferência do coronel Jovelino Rabelo,
prefeito de Divinópolis, a quem o autor destas linhas e o senhor José
Rodrigues de Carvalho fizeram sucinta exposição.
Trouxemos de lá um cartão do senhor Jovelino, endereçado ao senhor
Firmino Lopes Câmara, sugerindo não fosse enviado o abaixo-assinado
apenas pelos membros do diretório do PSD. Não concordou com
o alvitre o padre Raul Silva, segundo fomos informados pelo senhor
Paulo Batista de Menezes. Entretanto, ficou ajustado que o diretório
nos daria resposta definitiva após a reunião já convocada para a tarde.
Marcou-se, entrementes, uma reunião em conjunto dos diretórios
da União Democrática Nacional (UDN) e Partido Social Democrático
(PSD) para o dia 22, na casa do senhor José Jehovah Guimarães, à 9h.
Não tendo comparecido o padre Raul Silva, não se fez a reunião. Em
vista disso, deu-se do fato conhecimento ao deputado Oscar Correia,
ficando o assunto encerrado.
· 3 de novembro de 1948 ·
O “Minas Gerais” de hoje publica o Parecer do deputado Guilhermino
de Oliveira, aprovando o processo de Carmo do Cajuru, com a inclusão
do povoado de Cunhas.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
65
· 9 de novembro de 1948 ·
A discordância de deputados com relação à emancipação de Sítio tem
entravado o prosseguimento da discussão do Projeto n. 225, que trata
da emancipação de distritos.
Há poucos dias, foi solicitada urgência para a votação do projeto e essa,
concedida; pedida verificação da votação, foi negada.
Indo o Projeto à Comissão de Finanças, foi ele ali quase derrubado.
Dali voltou à Comissão de Constituição e Justiça. Um senhor deputado
opinou pela regulamentação do art. 80, da Constituição Estadual, antes
do prosseguimento dos trâmites do Projeto!
Coisa inédita se dá na Assembleia. Os juristas mais eminentes do estado
começam a se externar a respeito pela imprensa sobre o procedimento
dos senhores deputados, em face das disposições constitucionais
a respeito da emancipação de distritos. Uns opinam pelo direito
de se emanciparem por meio de mandato de segurança, uma vez que
a Constituição lhes dá plena garantia e direito incontestável, em face
do art. 80, seu parágrafo único. Preferem alguns senhores deputados
fazerem caso omisso nessa parte para não abrirem mão de seus interesses
municipalistas.
Estão os intransigentes escrevendo uma página de tristes recordações
nos Anais do Legislativo Mineiro, não só pelo inédito do acontecimento,
como porque todo o Brasil vê nessa corrida imperar a vontade de
um grupo esquecido de seus deveres e compromissos para com o povo,
numa busca de proveitos eleitorais.
Tudo indica que a Assembleia fechará suas portas dentro de dez dias
(quando terminará a prorrogação dos trabalhos da sessão), sem que o
Projeto retorne ao Plenário.
· 20 de novembro de 1948 ·
Finalmente, os jornais de hoje trazem notícia de que o Projeto n. 225
entrará novamente em discussão na segunda-feira dia 22.
Ainda na sessão de ontem, foi vibrado novo golpe no citado Projeto,
golpe esse amparado com maestria pelo presidente da Mesa, deputado
Martins Costa, que considerou dispositivos regimentais que o deputado
Feliciano Pena queria controverter, insistindo que a matéria devia
ser solucionada pela Mesa em vez de o ser pelo plenário.
66
José Demétrio Coelho · 1955
Vai terminar, finalmente, a prebenda que trouxe em constante agitação
os partidos políticos nesses últimos meses, mas com um resultado
inesperado: ficou a UDN em minoria na Assembleia! Uniram-se as alas
do PSD para votação do Projeto, ficando o partido com 47 votos, o que
equivale dizer, somente o PSD fará a revisão!
· 23 de novembro de 1948 ·
O “Estado de Minas” de hoje traz a relação dos primeiros distritos
(nove) emancipados nos trabalhos de ontem, encerrados depois da
meia-noite. São os seguintes: Abadia dos Dourados, Baldin, Campo
do Meio, Canápolis, Capitólio, Caraí, Carmo do Cajuru, Carrancas e
Carvalhos.
Até que enfim vencemos nossa batalha! E somente nós, do movimento,
podemos dizer o quanto foi ela árdua e movimentada!
Aguardamos agora a notícia sobre as divisas de nosso município. Se
vierem abrangendo Cunhas, teremos conquistado, realmente, uma vitória
completa.
O companheiro Otávio Djalma de Sá, regressando hoje de Belo Horizonte,
nos traz, em primeira mão, a notícia de que Cunhas constitui
território de Carmo do Cajuru.
Como se pode verificar, através destes apontamentos, que constituirão
a história de nossa emancipação, está bem patente o nosso esforço, o
nosso trabalho sem tréguas para que afinal triunfasse a nossa causa.
Nunca poderíamos imaginar, entretanto, que tivesse o movimento o
desfecho que teve. Não nos referimos, é claro, sobre o coroamento de
nosso trabalho com a almejada emancipação, mesmo porque quando
nos entregamos à luta tínhamos a certeza da vitória.
Nosso trabalho foi, como já nos referimos, estafante e nossa vigilância
assídua e cotidiana. Tivemos de aparar muitos golpes e correr em várias
direções. Tivemos – e quantas vezes – nosso espírito abatido pelos
boatos espalhados aos ventos.
Suportamos com as vistas voltadas para o dia da vitória, esta que
alimentávamos com certa. A política, entretanto, nos preparava uma
decepção.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
67
No momento mais cruciante, quando o Projeto voltou a Plenário para
decisão final, se desfez a coligação que dava ao governo maioria na
votação! De um lado, um deputado da UDN foi o provocador da ruptura,
pela intransigência imposta sobre a emancipação de Sítio; de outro
lado, a junção da Ala Liberal do PSD com a Ala Ortodoxa deixou a UDN
em minoria. Correu logo o comentário de que o PSD nos teria dado a
emancipação. Não houve exagero nessa assertiva, pois foi o Dr. Guilhermino
de Oliveira quem nos garantiu através de seu Parecer; mas
com a atenção também dos amigos: deputado Paulo Campos Guimarães,
Dr. Oswaldo Coelho e José Marra da Silva, entre outros.
· 7 de dezembro de 1948 ·
Reuniram-se hoje em nossa casa os Companheiros da Vitória para se
resolver a emancipação e ficou resolvido fazê-la hoje mesmo; mas em
vista das notícias que trazem os jornais de hoje, de que vai haver supressão
de distritos emancipados e de povoados elevados a distritos,
na votação final, resolvemos aguardar os acontecimentos, isto porque
poderemos ter alguma surpresa com relação a Salgado, que os adversários
não desejam vê-lo elevado.
· 9 de dezembro de 1948 ·
Terminou, finalmente, a votação do projeto n. 225 (Divisão Administrativa
e Judiciária do Estado de Minas Gerais).
Houve ontem duas sessões na Assembleia Legislativa: na primeira delas,
degolaram Salgado! Algum esforço deveria ser premiado!…
· 10 de dezembro de 1948 ·
O deputado Oscar Dias Correia telegrafou ao companheiro José Jehovah
Guimarães, comunicando que a Assembleia não havia tomado
conhecimento do pedido de transferência de Carmo do Cajuru para a
Comarca de Divinópolis.
A grande cheia do Empanturrado
Abramos aqui um parêntese nas citações cronológicas dos fatos sobre
a emancipação de Carmo do Cajuru para o relato de uma ocorrência
deveras contristadora para todos nós.
O ribeirão do Empanturrado, que banha a vila, amanheceu hoje com
uma cheia descomunal, devido à caída de uma bomba d’água nas suas
68
José Demétrio Coelho · 1955
cabeceiras. A população do bairro adjacente e marginais viveu momentos
de verdadeira angústia e sofrimento. Desabaram-se algumas
casas e muros que foram arrastados pelas águas revoltas e impetuosas.
A custo inaudito salvaram-se os moradores das casas submersas. Duas
dessas vítimas, Ritinha Teles e seu irmão Miguel, desceram levados
pela correnteza a mais de 500 metros, ficando presos a uma moita
de espinheiro em plena vastidão das águas. Dali, foram retirados com
vida decorridas muitas horas, mesmo assim porque seus gritos de socorro
os localizaram.
Era tão forte a correnteza que foi necessário ir uma pessoa a nado,
levando uma corda para se fixar na ramagem e, assim presa de lado a
lado, pode servir de corrimão aos salvadores dos náufragos.
Felizmente não se registraram perdas de vida, mas os prejuízos foram
enormes. A nossa ponte de concreto, ligando o bairro Bonfim, teve os
aterros laterais danificados e levados pelas águas, que cavaram um
sulco profundo numa das extremidades, deixando o estacamento completamente
descoberto.
Vamos ter o tráfego por aquela via de acesso interrompido por vários
dias, ainda mais que não poderão correr também os trens da Rede Mineira
de Viação (RMV), que teve dois pontilhões danificados, o do Vau
e outro à saída da Vila, próximo ao rio Pará.
· 11 de dezembro de 1948 ·
Em virtude da paralisação dos trens da RMV, devido ao desabamento
de pontilhões ontem, e mais a greve dos ferroviários, hoje declarada,
ficamos completamente sem comunicação com Belo Horizonte e Divinópolis,
o mesmo acontecendo por estrada de rodagem, devido a se
terem corrido os aterros da ponte de concreto sobre o Empanturrado.
Assim, sitiados como estamos, ficamos em completa ignorância do que
se passa lá fora e nem, tampouco, ficamos conhecendo o resultado final
da votação do Projeto n. 255. Estamos a 22 dias da instalação do
município, sem oportunidade de qualquer providência. Ignoramos por
completo o programa oficial e seu ritual para a instalação do município.
· 25 de dezembro de 1948 ·
Manifestou hoje o povo seu regozijo pela emancipação de Carmo do
Cajuru. Apesar da chuva fina e impertinente que cai de contínuo, reu-
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
69
niu-se compacta multidão na confluência da rua Tiradentes com a Dr.
Lincoln Nogueira, em frente ao bar “Leila”, onde se abrigou a Banda de
Música.
Falou ao povo José Jehovah Guimarães, José Demétrio Coelho (autor
deste memorial) e Nagib Mileib, este último concitando a paz entre os
partidos, fazendo uma advertência ao eleitorado na escolha dos primeiros
administradores de Carmo do Cajuru, nas próximas eleições,
marcadas já para 6 de março vindouro.
· 31 de dezembro de 1948 ·
Os membros da Comissão Pró-Emancipação providenciam febrilmente
a organização e preparativos para a instalação, amanhã, do nosso
município. O tempo, entretanto, se mostra hostil e inclemente; chove
constantemente. O entusiasmo da população, porém, não se arrefece,
trabalhando-se com ardor, a fim de que tenham as solenidades o cunho
festivo e empolgante que as devem caracterizar.
Os partidários do PSD reuniram-se ontem, na Casa Paroquial, sob a
presidência do padre Raul Silva, para resolverem se deverão ou não
comparecer à solenidade.
Consta que houve divergência de opiniões, votando a favor do comparecimento
os senhores José Camilo de Souza, Paulo Batista de Menezes
e Firmino Lopes Câmara, e contra o Pe. Raul Silva e os senhores Geraldo
Félix Mansur, José Alves Nogueira Filho e Sebastião Alves Nogueira.
Em vista do resultado apresentado, certamente, não comparecerão.
· 1 0 de janeiro de 1948 ·
Instalação do Município de Carmo do Cajuru
Amanheceu festivo o dia 10 de janeiro, que assinala o marco inicial da
vida autônoma de Carmo do Cajuru. Pela madrugada, a Banda de Música
percorreu as ruas da cidade, executando peças festivas ao espoucar
de foguetes, anunciando ao povo a aurora da liberdade.
Às 10h30, teve início a missa votiva, que não pode ser cantada, como
estava programada, devido à dificuldade de transporte pela interrupção
dos trens, como já se fez referência. O coro, entretanto, executou
selecionado número de músicas sacras.
70
José Demétrio Coelho · 1955
Terminada a missa, quando chegava o padre José Neto, vigário de Itaúna,
a Comissão Pró-Emancipação, tendo à frente, os padres Raul Silva
e José Neto, acompanhados de grande multidão, visitaram o túmulo
do saudoso padre José Alexandre de Mendonça, a fim de prestarem ao
nosso querido morto uma significativa homenagem. Falou na solenidade,
o autor deste memorial.
Às 14h, teve lugar a sessão magna de instalação do município, num dos
salões do Grupo Escolar Princesa Isabel, presidida pelo Primeiro Juiz
Distrital, senhor Adolfo Timóteo de Sá, por delegação expressa do Juiz
de Direito de Itaúna, que não pudera comparecer.
Tomaram assento à Mesa todos os membros da Comissão Pró-Emancipação;
o deputado Oscar Dias Correia; o jornalista Ataliba Lago; o Promotor
de Justiça de Divinópolis; o vereador José Jehovah Guimarães
(de Itaúna); o dr. Otávio Gordilho, engenheiro residente da RMV, além
de pessoas gradas de Divinópolis.
Secretariou a sessão solene o senhor José Rodrigues Carvalho, presidente
da Comissão Pró-Emancipação.
Proferida pelo presidente da sessão, o juiz Adolfo Timóteo de Sá, as palavras
consagradas à instalação do município, foi ouvida uma estrondosa
salva de palmas e o Hino Nacional pela Banda de Música, ouvido
com respeito por todos os presentes.
Terminados os acordes do hino pátrio, foi pelo juiz-presidente dada a
palavra ao orador oficial, senhor José Jehovah Guimarães, que pronunciou
o seguinte discurso:
Senhor presidente, minhas senhoras, meus senhores
Este é um momento memorável na história desta terra. Aqui estão
reunidos, neste soberbo auditório, as figuras exponenciais da
nossa sociedade e o grande amigo de Carmo do Cajuru, o deputado
Oscar Dias Correia; os representantes dos poderes públicos
municipais de Itaúna e Divinópolis; representantes do comércio,
da indústria, do judiciário e da igreja católica.
É, portanto, com indizível deleite que assistimos, entre flores e
pompas, à instalação do recém-criado município de Carmo do
Cajuru. Daí, as justas alegrias que povoam nossas almas, os hinos
perenes e triunfais que somente os corações com nobres
sentimentos sabem entoar felizes.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
71
Com grande satisfação e reconhecimento vejo dentre vós a família
itaunense e os meus nobres colegas vereadores à Câmara
Municipal de Itaúna. Os nossos corações pulsam e batem com
uma sensibilidade peculiar. Não com a arritmia de um coração
em estado patológico, mas com o batimento ritmado pelo júbilo
que sentimos neste momento em que a presença de Vossas Excelências
nos dá a certeza de que se o município de Itaúna perde
seu grande distrito, pode, entretanto, estar convicto de que saberemos
extremar a amizade e reconhecer o carinho e a afeição
com que fomos distinguidos pelos itaunenses.
Por tudo isso se explica a efusão de aplausos e as manifestações
de afetos que brotam dos corações aqui presentes, todos
solidários com a família cajuruense, participando de seu grande
triunfo!
Estamos construindo alegremente, porque estamos construindo
bem. A obra em que estamos trabalhando está bem começada,
abrindo-se ante nós amplas estradas que conduzirão Carmo do
Cajuru ao progresso, o solo já desbravado e o alicerce sólido
construído pelo trabalho ingente dos dignos membros da Comissão
Pró-Emancipação. O estacamento forte e resistente suportará
a riqueza futura.
Senhoras e senhores, não posso disfarçar as vivas emoções que
sucessivamente venho sentindo pela verificação do entusiasmo
reinante no seio da população desta terra por todos que nos honram
com suas presenças, pelo auspicioso acontecimento que estamos
assistindo.
Realmente, o espetáculo cívico que estamos presenciando assume
neste instante as proporções de um acontecimento de real
alcance e beleza.
Nenhuma honra poderia ser tão grata ao meu coração do que ora
me é concedida, de ser o primeiro orador desta solenidade, para
dirigir-vos a palavra neste mesmo instante em que se instala
oficialmente em todo o território mineiro as suas novas comunas.
Quero, porém, vos falar sem adornos oratórios, sem armaduras
científicas, sem equipamentos filosóficos, sem cortejos ou críticas,
falar de modo simples, falar com sinceridade na mente
e alegria no coração, para vos dizer a palavra de fé, nesta hora
feliz, em que juntos, na mesma comunhão de pensamento e de
ideais, assistimos transformada em confortadora realidade a
maior aspiração de nosso povo: dar a Carmo do Cajuru a sua
carta de alforria.
72
José Demétrio Coelho · 1955
Ao meu coração de sexagenário é grato este ensejo de reanimar
o espírito no calor de vosso convívio cheio de força idealista, na
oportunidade em que concretizamos pelo esforço comum uma velha
aspiração com a vitória da emancipação de Carmo do Cajuru.
Estamos, portanto, colhendo o que semeamos; e o resultado a
que chegamos neste momento não se deve a uma só pessoa e,
sim, a todos os colaboradores nesta obra comum. O resultado
que hoje todos nós festejamos é por demais grandioso para ser
atribuído a número restrito de colaboradores conquistadores.
O que foi obtido, só pode ser, como já tive oportunidade de dizer
ao celebrarmos nossa primeira vitória, porque muitos porfiaram
na luta, muitos combateram enérgica e valorosamente sob o
mesmo ideal num bater uníssono de corações.
E neste momento de tréguas, nesta hora em que se reúnem os
combatentes deste bom combate, em torno das armas ensarilhadas,
para uma troca de efusão e entusiasmo, para um relancear
de vistas sobre o terreno conquistado e para alçar o olhar mais
alto para as novas etapas de lutas, que se sucederão num contínuo
batalhar, é grato sentir e proclamar o mérito do que foi feitio,
sinceramente, de coração aberto e fé lavada.
Meus amigos, nesta hora tão grata para todos nós, eu preciso
dizer-vos que, mergulharam-se bem longe, no passado, as raízes
de minha efetividade por esta terra. Testemunhei o seu crescimento
e a obra dos verdadeiros precursores de seu progresso,
dentre os quais quero citar o saudoso padre José Alexandre de
Mendonça, Jacinto Epifânio Pereira, Sinfrônio Batista Jota, Achiles
Guimarães, Guilherme Nunes, Gonçalves Chaves, Nogueira
Penido e tantos outros que já desapareceram de nosso convívio.
Sinto grandes emoções, evocando para reverenciar a memória
desses que se tornaram grandes vultos da história desta terra,
pelo muito que, no tempo, por ela fizeram.
Continuemos, pois, trabalhando com a mesma devoção e sem fadiga
pelo bem-estar da coletividade de Carmo do Cajuru, dentro
do salutar programa de regeneração inaugurado em nossa pátria
com o advento da Constituição de 1946.
Sob o regime atual, as congratulações devem ser recíprocas,
porque é bem verdade, meus amigos, que só o regime em que
passamos a viver depois da extinção da ditadura no Brasil, tornou
possível entre governantes e governados, o que quer dizer,
entre colaboradores, esse feliz estado de compreensão, estima,
respeito e simpatia.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
73
O retorno à vida constitucional encheu de alegria o povo de Carmo
do Cajuru, que tem sua mentalidade formada nos tradicionais
princípios democráticos, que fizeram através dos tempos o
apanágio da família mineira. Assim é que Carmo do Cajuru, na
comunhão dos mesmos e sadios sentimentos de amor à liberdade
e animado de intenso entusiasmo cívico, vibra de contentamento
pela sua independência político-administrativa.
O nosso jovem município entra cheio de esperança na vigência
de sua nova fase histórica. Carmo do Cajuru, assim o espero, e
creio, há de ser uma cidade que vibrará, que palpitará, tendo
nos seus filhos o alicerce seguro e firme de sua grandeza, de seu
desenvolvimento, de seu progresso. E, nessa marcha que espero
seja acelerada, Carmo do Cajuru caminha impavidamente para
um futuro grandioso, repleto de magníficas realizações.
Senhor presidente, finalizando estas palavras ditas com emoção,
que estais presenciando, e com a sinceridade com que procuro
pautar a prática de todos os meus atos, quero assegurar a Vossa
Excelência, que os homens e mulheres de Carmo do Cajuru,
como um só corpo e uma só vontade, continuarão empregando
todos os seus esforços no sentido de colaborar pelo engrandecimento
e bem-estar de nossa comunidade.
Viva o município de Carmo do Cajuru!!!
Em seguida, o senhor José Demétrio Coelho, autor deste descolorido
memorial, solicitou a palavra proferindo o seguinte discurso:
Excelentíssimo senhor Juiz, presidente dos trabalhos de instalação
do município de Carmo do Cajuru; excelentíssimo senhor
deputado Oscar Dias Correia; prezado amigo Ataliba Lago, denodado
comandante de nosso movimento, autoridades e amigos de
Divinópolis e Itaúna.
Minhas senhoras, meus senhores, as palmas que acabam de estrugir
neste recinto representam com fidelidade as vibrações de
nossas almas e a alegria alvoroçante de nossos corações, pelo
acontecimento histórico que se concretiza, inscrevendo-se o
nome de Carmo do Cajuru como Município nos anais de Minas
Gerais. É a evolução que se opera através do tempo, no caminho
do progresso.
Os sois que iluminam os céus; os mundos que giram no espaço
e as constelações que enfeitam o firmamento, se originaram
das nebulosas e essas foram procurar existência na agregação
74
José Demétrio Coelho · 1955
molecular, como ainda estas o fizeram dos átomos. Afirmando
ainda os sábios que a escala agregativa continua em sucessivas
parcelas micro-orgânicas.
Não podíamos, então, fugir à contingência fatal da lei evolutiva.
Ontem, Carmo do Cajuru nascia, talvez, da imperiosa necessidade
de abrigar uma única família detentora de extensa porção
territorial ao lado do caudal próximo. Com o decorrer do tempo,
vieram outras famílias se juntar à primeira, no afã permanente
de seu ganha-pão e assim outras mais, surgindo as primitivas
casas nos primevos tempos.
A religião, que é o apanágio das almas e une os povos em comunhão
de pensamentos, suscitou a ereção de uma capelinha
modesta para as orações em comum. Em torno desta capelinha,
surgiram mais casas e, assim, embora lentamente, foi a célula
crescendo, tomando vulto e se alargando em várias direções, exigindo
logo providências várias, capazes de ensejar o conforto, ainda
que rudimentar, aparecendo o povoado e logo em seguida a aldeia,
o arraial, a vila e, enfim, hoje, a cidade de Carmo do Cajuru.
O povo, entretanto, sem se aperceber, veio promovendo a mutação
e imprimindo na terra os requisitos essenciais como imperativo
de suas necessidades.
Os cérebros reclamam luzes e sabem que elas existem nas 25
letras do alfabeto, porque delas emanam mais luminosidade que
em todas as constelações do firmamento e, por isso, aparece a
primeira escola, esboçando-se a instrução.
Mais tarde, uma só escola já não basta e outras são criadas para,
enfim, serem reunidas em grupo. Surgem os primeiros frutos
que, espalhados, rebentam aqui e ali em árvores portentosas,
reproduzindo-se no incentivo à cultura.
Os homens atilados procuram desenvolver, cada qual uma atividade
inerente à sua vocação e aparece o comércio, a indústria,
as artes. Eis um povo em evolução, firme na caminhada para o
futuro e já sonhando com ideais.
O trabalho, em seus múltiplos aspectos, assegura posição econômica
e a cultura, que o povo vai adquirindo, lhe facilita meios de
propiciar abastança. Carmo do Cajuru, então, é agora um povo
em marcha para o progresso e este lhe abrirá vastas perspectivas
para se ombrear em pouco com os grandes centros de Minas
Gerais, os quais, por sua vez, tiveram a mesma origem modesta
que a sua.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
75
Tínhamos, pois, senhoras e senhores, que presenciar este soberbo
espetáculo, que nos enobrece e exalta, porque toda árvore cumpre
a lei fatal de seu ciclo vegetativo: crescendo e frutificando.
Entretanto, para que tal acontecesse, alguém deveria encarregar
de seu trato e cultura; do contrário feneceria e nunca poderíamos
saborear as delícias de seu fruto sazonado. Também assim
aconteceu a esta terra: alguém veio provendo seu crescimento,
sua cultura, seu progresso, e esse alguém anônimo recebe hoje
nossa consagração.
Não tentaremos enumerar todos que pugnaram pelo progresso
de Carmo do Cajuru, pois isso seria tarefa árdua e falha, tantos
foram esses beneméritos. Devemos, entretanto, procurar numa
síntese a concretização dessa homenagem de gratidão, que a
justiça ordena se faça.
Passemos então a exprimir o desejo de todos cajuruenses, avocando
dois nomes apenas, dentre todos eles: padre José Alexandre
de Mendonça e Sinfrônio Batista Jota.
O primeiro deles foi um ardoroso propugnador do progresso desta
terra, não só na palavra como na ação. Entre inúmeras iniciativas
tomadas pelo saudoso padre José, podemos apontar acontecimentos
de ontem: a iluminação elétrica e o majestoso templo
que é o orgulho de todos nós. A alma generosa e boa do padre
José Alexandre se expandia aos quadrantes de Cajuru, levando o
bem a todo o povo. Toda iniciativa de progresso era logo por ele
amparada, e isto durante todo o tempo que, felizes, tivemo-lo
a nosso lado, no pastoreio salutar de toda uma geração que viu
nascer e lhe sabia respeitar e amar como pai extremoso e bom
que sempre fora.
O segundo, Sinfrônio Batista Jota, nunca se conformava em que
houvesse outra terra acima de Cajuru. A esse grande filho se
deve poderem os cajuruenses ver hoje esses dois braços de aço
que cortam as suas ruas, num abraço fraternal a Divinópolis e
Itaúna – a estrada de ferro, cujo primitivo traçado, se executado,
nos acenaria de muito longe, condenando-nos ao estacionamento
progressista.
Deu-nos ainda Sinfrônio Jota a água potável, esse alento vital
que por si só bastaria para uma reverência sincera e homenagem
póstuma. Foi graças ao seu esforço e iniciativa, junto ao saudoso
coronel Antônio Gonçalves de Matos, então presidente da Câmara
Municipal de Itaúna, que o povo de Carmo do Cajuru obteve
esse bem público.
76
José Demétrio Coelho · 1955
Dentro de nossa alegria e contentamento que nos dá ensejo a
instalação de nosso município, lembramos desses vultos num
preito de saudade.
Sintetizamos nesses dois vultos todos os beneméritos de Carmo
do Cajuru e, sabemos, servirá esta síntese para trazer à lembrança
de cada um de nós outros nomes, merecedores também
de nossa evocação. Tenhamos todos eles presentes, neste instante
em que nossa terra se engrandece, como preito de sincera
gratidão.
Cidade de Carmo do Cajuru! Hoje que festejamos, entre risos e
flores, a data que se tornará a tua efeméride máxima, é justo que
troquemos saudações fraternas num hino de paz e concórdia.
Entretanto, com estas saudações, que exprimem o sentimento
congratulatório de que estamos possuídos, a gratidão nos impõe
o dever de fazê-lo extensivas aos companheiros que emprestaram
ao nosso movimento uma cooperação eficiente e decidida como
José Jehovah Guimarães, Ataliba Lago, Amim Mattar, José Rodrigues
de Carvalho, José Marra da Silva, Vitor Epifânio Pereira,
José Luiz Passos, Otávio Djalma de Sá e, em menção especial,
inscrevamos também o nome do nosso amigo deputado Oscar
Dias Correia, a quem muito devemos em préstimos e atenções.
É imperioso que se registre esses nomes nos anais do novel
município para que os pósteros possam lembrar-se dos que se
empenharam na luta pela emancipação de Carmo do Cajuru,
aliás, já gravados, como se encontram, nos corações da presente
geração.
Assim, num brado uníssono de recíprocas congratulações, saudemos
a nossa cidade, saudemos o município de Carmo do Cajuru!
Ouviram-se após, o deputado Oscar Dias Correia, o Dr. Carlos Altivo
e o jornalista Ataliba Lago, citando todos eles o nome do saudoso padre
José Alexandre de Mendonça, ex-vigário de Carmo do Cajuru, que
paroquiou o distrito desde 1889, como consta do apanhado histórico
relatado no Memorial da Comissão Pró-Emancipação, findando seus
dias de um benéfico pastoreio no dia 8 de março de 1936.
Terminados os discursos foi a sessão suspensa para lavratura da ata,
que foi assinada por todos os presentes.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
77
Ata da Sessão Solene de Instalação
do Município de Carmo do Cajuru.
A primeiro de janeiro de mil novecentos e quarenta e nove, no
edifício do Grupo Escolar “Princesa Isabel”, sob a presidência do
senhor Adolfo Timóteo de Sá, primeiro Juiz de Paz, na conformidade
com as disposições a respeito, reuniram-se, em sessão solene,
autoridades e pessoas gradas, com grande assistência popular,
para o fim de se proceder à instalação do município de Carmo do
Cajuru, criado nos termos da Lei Estadual n. 336, art. 13, de 27
de dezembro de 1948, com jurisdição sobre as circunscrições que
tem por sede esta localidade. // Aberta a sessão e constituída a
Mesa de Honra, o senhor presidente, convidando os presentes a
se porem de pé, pronunciou, em voz clara e pausada, as seguintes
palavras inaugurais: ‘Em virtude dos poderes que me foram
outorgados, declaro instalado o município de Carmo do Cajuru,
com jurisdição sobre as circunscrições que tem por sede esta localidade
que ora recebe os foros de cidade, com a competência e
atribuições que a lei lhe confere e determina’. // Calorosas palmas
coroaram as palavras do senhor presidente, apenas interrompidas
pelos acordes do Hino Nacional, ouvido em silêncio e saudado com
aplausos gerais. // Sentando-se a seguir, o senhor presidente deu
a apalavra ao senhor José Jehovah Guimarães, vereador à Câmara
Municipal de Itaúna, que proferiu brilhante discurso, salientando o
trabalho de todos os cajuruenses em prol da emancipação. Franqueada
a palavra, solicitou-a o senhor José Demétrio Coelho que,
em magníficas expressões fez rápido bosquejo histórico da vida do
povo cajuruense, concitando-o ao trabalho e ao progresso. Falou
a seguir o deputado Oscar Dias Correia, em saudação a Cajuru,
instalado sob o signo da fé, da gratidão, do patriotismo. Seguiu-se
com a palavra o dr. Carlos Altivo, tecendo um hino de louvor aos
bravos lutadores da causa emancipacionista. Por fim, em lúcido
improviso, falou o senhor Ataliba Lago, narrando os pormenores da
batalha vencida pelo povo desta terra. Em grandes aclamações o
povo saudava os oradores, vivando os nomes do governador Milton
Campos e altas autoridades, com entusiasmo indescritível. // Ninguém
mais fazendo uso da palavra, o senhor presidente declarou
encerrada a sessão, convidando os presentes a ouvirem a leitura
desta ata, que foi assinada pelo senhor presidente, pelas demais
autoridades e pessoas presentes. Eu, José Rodrigues de Carvalho,
na qualidade de secretário ‘ad hoc’ escrevi a presente ata e a li ao
termo da sessão, cuja realização aqui se registra.
78
José Demétrio Coelho · 1955
[Por ordem de assinaturas]
Adolfo Timóteo de Sá
José Rodrigues de Carvalho
José Jehovah Guimarães
Nagib Mileib
Alfredo Nogueira Maia
Oscar Dias Correia
Oswaldo Coelho
José Demétrio Coelho
Otaviano Caldas
Carlos Altivo
Amim Mattar
Geraldo Alves Parreira
Plínio Rocha Soares
Otávio Djalma de Sá
Salim Souki
Ramis Mattar
João de Oliveira
Antônio Gonçalves de Matos
Ataliba Lago
José Luís Passos
José Maria Campos
Jehovah Guimarães Filho
Antônio Magalhães
Francisco Pereira Quadros
Pedro Berlamino Sobrinho
Geraldo Regino da Silva
Mariana Campos
José Batista dos Santos
Alcides de Andrade
Augusto Nogueira Maia
Antônio de Souza Ribeiro
Bernardino José de Andrade
Geraldo Andrade
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
79
Walter Gontijo Maia
José Fonte Boa
José Guimarães
Vicente Nogueira de Souza
Jacinto Guimarães
Vicente de Oliveira Morais
José Marra da Silva
Evaristo José de Andrade
Valdevino Pereira Quadros
Durvalino Pereira Quadros
José Nogueira de Souza
Augusto Gonçalves
João Camargos
João José da Silva
Vicente Teodoro
José Gomes Maia
José Guimarães
Vitor Epifânio Pereira
Jove Nogueira Gontijo
Sebastião Fonte Boa
José Fonseca e Silva
Silvino Pio da Fonseca
Aguilar Nogueira Penido
Maria Cândida Guimarães
Orígenes Pio da Fonseca
Olga Mussa maia
Madalena Maia
Ana Maia Barbosa
Dirce Guimarães Sá
Gracinda Guimarães
Miguel Pio da Fonseca
Oliveiro Vilela da Fonseca
Alfredo Miranda
José Fernandes Rabelo
80
José Demétrio Coelho · 1955
Antônio Crisóstomo da Silva
Ângela Passos Vilela
Geraldo Fonte Boa
Carlindo Ubaldo de Sá
José Vilela da Fonseca
Onofre Pio da Fonseca
Elias Ferreira de Melo
Tirézio Mendes Mourão
José Teixeira de Menezes
João Coelho da Rocha
Pedro Sabino de Lima
Antônio Pardini
Antônio Nogueira de Souza
Geni Nogueira Maia
Geraldo Guimarães
Elísio Batista Leite
Alice Mourão Guimarães
Olímpia Guimarães Batista
Daniel Rabelo de Vasconcelos
Lúcia Guimarães
Luiz Carlos Schirmer
Luiz Guimarães
Cândido Pereira Guimarães
Moisés da Cunha Ribeiro Sobrinho
Jacinto Pereira Guimarães
Dalva Nogueira de Carvalho
Aristóteles Joaquim de Oliveira.
No momento em que se lavrava a ata, que registraria o acontecimento
maior e de mais significação para nosso município, tentaram os adversários
empanarem o brilho da solenidade com um boletim inconveniente...
Sobre isso vamos silenciar.
⟣ ⧫ ⟢
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
81
· 8 de janeiro de 1949 ·
Estamos aguardando para amanhã a chegada do Intendente de Carmo
do Cajuru, Dr. Mário Rubens Lobo.
· 9 de janeiro de 1949 ·
Às 13h, chegava a Carmo do Cajuru o Intendente Municipal, Dr. Mário
Rubens Lobo, acompanhado pelos senhores Dr. Oswaldo Coelho, Dr.
Romeu Resende e José Higino.
Em frente da Prefeitura Municipal, instalada na rua Tiradentes, o senhor
intendente foi saudado pelo vice-presidente da Comissão Pró-Emancipação,
José Demétrio Coelho, respondendo, após, o nosso primeiro
governante [José Rodrigues de Carvalho]. Segue-se um almoço
íntimo.
Ficou marcada para amanhã uma reunião do senhor Intendente com
a Comissão Pró-Emancipação para serem assentados pontos de vista
administrativos.
· 10 de janeiro de 1949 ·
O Dr. Mário Rubens Lobo, intendente municipal de Carmo do Cajuru,
iniciou hoje sua administração, lavrando os seus primeiros atos. Em
seguida, fomos convidados para, conjuntamente, fazermos com o intendente
uma visita de cortesia ao nosso vigário padre João Parreira
Vilaça.
Às 9h, reuniu-se a Comissão Pró-Emancipação de Carmo do Cajuru
com o senhor intendente na Prefeitura Municipal. Expôs o Dr. Mário
Lobo alguns pontos sobre como desejava iniciar sua administração,
ficando tudo aprovado com louvor por todos os presentes; aliás, uma
gentileza demonstrada para com a Comissão, que soube reconhecer e
agradecer.
À tarde, recebemos a visita do senhor prefeito de Betim, Dr. Sílvio
Lobo, que se fez acompanhar pelo Dr. Romeu Resende, permanecendo
em Carmo do Cajuru algumas horas, regressando a seu município via
Divinópolis.
Com a posse de seu primeiro dirigente encerra-se a atividade da Comissão
Pró-Emancipação de Carmo do Cajuru.
82
José Demétrio Coelho · 1955
Comissão Pró-Emancipação
e Criação do Município de Carmo do Cajuru
Antônio Nogueira de Souza (membro)
José Jehovah Guimarães (vereador distrital, membro)
Amim Mattar (Presidente de Honra)
Vítor Epifânio Pereira (Primeiro-Tesoureiro)
José Marra da Silva (Primeiro-Secretário)
José Demétrio Coelho (Vice-Presidente)
Otávio Djalma de Sá (Segundo-Tesoureiro)
José Luiz Passos (Segundo-Secretário)
José Rodrigues de Carvalho (Presidente Efetivo)
Ataliba Lago (membro)
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
83
84
José Demétrio Coelho · 1955
VIII
Constituiçao ~ do primeiro governo
Como sói acontecer quando se vem de um embate, os ânimos ainda
se conservam exaltados, não permitindo a serenidade necessária
para a avaliação da importância devida à obra realizada. Ao invés das
congratulações mútuas que o acontecimento obrigava, se aferravam os
espíritos em demonstrações antagônicas.
Se os vencedores da causa justa se regozijavam, o mesmo não acontecia
aos que, espontaneamente, se conservam distantes do movimento.
De nossa parte, nunca repelimos o congraçamento, como se evidencia
no transcurso deste relato, e oportunidade maior e de mais significação
foi dada na ocasião da visita do ministro da Educação e Saúde e do
governador de Minas Gerais, em julho de 1948.
Ao cogitar-se da eleição municipal, foi alvitrada nova oportunidade de
reconciliação, que teve o mesmo sucesso das anteriores.
Não tínhamos então alternativa a tomar senão entrar na luta com chapa
própria, e assim o fizemos.
· 8 de fevereiro de 1949 ·
No dia 8 de fevereiro de 1949, reuniu-se a diretoria da União Democrática
Nacional (UDN), de Carmo do Cajuru, para a escolha dos candidatos
às eleições de 6 de março próximo, de onde deveriam sair os
primeiros dirigentes de nosso novel município. Eis a ata da reunião:
Ata de Indicação de candidatos.
Aos oito dias do mês de fevereiro de 1949, na sede da União Democrática
Nacional (UDN), edifício Amim Mattar, às 18h, com a
presença da maioria absoluta de seus membros, passou a deliberar
o Diretório da UDN de Carmo do Cajuru, sob a presidência do
senhor José Jehovah Guimarães, o qual declarou que a presente
reunião havia sido expressamente convocada para que fosse feita
a indicação dos candidatos do partido aos cargos de prefeito, vice-
-prefeito e vereadores pelo município às próximas eleições do dia 6
de março, tudo como determina o estatuto partidário. // Disse estar
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
85
livre a palavra e depois de se terem feito ouvir vários membros do
Diretório, cada qual expondo o seu ponto de vista, foram indicados
os nomes dos seguintes correligionários para constituírem a chapa
da UDN para as citas eleições: para Prefeito, José Demétrio Coelho;
para Vice-Prefeito, José Marra da Silva; para Vereadores à Câmara
Municipal: José Jehovah Guimarães, José Rodrigues de Carvalho,
Joaquim Alves Ribeiro, Acácio Ferreira de Melo, Antônio Custódio
dos Santos, Antônio Nogueira de Souza, Luiz Batista Quadros, Jesus
Mateus da Silva e Teodorico José Rabelo.// Como a reunião tivesse
sido convocada especialmente para esse fim e nada mais houvesse
para ser tratado foi a sessão levantada pelo senhor presidente após
a lavratura da presente ata por mim, secretário, que também assinei
em companhia dos demais membros do Diretório.
[Por ordem de assinaturas]
José Jehovah Guimarães
Amim Mattar
José Marra da Silva
Sebastião Fonte Boa
Antônio Nogueira de Souza
Mário Nogueira Maia.
Preenchida as formalidades legais, entregaram-se os candidatos aos
serviços de propaganda eleitoral, uma vez que a facção contrária organizara
também sua chapa em coligação PSD-PRP.
Os candidatos da UDN, todavia, não puderam percorrer o município
como fizeram os adversários, deixando o trabalho, nessa parte, a cargo
dos companheiros residentes nos povoados, cujo prestígio era sabido.
Os candidatos, entretanto, se dirigiram ao povo por meio do seguinte
manifesto:
AO POVO DE CARMO DO CAJURU
Ao povo de Carmo do Cajuru, que sempre soube prezar a tradicional
honradez de seus antepassados; que jamais deixou de demonstrar
sua gratidão pelo bem que alguém tenha feito a esta terra; que sabe
reconhecer o valor e devotamento daqueles que trabalham com
desinteresse e abnegação pelo seu engrandecimento, nos dirigimos
hoje para apresentação dos nomes que, sob a bandeira da União
Democrática Nacional (UDN), trabalharão para a glória e maior
progresso de nosso município.
86
José Demétrio Coelho · 1955
A UDN não quer dormir sob os louros da conquista da emancipação de
Carmo do Cajuru e, por isso, lança sua chapa para as próximas eleições,
imbuída dos mesmos sentimentos que a empolgaram na campanha da
emancipação.
Quer a UDN um Carmo do Cajuru grande e progressista! Quer vê-lo
cheio de vida e agradável às vistas de seu povo e um centro atraente
para os forasteiros que aqui virão lançar bases de empreendimentos
capazes de estimular ainda mais o seu progresso, esse que nos virá,
certamente, porque tem no governo do estado um de seus membros
mais ilustres e devotado à causa pública, o Exmo. Sr. Dr. Milton Campos,
que já honrou nossa terra com sua presença e aqui nos deixou a
promessa de que seu governo muito fará por Carmo do Cajuru.
Escolheu, então, a UDN em seu seio os seguintes nomes para se
constituir o primeiro governo eleito de Carmo do Cajuru:
Para Prefeito: José Demétrio Coelho
Para Vice-Prefeito: José Marra da Silva
Para Vereadores à Câmara Municipal:
Acácio Ferreira de Melo, Antônio Custódio dos Santos,
Antônio Nogueira de Souza, Jesus Mateus da Silva,
Joaquim Alves Ribeiro, José Jehovah Guimarães,
José Rodrigues de Carvalho, Luiz Batista Quadros
e Teodorico José Rabelo.
Esses nomes que a União Democrática Nacional (UDN) indica ao
eleitorado independente e altivo de Cajuru, representam a sua
bandeira de glória porque todos eles foram educados na sublime
escola do trabalho e da honradez, única capaz de criar espíritos
fortes e abnegados, tão necessários nos tempos hodiernos para a
conquista de ideais.
Reconhecido e grato como é o povo de Carmo do Cajuru, certamente,
não deixará de acorrer às urnas a 6 de março próximo para consagrar
esses candidatos que irão continuar o progresso do novo município
e satisfazer as aspirações de seu povo.
Nós, da União Democrática Nacional (UDN), que havíamos promovido
a campanha da emancipação de Carmo do Cajuru, só tínhamos em
mente o progresso desta terra, não nos animava proventos e competições
políticas, tanto que havíamos tentado a organização de uma chapa
onde figurassem elementos de todas as facções político-partidárias.
Fere-se o pleito e o eleitorado acorre pressuroso às urnas convencido
de cumprir um alto dever de civismo.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
87
O resultado do pleito foi uma demonstração de gratidão para aqueles
que trabalharam pela emancipação de Carmo do Cajuru:
José Demétrio Coelho (UDN)
Prefeito
José Marra da Silva (UDN)
Vice-Prefeito
Vereadores:
Antônio Nogueira de Souza (UDN) Geraldo Félix Mansur (PRP)
Jesus Mateus da Silva (UDN) Joaquim Alves Ribeiro (UDN)
José Jehovah Guimarães (UDN) José Rodrigues de Carvalho (UDN)
Luiz Batista Quadros (UDN) Nagib Mileib (PRP)
Teodorico José Rabelo (UDN)
Embora coligados os elementos do PSD com os do PRP, a votação se fez
sob a legenda do PRP.
Ficou assim constituído o primeiro governo de Carmo do Cajuru que,
após sua posse, fez uma brilhante demonstração de amor e interesse
pela causa do município, trabalhando com abnegação e esforço, sem
discordância partidária, redundando esse trabalho profícuo em abundantes
frutos para o novel município, que ensaiava seus primeiros passos
entre as comunidades mineiras.
88
José Demétrio Coelho · 1955
Na verdade, em pouco tempo, se viu transformar a vida de Carmo do
Cajuru em febricitante atividade, tanto oficial como privada, parecendo
que ambas as partes porfiavam em realçar os empreendimentos em
prol do progresso do município.
Melhoravam-se as vias e logradouros públicos, tratavam-se das estradas,
e pontes eram lançadas sobre os cursos d’água. Aumentavam-se
o número de escolas e, na sede, já se cuidava de incipiente urbanismo.
Apareciam construções por toda a parte e os velhos prédios tomavam
aspectos novos. Bem compreendia o povo sua nova situação.
Os anais da Prefeitura são um repositório de atestados do dinamismo
de seus primeiros governos.
O Legislativo se entregou a um trabalho intenso e fecundo na elaboração
das leis que eram solicitadas pelo Executivo, não tendo este a necessidade
de recorrer, como aconselha a Lei de Organização Municipal,
à antiga sede, em busca dos recursos legais.
Não se prevaleceu a oposição, em caso algum, para contrapor-se à
maioria e a Câmara funcionou como um só corpo.
Em toda Legislatura, funcionou a Mesa da Câmara Municipal com os
seguintes membros, eleitos na sessão inicial: José Jehovah Guimarães
(Presidente), Antônio Nogueira de Souza (Vice-Presidente) e José Rodrigues
de Carvalho (Secretário).
Todos cheios de boa vontade cumpriram o mandato com muita dignidade
e proveito para o município.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
89
90
José Demétrio Coelho · 1955
IX
Apoio ao Partido Social Democrático
Digno de menção deve ser, não resta dúvida, o apoio que o prefeito
José Demétrio Coelho e mais o presidente da Câmara Municipal de
Carmo do Cajuru passaram a dar ao Partido Social Democrático (PSD).
Como era de esperar, as forças políticas, que no município apoiavam
o prefeito e o presidente da Câmara, reconheceram a justiça do gesto
desses dirigentes do município, que passavam a apoiar o PSD e deram
uma sadia demonstração de seu agrado, sufragando, nas eleições de 3
de outubro de 1952, os candidatos que se apresentaram sob a legenda
PSD, elegendo o prefeito, o vice-prefeito, seis vereadores e todos os
juízes de paz.
Na verdade, tínhamos que tomar uma tal atitude em benefício de nosso
novel município, embora viéssemos sofrer censuras acrimoniosas
de alguns ex-companheiros, que não quiseram, como nós, reconhecer
a necessidade da adesão.
A recompensa de nosso gesto não se fez esperar e Carmo do Cajuru é
hoje sede de Comarca; caso virgem nos anais dos municípios de vida
autônoma incipiente.
Nosso escopo, aceitando o oferecimento do Dr. Benedito Valadares Ribeiro,
para um acordo, era conseguir, a par dos benefícios que o mesmo
poderia proporcionar ao município, uma acomodação das forças
políticas em divergência, a fim de que pudessem os dirigentes municipais
conseguir uma maior soma de benefícios para a comunidade;
mas, isto não aconteceu com pesar para todos nós.
Jamais tivemos em mente prejudicar o partido e nem podíamos prever
a extensão do movimento, que redundou em ampla vitória do PSD em
todo o estado de Minas Gerais.
Como era óbvio, vieram os nossos adversários de ontem, com a oportunidade
dada, demonstrar o quanto estavam dispostos a trabalhar
pelo município, expressado mesmo mágoa patente por não se terem
colocado a nosso lado para compartilhar de modo eficiente, na emancipação
de Carmo do Cajuru.
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
91
Cada qual, em seu setor de atividade dava em continuar, a cada passo,
dar demonstração concreta da vontade de ser útil ao município e assim
Carmo do Cajuru se apresenta ante seus pares, com uma aparência
sadia e renovadora de progresso e aspecto de que já adquirira de há
muito sua maturidade.
Oxalá que os homens de boa vontade, compreendam a necessidade de
se estenderem as mãos mutuamente numa confraternização cristã em
benefício geral e muito mais do progresso de Carmo do Cajuru.
Carmo do Cajuru, 26 de junho de 1955.
@ José Demétrio Coelho.
92
José Demétrio Coelho · 1955
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
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José Demétrio Coelho · 1955
NOTA DO COMPILADOR
Quando o prefeito Edson de Souza Vilela me passou a incumbência de compilar e
publicar o livreto de José Demétrio Coelho, foi como se eu tivesse recebido uma
missão espiritual muito especial, pois o documento de 70 páginas (165 mm x 220 mm),
datilografado diligentemente entre 26 e 30 de junho de 1955, não foi publicado e
poucos sabiam de sua existência. Me senti enlevado com a tarefa!
Sem dúvida, trata-se de uma obra documental inédita e essencial para a memória de
Carmo do Cajuru, recuperada e guardada pelo zeloso memorialista Célio Cordeiro, no
Museu e Arquivo Sacro-Histórico (registro n. 1050).
Em sendo o próprio José Demétrio a alma do movimento de emancipação e o
principal protagonista da criação do município, este relato da vitória, concluído 22 dias
antes de sua morte, é muito significativo.
Deve ter sido uma quinzena muito intensa, aquela em que ele organizou os
manuscritos, reuniu as atas, correspondências, anotações sobre fatos marcantes,
elencou as pessoas da linha de frente do movimento e aquelas que apoiavam
e incentivavam a emancipação, para começar o Relato Histórico. Em ordem
cronológica, alinhou os fatos e as providências tomadas no transcurso dos trabalhos,
“para um lembrete oportuno”, como escreveu em sua apresentação. E datilografou
tudo em seis dias, com poucos erros e corretivos.
A obra original não traz as fotografias de época, aqui incluídas por licenciosidade
editorial, sustentada no fato de que o Memorial enviado à Assembleia Legislativa,
1948, estava generosamente ilustrado com fotos e mapas, como informa no texto.
Flávio Flora ⟴
EMANCIPAÇÃO DE CARMO DO CAJURU
95
✍
Carmo do Cajuru!
Para que seja completa
a felicidade de teu povo,
mister se faz que a gratidão
se apodere dos corações
onde já deve estar à sua espera
o companheiro inseparável
– o amor.
Oxalá que os homens
de boa vontade compreendam
a necessidade de se estenderem
as mãos, mutuamente,
numa confraternização cristã
em benefício geral e,
muito mais, do progresso
de Carmo do Cajuru.
José Demétrio Coelho,1955
☀
ISBN 978-65-00-02373-2